Após conversar com o rapaz, Tyler olha para Violet, por cima dos ombros, e flexiona os dedos para chamá-la. A garota se junta á ele e os dois atravessam o lago através de uma pequena e singela ponte de madeira.—Você costuma trazer os seus amigos aqui? —Ela pergunta, movendo os braços para retirar o casaco. O sol é forte e aquece o tecido, fazendo-a querer se livrar dele.Tyler caminha tranquilamente de cabeça erguida, acostumado com tudo o que está a sua volta. Nada lhe é novidade. Nada lhe cai com amedrontamento.—Não. Quero dizer... Mais ou menos. Quando quero cavalgar com eles ou quando tem festa... Eu os chamo. Mas, nada corriqueiro, sabe?! —Ele vira a cabeça para ela e lhe lança um sorriso mínimo, voltando a encarar o caminho a sua frente.Aceitando suas palavras, Violet junta as pontas do casaco em frente ao tronco e cruza os braços, deixando-o pendurado sobre eles.Ela o segue até alcançarem a entrada de uma residência que nutre o bege como religião. Violet analisa os móveis e
Nem mesmo para Tyler as intenções de Violet ficam visíveis naquele momento. Ela quer salvá-lo, mas ainda não sabe disso.Motivada pelo discurso de Tyler, ela esquece suas palavras anteriores sobre planejar um acidente para a governanta, e se interessa um pouco mais pela história do rapaz.—Por que você tem problemas com o seu pai? Seu ato deixa Tyler um pouco mais confortável.Ela quer saber.Ela quer participar. Ele planeja as palavras certas em silêncio, até poder externá-las tranquilamente.—Bom... O meu pai me culpa pela morte da minha mãe há muito tempo. Eu não tive culpa de ela ter sido atacada dentro do meu quarto, e você consegue imaginar o quanto é ruim voltar para o mesmo quarto onde a sua mãe morreu em uma poça de sangue?Violet recua. Seus passos param á caminho do rapaz e ela sente o corpo congelar.A família Monron tem um segredo sombrio.Tyler sabe que está lhe deixando amedrontada, mas também descobriu que ela se interessa por ele de maneira emotiva. Ele sabe como jo
O almoço aparenta ser bem sucedido. Tyler conversa tranquilamente sobre as coisas que ainda pode mostrar para Violet, mas algo sai de seu controle: Tonny Monron, seu pai.Tyler está terminando de experimentar um doce alemão quando o Audi cinza estaciona antes da ponte de madeira. Violet olha para Tyler, sem entender o que aquilo significa, mas se mantém tranquila comendo do mesmo doce que o rapaz loiro.Tyler resmunga, passando a colher entre os dentes:—O que o meu pai tá fazendo aqui...?Tonny abre a porta do carro e desce, encarando Tyler por cima do teto do carro. Bate a porta com insatisfação e avança os passos em direção aos dois. Seu semblante é sereno e intrigante, ele está furioso com algo. No entanto, ao se aproximar do casal de adolescentes, ele retira os óculos escuros dos olhos e encara Violet.—Boa tarde, mocinha. —Exibindo um sorriso de meia boca, ele estende a mão, cumprimentando a jovem de aparência simples. —O-Oi, senhor Monron. Boa tarde. Eu me chamo Violet Jacobs.
A reação de Violet é genuína. Por saber o que é solidão, ela sente a necessidade em proteger Tyler ao vê-lo vulnerável e abandonado pelo próprio pai. Há empatia verdadeira pelos motivos errados.Antes que seu pai retorne, Tyler se antecipa para ficar sozinho com a jovem Jacobs outra vez.—Senhorita Jacobs, posso levar você de volta à cidade? É que eu preciso muito de... Um pouco de remédio e parar numa farmácia não vai me fazer mal algum. —Diz ele, saindo do abraço lentamente.Violet não hesita, afinal de contas, ela está preocupada demais para lidar com seu egoísmo agora.Ela suspira, sentindo o abraço de Tyler se tornar frouxo e morno. Ele deve estar se lembrando, outra vez, que eu não posso tocá-lo... Ela pensa, vacilando o olhar pelos cantos do cenário ranchoso.É a confirmação: está na hora de ir.Ela percebe o ombro alto passar ao lado de sua cabeça e então o segue fielmente, na promessa doce de ser querida por Tyler. Eles caminham lado a lado para fora da casa e mantém o ritm
Há vinte minutos da residência dos Jacobs, Tyler desce do carro e adentra a farmácia. Olha em volta, mantendo um semblante intrigante e sereno.Ele olha pelas prateleiras em busca de alguns analgésicos, mas não está interessado em conter o corte em sua boca e nem em sua sobrancelha. Ele só quer ter provas para Violet. Algo que a faça acreditar que ele estava sentindo alguma coisa enquanto apanhava "covardemente" de seu pai. O rapaz calcula, colocando os remédios dentro de uma pequena cesta azul. Segura-a com determinação e encolhe os cotovelos com fragilidade, indo em direção ao caixa. Há duas crianças se aproximando e uma mulher estressada. Ela mantém um coque despenteado no alto da cabeça, deixando seus cabelos bagunçados. Está sobrecarregada e cansada demais para ser gentil. Suas crianças a chamam de "tia" enquanto mostram duas barras de chocolate para ela.Tyler afasta para o lado, indicando para que passem em sua frente. As crianças abandonam a empolgação pelo doce e o interesse
Após ouvir em silêncio os desabafos de uma mulher entediada e estressada, Tyler anota o endereço da instituição. É um orfanato que está caindo em decadência. O transporte público chega, obrigando a mulher á subir com as duas crianças quietas. Ele percebe algo de errado em tanta obediência, mas guarda suas suspeitas para mais tarde. Agora, Tyler está interessado em fazer parte de algo para atrair ainda mais uma Violet fiel. O rapaz retorna para seu carro luxuoso e passa o cinto de segurança. Na sequência, dirige para casa, onde sabe que encontrará problemas.Seu pai jamais ficaria no rancho depois de ter sido agredido. Tyler estaciona, segurando as sacolas azuis. Desce do carro e caminha a passos largos em direção ás portas de entrada da casa. Os seguranças lhe olham, se questionando sobre seus machucados, mas ele permanece de cabeça erguida caminhando para dentro de casa. Ao entrar, a governanta Samantha lhe recepciona.—Senhor, o seu pai-—Eu sei, já chegou. Vou subir e apanhar m
Ali no carro, Tyler respira fundo ao ouvir a voz de Violet lhe reconhecendo.—Oh... Tyler! Eu não esperava que fosse me ligar tão rápido...O silêncio torna a situação constrangedora. A jovem Jacobs quer falar, mas teme que Tyler esteja apenas desabafando silenciosamente do outro lado do telefone e se contém. Ela pensa sobre o que ele deva estar fazendo nesse momento.Por outro lado, o garoto olha através do vidro e observa seu pai deixando a mansão. O sol está se pondo e o céu ganha uma cor gradiente que começa em um azul, furtando o amarelo que se perde no laranja intenso.Lá está Tonny, adentrando ao Audi cinza. Mantém o celular próximo à orelha. Está furioso com algo, provavelmente não é Tyler. O seguranças lhe ofertam o comboio, mas ele o dispensa de imediato.Recobrando a atenção à ligação, Tyler limpa a garganta e espreme o celular na mão, ficando surpreso por não quebrá-lo.—Senhorita Jacobs, eu sinto muito não ter falado nada. Fiquei entretido com outra coisa, mas estou de vo
Tyler espera por alguns minutos. Olha em volta sem conseguir ver o Audi de seu pai.Papai não está com você, e por onde ele deve andar...? De qualquer forma, a gente vai conversar essa noite, Samantha. Você e eu temos muito o que trocar, querida.Ele pensa, tragando mais um cigarro.O rapaz pega o celular e manda uma mensagem para Samantha."Você esqueceu de falar com alguns funcionários. Eles estão me perguntando sobre o plantão do turno da noite. Como pode ser tão incompetente desse jeito, Samantha? O que eu vou fazer pra responder aos empregados, hã?"E aguarda em silêncio.Ele liga o carro e recua, escondendo-o num beco escuro. O ambiente não é um perigo para Tyler. O próprio Monro é um perigo para aquele lugar.Logo, a tela de seu celular acende, revelando a resposta de Samantha."Mas, eu repassei os turnos dessa noite! Sempre passo, senhor Monron. Não está querendo que eu volte pra Manhattan e faça isso outra vez, não é?"Ele responde de imediato."Se não for pedir muito, volte.