[Residência dos Benson]
Acordando na cama de Cassandra, Violet rebusca pelas memórias do celular.Eu podia jurar que ele estava na bolsa... Pensa. Não conseguindo encontrar o aparelho, ela tropeça pelas peças de roupa espalhadas no chão do quarto. O barulho de tropeços constantes faz Cassandra despertar abruptamente. —Qual é o seu problema, Violet? Amiga, você não dorme mais? Quando eu te conheci, você dormia- —Eu estou procurando o meu celular! A minha mãe vai me matar! A preocupação da garota era racional: Vivian não interpretaria corretamente a perda do aparelho. Mal sabia Violet, que mais tarde, ela teria o seu celular novamente, e aquilo mudaria tudo. ... Enquanto a dona surtava, seu aparelho viajava por Manhattan, no banco de carona de um Audi prata recém polido. Parado em frente à residência dos Jacobs, Tyler segura o celular com firmeza. Calmo, tranquilo, ele planeja exatamente como será o seu comportamento, garantindo que consiga ser convidado à entrar, obtendo confiança. Um pé na frente do outro. Relaxa os ombros e equilibra a sacola de padaria, na outra mão, guardando a manteiga de melhor qualidade que encontrou. Em frente à porta, Tyler encara a madeira marrom e estica o braço, tocando a campainha com a ponta do celular. Alguns segundos de silêncio. Ele se pergunta se talvez não tenha errado o endereço. Se talvez soubessem algo sobre ele. Se o psiquiatra realmente tivesse vazado alguma informação. Mas, há um fio de satisfação escalando o alívio do rapaz, quando a fechadura gira e a porta se abre para dentro. Tyler encara os olhos de Vivien e formula sobre suas palavras. —Uh... Bom dia, senhora Jacobs. Eu me chamo Tyler Monron. Ontem dei uma festa e, bom, hoje pela manhã os meus empregados me entregaram esse celular. —Ele estende o braço, passando o celular para as mãos de uma Vivien calada. —Na lista de emergência está esse endereço, não tinha um número pra quem ligar... E a notificação de uma manteiga. Tyler ergue a sacola na altura do peito e sustenta um sorriso bem humorado. —É... —Vivien repensa sobre suas próximas palavras, estranhando a atitude do rapaz. Ela chega a achar plausível, mas se contém e mantém suspeitas. —Bom, não dormiu com ela, dormiu? Sua pergunta não assombrou o rapaz. Pelo contrário. Fez nascer um sorriso que quase explodiu do fundo de sua garganta, sendo contido. —Oh... Não! Não. A senhorita Jacobs é uma aluna exemplar. Ela não se interessaria por alguém como eu... As palavras mágicas de uma boa pessoa estavam lá. Boa aparência, "boas intenções", palavras gentis. Ele sabia como cativar as pessoas para se aproveitar disso. —Bom... Vamos entrando. Você pode esperar por ela aqui dentro, tudo bem? Vivien comete o erro de se afastar, dando espaço para que Tyler entre em sua casa. Ao passar por ela, Tyler entrega-lhe a sacola de padaria e põe as mãos postas para a frente, "se rendendo". —Sente-se... Tyler, não é isso? —Ela espreme os olhos com o sorriso amigável. —Sim, senhora. —Bom, ela não deve demorar. Quando dorme na casa da Cass, sempre fica até um pouco mais tarde... Venha! De qualquer forma eu estou sozinha mesmo. Obrigada pela manteiga, querido. Vivien anda em passos acelerados em direção à cozinha. Parece preocupada em vigiar algo, mas não menciona. Tyler a segue, olhando em volta. A facilidade. Sem testemunhas. Local isolado. Mas, era espaço demais para cobrir com plástico. Ele nem estava preparado. Tyler suspira, rolando os olhos para cima, e, espreme os dedos enquanto segue Vivien pelo corredor.Seus olhos fixos nas costas dela, o faz delirar silenciosamente, sobre várias maneiras de fazê-la sangrar até a morte.
Ela fala, mas ele não ouve. Sua sede de vê-la brilhando o deixa surdo, cego e paranoico, fazendo um zumbido regular em seu ouvido. —... E como se tudo não bastasse, ele não visita a Violet tem uns dois anos! Foi demais para mim. Por esses motivos eu não quero contato, entende, Tyler? Ela o olha por cima dos ombros para conferir sua expressão e estica a mão em um floreio, indicando que haviam chegado à cozinha. Tyler pisca. Sua expressão apática indica que o transe está acabando. —Eu não tiro sua razão, senhora Jacobs. —Improvisa, deduzindo que o assunto fosse APENAS sobre o ex-marido de Vivien. —A sua filha deve sofrer com isso. —Novamente, uma resposta genérica. —Violet se fechou, entende? —Ela puxa a cadeira de madeira, oferecendo o lugar para o rapaz. —Seus estudos são tudo o que importa agora. A conversa se estende. Tyler se incomoda com a demora de Violet, mas se contém e interpreta uma boa companhia para aquela mãe entediada. Até que finalmente acontece. A fechadura gira e a porta se abre, revelando ela. Tyler observa profundamente cada detalhe, guardando em suas memórias sombrias. O vento que entra pela porta aberta lhe trás o cheiro dela, e ele inspira profundamente, enchendo os pulmões. Ele analisa os detalhes de Violet, enquanto mãe e filha conversam internamente sobre o celular da garota. Os cabelos longos e castanhos caindo para as costas. A pele com aparência aveludada, sem pelos. Os olhos azuis profundos, lábios carnudos, pernas torneadas, quadris finos... Ele quer tocá-la. Ele quer perder a curiosidade. Violet se aproxima aos poucos, tirando-o do delírio racional. —Como... Soube onde eu moro? Ele se recompõe, ficando de pé diante dela. —A sua lista de emergência. Eu só... Sinto muito, só não queria que perdesse seu aparelho.Seu jeito calmo, sereno e assustadoramente atraente, passa uma falsa sensação de confiança.
Ele ameaça ir em direção à porta, demonstrando decepção, mas Violet cai em seu plano. —Espera! —Ela põe a mão no braço dele. —Fica pro café da manhã? A minha mãe me disse que... Você trouxe a manteiga que ela pediu pra mim... Apesar do sorriso sem jeito, Violet não estava detestando ter que ficar na companhia dele. Ela sabia o porquê. Era aquela sensação de querer conhecer a pessoa que ela, secretamente, desejou durante as aulas. O garoto inconsequente, misterioso. Violet olha fixamente nos olhos de Tyler, tentando entender seus próprios motivos. No entanto, Tyler analisa a situação e conclui: era uma ótima maneira de levá-la ao caminho da morte, pelas mãos dele.Com um olhar profundo sobre Violet, Tyler só consegue pensar em uma coisa: Uma profunda vontade de mostrá-la como ele era de verdade. —Bom, fica decidido! Tyler, querido, você toma café da manhã com a gente. —Vivien o convida novamente, reafirmando sua preferência. —Bom, eu vou terminar de preparar as coisas. Violet, minha filha, faça companhia para o seu amigo. Eu não demoro.Com a saída de sua mãe, Violet sente a pressão de ficar sozinha com Tyler. Ela solta seu braço, percebendo que ficou tempo demais agarrando aquele local.—M-Me desculpe...—Tudo bem. —Ele sorrir, se ajeitando. —Eu não sei se acertei na manteiga, viu...—Ah, para! Nem era pra ter trazido. Ela troca alguns passos curtos pelo sofá e escorrega a mochila de seu ombro sobre o assento. Sentado ao lado dela, Tyler passa uma perna por cima da outra e estica um braço por cima do encosto. O seu corpo falava, embora seus lábios não dissessem o que ele queria. Violet junta as mãos sobre as pernas e desvia o olhar, fugind
Após aquela visita, Tyler voltou para casa, encarando a solidão. Apesar da presença de seu pai, estar sozinho era uma sensação frequente da qual ele desfrutava. Ele remaneja seus pensamentos na direção de Violet, tentando se ludibriar. Planeja sua morte, mas nada lhe funciona tão bem ao ponto de lhe puxar para cima.Agarrado ao ferro frio, o rapaz bonito e solitário encara os degraus, descendo as escadas. O espaço em seu coração fica um pouco mais vazio, formando um abismo entre sua humanidade e a criatura letal sendo contida dentro de si aos poucos.Na sala, seu pai conversa com alguém ao telefone. Parece inconformado. Teme por algo.Não se importa.Não o percebe.Tyler troca passos leves na direção da cozinha, adentrando ao local. O cheiro de suas panquecas preferidas lhe invade o estômago, mas não há fome para consumí-las.—Senhor Tyler! Bom dia. Eu lhe fiz suas panquecas favoritas, não quer comer?A empregada percebe o suspiro. Os ombros caídos sustentando os cotovelos que despen
Tyler está focado. Focado demais para perceber que deixou seu pai sozinho por mais tempo do que deveria.Isso resulta em uma busca, do mesmo, pelo rapaz.A porta se abre, revelando Tonny. Ele arqueia as sobrancelhas analisando a cena. Seu filho está sentado olhando fixamente para um jovem garoto de pé, diante dele. Tyler mordendo a borda do copo de plástico enquanto mantém um olhar obsessor para o jovem desconhecido.O que seria isso?Tonny se pergunta, mas evita fazer de seus pensamentos uma frase.—Filho, eu estou indo embora. —Anuncia, trocando dois passos para dentro da sala do padre. Tyler se levanta sobre dois pés firmes, ainda mantendo os olhos fixos no garoto menor. Tira o copo da boca após secá-lo, e caminha lentamente na direção do lixeiro esquecido ao lado da janela.—Obrigado pela água. —Agradece sereno, mantendo o vazio dentro de si. —Obrigado por orar por eles. —Acena minimamente, e caminha de volta na direção de seu pai.O garoto fica sozinho com suas reflexões. Tyler
Com sentimentos de angústia, Violet apenas cede, dando um passo para trás.Ela recua, sabendo que não deveria ter tocado em Tyler.O rapaz suspira, destravando as mãos.—Você pode me fazer companhia hoje a tarde? Por que está aqui?Seus passos em direção ao corredor faz Violet o seguir pelo mesmo caminho, lado a lado.—Preciso entregar uma boa matéria para o jornal da escola e... Bom, eu não tenho nada. A Cass me deixou na mão e foi pra casa ficar com a família e fazer sei lá o quê. —Confessa, tentando manter o bom humor diante de um Tyler esquisito.Ela percebe que era verdade o que todos falavam: ele era uma pessoa muito atraente, bonita, popular. No entanto, era tão estranho quanto.—Bom, você pode assistir as aulas comigo e vê se consegue alguma coisa. O que acha?A companhia dele. Violet, que estava se interessando emocionalmente por Tyler, agora tinha a promessa de ficar na companhia dele. Para alguém solitário e desajustado como a jovem Jacobs, ter a oportunidade de ficar ao l
A luz do poste brilha sobre os bancos de madeira, em frente ao jardim da pequena capela. O jovem desconhecido analisa as necessidades de Tyler, e, apegando-se às crenças religiosas, oferta seu bom coração em uma ação humana.Ele pisca duas vezes, sentindo o frio congelante de uma noite sombria.—Tudo bem, vamos lá.A brisa gelada empaledece a face do garoto. Ele espreme os lábios, sorrindo de maneira amigável para o seu assassino. Ele não sabe. Não suspeita de nada.Tyler range os dentes silenciosamente, guiando o rapaz até o carro. Antes de atravessar a rua, ele olha de um lado para o outro, em busca de testemunhas.Está perfeito.Não há ninguém, quando até mesmo os gatos já foram em boa hora.Por que pregar em uma área tão afastada? Por que fazer as pessoas se deslocarem tanto para ouvir a reflexão de outra pessoa, baseada em um livro completamente alterado pelo homem? Você queria que eu viesse...Tyler não precisa de uma motivação para matar, mas seus questionamentos o diverte dura
Uma nova manhã cai sobre Manhattan, na promessa de melhorar os caminhos de uns, e, piorar a tragetória de outros. Tyler está dormindo tranquilamente em sua cama. Abraça o travesseiro europeu, apoiando a cabeça em plumas de ganço. É como reinar sobre ossos.A empregada adentra ao quarto obedecendo as ordens do senhor Tonny. Ela mexe nas cortinas e deixa a luz do sol entrar através das janelas. Está com os cabelos presos. São seis horas da manhã, mas há brilho em seu rosto.Ela está cansada.Tyler suspira, despertando de seus sonhos obscuros. Ergue a cabeça lentamente, ainda embriagado pelo sono, e avista a humilde empregada tentando acordá-lo sem lhe incomodar.—Você... Não precisa fazer isso toda vez. —Ele boceja, sentando-se sobre a cama gigantesca. —Faça um barulho, jogue meu braço pra longe, chame o meu nome... Qualquer coisa que torne o seu trabalho mais fácil. Eu sou só um vagabundo que dorme demais. —Ele brinca, arrancando risadas naquele rosto cansado pelo trabalho árduo.O ra
O dia amanhece dos dois lados da cidade. No noticiário a mesma notícia: um coroinha desapareceu no fim da tarde do dia anterior e as buscas se intensificam nas proximidades. Afinal de contas, o que havia acontecido ao jovem de pele parda e cabelos negros? Apenas uma pessoa guarda esse segredo: Tyler Monron.No colégio, rodeado pelos amigos, Tyler desfruta de toda a atenção excessiva enquanto olha fixamente para alguém a distância. Sorrindo pelas piadas sexuais proferidas dos adolescentes que ele despreza, o jovem analisa os movimentos da estudante como um cão.Na mesa a diante está Violet, a estudante que rouba os olhares de um Tyler ambicioso. Se evita tocá-la para protegê-la de si mesmo, então por que está olhando constantemente para ela ao ponto de chamar a atenção de seus amigos?—Se olhar mais um pouco vai acabar babando, cara! —Diz um deles, tocando o ombro do jovem alto. —Vamos lá, Tyler! Ela é uma nerdezinha. Aposto que só quer se divertir, hã!—Cala a boca... —Ele abaixa a c
Violet não analisa a situação como deveria. Ela sequer se importa.Durante a manhã, Tyler e Violet assistem suas aulas normalmente. Ela se mantém atenta à matéria, finalizando-a para que Cassandra leve ao jornal e publique. O sinal toca.Violet se mantém hipervigilante, temendo perder o rapaz de vista. Ainda próximo à porta da sala de aula, ele logo é rodeado por seus muitos amigos enquanto a adolescente guarda seus livros no armário de esquina, olhando através da brecha. Uma garota se esfrega em Tyler e acaricia seus cabelos curtos. Violet percebe que ele parece sorrir satisfeito jogando a cabeça para trás, mas logo tira sua mão que vai de encontro ao pescoço dele, livrando o toque.Vigiando escondida, a garota inocente fecha a porta e se vira de costas, caminhando rumo às portas de entrada do colégio. Os corredores logo são tomados por alunos, mas Violet está caminhando sozinha com os braços cruzados. Os tufos de cabelo castanho chicoteiam sobre suas costas, lhe tornando um pouco m