Tyler está focado. Focado demais para perceber que deixou seu pai sozinho por mais tempo do que deveria.
Isso resulta em uma busca, do mesmo, pelo rapaz.
A porta se abre, revelando Tonny. Ele arqueia as sobrancelhas analisando a cena. Seu filho está sentado olhando fixamente para um jovem garoto de pé, diante dele. Tyler mordendo a borda do copo de plástico enquanto mantém um olhar obsessor para o jovem desconhecido.
O que seria isso?
Tonny se pergunta, mas evita fazer de seus pensamentos uma frase.
—Filho, eu estou indo embora. —Anuncia, trocando dois passos para dentro da sala do padre.
Tyler se levanta sobre dois pés firmes, ainda mantendo os olhos fixos no garoto menor. Tira o copo da boca após secá-lo, e caminha lentamente na direção do lixeiro esquecido ao lado da janela.
—Obrigado pela água. —Agradece sereno, mantendo o vazio dentro de si. —Obrigado por orar por eles. —Acena minimamente, e caminha de volta na direção de seu pai.
O garoto fica sozinho com suas reflexões. Tyler era mesmo uma figura esquisita e inesquecível. Nem toda a beleza do mundo conseguiria ser enaltecida diante de um semblante tão sombrio quanto o de Tyler Monron.
...
Na volta para casa, pai e filho estacionam na garagem da mansão. A conversa é inexistente, provocando o adolescente à ceder aos instintos. Parado com as mãos no volante, Tyler abdica do horário de almoço e dirige para fora da residência dos Monron, escapando de mais confusões com seu pai.
Ele decide almoçar na cantina do colégio.
Sua falta justificada pela manhã lhe permite assistir aulas apenas durante a tarde, repondo as aulas do turno anterior.
—Tyler? —Um dos professores lhe encontra comendo sozinho em silêncio. —Pensei que havia faltado pra... Você sabe-
—Faltei. —Engoliu. —Mas vim almoçar aqui pra não perder as aulas que irei repôr agora de tarde, só isso. —Responde com frieza, terminando seu almoço.
—Eu sinto muito, Tyler. Sei que não gosta de falar sobre você e nem sobre a sua família...-
—E não gosto.
Rigidez.
Tyler se vira na direção oposta à mesa e se levanta, levando consigo a bandeja com várias migalhas deixadas por ele.
Conversar com ele não era uma tarefa fácil e ninguém no mundo conseguia fazer isso sem ser machucado.
Devolvendo a bandeja para o carrinho, Tyler se vira de costas abruptamente e esbarra em alguém.
—Ai! Não consegue enxergar?-
Os dois se olham.
Ele já havia visto ela antes.
Violet Jacobs...
Os olhos dele ficam compenetrados nos dela, que também não os desvia.
—Eu... Não queria esbarrar em você, senhorita Jacobs-
—Violet. —Ela sorrir, esticando o braço ao lado do corpo dele, e devolve a bandeja para o carrinho. —Está tudo bem. Você é... Bem forte, não?! —Ela brinca, piscando lentamente para Tyler.
O garoto sustenta o sorriso de canto de boca e expira.
—Ouvi dizer que vai assistir às aulas durante a tarde porque perdeu as aulas da manhã. É verdade?
Violet arruma o casaco moletom, subindo o zíper.
Ele a observa fixamente. Obsecado por cada coisa mínima que ela faz. Seus lábios, seu jeito de olhar, seu pestanejar calmo e a maneira como se mexe. Talvez seja algo com o modo como o cabelo dela cai para as laterais do rosto, de maneira macia e, aparentemente pesada.
Não obtendo respostas do garoto frio, ela estala os dedos próximos ao rosto dele e o toca no ombro, o deixando em choque.
—Você não me ouviu? —Sorrir, estalando os dedos outra vez. —Caramba! Você é desligado mesmo...
Violet está retribuindo a atenção que havia ganhado de Tyler, no sofá de sua casa. Ela quer aquele garoto outra vez, mas está vendo a diferença no olhar do rapaz.
O que houve?
Por que ele mudou dessa vez?
Tyler sente a mão dela saindo de seu ombro e umedece os lábios, pronto para contar-lhe o motivo da falta.
—Fui ao cemitério hoje pela manhã e visitei um parente. Por isso, vou assistir às aulas agora a tarde.
Luto.
O sorriso nos lábios volumosos da jovem Jacobs se desfaz aos poucos.
Ela o entende.
Entende sua frieza, sua distância, sua solidão.
—Oh, Tyler. Eu... Sinto muito por isso.
O rapaz espreme as mãos em dois punhos, para baixo e fica imóvel quando percebe que o impacto do corpo dela está colidindo com o dele.
Violet o abraça, envolvendo seus braços finos pelo tronco de Tyler.
É o fim para ele.
O contato humano inesperado e gentil.
Como aquilo pode estar acontecendo com ele?
Como alguém poderia ser tão cruel ao ponto de lhe oferecer conforto? Mas ele não merece! Merece?
Ele estreita o cenho e se mexe, insinuando para que Violet o solte. E suspira ao final disso.
Ela o olha, incompreendida.
Por que ele está resistindo? O que há de errado com ele?
Na dúvida, a ingênua Jacobs se desculpa.
—Eu sinto muito.
Tyler quer tocá-la. Ele quer abraçá-la de volta. Mas, lá no fundo ele sabe que se o fizer, irá machucá-la como faz com todos os outros. Ele sabe que, se sentir novamente, se tocá-la... Ele não o fará sem sangrá-la.
O rapaz olha nos olhos de Violet e enrijece.
—Eu não gosto de contato físico, por favor, não me abrace mais.
Ele se contradiz.
Mas, o que mudou?
Não foi ele quem acariciou as madeixas de Violet naquele sofá?
A garota não consegue encontrar uma explicação e se cala. Se contém.
O que a doce Jacobs não sabe, é que Tyler está controlando sua vontade demoníaca de matar há um bom tempo, e deixar que aquela criatura sanguinária escape de seu domínio, é perigoso demais. A sua necessidade está lhe queimando por dentro e ele pode sentir isso atravessando a sua carne. Por tanto, todo cuidado é pouco com quem ele não quer cortar.
Com sentimentos de angústia, Violet apenas cede, dando um passo para trás.Ela recua, sabendo que não deveria ter tocado em Tyler.O rapaz suspira, destravando as mãos.—Você pode me fazer companhia hoje a tarde? Por que está aqui?Seus passos em direção ao corredor faz Violet o seguir pelo mesmo caminho, lado a lado.—Preciso entregar uma boa matéria para o jornal da escola e... Bom, eu não tenho nada. A Cass me deixou na mão e foi pra casa ficar com a família e fazer sei lá o quê. —Confessa, tentando manter o bom humor diante de um Tyler esquisito.Ela percebe que era verdade o que todos falavam: ele era uma pessoa muito atraente, bonita, popular. No entanto, era tão estranho quanto.—Bom, você pode assistir as aulas comigo e vê se consegue alguma coisa. O que acha?A companhia dele. Violet, que estava se interessando emocionalmente por Tyler, agora tinha a promessa de ficar na companhia dele. Para alguém solitário e desajustado como a jovem Jacobs, ter a oportunidade de ficar ao l
A luz do poste brilha sobre os bancos de madeira, em frente ao jardim da pequena capela. O jovem desconhecido analisa as necessidades de Tyler, e, apegando-se às crenças religiosas, oferta seu bom coração em uma ação humana.Ele pisca duas vezes, sentindo o frio congelante de uma noite sombria.—Tudo bem, vamos lá.A brisa gelada empaledece a face do garoto. Ele espreme os lábios, sorrindo de maneira amigável para o seu assassino. Ele não sabe. Não suspeita de nada.Tyler range os dentes silenciosamente, guiando o rapaz até o carro. Antes de atravessar a rua, ele olha de um lado para o outro, em busca de testemunhas.Está perfeito.Não há ninguém, quando até mesmo os gatos já foram em boa hora.Por que pregar em uma área tão afastada? Por que fazer as pessoas se deslocarem tanto para ouvir a reflexão de outra pessoa, baseada em um livro completamente alterado pelo homem? Você queria que eu viesse...Tyler não precisa de uma motivação para matar, mas seus questionamentos o diverte dura
Uma nova manhã cai sobre Manhattan, na promessa de melhorar os caminhos de uns, e, piorar a tragetória de outros. Tyler está dormindo tranquilamente em sua cama. Abraça o travesseiro europeu, apoiando a cabeça em plumas de ganço. É como reinar sobre ossos.A empregada adentra ao quarto obedecendo as ordens do senhor Tonny. Ela mexe nas cortinas e deixa a luz do sol entrar através das janelas. Está com os cabelos presos. São seis horas da manhã, mas há brilho em seu rosto.Ela está cansada.Tyler suspira, despertando de seus sonhos obscuros. Ergue a cabeça lentamente, ainda embriagado pelo sono, e avista a humilde empregada tentando acordá-lo sem lhe incomodar.—Você... Não precisa fazer isso toda vez. —Ele boceja, sentando-se sobre a cama gigantesca. —Faça um barulho, jogue meu braço pra longe, chame o meu nome... Qualquer coisa que torne o seu trabalho mais fácil. Eu sou só um vagabundo que dorme demais. —Ele brinca, arrancando risadas naquele rosto cansado pelo trabalho árduo.O ra
O dia amanhece dos dois lados da cidade. No noticiário a mesma notícia: um coroinha desapareceu no fim da tarde do dia anterior e as buscas se intensificam nas proximidades. Afinal de contas, o que havia acontecido ao jovem de pele parda e cabelos negros? Apenas uma pessoa guarda esse segredo: Tyler Monron.No colégio, rodeado pelos amigos, Tyler desfruta de toda a atenção excessiva enquanto olha fixamente para alguém a distância. Sorrindo pelas piadas sexuais proferidas dos adolescentes que ele despreza, o jovem analisa os movimentos da estudante como um cão.Na mesa a diante está Violet, a estudante que rouba os olhares de um Tyler ambicioso. Se evita tocá-la para protegê-la de si mesmo, então por que está olhando constantemente para ela ao ponto de chamar a atenção de seus amigos?—Se olhar mais um pouco vai acabar babando, cara! —Diz um deles, tocando o ombro do jovem alto. —Vamos lá, Tyler! Ela é uma nerdezinha. Aposto que só quer se divertir, hã!—Cala a boca... —Ele abaixa a c
Violet não analisa a situação como deveria. Ela sequer se importa.Durante a manhã, Tyler e Violet assistem suas aulas normalmente. Ela se mantém atenta à matéria, finalizando-a para que Cassandra leve ao jornal e publique. O sinal toca.Violet se mantém hipervigilante, temendo perder o rapaz de vista. Ainda próximo à porta da sala de aula, ele logo é rodeado por seus muitos amigos enquanto a adolescente guarda seus livros no armário de esquina, olhando através da brecha. Uma garota se esfrega em Tyler e acaricia seus cabelos curtos. Violet percebe que ele parece sorrir satisfeito jogando a cabeça para trás, mas logo tira sua mão que vai de encontro ao pescoço dele, livrando o toque.Vigiando escondida, a garota inocente fecha a porta e se vira de costas, caminhando rumo às portas de entrada do colégio. Os corredores logo são tomados por alunos, mas Violet está caminhando sozinha com os braços cruzados. Os tufos de cabelo castanho chicoteiam sobre suas costas, lhe tornando um pouco m
Após conversar com o rapaz, Tyler olha para Violet, por cima dos ombros, e flexiona os dedos para chamá-la. A garota se junta á ele e os dois atravessam o lago através de uma pequena e singela ponte de madeira.—Você costuma trazer os seus amigos aqui? —Ela pergunta, movendo os braços para retirar o casaco. O sol é forte e aquece o tecido, fazendo-a querer se livrar dele.Tyler caminha tranquilamente de cabeça erguida, acostumado com tudo o que está a sua volta. Nada lhe é novidade. Nada lhe cai com amedrontamento.—Não. Quero dizer... Mais ou menos. Quando quero cavalgar com eles ou quando tem festa... Eu os chamo. Mas, nada corriqueiro, sabe?! —Ele vira a cabeça para ela e lhe lança um sorriso mínimo, voltando a encarar o caminho a sua frente.Aceitando suas palavras, Violet junta as pontas do casaco em frente ao tronco e cruza os braços, deixando-o pendurado sobre eles.Ela o segue até alcançarem a entrada de uma residência que nutre o bege como religião. Violet analisa os móveis e
Nem mesmo para Tyler as intenções de Violet ficam visíveis naquele momento. Ela quer salvá-lo, mas ainda não sabe disso.Motivada pelo discurso de Tyler, ela esquece suas palavras anteriores sobre planejar um acidente para a governanta, e se interessa um pouco mais pela história do rapaz.—Por que você tem problemas com o seu pai? Seu ato deixa Tyler um pouco mais confortável.Ela quer saber.Ela quer participar. Ele planeja as palavras certas em silêncio, até poder externá-las tranquilamente.—Bom... O meu pai me culpa pela morte da minha mãe há muito tempo. Eu não tive culpa de ela ter sido atacada dentro do meu quarto, e você consegue imaginar o quanto é ruim voltar para o mesmo quarto onde a sua mãe morreu em uma poça de sangue?Violet recua. Seus passos param á caminho do rapaz e ela sente o corpo congelar.A família Monron tem um segredo sombrio.Tyler sabe que está lhe deixando amedrontada, mas também descobriu que ela se interessa por ele de maneira emotiva. Ele sabe como jo
O almoço aparenta ser bem sucedido. Tyler conversa tranquilamente sobre as coisas que ainda pode mostrar para Violet, mas algo sai de seu controle: Tonny Monron, seu pai.Tyler está terminando de experimentar um doce alemão quando o Audi cinza estaciona antes da ponte de madeira. Violet olha para Tyler, sem entender o que aquilo significa, mas se mantém tranquila comendo do mesmo doce que o rapaz loiro.Tyler resmunga, passando a colher entre os dentes:—O que o meu pai tá fazendo aqui...?Tonny abre a porta do carro e desce, encarando Tyler por cima do teto do carro. Bate a porta com insatisfação e avança os passos em direção aos dois. Seu semblante é sereno e intrigante, ele está furioso com algo. No entanto, ao se aproximar do casal de adolescentes, ele retira os óculos escuros dos olhos e encara Violet.—Boa tarde, mocinha. —Exibindo um sorriso de meia boca, ele estende a mão, cumprimentando a jovem de aparência simples. —O-Oi, senhor Monron. Boa tarde. Eu me chamo Violet Jacobs.