Capítulo 7 Julie

Jamais sequer cogitei a ideia de um dia ser vendida feito uma mercadoria no mercado de pulgas, agora estou a caminho de sabe lá Deus onde com um velho que deve ser um pervertido, desse ser um monstro igual a todos os outros, mas esse deva ser pior, quem compra uma pessoa? Outro ser humano? Quem participa de leilões de pessoas? Um monstro.

Ele tentou conversar, mas fingir não entender o que dizia, então ele começou a falar em português e agora sou obrigada a responder, mesmo assim não falo nada, percebo que ele está tentando ser pacífico.

Ele se apresenta e diz se chamar Edie Bennett, ele já é bem idoso, deve ter por volta de 60 ou mais, não o encaro muito, apesar de ele afirmar que não quer me fazer mal algum, prefiro não arriscar.

Durante a viagem de carro ele pergunta por um tal de Chris acredito que seja filho ou algum parente, ele esbraveja dado momento, mas vejo que sorrir amorosamente, não sabia que monstros sentiam amor. Ele encerra a ligação e fica com o olhar perdido por alguns momentos.

- Sabe minha filha, você vai gostar de Chris, a princípio não, pois ele parece bravo, cara fechada, mas se o conhecer bem ele é um garoto de ouro.

Divaga mais para si mesmo, a todo momento olho para minhas mãos, não o respondo, não sei até quando ele vai suportar minha insolência.

- Bom chegamos – diz e finalmente levanto a cabeça, estamos em uma mansão, não estou nenhum pouco surpresa – aqui será seu novo lar.

Diz e alguém abre a porta para que ele saia, em seguida o mesmo homem abre para mim, não aceito sua mão, saio por conta própria.

- Venha, vamos entrar está muito frio aqui, não quero que adoeça – franzo o cenho, não esperava gentileza.

O acompanho, logo na entrada uma senhora nos recebe.

- Já Ed, achei que só voltaria no domingo - a senhora diz.

- Não mudei os planos – ele a responde.

- Hum sei, e quem é a mocinha?

- Venha – ele me traz para sua frente – Livia essa é Julie, ela é minha convidada por tempo indeterminado – explica e a senhora vem e me abraça, tenho vontade de chorar.

- Seja bem-vinda querida, venha vou cuidar de você, está tão magrinha – diz e aperta meus braços.

Livia sai me puxando casa adentro, falando pelos cotovelos.

- Está com fome filha? – pergunta e não a respondo.

- Acho que ela não entende nossa língua Livia, ela do Brasil, deve falar apenas português – A senhorinha faz cara de quem entendeu.

- Oh!

- Julie você tem fome? – o velho pergunta em português, estou morrendo de fome.

Confirmo com a cabeça, deixo que pensem que não entendo o que falam, pela minha sobrevivência.

- Vamos a cozinha, preparei uma sopa e está quentinha – diz e o velho traduz o que ela fala.

Estou faminta, nem ligo para etiqueta, como se o mundo fosse acabar, os dois se sentam e começam a conversar em inglês, achando que não entendo.

- Agora me conta velho Ed, como essa menina veio parar com você? – interroga a senhora.

- Essa história é complicada Livia, não muito da história dela, sei algumas coisas por alto, sei que ela é do Brasil, tem 19 anos, seu nome é Julie, e ao que parece passou por coisas muito ruins – relata e a senhora arregala os olhos.

- Meu Deus Ed, como assim coisas ruins me conta essa história direito homem – pedi explicações.

- Fui participar de um leilão, esses leilões e peças raras, só que jamais imaginei que essas peças raras seriam pessoas – explica e a senhora salta da cadeira abismada.

- Como tráfico de pessoas – pergunta com a mão no coração.

- Infelizmente Livia, tinha minhas suspeitas sobre o organizador do evento, mas nunca constatei nada de fato, até a outra noite, eles estavam leiloando garotas, muitas garotas, não sei o que deu em mim quando vi Julie – ele diz e me olha, vejo pela visão periférica – vi ela assustada, chorava muito, quando vi já tinha levantado a placa e dado lance e 1 milhão.

- Meus Deus Ed 1 milhão, temos de ir à polícia, denunciar essas pessoas, vai ver ela possa ter sido sequestrada – diz e uma lagrima cai – ela pode ter família, minha nossa como existe pessoas assim ruins a ponto de vender pessoas.

- Por isso dei o lance, tenho que ajudá-la, entender como ela foi parar na mão de Enzo, mas temos que dar tempo a ela, ela está assustada, com medo, não tiro sua razão – o velho diz e de certa forma me conforta saber que não vou ser mais violentada ou torturada, ainda tenho cicatrizes recentes da última surra – e não podemos ir à polícia, apesar de ser um homem poderoso, essas pessoas são perigosas não posso arriscar a segurança de Chris.

- Então? – pergunta ela e eu continuo comendo.

- Ela ficará aqui conosco, vamos esperar até que ela se sinta confortável e nos conte sua história.

- É concordo com você – Livia diz determinada – mas o que dirá a Chris, sabe como aquele menino é hostil quando quer, te confesso que tenho até medo daquele garoto insolente.

- Deixa que do Chris eu resolvo.

Quem será esse Chris, e por que eles temem sua reação? Depois de tudo o que ouvir, tenho certeza de que estou segura aqui, acho que esse dois não querem me fazer mal, decido abrir a boca, e falo em inglês para que Livia entenda, santo cursinho.

- Fui sequestrada – digo e eles param o que estão falando e olham em minha direção, nas horas seguintes cinto tudo a eles, que acabam chorando comigo depois que falo como foi depois que cheguei em Amsterdã, de como fui violada várias e várias vezes seguidas a ponto de sangrar e ainda assim eles não me soltarem, conto de todos os castigos, mostro os ferimentos recentes, e os que ainda estão cicatrizando.

- Para, para por favor – Livia diz se levantando chorando muito, esses monstros precisam pagar pelo que fizeram Ed, e pelo que ainda não fazer, quantas outras meninas eles vão tirar do seio da família, sequestrar, violentar, torturar e vender? Meu deus, eles são monstros – exclama exaltada.

- Calma Livia, Julie vai estar segura aqui, ele não tem poder para chegar perto de mim – o velho tenta acalmar a senhora.

Eles me abraçam e sinto um peso sair das minhas costas.

- Agora temos que resolver a situação dela aqui.

- Fato, Julie você entrou ilegal certo?

- Sim – respondo olhando para minhas mãos.

- Ok, então você não tem documentos, já sei de quem cobrar esse favor, homem com conexões é tudo – o velho diz pegando o celular, agora me pergunto quem é ele, rico já sei que é, poderoso também, por que disse que ele é intocável.

Ele some e ficamos somente eu e Livia na sala, ela aperta minha mão me confortando, poucos minutos depois ele volta.

- Pronto tudo certo, a partir de hoje Julie você é a senhora Bennett, minha esposa – diz e arregalo os olhos – desse modo seus documentos saíram mais rápido, e também você ganhará nova cidadania, na certidão você será natural de NY, nasceu e cresceu aqui entendeu, assim fica melhor para sua segurança, entende filha, não precisa se preocupar, pois esse velho só teve um amor na vida e ela continuará sendo a única mulher na minha vida – diz nostálgico.

- Obrigada senhor, não sei como lhe agradecer o que está fazendo por mim, o senhor está salvando minha vida – digo e o abraço, ele retribui.

Não sei se mereço esse recomeço, mas vou me agarrar com todas as forças nele.

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