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Isadora

— Acorde, nós já chegamos! — Abro os meus olhos e mesmo desfocados encaro a fachada de uma casa toda de madeira escura, com enormes janelas de vidros transplantes e me ajeito no banco traseiro do carro para ver melhor o perímetro ao nosso redor. Pequenos postes iluminam um pequeno e encantador jardim. Assim que a porta se abre o motorista me ajuda a sair e o perfume das flores-do-campo me envolvem, seguido do vento frio da madrugada.

— Onde estamos? — indago, observando a graciosa varanda com um peitoril de madeira escura como o resto da casa e…

— Em uma das minhas casas de veraneio. — Ele diz tirando as chaves do bolso da calça. Olho para trás para ter certeza. Árvores altas e juntas demais e pelo barulho que vem lá de trás aqui não tem praias e não vejo piscinas em nenhum lugar.

— Isso não me parece uma casa de veraneio — ralho e volto o meu olhar para ele, porém, Heitor não está mais ao meu lado. — Oh, seu idiota, vai me deixar aqui fora? — rosno irritada, quando o vejo dentro da varanda abrindo a porta da frente.

— Eu acredito que nada a impede de subir os degraus, Isadora.

— Ogro, imbecil! — xingo irritada e ele ri, entrando na casa. Bufei e começo a subir os degraus com dificuldade por conta do longo e pesado vestido branco. Assim que adentro a sala paro estarrecida, observando as cabeças de animais empalhados pelas paredes e alguns rifles expostos como quadros em seus suportes. Um sofá de couro cor de caramelo de frente para uma lareira e um tapete horrendo de pele urso que me encara furioso. Fito o meu marido enquanto ele põe as malas no chão e bufo audivelmente.

— Você me trouxe para uma cabana de caça?! — Ok, eu estou furiosa e não consegui evitar gritar com ele. Heitor vira-se para mim, ergueu as sobrancelhas e balbucia sem dizer nada realmente.  — Que merda, Heitor! Você investiu uma fortuna em um casamento e me trouxe para essa droga de cabana!? — Ele leva as mãos na cintura, solta uma respiração alta e após fazer uma linha fina com a boca solta a bomba do século.

— Bom, você disse que eu havia exagerado e que nem era um casamento de verdade. Então resolvi amenizar um pouquinho. — Semicerro os olhos.

— Amenizar? O que exatamente você quer dizer com amenizar?

— Eu cancelei o jatinho para as ilhas gregas e viemos para cá. — Ah, ele fez de propósito! Sim, ele fez! Dou alguns passos em sua direção e o fito direto nos olhos.

— Me diga em nome de Deus, quanto tempo ficaremos aqui? — ranjo entre dentes.

— Hum, uns três dias... eu acho. — Rio escandalosamente.

— Que porra eu farei aqui durante esses três dias nesse fim de mundo, Heitor D’angelo?! — rosno É, eu estava puta com ele!

— Eu não sei! Ler um bom livro, eu acho. Temos uma pequena biblioteca em algum lugar por aqui. — Ele rosna e eu encho os pulmões de ar para rebater com um belo e audacioso palavrão. Contudo, eu paro, solto o ar com força e ergo um dedo em riste para ele.

— Eu quero ir para o meu quarto, agora!

— Mas, é claro! Temos dois quartos nesta cabana. Eu fico com o primeiro — Ele avisa e pega as malas seguindo por um pequeno corredor. Depois larga a minha mala em frente à segunda porta e entra no outro quarto em seguida. Ah, claro, além de tudo ele é um cavalheiro! Rosno mentalmente e faço força para empurrar a mala para dentro do cômodo, fechando a porta em seguida. Depois pego um travesseiro, o levo a minha boca e grito, grito até que a raiva passe, e quando paro estou ofegante. Olho ao meu redor e encaro uma velha cama de solteiro de molas. Ok, ele quer jogar duro, então eu jogarei duro também! Com uma respiração profunda levo as mãos às costas para tentar me livrar do vestido de noiva.

— Mas, que merda! — xingo baixinho e exasperada quando sinto os incontáveis botões em minhas costas e fito a porta fechada. Oh, merda, não! Lamento, pois infelizmente precisarei da sua ajuda para tirar esse maldito vestido. No segundo seguinte engulo o meu orgulho e bato na porta do quarto em frente ao meu. D’angelo surge em uma brecha com um olhar sugestivo e um singelo sorriso sacana no canto dos lábios.

— Pois não, senhora D’angelo? — Deu para sentir o sarcasmo sobressair a sua voz. Entretanto, finjo estar tudo bem.

— Eu preciso da sua ajuda. — Aponto para atrás do vestido.

— Ah, é? E, como eu posso ajudá-la?

— O vestido. — Volto a apontar. Os seus olhos passeiam pelo tecido branco e tornam a subir encontrando os meus olhos. — É que tem centenas de botões e eu não... consigo…

— Quer que eu o tire pra você? — O duplo sentido nessa frase é quase palpável e engulo em seco.

— Sim, por favor! — A droga do sorriso dele cresceu e eu revirei os olhos soltando uma lufada de ar na sequência.

— Com todo prazer, senhora D’angelo!

— Deixa de ser babaca e vem logo, Heitor! — rosno entre dentes, voltando para o meu quarto e escuto o som da sua risadinha escrota atrás de mim. Em instantes o sinto parar bem atrás de mim. Tão perto que consigo sentir a sua respiração morna bater contra a minha nuca. Fecho os olhos quando sinto um arrepio se alastrar na base da minha coluna e procuro me manter estável para ele não perceber. Logo o sinto mexer nos botões um por um e lentamente até que o seu dedo roça suavemente pelas minhas costas.

— Você tem uma pele macia. — Ele comenta baixinho, porém, mantenho os meus olhos fechados e paro de respirar, pois não quero que saiba que esse simples gesto mexeu comigo de alguma maneira. — E perfumada. — Aspira o meu cheiro devagarinho. Você não pode deixá-lo mexer assim com você, Isadora. Por Deus, acorde, mulher!

— O que está fazendo, senhor D’angelo? — Merda, sussurrei! Era para ser vigorosa, mas eu sussurrei!

— Ajudando-a com o vestido! — diz o óbvio. O tecido folga no meu corpo e sei que está nos últimos botões. Afasto-me abruptamente e viro de frente para ele.

— Pode deixar que eu termino. — Seus olhos param em meu colo desnudo.

— Tem certeza? Quer dizer, eu posso terminar sem nenhum…

— Eu tenho certeza! — O corto. Ele ergue as mãos e dá de ombros.

— Ok! Se precisar de mim, estarei no meu quarto.

— Eu não vou! Obrigada!

— Está bem! Tenha uma boa noite, Isadora!

— Boa noite pra você também!  — Fecho a porta, encostando-me nela imediatamente e como se um incêndio tomasse conta de mim, praticamente arranco o vestido do meu corpo e corro para o banheiro. Um banho frio e demorado deve apagar esse maldito fogo! Penso, não entendendo o que realmente aconteceu comigo!

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