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B E M - V I N D O
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"Com Amor, Mia" é o primeiro livro da coletânea de contos da escritora Mia Redwiges. Nesse livro, a cada novo capítulo você descobre uma nova história. São pessoas e situações inventadas por Mia em momentos de reflexão, quando olhava os pingos de chuva escorrer na janela e se condensar lentamente, ou quando ela estava em um dia qualquer pensando em algo qualquer. Se algo lembrar a realidade, é mera coincidência.
Se você começar a ler este livro, agradeço-te muito. Não se esqueça de comentar e deixar seu comentário para incentivar essa autora que tanto te estima! E se você gostar da obra, convide um amigo para participar dessa experiência também!
Com amor;
Mia Redwiges
Conto I↬❀Mirtes e sua vida: sinônimo de confusão. Parecia que a realidade tinha se misturado com seus os sonhos e suas imaginações. Quando lembrava de algo não sabia se realmente havia acontecido ou se era um mero fruto do subconsciente dela.Um caos. Tudo era caos.O banco ameaçava tomar seu carro, o financiamento da casa não havia sido pago há alguns meses, seus pais cada vez mais adoeciam e ela não podia pagar o tratamento, as dívidas aumentavam...Tudo isso desabou na sua cabeça em tão pouco tempo que ela nem percebeu quão sozinha estava. Seus amigos não a ajudaram, nem seu namorado. Para ser mais exata ele a deixou alegando a frieza que surgira dentro de Mirtes. Grande desatinado! Não percebia que a moça faltava aos almoços de família no domingo porque os seus pais cada vez mais estavam doentes, ou que desmarcava um en
Conto II↬❀Não que eu seja ingrata. Claro que não! Quero dizer, as pessoas dizem que sou sortuda por ter uma família que me apoie, por sempre ser uma ótima aluna – logo concluí minha faculdade de medicina com louvor – ou por ser uma pessoa ao qual todos gostam. Dizem que tenho tudo que alguém poderia querer. Porém, sempre me faltou algo. De todos os amores que já tive, nenhum caiu-me bem. E é isso que eu mais desejo: um romance épico. Bom, não precisa ser épico, apenas vivível ao ponto de querer não viver mais para outra finalidade.Em meados dos meus tempos juvenis eu achei ter conhecido alguém que me proporcionaria isso. Achei que finalmente eu estava completa. Ele era o combustível para fazer meu coração entrar em êxtase. Foi numa manhã de domingo que se despertou aquela paixão que, inicialmente miúda e quase desprezível, com o t
Conto III↬❀A inauguração da avenida 6 estava muito movimentada naquela manhã carioca. As pessoas ficaram curiosas para olhar a nova rua que tanto falavam na cidade. Tereza Donabella observava cada detalhe atentamente.A rua era espaçosa, com quatro vias para ir e vir o quanto quisesse. No meio de cada uma delas, haviam imensos coqueiros que pareciam tocar o céu. Canteiros de gramas estavam aos pés deles. Nas margens da avenida, comércios e casas estilo portuguesas numa mistura de cores vibrantes que só o Rio de Janeiro tinha. A maioria das janelas que se abriam para os observadores, eram brancas e de madeira. Quase ninguém estava nelas a olhar o movimento. Que grande desperdício de invenção. Assim pensou Teresa. Para ela, janelas foram feitas para emoldurar a realidade assistível.As pessoas que passavam pela nova avenida vestiam roupas mais europe
Conto IV↬❀É só o meu quarto, é só a luz da televisão, são só as cortinas fechadas. Sou eu: o garoto solitário.Tenho muito dinheiro, uma casa grande e tudo que quero, contudo, em meus míseros dezessete anos, nunca tive irmãos, nem pais - quer dizer, eles estão vivos, mas passam a maior parte do tempo brigando e trabalhando - o que faz-me não ter amor. Na verdade, meu coração capenga nem sabe o que isso significa. Esmoreceu-se todos os meus sentimentos.Faz seis meses que não saio do meu grandioso quarto vazio. A luz do sol parece afetar meus olhos e as pessoas irritam-me. Ainda bem que sou filho da alta sociedade, digo, porventura é mesmo um "bem"?Exaurido, olho o relógio marcar cada segundo até ser seis horas da tarde em ponto. Por que não abrir as janelas? Há tempos que não vejo o trem cargueiro passar no fim da rua, além do mais
Crônica I↬❀Eu já tentei transformar minha garagem num grande picadeiro e meus amigos na minha trupe. Seria eu a malabarista incrível e meu irmão, o palhaço. Nenhum dos meus planos deram certo.Como moradora de cidade pequena, tenho o privilégio de ir todos os anos nos circos que se estalam aqui. Embora não muito grandiosos, cada um é autêntico e possuidor de um segredo próprio. Lembro do meu décimo terceiro aniversário. Comemorei em um circo. Vi um garoto de sete anos equilibrar-se sobre rolinhos brilhantes e uma tábua que mal comportava seu pé. Papai o parabenizou ao fim do espetáculo, todavia, eu quis conhecer melhor aquele guri que tão pequeno já conseguia feitos assombrosamente maravilhosos.Não só o miúdo, mas todo o circo e os artistas. Bisbilhotei cada canto possível da área e fingi ir ao banheiro só para ver as incríveis casas móveis com co
Crônica II↬❀Mais como ela mentia! Não mentir do tipo dizer que vai para um lugar ao invés de outro ou acusar outra pessoa do seu feito. Doralice era uma ótima inventora de histórias aos quais ela pregava ser verdade. Houve um dia em que me contou seriamente da sua viagem a Marrocos onde quase casou-se com um muçulmano rico. O dote não era de fato o que ela valia, assim justificou. Outra vez proseou suas aventuras na casa de doces da sua avó. Dormiu até numa cama de pão de mel!Doralice sabia entreter. Convertia-se numa garota extremamente comunicativa e tagarela assim que via as pessoas. Ao contrário de mim que não dizia mais que cinquenta palavras por dia. Mesmo com personalidades adversas, éramos melhores amigas.Interessante mesmo foi o dia que narrou a maior e mais bem elaborada história que já ouvi: ela conseguia voar. Era sábado e Doralice es
Parte 2 do Conto "Aquelas Janelas"↬❀Faz uma semana desde que eu saí pela primeira vez de casa em seis meses. O motivo? Júlia. Quando eu a vi chorar, algo me impulsionou a correr até ela. Entretanto, tudo isso é novo para mim. Tanto o sentimento que me fez quebrar as barreiras do meu auto-isolamento, quanto fazer outra coisa que não seja dormir e jogar vídeo game. Claro que eu assistia aula pela internet, afinal, preciso concluir o ensino médio, mas eu nunca me preocupei com outra vida a não ser a minha. E, repentinamente, eu virei um stalkeador secreto da casa ao lado. Quer dizer, não tão secreto.Nesse mesmo dia em que fui ao portão de Júlia, ela me encarou bem no fundo dos meus olhos, como se soubesse o tempo todo que eu a observava por mais de quatro meses. Depois disso, exp
Crônica III↬❀Lembro de cortar corações. Não os de carne, expressamente dito – a propósito nunca cortei ou partiu o coração de ninguém, o processo sempre foi inverso, – mas sim de papel. Ajudava alguns colegas na decoração do dia dos namorados no ano passado. Jarli, garota pelo qual tinha tanto apresso e admiração, embora pequena, costumava chamar atenção pelo carisma traduzido numa gostosa gargalhada. Ela era incrível.Não só como aluna, mas como escritora. Ah, se pudessem ler suas histórias, cairiam rendidos aos seus pés. Tamanha façanha arrendara-lhe uma faculdade de jornalismo – não conto as horas para ler uma matéria sua ou ver seu rosto indígena na televisão, emocionando-me.No entanto, o real propósito dessa lembrança é contar o que ela falou de uma professora que compartilhávamos – ela, em Literatura e Gramát