Como (não) namorar um psicopata?
Como (não) namorar um psicopata?
Por: MBWoficial
Um paciente meticuloso

[Consultório psiquiátrico do Dr. Kim]

Dr. Kim arruma os papeis entre as mãos, em um fecho, e o olha por cima dos óculos redondos.

—Você não pensa em como viveria se estivesse na companhia de alguém, Tyler?

O silêncio faz um zumbido ensurdecedor no ouvido de Kim, que luta para se manter profissional.

Um suspiro.

A promessa de uma resposta.

—Eu não preciso de alguém ao meu lado, mas gostaria de fazer isso outra vez.

O profissional espreme os lábios, contendo os pensamentos. Mesmo estando em horário de trabalho, ele encontra dificuldades para manter aquela consulta por mais cinco minutos restantes.

—E se você perdesse um filho, e esse filho fosse o seu único?

Tyler sustenta um sorriso de canto de boca, e ergue os olhos para Kim, concentrando-se ali por longos segundos fixos.

—Eu faço outro.

Os dois se encaram fixamente. Kim pode sentir a gota de suor deslizar pela espinha, sumindo ao longo do tecido da camisa branca.

O despertador toca, indicando que aquela consulta havia chegado ao fim.

Tyler se levanta sobre dois pés firmes e espera pelo psiquiatra, olhando-o com superioridade.

Kim apoia as mãos nos braços da poltrona até equilibrar sua estatura com a de seu paciente.

—Espero ver você aqui novamente, Tyler. Foi uma boa consulta. —Informa com mentiras, sorrindo falsamente.

Tyler sabia que ele estava mentindo, mas isso não o atingia.

Com aquela consulta encerrada, o rapaz alto atravessa o vão da porta, encontrando seu pai na sala de espera.

Eles se olham brevemente.

Tyler passa a mão pelos cabelos curtos, se sentindo satisfeito com o que aconteceu ali dentro.

Ele conseguiu desestruturar o Dr. Kim novamente.

...

Numa volta silenciosa, Tyler olha através da janela, despreocupado.

O silêncio é quebrado pela figura paterna, Tonny.

—O Dr. Kim pareceu estressado dessa vez. —Olhou brevemente para a expressão despreocupada de seu filho, em busca de uma reação. —O que você disse?

—É uma consulta sigilosa e eu não ofereci risco à vida de ninguém, o que não dá o direito de ter esse sigilo quebrado, pai. —Arqueou as sobrancelhas, se recusando ter os pensamentos expostos.

Sem insistir, seu pai abandona os questionamentos.

Ao chegarem em casa, Tyler corre pelo lance de escadas, rumo ao seu quarto: o covil.

A porta b**e, disparando reclamações de Tonny.

Tyler parece ansioso. Atravessa o quarto em passos que quase se tropeçam, e j**a a mochila sobre a cama, sacudindo o colchão de molas.

Eu deixei aqui em algum lugar...

Cadê você, coração...?

Dobra seus joelhos sobre o chão de madeira e estende a mão, puxando a porta prata do frigobar.

Lá está

Uma cabeça humana conservada em substâncias químicas altamente perigosas.

Ele olha pra a cabeça flutuante e suspira aliviado.

—Ah, diário... Eu tenho tanto para lhe contar, meu velho amigo!

...

[Colégio]

—Violet! —Alguém acena, chamando no final do corredor. —Espera!

Cassandra era uma aluna exemplar de comportamento ímpar. Era o protótipo de como ser invisível e, ainda assim, gostarem de você.

Ofegante, ela se aproxima de Violet, exibindo um pequeno panfleto.

—Você não sabe? Hoje vai ter festa na casa dos Monron.

—O esquisito alto? —Violet estreita o cenho. Porque alguém como os Monron daria uma festa para pessoas que não compartilham do mesmo poder aquisitivo que eles?

—O colégio todo foi convidado, e todo mundo tá dizendo que vai! —Seus olhos brilharam com a ambição de conseguir algo novo para a matéria do jornal da escola. —Você vai, não é?

—Não. Meus pais me querem longe de confusão e eu PRECISO passar nas provas pra medicina, Cass. —Expirou, arrumando a alça da mochila. —Por que não vai e consegue uma matéria?

Elas se encaram, parando os passos em frente aos armários do corredor.

Talvez Violet só quisesse ficar sozinha. Talvez só quisesse obter paz da maneira correta, se afastando de confusão.

Tyler Monron era a personificação humana de como ficar encrencado.

...

Ao final das aulas, Violet e Cassandra compartilham o banco de trás do carro. Vivian, como uma adulta negligenciada na adolescência, explora a ideia de que sua filha tenha experiências iguais as dela.

—Se essa festa realmente vai ser na casa desse garoto, minha filha, eu acho que seria bom você ir. Sabe? Tirar a cara dos livros por um momento...

Vivian confere a reação da filha através do retrovisor, enquanto dirige.

—Eu vou pensar sobre isso, mãe. —Suspira cansada.

Havia algo pacífico demais até mesmo para alguém como Violet. Algo enterrado só esperando para ser descoberto.

Para ser vivido.

Para ser engolido.

Naquela manhã, Vivian deixa Cassandra em sua residência e segue para casa com sua filha. Os Jacobs não eram extravagantes ou herdeiros, mas tinham uma vida financeiramente estável. Uma família comum sob o céu de Manhattan.

...

Mais tarde, considerando a possibilidade de diversão, Violet liga para Cassandra, confirmando a ideia de irem à festa. Apesar de seus esforços, diversão não era o seu potencial.

[Residência dos Monron]

Em meio aos convidados, segurando um copo com cerveja, ela avista o garoto problemático.

O olhar dele vagueia entre os colegas. Cercado, ele dança em uma roda de amigos, permitindo que a garota se esfregue em seu abdômen definido. Todos permanecem dançando, agitados pelos efeitos do álcool.

Aos olhos de Violet, aquela cena estava acontecendo em câmera lenta. Ela queria se lembrar daquele momento. Mas, por quê?

Então é assim que você se comporta quando não está arranjando confusão, senhor Tyler Monron...

O ponto de reflexão de Violet é interrompido quando uma confusão sei nicia no corredor, atraindo a atenção de Tyler e dos demais, que correm para apartar. Os seguranças dos Monron conseguem conter a agitação e colocam os responsáveis para fora da residência.

No entanto, aquele atrito foi um bom motivo para que Violet e Cass fugissem para casa, no auge de sua covardia. Ela só não esperava que, em meio à correria, seu celular fosse cair no gramado de Tyler, e que o mesmo o encontraria, horas depois, vibrando com a seguinte mensagem:

"Violet, minha filha, quando vier da Cass, traga manteiga." -Mamãe.

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