Corro pelo jardim de minha casa com Look logo atrás de mim.
- Vamos maria mole, corre mais rápido – digo passando a sua frente.Look late tentando me pegar.- Vamos Julie entre agora – minha mãe grita da porta.- Ainda é cedo mãe – grito de volta.- Não me faz ir te pegar Julie – avisa.Corro mais que depressa rumo adentro.- Banheiro mocinha – minha mãe grita novamente.- Tá bom mãe – grito de volta.Correndo em direção ao banheiro, tropeço em Look e acabo me esborrachando no chão. Look chora.- Shiu Look, se não vamos apanhar nós dois – peço tentando fazê-lo parar.O carrego para o quarto, o deixando sobre minha cama, que cachorro manhoso, já se calou. Voltou para o banheiro e no caminho mamãe aparece em minha frente.- Já estava indo mãe – trato logo de explicar.- Vai Julie – ela passa por mim revirando os olhos.Amava minha mãe, por mais brava que ela fosse, tomei banho, me arrumei e desci para jantar, já fazia tudo sozinha, sempre fomos apenas nós duas então tinha que me virar.Parei no último degrau, quando ouço a voz de um homem, nunca viera ninguém em casa, por isso desço desconfiada.- Lúcia, o cheiro tá maravilhoso – diz o homem.Me aproximo devagar, e logo o avisto, sinto um arrepio na espinha.- Venha Julie, senta princesa – minha mãe chama – esse aqui é o Vicente ele vai passar a morar conosco – informa.Apenas balanço a cabeça em concordância, o que mais poderia fazer? Era apenas uma criança de 8 anos. O primeiro ano com Vicente em casa foi mil e uma maravilhas, ele era atencioso, cheguei até chamá-lo de pai, porque realmente pensei que todo aquele amor que ele demostrava ter por mim, era realmente paternal, entretanto mal sabia eu que era tudo truque para ganhar minha confiança.Ao completar 10 anos, foi aí que meu inferno começou, sempre tive corpo demais para minha idade, e meu “pai” de criação começou a perceber isso, seus olhares foram ficando diferentes, e eu como uma criança inocente não percebia.Conforme os anos iam passando a ousadia de Vicente foi ficando cada vez maior, certa vez o vi entrando em meu quarto e ficar me olhando por horas, as vezes amanhecia o dia e ele continuava na mesma posição, meu medo a cada dia aumentava mais.Muitas das vezes quis contar a minha mãe que Vicente visitava meu quarto quase todas as noites, no entanto tinha medo dela não acreditar em mim, pois via o amor que ela sentia por ele.Dos 10 aos 15 anos Vicente apenas espreitava, mas minha mãe já havia percebido que o cuidado era exagerado para comigo, eu não podia ter amigos, meninos principalmente, ele não me deixava sair, a não ser para ir à escola e ainda assim ele ia me levar e buscar.Teve um dia que me assustei, quando no meio da madrugada ele se sentou na beirada da cama e passou as mãos em minhas pernas, um sinal de alerta soou em minha cabeça, aos 15 anos já entendia bem o que era amor paternal e o que não era.Em um pulo estava sentada no canto da cama, com Vicente me olhando com os olhos vidrados.- O que você quer aqui a essa hora? – pergunto tremendo.Ele apenas me olha intensamente, se levanta e vai embora sem soltar uma palavra.- Meu Deus o que esse homem queria aqui no meu quarto?No dia seguinte, espero Vicente sair para trabalhar e chamo minha mãe para conversar, crio coragem e me sento com ela.- Mãe, queria te contar uma coisa que a muito tempo vem acontecendo, mas só agora criei coragem para lhe contar – digo torcendo os dedos.- O que foi Julie? Fala logo, o que é – diz minha mãe impaciente – penso e repenso no vou falar – Anda Julie, fala.- Bem... – respiro fundo, peço a Deus mentalmente para que ela acredite em mim – há algum tempo o Vicente vem entrando no meu quarto no meio da noite, nas primeiras vezes ele apenas ficava próximo a porta, não chegava perto, mas ontem ele chegou mais perto, e tentou passar a mão em mim, não entendo como ele consegue entrar pois tranco a porta todas as noites mãe, estou ficando com medo.Minha mãe apenas me olha com o cenho franzindo, e balança a cabeça em negativo, como se não acreditasse no que estava dizendo, esse era meu medo.- Vicente me disse que você iria tentar acusá-lo Julie, como você pode fazer isso comigo, sua mãe? – conjectura.- Como assim mãe, eu? Seu marido desde os meus 10 anos de idade, entra no meu quarto e me observa feito um maníaco, e eu sou culpada? – neste momento estou indignada, minha própria mãe contra mim, sua única filha.- Suas acusações são graves Julie presta atenção no que está falando, por que Vicente iria te querer, quando tem a mim fedelha? – grita, e eu arregalo os olhos.- Mãe pelo amor de Deus, olha o que a senhora está falando.Começo a chorar, pois já havia percebido o quanto minha mãe era cega por Vicente, não importa o que fizesse, ela ficaria sempre ao lado dele.- Não quero ouvir essa conversa está ouvindo garota? – apenas anuí.Minha mãe simplesmente se levanta e antes de sair avisa.- Quero sonhar que você está se jogando pra cima do meu “marido” – ela dá ênfase no marido – não penso duas vezes antes de te jogar daqui está ouvindo Julie.Abaixo a cabeça e choro, quando foi que deixei de ser a princesinha dela? Foi quando Vicente passou por aquela porta, “o que vou fazer meu Deus” se minha mãe que tem o dever de me proteger, não acredita em mim, para quem vou pedir ajuda? É só eu por mim mesma.Depois daquela trágica conversa com minha mãe, minha vida ficou ainda pior, pois tinha que me proteger de Vicente e tomar cuidado com minha mãe, ela vinha tornando minha vida um inferno, me tratava como uma inimiga, não sabia de quem tinha mais medo.Minha vida era me trancar no quarto e ir à escola, até para comer eu tinha que merecer, me perguntava onde estava minha mãe, pois aquela que habitava naquela casa não era minha mãe, a mulher que me gerou e colocou no mundo, que me amou e cuidou desde o nascimento, aquela que esteve sempre do meu lado, onde estava essa mulher? Meu coração foi perdendo a cor a cada dia que passava, a cada maltrato dela, me doía muito saber que minha mãe me via assim, como uma inimiga.Os anos seguintes foram se arrastando, comigo se escondendo sempre que Vicente chegava em casa, e minha mãe ficando doente. Quando fiz 17 anos a saúde dela piorou, ela já havia ido a vários médicos e ninguém sabia o que ela tinha, ela passou a ficar mais em casa, apenas Vicente trabalhava, e eu que passei a cuidar de algumas crianças, sempre me chamavam para babá, todo trocadinho que ganhava guardava, pois sabia que em algum momento iria precisar.Certo dia cheguei em casa, e vi minha mãe caída no chão, entrei em desespero, apesar dos últimos anos ela ter me feito comer o pão que o diabo amassou, ainda assim entrei em desespero, corri para pegar o celular e ligar para o s.o.s., porém já era tarde demais, minha mãe havia me deixado, fiquei ali ao lado de seu corpo já frio até a chegada da ambulância.Como já havia imaginado, em casa mesmo constataram seu óbito, agora era esperar a chegada do IML para retirar seu corpo, a polícia chegou e me fizeram uma porção de perguntas, respondi a todas, eles perceberam meu uniforme da escola, pois quando encontrei seu corpo havia acabado de chegar.Passei o contato de Vicente para os polícias, e em poucos minutos ele já estava em casa aos pratos, o choro fingido me dava ânsia, os policiais fizeram também muitas perguntas a ele, ele se mostrava um marido desolado, chegando até soluçar, em dado momento Vicente se aproximou e me abraçou.- Agora somo apenas nós princesinha – sussurrou ao meu ouvido, senti um arrepio na espinha, cheguei a tremer um pouco.O medo do que viria era imenso, não disse nada, não conseguia nem olhar em sua cara “meu Deus o que seria de mim agora?” chorei, mas agora era de puro temor do que iria acontecer comigo.Os policiais nos encaminharam até o IML, Vicente fez todo o tramite para o sepultamento, no dia seguinte minha mãe foi enterrada, Vicente não deixou que fizessem a autopsia, alegando que essa era a vontade de minha mãe.Como já tinha já era maior de idade, Vicente não podia me trancar em casa, já havia me formado no ensino médio e estava atrás de um emprego de carteira assinada. No entanto, nada aconteceu como esperava, não conseguir emprego, Vicente ficava cada vez mais possessivo, a ponto de não me deixar olhar na janela, todas as noites trancava minha porta e colocava vários móveis para me assegurar que ele não entrasse no meu quarto durante a noite.Até um dia isso não ser mais o suficiente, Vicente empurra a porta com força, a ponto de tudo cair e ele conseguir entrar.- Pensou que iria se esconder de mim para sempre filhinha – diz olhando para meu corpo coberto por um blusão que b**e abaixo dos joelhos.- Sai do meu quarto Vicente – digo em um fio de voz, enquanto ele se aproxima.- Sempre te quis, agora que não tenho mais impedimento nenhum, você será minha – ele agarra mina cintura e esfrega seu membro rijo em mim, me debato.- Me solta Vicente – grito.- Calada gatinha – diz cheirando meu pescoço.- Vou gritar, me solta – o empurro.- Não adianta lutar princesa, temos a vida toda juntos – diz e enfim me solta – se acostuma a partir de hoje você é minha mulher, já tem idade para casar-se, tem 19 não é? – pergunta e nada digo.Vicente mostra seus dentes amarelados, sinto nojo, nunca que esse homem irá colocar as mãos em mim, prefiro a morte.Depois daquela noite em que Vicente anunciou que iria ser sua mulher, ele não voltou mais em meu quarto, e agradeci a Deus por isso, certo dia na escola lembrei de uma colega comentando que uma tia dela havia ido para o EUA, ela não havia conseguido visto, então decidiu entrar ilegal, procurou por um tal coiote e conseguiu entrar no país das oportunidades, naquela época ouvir dessa amiga que sua tia estava ganhando muito dinheiro lá, e essa ideia não sai da minha cabeça.Por isso que decido que vou fazer o mesmo, só não sei por onde começar já que Vicente me deixa trancada aqui. Ainda me sinto grata por ele ainda não me tirado o celular, tento buscar na lembrança o nome da garota da escola.- Brenda? Não... Bruna? Também não... mais que merda, qual era o nome dela mesmo - Tento mais uma vez, digito na busca do facebook – Brianna.E lá está ela, entro em seu perfil e envio uma solicitação de amizade, em poucos minutos chega à notificação que ele aceitou o pedido e não perco tempo, lhe
Chego na estação de São Paulo, depois de 8 horas de viagem, já são 7 da noite e me sinto extremamente cansada, porém tenho que seguir viagem amanhã já é o dia, envio uma mensagem avisando que já estou em SP.Julie: Oi, já cheguei, para onde tenho que ir?C: Vou te enviar o endereço.Em pouco minutos chega a localização com endereço, como não conheço nada, chamo o Uber, ele diz que fica na periferia de São Paulo, um Bairro chamado São Mateus, a viagem é um pouco longa, custou caro, mas não ligo, durante a viagem fiz a contagem do dinheiro e separei os 10 mil do coiote, e me restaram quase 30 mil, é um bom dinheiro para se começar longe daqui.Depois de mais de uma hora, chego no local indicado e logo avisto um homem acendo, creio eu que deva ser o homem, pois ele disse através de mensagem que estaria esperando no local.Pago o Uber e o homem se aproxima abrindo a porta do carro para que saia.- Oi sou Alexandro, mas pode me chamar de Alex, eu quem estava em contato com você – diz esten
CativeiroMe sinto dolorida, ainda de olhos fechados tento me mexer, mas é muito difícil, acho que minhas mãos e pés estão amarrados, com uma força descomunal tento abrir os olhos, porém não vejo nada, a escuridão não deixa.- Oi – tento falar, mas minha voz sai por um fio – tem alguém aí? – forço.Não recebo nenhuma resposta, estou suada, com sede, precisando ir ao banheiro, onde estou meu Deus, a última lembrança que tenho é a de que estávamos no carro com Alex e depois só escuridão.- Oi tem alguém aí – pergunto mais uma vez, agora um pouco mais alto.- Quem é você? – uma voz pergunta.- Sou Julie e onde você está? – pergunto nervosa.- Na verdade não sei, estou amarrada e está muito escuro – a mulher diz chorando – onde estamos Julie? – pergunta desesperada.- Não sei – digo tentando também não chorar.Permanecemos em silêncio até ouvirmos passos.- Oi estamos aqui – grito tão alto quanto posso.Ouço um barulho de porta de metal sendo aberta e fica claro, a claridade me cega momen
Ao longo dos meus 88 anos, nunca havia me sentido sozinho, depois da morte de minha esposa, filho e nora, em um trágico acidente há 10 anos atrás, essa era a primeira vez que realmente me sinto só, tenho um neto Christoffer, meu único familiar.Chris agora no auge dos seus 30 anos, sempre fora um bom menino, depois da morte de seus pais, ele se dedicou a estudar, a se preparar para assumir meu lugar, teve um uma época que achei que se rebelaria, ele como todo jovem teve seu tempo rebelde, fanfarrão, e foi nesse tempo que ele se encheu de tatuagens e se envolveu com pessoas perigosas, nada que eu não pudesse resolver, homens poderosos como eu, tem que ter conexões tanto no lado bom quanto no ruim, o submundo é para poucos, poucos tem acesso a ele, não sou nenhum chefão, porém sou respeitado e temido, sabem do meu poder e agora do poder do meu neto.Com muito custo conseguir colocá-lo na linha, mas é bom que ele também tenha seus contatos e que todos os temem e respeitam na mesma propor
Adentro o grande e luxuoso salão, há aqui pelo menos seis conhecidos, todos senadores e ex-senadores, cumprimento alguns, outros apenas um aceno com a cabeça, então Enzo o leiloeiro aparece no meu campo de visão, cumprimenta-me com um levantar de taça, retribuo.Vago pelo salão, converso pouco com quem para e puxa assunto.- Como vai Bennett? – Yuri um empresário do ramo imobiliário, pai e marido devoto pergunta, quem olha jamais imaginaria que um homem que defende a moral e os bons costumes estaria num local como esse.- Bem – digo sucinto.Ele percebe que não quero conversar e se afasta, me aproximo do palco onde será apresentado as peças raras e me sento em uma mesa, esperando começar de fato o leilão.Poucos minutos se passam e logo o evento principal começa.- Boa noite senhores, hoje nosso leilão será um pouco diferente, nossas peças são de valor inestimáveis.O apresentador começa, logo de cara entra uma menina, acho que deva estar dopada, pois está sendo carregada então ele co
Jamais sequer cogitei a ideia de um dia ser vendida feito uma mercadoria no mercado de pulgas, agora estou a caminho de sabe lá Deus onde com um velho que deve ser um pervertido, desse ser um monstro igual a todos os outros, mas esse deva ser pior, quem compra uma pessoa? Outro ser humano? Quem participa de leilões de pessoas? Um monstro.Ele tentou conversar, mas fingir não entender o que dizia, então ele começou a falar em português e agora sou obrigada a responder, mesmo assim não falo nada, percebo que ele está tentando ser pacífico.Ele se apresenta e diz se chamar Edie Bennett, ele já é bem idoso, deve ter por volta de 60 ou mais, não o encaro muito, apesar de ele afirmar que não quer me fazer mal algum, prefiro não arriscar.Durante a viagem de carro ele pergunta por um tal de Chris acredito que seja filho ou algum parente, ele esbraveja dado momento, mas vejo que sorrir amorosamente, não sabia que monstros sentiam amor. Ele encerra a ligação e fica com o olhar perdido por algu
Estou exausto, precisando urgentemente de uma dose dupla de uísque, me espreguiço a cadeira de couro, massageio a têmpora, verifico a hora e percebo que a essa hora em NY meu avô deve estar descansado, não vou incomodá-lo a essa hora, apesar de aqui ainda ser dia, em NY deva ser altas horas da madrugada.Esses últimos dias percebi que seu Ed estava estranho, não quis muita conversa, liguei duas vezes e não atendeu, e pior não retornou à ligação.Depois da morte precoce de meus pais e avó, criamos um laço ainda mais forte do que já tínhamos, e sei quando tem algo acontecendo, e esse velhaco não quer abrir o jogo, mas ele que me aguarde, amanhã já estou de volta e não vou nem avisar, quero ver o que seu Ed está aprontando.Por aqui já está tudo resolvido, o novo estaleiro está a todo vapor, saio daqui direto para o hangar onde o jato já está me esperando, tenho uma longa viagem, e tem assuntos mal resolvidos que me aguardam, estalo os dedos e faço uma ligação, não me importando se acord
Edie Bennett foi minha salvação, o julguei mal a princípio, achando que ele seria tão ruim quanto os homens que desgraçaram minha vida, no entanto não, ele na verdade salvou minha vida e estar sendo o pai que nunca tive, e o que falar de Livia, não tenho palavras para descrever o sentimento que nasceu em meu coração por essas duas pessoas maravilhosas que Deus colocou em meu caminho, já não posso falar o mesmo sobre o tal Chris, oh cara do mal, apesar de lindo.Ele me julgou sem antes conhecer os fatos, me chamando de golpista e o escambau, mas já estava bem ciente do que aconteceria quando ele soubesse sobre mim, Ed disse que seu neto tinha um temperamento difícil, todavia isso não o dá o direito de me xingar aos quatros ventos.Depois de toda aquela discussão a mesa, o mal-encarado saiu feito furacão, sinto mal por Ed.- Desculpa senhor, não queria lhe causar esse transtorno, me desculpa de verdade – realmente me sinto mal, Ed ama o neto e ver os dois brigar por minha causa parte me