Chris já saiu há mais de uma hora, foi levar a louca no hotel, estou a ponto de roer os dedos porque as unhas já se foram.- Mana calma, desse jeito vai acabar fazendo um buraco no chão – Azra diz o obvio – já, já ele chega.- Se ele não voltar? – exponho meu medo.- Não há essa possibilidade irmã – eu já não tenho tanta certeza, só irei me acalmar quando Chris entrar por aquela porta.Lorenzo chega da empresa por voltar das três da tarde, não tenho condições emocionais para encarar ninguém, a mídia quer uma coletiva, na verdade não preciso esclarecer nada, como somos pessoas públicas, nossa vida está na boca do povo agora, muitas especulações, a internet sem se fala, são tantos comentários, nem todos são bons.Lorenzo está cuidando de tudo isso, nem sei o que seria de mim sem ele. “Querido Deus, esculte o lamento do meu coração, meu marido é minha alma, o senhor sabe tudo o que passei sem ele, por favor o traga para casa, para junto de sua família”. Peço em oração silenciosa, ouve mi
Despois do susto de hoje mais cedo, agora estamos de frente com as pessoas que estavam nos seguindo.- Eaí? – Julie pergunta a Lorenzo.- Não abriram a boca, mas já sabemos de onde são – diz.Julie assente e se aproxima dos dois homens amarrados a cadeira, ela se senta a frente deles e cruza as pernas, eles observam sua desenvoltura.- Vão falar por bem ou por mal? – pergunta, os dois se olham e caem na gargalhada.- Quem essa puta pensa que é – diz em irlandês, já faço uma ideia quem foi a mandante, um deles cospe em seu pé, decido que isso é trabalho para mim, mas Lorenzo me segura.- Relaxa irmão, Julie resolve – mesmo não tendo muita certeza permaneço em meu lugar apenas como expectador.Então Julie faz um o que nenhum dos dois esperava, levanta-se e chuta a cara de mim, isso mesmo chuta a cara do que cuspiu em seu pé, assim limpando o sujo de sua bota.O homem cospe sangue, acho que até alguns dentes.- Quem será o primeiro a falar? – pergunta se aproximando de um pequeno armário
Não conseguir dormir a noite inteira, mesmo depois de arte que fizemos no carro, nem assim conseguir chegar a exaustão, minha cabeça está a mil por hora, se essa Helena teve a coragem de tentar algo contra mim, ela tem coragem para muito mais, logo quando a vi tive a sensação de que ela não era flor que se cheire, foi muito estranho a fácil aceitação dela, para a mulher que abriu a boca para dizer que eu nunca conseguiria voltar para vida de Chris, aceitou muito fácil a decisão dele.Levanto-me antes dele, meu reflexo no espelho é muito ruim, olheiras fundas, minha preocupação maior é dela atacar onde mais me dói, meus filhos, ela não machucaria crianças inocentes, machucaria?Não quero pagar para ver, se ela vier, vai achar para o dela, já deixei gente demais me machucar, interferir na minha vida, já sofri demais, comi o pão que o diabo amassou na mão de Enzo, perdi pessoas demais, não vou permitir que essa mulherzinha de quinta faça mal a mim ou a minha família.Com esse pensamento
Minha branquinha está muito preocupada com as meninas que deram entrada no centro de acolhimento, há algumas bem machucadas, a vi chorando esses dias, essas meninas são um gatilho para ela, ela passou por tudo o que elas passaram, ela mesmo contou já que não lembro, isso é uma ferida ainda não cicatrizada, se é que algum dia essa ferida irá cicatrizar, ao ouvir os relato das meninas, acionou um gatilho nela causando até pesadelos, apesar de seu algoz está morto, ainda existem outros, ela está brava, com raiva de não poder fazer nada para eliminar cada um deles.Isso não está em suas mãos, o que pode fazer nesse momento é acolher cada uma delas, tentar achar os familiares de cada uma, há apenas uma criança pequena de três aninhos, havia uma ficha com “vendida” escrita em letras garrafais, não havia nomes ou endereços apenas, fotos e idade da criança, “casal/Alemanha” únicos dados existentes naquela ficha.Se não localizarmos nada sobre ela, ela irá para adoção e Julie está pensando em
Está muito calmo, essa calmaria me assusta, Helena sumiu, mesmo depois de Chris a processar ela não deu o ar da graça, até onde sei ela perdeu tudo, sua empresa faliu e tenho certeza de que isso tem dedo de Christoffer e Lorenzo, se me importo? Nem um pouco, cada um colhe o que planta. Hoje iremos visitar as meninas resgatadas há um mês, a grande maioria delas não tem famílias, ou os familiares não as querem, pelo menos aqui elas terão uma oportunidade.Hoje também é a audiência de adoção, sabemos que está tudo certo, essa audiência é apenas uma formalidade, nas investigações não descobriram nada sobre a menina, ela já até estar em casa, se deu super bem com as meninas, por ser a mais nova o cuidado com ela é dobrado, agora ela se chama Ellie Alencar Bennett, quem diria que aos 25 anos seria mãe de cinco crianças, sinceramente não mudaria nada, meu amor por eles é incondicional, Chris disse que vou adotar um orfanato inteiro, se isso for ajudar a dar um lar decente não me importarei
Minha cabeça dói em um nível quase insuportável, o que aconteceu? Ouço vozes ao meu redor, porém não reconheço, tento abrir os olhos, mas assim como minha cabeça, meus olhos também latejam e acabo que não consigo abrir os olhos.- Alguém? – chamo de olhos fechados, sinto uma mão em meu braço.- Senhor Bennett, sou Martha a enfermeira – estou em um hospital? – precisa de algo?- Minha cabeça e olhos doem, quero abrir os olhos, porém a luz incomoda.- Ah ok, só um minuto – diz e se afasta – tenta abrir novamente – pede e assim faço, a sala está escura e assim é menos doloroso.- Obrigado... o que aconteceu e onde está minha esposa? – pergunto enquanto a moça mexe no soro.- A senhora Julie só esteve aqui ontem senhor – diz.- Ok... – forço a mente a lembrar o que aconteceu?Helena, ela esteve na minha sala, disse que queria uma trégua, levantou a bandeira branca, trouxe até um vinho irlandês, caralho... depois disso apagão total.Procurou pelo celular, acho que a enfermeira colocou algo
10 Anos Depois... Hoje me sinto nostálgica, observando todos a mesa conversando e rindo, minhas filhas algumas já na fase adulta, outra entrando na juventude, outros na adolescência, como a vida passa num piscar de olhos.- Mãe, o que a senhora acha? – Louise me trás de volta a terra.- Sobre? – ela revira os olhos entendo que não estava prestando atenção na conversa.- Sobre o apartamento, é muito ruim ficar em dormitório, estava explicando para as meninas, podemos dividir um apartamento, o que a senhora acha? – não é uma má ideia.- Acho bom, assim você fica de olho nesses duas – Lara e Sophie reviram os olhos – vamos convencer o grandão – as três batem palmas animadas.- Vamos logo escolher o apartamento, papai não vai nos deixar na rua – Sophie dramatiza.- Também vou querer um apartamento quando for pra faculdade – Gael dispara enfiando um pedaço de pão na boca.- Tua hora vai chegar, e cuida se não vai atrasar – Ele praticamente corre e Ellie segue atrás feito um carrapato.Fin
Corro pelo jardim de minha casa com Look logo atrás de mim.- Vamos maria mole, corre mais rápido – digo passando a sua frente.Look late tentando me pegar.- Vamos Julie entre agora – minha mãe grita da porta.- Ainda é cedo mãe – grito de volta.- Não me faz ir te pegar Julie – avisa.Corro mais que depressa rumo adentro.- Banheiro mocinha – minha mãe grita novamente.- Tá bom mãe – grito de volta.Correndo em direção ao banheiro, tropeço em Look e acabo me esborrachando no chão. Look chora.- Shiu Look, se não vamos apanhar nós dois – peço tentando fazê-lo parar.O carrego para o quarto, o deixando sobre minha cama, que cachorro manhoso, já se calou. Voltou para o banheiro e no caminho mamãe aparece em minha frente.- Já estava indo mãe – trato logo de explicar.- Vai Julie – ela passa por mim revirando os olhos.Amava minha mãe, por mais brava que ela fosse, tomei banho, me arrumei e desci para jantar, já fazia tudo sozinha, sempre fomos apenas nós duas então tinha que me virar.P