Jamais sequer cogitei a ideia de um dia ser vendida feito uma mercadoria no mercado de pulgas, agora estou a caminho de sabe lá Deus onde com um velho que deve ser um pervertido, desse ser um monstro igual a todos os outros, mas esse deva ser pior, quem compra uma pessoa? Outro ser humano? Quem participa de leilões de pessoas? Um monstro.
Ele tentou conversar, mas fingir não entender o que dizia, então ele começou a falar em português e agora sou obrigada a responder, mesmo assim não falo nada, percebo que ele está tentando ser pacífico.
Ele se apresenta e diz se chamar Edie Bennett, ele já é bem idoso, deve ter por volta de 60 ou mais, não o encaro muito, apesar de ele afirmar que não quer me fazer mal algum, prefiro não arriscar.
Durante a viagem de carro ele pergunta por um tal de Chris acredito que seja filho ou algum parente, ele esbraveja dado momento, mas vejo que sorrir amorosamente, não sabia que monstros sentiam amor. Ele encerra a ligação e fica com o olhar perdido por alguns momentos.
- Sabe minha filha, você vai gostar de Chris, a princípio não, pois ele parece bravo, cara fechada, mas se o conhecer bem ele é um garoto de ouro.
Divaga mais para si mesmo, a todo momento olho para minhas mãos, não o respondo, não sei até quando ele vai suportar minha insolência.
- Bom chegamos – diz e finalmente levanto a cabeça, estamos em uma mansão, não estou nenhum pouco surpresa – aqui será seu novo lar.
Diz e alguém abre a porta para que ele saia, em seguida o mesmo homem abre para mim, não aceito sua mão, saio por conta própria.
- Venha, vamos entrar está muito frio aqui, não quero que adoeça – franzo o cenho, não esperava gentileza.
O acompanho, logo na entrada uma senhora nos recebe.
- Já Ed, achei que só voltaria no domingo - a senhora diz.
- Não mudei os planos – ele a responde.
- Hum sei, e quem é a mocinha?
- Venha – ele me traz para sua frente – Livia essa é Julie, ela é minha convidada por tempo indeterminado – explica e a senhora vem e me abraça, tenho vontade de chorar.
- Seja bem-vinda querida, venha vou cuidar de você, está tão magrinha – diz e aperta meus braços.
Livia sai me puxando casa adentro, falando pelos cotovelos.
- Está com fome filha? – pergunta e não a respondo.
- Acho que ela não entende nossa língua Livia, ela do Brasil, deve falar apenas português – A senhorinha faz cara de quem entendeu.
- Oh!
- Julie você tem fome? – o velho pergunta em português, estou morrendo de fome.
Confirmo com a cabeça, deixo que pensem que não entendo o que falam, pela minha sobrevivência.
- Vamos a cozinha, preparei uma sopa e está quentinha – diz e o velho traduz o que ela fala.
Estou faminta, nem ligo para etiqueta, como se o mundo fosse acabar, os dois se sentam e começam a conversar em inglês, achando que não entendo.
- Agora me conta velho Ed, como essa menina veio parar com você? – interroga a senhora.
- Essa história é complicada Livia, não muito da história dela, sei algumas coisas por alto, sei que ela é do Brasil, tem 19 anos, seu nome é Julie, e ao que parece passou por coisas muito ruins – relata e a senhora arregala os olhos.
- Meu Deus Ed, como assim coisas ruins me conta essa história direito homem – pedi explicações.
- Fui participar de um leilão, esses leilões e peças raras, só que jamais imaginei que essas peças raras seriam pessoas – explica e a senhora salta da cadeira abismada.
- Como tráfico de pessoas – pergunta com a mão no coração.
- Infelizmente Livia, tinha minhas suspeitas sobre o organizador do evento, mas nunca constatei nada de fato, até a outra noite, eles estavam leiloando garotas, muitas garotas, não sei o que deu em mim quando vi Julie – ele diz e me olha, vejo pela visão periférica – vi ela assustada, chorava muito, quando vi já tinha levantado a placa e dado lance e 1 milhão.
- Meus Deus Ed 1 milhão, temos de ir à polícia, denunciar essas pessoas, vai ver ela possa ter sido sequestrada – diz e uma lagrima cai – ela pode ter família, minha nossa como existe pessoas assim ruins a ponto de vender pessoas.
- Por isso dei o lance, tenho que ajudá-la, entender como ela foi parar na mão de Enzo, mas temos que dar tempo a ela, ela está assustada, com medo, não tiro sua razão – o velho diz e de certa forma me conforta saber que não vou ser mais violentada ou torturada, ainda tenho cicatrizes recentes da última surra – e não podemos ir à polícia, apesar de ser um homem poderoso, essas pessoas são perigosas não posso arriscar a segurança de Chris.
- Então? – pergunta ela e eu continuo comendo.
- Ela ficará aqui conosco, vamos esperar até que ela se sinta confortável e nos conte sua história.
- É concordo com você – Livia diz determinada – mas o que dirá a Chris, sabe como aquele menino é hostil quando quer, te confesso que tenho até medo daquele garoto insolente.
- Deixa que do Chris eu resolvo.
Quem será esse Chris, e por que eles temem sua reação? Depois de tudo o que ouvir, tenho certeza de que estou segura aqui, acho que esse dois não querem me fazer mal, decido abrir a boca, e falo em inglês para que Livia entenda, santo cursinho.
- Fui sequestrada – digo e eles param o que estão falando e olham em minha direção, nas horas seguintes cinto tudo a eles, que acabam chorando comigo depois que falo como foi depois que cheguei em Amsterdã, de como fui violada várias e várias vezes seguidas a ponto de sangrar e ainda assim eles não me soltarem, conto de todos os castigos, mostro os ferimentos recentes, e os que ainda estão cicatrizando.
- Para, para por favor – Livia diz se levantando chorando muito, esses monstros precisam pagar pelo que fizeram Ed, e pelo que ainda não fazer, quantas outras meninas eles vão tirar do seio da família, sequestrar, violentar, torturar e vender? Meu deus, eles são monstros – exclama exaltada.
- Calma Livia, Julie vai estar segura aqui, ele não tem poder para chegar perto de mim – o velho tenta acalmar a senhora.
Eles me abraçam e sinto um peso sair das minhas costas.
- Agora temos que resolver a situação dela aqui.
- Fato, Julie você entrou ilegal certo?
- Sim – respondo olhando para minhas mãos.
- Ok, então você não tem documentos, já sei de quem cobrar esse favor, homem com conexões é tudo – o velho diz pegando o celular, agora me pergunto quem é ele, rico já sei que é, poderoso também, por que disse que ele é intocável.
Ele some e ficamos somente eu e Livia na sala, ela aperta minha mão me confortando, poucos minutos depois ele volta.
- Pronto tudo certo, a partir de hoje Julie você é a senhora Bennett, minha esposa – diz e arregalo os olhos – desse modo seus documentos saíram mais rápido, e também você ganhará nova cidadania, na certidão você será natural de NY, nasceu e cresceu aqui entendeu, assim fica melhor para sua segurança, entende filha, não precisa se preocupar, pois esse velho só teve um amor na vida e ela continuará sendo a única mulher na minha vida – diz nostálgico.
- Obrigada senhor, não sei como lhe agradecer o que está fazendo por mim, o senhor está salvando minha vida – digo e o abraço, ele retribui.
Não sei se mereço esse recomeço, mas vou me agarrar com todas as forças nele.
Estou exausto, precisando urgentemente de uma dose dupla de uísque, me espreguiço a cadeira de couro, massageio a têmpora, verifico a hora e percebo que a essa hora em NY meu avô deve estar descansado, não vou incomodá-lo a essa hora, apesar de aqui ainda ser dia, em NY deva ser altas horas da madrugada.Esses últimos dias percebi que seu Ed estava estranho, não quis muita conversa, liguei duas vezes e não atendeu, e pior não retornou à ligação.Depois da morte precoce de meus pais e avó, criamos um laço ainda mais forte do que já tínhamos, e sei quando tem algo acontecendo, e esse velhaco não quer abrir o jogo, mas ele que me aguarde, amanhã já estou de volta e não vou nem avisar, quero ver o que seu Ed está aprontando.Por aqui já está tudo resolvido, o novo estaleiro está a todo vapor, saio daqui direto para o hangar onde o jato já está me esperando, tenho uma longa viagem, e tem assuntos mal resolvidos que me aguardam, estalo os dedos e faço uma ligação, não me importando se acord
Edie Bennett foi minha salvação, o julguei mal a princípio, achando que ele seria tão ruim quanto os homens que desgraçaram minha vida, no entanto não, ele na verdade salvou minha vida e estar sendo o pai que nunca tive, e o que falar de Livia, não tenho palavras para descrever o sentimento que nasceu em meu coração por essas duas pessoas maravilhosas que Deus colocou em meu caminho, já não posso falar o mesmo sobre o tal Chris, oh cara do mal, apesar de lindo.Ele me julgou sem antes conhecer os fatos, me chamando de golpista e o escambau, mas já estava bem ciente do que aconteceria quando ele soubesse sobre mim, Ed disse que seu neto tinha um temperamento difícil, todavia isso não o dá o direito de me xingar aos quatros ventos.Depois de toda aquela discussão a mesa, o mal-encarado saiu feito furacão, sinto mal por Ed.- Desculpa senhor, não queria lhe causar esse transtorno, me desculpa de verdade – realmente me sinto mal, Ed ama o neto e ver os dois brigar por minha causa parte me
Minha alma saiu do corpo e voltou ao ver meu avô caindo no chão, agora que o momento crítico passou e ele está fora de risco consigo respirar melhor, se tivesse acontecido o pior jamais me perdoaria, e aquela garota pagaria amargamente.Prometi que não faria nada com ela até conversamos, segundo ele, ele tem motivos para fazer o que fez e me contaria tudo, não quis o pressionar, ele teve um ataque cardíaco, foi leve, ainda assim considerado preocupante devido sua idade, o médico disse que ele não pode ter aborrecimento, estresse, nada, por esse motivo a garota está salva temporariamente, porém ela está ciente de que estou de olho nela.Ando de um lado para o outro, tentando digerir toda essa situação, meu avô com a saúde debilitada e agora essa golpista e ainda estou de mãos atadas, pois não vou contrariar meu avô, não enquanto ele estivesse com a saúde frágil.Depois da conversa que tive com a tal garota, por um momento quase acreditei naquelas lágrimas, se não conhecesse esse tipo a
Não sei o que fazer, estou entrando em desespero, não aguentarei mais torturas, prefiro morrer, vi nos olhos daquele homem uma escuridão, não tiro sua razão de desconfiar de mim, depois de sua ameaça e se foi me deixando sozinha e com medo, não me sinto bem, minha cabeça está a mil, não sei o que fazer, apenas me deito e fito o teto não sei por quanto tempo até adormecer.“Estou amarrada e há vários homens ao meu redor gargalhando, eles me olham como se fosse um pedaço de carne, me debato, grito mais minha voz não sai, peço, imploro, mas eles não me ouvem, apenas continuam me violentando, mais e mais vezes, não, não, não, por favor, não tenho mais forças para me debater, apenas aguento a dor que estou sentindo.- Isso quietinha – diz aquele homem asqueroso, o homem que desgraçou minha vida, Enzo esse é seu nome – bem que quando luta é mais divertindo – diz já se fechando as calças – agora é como vocês façam bom proveito – diz me deixando com os outros homens, ouço alguém me chamar”-
“É uma promessa” Julie não quis falar sobre quem a machucou tanto, respiro ruidosamente, a ideia em si é perturbadora, seu corpo está muito machucado, e posso afirmar que esses machucados são recentes, cerro os dentes, eu sei que não sou uma pessoa boa, mas nunca machuquei um inocente, todos que passaram pela minha mão eram pessoas tão ruim quanto eu, a aperto sem querer em meus braços e ela geme dolorosamente em meio ao sono pesado.Devagar verifico sua lateral, percebo que ela tem costelas quebradas, puta que pariu, quem diabos seria capaz de fazer algo com assim? Levanto-me devagar, estou furioso demais para ficar aqui velando seu sono, preciso de uma dose dupla de uísque.Julie se remexe quando me levanto deixando sozinha, porém não acorda, mas resmunga algo, a observo por mais alguns minutos antes de tomar o rumo do escritório, preciso ter uma conversa séria com seu Edie Bennett, ele terá que me explicar direitinho como essa garota chegou até ele.Depois de três copos, subo para
“Porque Deus minha vida tinha que ser tão complicada, por que tenho que passar por tantas privações? Eu devo ter ligação direta na linhagem de judas ou fui um fariseu e atirei pedra na cruz” única explicação plausível que encontro para tudo o que passei e continuo passando.Tenho certeza de que Christoffer vai me enquadrar, seu olhar ao sair dizia tudo, que não tenho escolha, ou conto ou conto, sem mais.Vejo Livia tentando entender o que se passou agora, antes dela perguntar esclareço.- Ontem a noite tive um pesadelo, febre e calafrios, não percebi que estava chorando acordar e dá de cara com Christoffer em meu quarto, ele me ajudou.- Ajudou?- Sim ajudou – indago.- Hum – franze a sobrancelha.- Ele viu minhas marcas e questionou, mas não tive coragem de contar.- Ah minha menina – se compadece – vai contar a ele?- Ainda não sei se confio nele, ele tem algo que me dá medo – exponho o que realmente sinto em relação ao homem de áurea sombria, mas lindo de doer os olhos.“Para de lo
O que essa maluca está fazendo aqui? Sabrina é meu pesadelo, essa garota é doidinha de pedra, olho para meu avô com um pedido silencioso de desculpa pois ela não suporta Sabrina, já havia proibido a entrada dela, mas ardilosa como é, sempre consigo entrar.- Qual é o teu problema? – a safada sorrir tentando se aproximar, dou apenas uma olhada.- Calma gatinho, estava com saudade, já que nunca mais me procurou decidir vir.- Se não te procurei é porque não quis te ver – vejo que a magoei, porém não me importo – vai embora e não volta aqui entendeu – digo me aproximando, ela engole em seco.- Chris... – tenta me abraçar.- Não tem Chris Sabrina, existe nós, o que tivemos foi um lance, não te prometi flores ou casamento, achei que tinha deixado claro e você entendido.- MAS EU ME APAIXONEI TÁ LEGAL – grita, não acredito em uma palavra conheço mulheres como Sabrina – é aquela garota, não é? – pergunta com lágrimas nos olhos.- Não, agora vaza daqui e não volta mais.Determino, ela reluta,
Não tive escolha a ser contar a Christoffer, ele não iria me deixar em paz, porém não estava preparada para sua reação, ele simplesmente se levantou e foi embora, será que ele ficou com nojo de mim? Se for isso que o fez sair correndo me quebro de vez. Passo o restante da madrugada acordada, não consigo dormir, só que desta vez o móvito não são medo dos pesadelos e sim o que Christoffer deve estar pensando sobre mim, não que me importe com o que as pessoas pensam sobre mim, mas... Estou sem fome, não quero contagiar o bom humor de Edie logo pela manhã, sinto uma tristeza tão grande e a única coisa que quero nesse momento é dormir. Durmo por pelo menos a metade do dia, graças a Deus ninguém veio me ver, ainda na cama olhando para teto cogitando a ideia de ir embora, ideia muito estupida, diga-se de passagem, pois não tenho ideia para onde ir e o que irá acontecer caso rede o pé daqui. Respiro fundo criando coragem para levantar e descer, não sei se Christoffer está em casa, não o en