Eu vi meus pais serem assassinados. Eu tinha apenas cinco anos quando tudo aconteceu, mas lembro de cada detalhe.
Estava aos prantos embaixo da minha cama, enquanto meus pais estavam na sala com um ladrão, que havia entrado em nossa casa. Assim que meus pais escutaram um barulho vindo dos fundos, eles pediram pra eu me esconder no meu quarto, mesmo com muito medo eu obedeci. Escuto muitos gritos, minha mãe estava chorando e meu pai tentava conversar com o ladrão. Eu cubro meus ouvidos para não escutar. Eles gritam muito, o bandido fala muito palavrão para meus pais, naquela época eu não sabia o significado de nenhum deles. Me sinto perdida, sem saber o que fazer, resolvo ir pé por pé até a porta do meu quarto, que dava de frente pra sala onde eles estavam, ninguém me vê mas eu os vejo, minha mãe chorava muito e meu pai tentava acalmá-la, e de repente…
Pum… Pum… Pum… Pum...
Eram tiros. Eu só tinha 5 anos, não entendi o que estava acontecendo, mas me desespero, começo a tremer muito. Meus pais estavam mortos. Eu os vi morrerem. Com muito medo eu resolvo me esconder novamente embaixo da minha cama. Ouço alguns barulhos na sala. Tenho medo que o ladrão me encontre. E de repente tudo fica um completo silêncio.
Minutos depois escuto várias sirenes, era a polícia. Escutei um enorme barulho. Eles arrombaram a porta da minha casa, e então escutei vozes. Estava muito assustada. De repente eu avisto pernas, alguém havia entrado no meu quarto. Espio sem que me vejam, era um policial, algo me diz que eu posso confiar nele.
- Me ajuda, tio. - Peço aos prantos.
Ele me olha. O olho muito assustada.
- Hey, venha aqui. - Ele diz ao me tirar de debaixo da cama.
- Qual o seu nome? - Me pergunta.
- Kimberly. - Falo aos prantos.
- O meu é Ruggero, mas pode me chamar de Rugge.
- Cadê os meus pais? - Pergunto temendo a resposta.
Ele não responde, apenas baixa a cabeça em silêncio. Acho que eu entendi o porquê da reação dele.
- Venha, vou te tirar daqui. - Me diz.
Ele me pega no colo. O abraço bem forte no pescoço. Ainda estou muito assustada. Passamos pela sala, vejo dois corpos ensanguentados, eram meus pais. Desabo a chorar e a tremer. O policial cobre meus olhos, foi a pior cena que eu já vi na vida.
Ele me coloca dentro da viatura, põe o cinto em mim e me pede pra eu aguardar por um instante. Não consigo dizer nada, apenas fico com a imagem dos meus pais mortos na cabeça. Vocês conseguem imaginar o que é isso para uma criança de 5 anos? Não queiram!
Minutos depois chega um carro do IML, vejo quando algumas pessoas saem do carro e entram na minha casa, eles levam os corpos dos meus pais e colocam dentro do carro, eu apenas observo tudo. Nesse dia eu deixei de acreditar em Deus, se Ele existisse nada disso teria acontecido.
Algum tempo depois, três policiais entram no carro. Olho para eles e sinto um pouco de medo, não sei pra onde eles me levariam.
- Vai ficar tudo bem. - Diz Rugge.
''Não, não vai.'' - Penso.
Fico lembrando do momento de pavor que vivi minutos atrás, ainda não acredito que isso esteja acontecendo. Acabo dormindo. Tive pesadelo com aquela cena horrível dos meus pais sendo assassinados.
Ao me acordar, percebo que não estou no carro. Estava em uma casa, mas não era a minha.
- Mãe! Pai! - Grito.
De repente ele aparece. O policial, Ruggero.
- Oi. - Fala.
- Quero os meus pais. - Digo.
Ainda tinha esperança de que aquilo tivesse sido um terrível pesadelo. Mas não era.
- Oh, pequena, eu queria tanto que isso não tivesse acontecido, mas infelizmente os seus pais viraram estrelinhas.
- Então não foi pesadelo? - Pergunto.
Ele nega com a cabeça.
Começo a chorar e o abraço.
- Hey, me conte, você tem tios, avós, algum parente?
- Não. Os únicos avós que eu conheci morreram faz um tempo, e meus pais não tem irmãos. Eu não tenho ninguém, tio.
- Oh, baixinha...
Ele me olha com tamanha ternura. O olho com os olhos lacrimejados, Tinha medo do que podia acontecer comigo agora que eu não tinha ninguém no mundo.
Rugge me dá bolachas e um leite quentinho pra eu comer. Não estava com fome, mas tento comer um pouco.
Ele me coloca para dormir em um quarto bem amplo, observo tudo a minha volta, e me sinto pequena naquele lugar.
- Onde você vai dormir, tio? - Pergunto.
- Na sala. Minha casa é de só um quarto. Qualquer coisa você me chama, tá bem?
Aceno a cabeça positivamente. Ele dá um sorriso e sai do quarto. Olho para os lados, sinto medo. Me cubro até a cabeça. Tive pesadelo a noite toda com meus pais.
- Tio! - Grito ao acordar na manhã seguinte.
Rugge vêm rapidamente até o quarto, parecia preocupado.
- O que houve?
- Tive pesadelo.
- Tá tudo bem, querida. Vamos levantar?
Aceno a cabeça positivamente. Rugge e eu comemos cereais com leite de café da manhã. Olho para ele, enquanto come aquele cereais. Acho que eu havia gostado dele, parecia legal e bonzinho, como era meu papai.
- Tio, você tem namorada? - Pergunto.
- Não, não mais, querida.
- E filhos?
- Tinha. - Respondeu com um semblante triste. - Eu tinha uma linda e doce esposa e um filho de 3 anos, mas infelizmente eles morreram em um acidente de carro há 2 anos.
Acho que entendia a dor dele, era a mesma que eu estava sentindo. Eu não conseguia parar de pensar nos meus pais e nos momentos felizes que tive com eles durante os meus 5 anos de vida. Tento ao máximo parar de pensar nisso.
- Querida, vá tomar banho, iremos sair.
- Pra onde?
- Depois eu te conto. - Ele diz. - Você sabe tomar banho sozinha?
Nego com a cabeça. Minha mamãe ou meu papai que costumavam me dar banho, as vezes eu também tomava com eles e gostava, a gente se divertia bastante, as vezes fazíamos espuma com o sabonete e ficávamos brincando, era engraçado. Mas agora, isso nunca mais aconteceria.
- Quer ajuda?
- Não! Você é homem e não pode me ver. - Digo seriamente. - Eu vou aprender a tomar banho sozinha.
Ele dá uma risadinha.
- Você tá certa. Comprei uma roupinha pra você, está em cima da cama, depois você coloca.
Vou para o banho e tento pela primeira vez tomar banho sozinha. E era assim que eu estava, sozinha.
Eu estava em uma sala, sentada em uma cadeira enquanto aguardava Ruggero, que conversa com uns policiais. Espio os dois, estavam longe, não conseguia ouvir o que eles estavam conversando, volto a sentar na cadeira. Sinto um misto de tristeza e medo. Eu só queria os meus pais. Não entendia o porquê de estar naquele lugar, estava tão assustada, com tanto medo, só queria ir pra casa, pra minha casa...Logo, Ruggero volta acompanhado de um policial e uma moça bem bonita, ela parece simpática.- Oi. - Me diz a moça.- Oi. - Falo.- Qual o seu nome, meu amor?- Kimberly. - Digo ao olhar para Rugge.- Querida, escuta aqui. - Fala Ruggero ao ficar do meu tamanho. - Essa moça é a Aline, ela cuidará de você a partir de hoje.- Pra onde ela vai me levar? - Questiono um pouco assustada.- Você irá para um local que
- Rugge! - Falo ao vê-lo.- Oi baixinha. - Ele diz. - Como você está?- Bem.Rugge ia me visitar sempre que possível, ele falava que nunca me abandonaria, pois era meu amigo. Eu gostava tanto dele, não sei explicar direito o que eu sentia, mas no fundo do meu peito, eu desejava tê-lo como pai, mesmo achando que isso não aconteceria.Eu não contava nada para ele sobre as coisas que se passavam no abrigo, sobre os maus tratos que eu sofria, do que eu vi no banheiro, eu não podia contar, eu queria dizer tudo para Rugge sobre o que eu vi, mas tinha medo dos meninos quererem se vingar de mim e fazerem o mesmo comigo.- Me tira daqui! - Peço começando a chorar. - Eu não quero ficar aqui.- Ah Kim, se eu pudesse te levaria agora mesmo comigo, mas não é tão fácil assim.- Mentira! - Digo furiosamente e aos prant
- Então, não vai dizer nada? - Me pergunta.- Claro. Claro que eu quero ser sua filha. - Digo com um largo sorriso e me pondo a abraçá-lo.Rugge me abraça fortemente e me dá um beijo no rosto. Eu estava tão feliz, finalmente eu sairia do abrigo e teria um lar e uma família novamente, e Rugge era tão bonzinho, ele tinha mesmo carinha de papai.- Vamos sentir sua falta. - Diz Luka.- Eu também vou sentir muita saudade de vocês. - Falo.- Que sorte a sua de ser adotada. - Diz Hannah.- E um dia vocês também serão. - Digo.Abraço meus amigos, me despeço deles, pego minhas coisas e vou até a sala, onde Rugge me aguardava. Ele sorri ao me ver e eu sorrio também.- Obrigada por tudo. - Digo à diretora.- Vê se não esquece da gente e venha nos visitar sempre que quiser. - Ela
Os dias foram se passando. E cada dia que passava eu ficava mais e mais apegada em Ruggero e ele em mim. Era uma enorme mudança para ambos, mas aos poucos, um ia se adaptando as manias e costumes do outro. Sem que eu percebesse, ele conquistou minha confiança e meu amor.Minha rotina havia mudado bastante. Ele trabalhava quase o dia todo, pela manhã eu ficava com a babá (sim, ele havia contratado uma babá para ficar comigo quando ele não estivesse em casa). A Klara era um amor, era uma moça jovem e muito paciente, a gente se dava muito bem, viramos grandes amigas. À tarde, a Klara me levava para a escola e depois papai me buscava. Sim, eu havia começado a chamá-lo de pai, comecei poucas semanas depois e foi algo muito natural.- Pai, me dá banho? - Perguntei num certo dia à tarde.- Do que você me chamou? - Perguntou ao largar o jornal que ele estava lendo.- De pai.
- Então turma, teremos prova de Ciências daqui há duas semanas. Estudem bastante toda a matéria. - Digo.- Me lasquei! Eu sou péssimo em Ciências. - Fala Thiago, o mais engraçadinho da turma.- É só estudar. - Falo com um meio sorriso.O sinal da escola toca, as crianças pegam seus materiais, se despedem de mim com um abraço e um beijo no rosto e logosaem apressadamente, menos a Roberta, ela era a minha aluna mais quieta, não incomodava, quase não falava e não era de interagir com os colegas, eu só escutava sua voz quando era pra pedir pra ir ao banheiro ou beber água. Noto que ela estava cabisbaixa e resolvo me aproximar vagarosamente de sua mesa.- Está tudo bem, meu amor? - Pergunto.Sem dizer nada, elaconsente com a cabeça. Algo me diz que ela estava mentindo. Espero estar errada.- Você não
Era por volta de 10h, estávamos no recreio quando avisto uma cena que chamou minha atenção, me deixando chocada. Dois alunos meus do sétimo ano, o Juliano e o Fernando estavam tirando sarro de uma colega, a Catarina, pelo fato dela estar usando um aparelho extrabucal. Não consigo vê-los zombando da garota e vou até eles.- Posso saber o que está havendo aqui? - Pergunto.Percebo a cara de susto deles. Os dois se olham sem saber o que responder, mas com certeza já tinham percebido que eu havia visto tudo, e não permitiria que aquele absurdo continuasse.- Só estávamos conversando com a Cata. - Fala Juliano ao colocar o braço em volta do pescoço da garota.- Não, vocês estavam zombando dela. - Falo.- Tá tudo bem, prof. - Diz Catarina timidamente.- Não, não está nada bem. - Digo. - Vocês sabem como se
Mel e eu estávamos brincando de casinha. Adorávamos esses momentos mãe e filha, eu fazia de tudo para aproveitar o máximo de tempo junto dela, pois infelizmente os filhos crescem rápido demais, parece que foi ontem que ela era um bebezinho com poucas horas de vida, que precisava de mim para tudo, e hoje está uma menina linda, educada e muito inteligente, dava um banho em todos nós, Mel havia aprendido a ler e a escrever aos 3 anos, sei que muitas pessoas falam que isso não é legal, que criança tem que ser criança, mas ela nunca pulou nenhuma etapa da sua vida e nunca a obriguei a aprender, eu apenas havia comprado alguns jogos de juntar sílabas, jogo da memória onde tinha que achar a figura e o nome dela, essas coisas, e aos poucos ela foi aprendendo, Mel também faz contas básicas de subtração e adição e ainda fala espanhol, pois quando ela soube que d
Não dormi a noite toda, chorei e chorei sem parar. Lucas e eu dormimos cada um para um lado diferente, não queria olhar pra ele, estava com raiva, com nojo, com ódio, ódio dele e ódio de mim por gostar de um traste desses.Lucas levantou cerca de meia hora antes do seu horário, o que é estranho, já que ele não costuma levantar cedo. Continuo deitada na cama, tentando criar forças para ir trabalhar. Escuto passos entrando no quarto, penso ser Lucas novamente, alguém deita do meu lado, com medo de ser ele eu não me viro, e de repente eu vejo aquela pequena mãozinha em meu ombro. Me viro para o lado de Mel, ela não diz nada, ficamos nos olhando. Mel acaricia o meu rosto, fecho os olhos, enquanto sinto seu doce toque.- Tá doendo, né mamãe?- Doendo o quê? - Pergunto achando que ela não sabe de nada.- Por que vocês adultos