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***GAYA MATARAZZO***Dois anos depois…Faltando uma semana para o aniversário de dois anos de Luca, nos reunimos com a família para verificar como ficou a conclusão das obras na área de lazer da fazenda, que agora é propriedade da dona Vilma e dos filhos.— Ficou muito boa essa área, Gaya. Agora meu netinho vai poder se divertir ainda mais quando passa os dias aqui. — minha sogra fala entusiasmada.— Netinhos, no plural né, dona Vilma… — falo para provar Kiara, que me olha de cara feia. Ela ainda não confirmou, mas eu desconfio que minha cunhada esteja grávida.— Netinhos… você está grávida, Gaya? — o rosto da minha sogra se ilumina.— Não, sogra. Ainda não, talvez daqui a um ano pensemos em uma irmãzinha pro Luca. Mas o que eu quero dizer é que a fazenda agora é oficialmente sua, vai poder ver todos os netinhos que venha a ter, correndo por esse pátio.— É verdade, sou muito grata a você e seu irmão por isso.— Não tem o que agradecer, a senhora merece. — digo e recebo um sorriso agr
***GAYA MATARAZZO***— Festa! — Luca exclama, lançando um balão para o alto.— Sim, filho. Por isso tem que ficar quietinho pro papai terminar de arrumar seu cabelo. Só assim podemos ir curtir sua festa de aniversário. — André pede com carinho.— Nivelsário bebê! — Luca comemora, ainda atropelando as letras.— Isso mesmo, meu pequeno experto!Paro na porta, meu coração derretendo com a visão do momento pai e filho, sempre tão cúmplices e parceiros.André, mesmo com alguns fios de cabelo prateados, que surgiram no último ano, continua com sua forma física impecável. Ele mantém sempre a postura séria e imponente quando está no modo trabalho, mas se transforma em um bobo quando está comigo e com o filho.Luca, com seus dois aninhos, é uma cópia em miniatura do pai, mesmo tendo herdado meus cabelos escuros e encaracolados. Além disso, apesar de estar apenas começando a desenvolver sua fala, ele já mostra um talento incrível na arte da comunicação, se expressando com uma habilidade impressi
***Gaya Matarazzo*****ALGUNS MESES ATRÁS **Em meio a tempestade, diante do trânsito caótico, meu motorista dirigia o mais rápido que conseguia. Eu, no entanto, ansiosa e apreensiva, tentava novamente contato com meu marido.“De novo na caixa postal! Onde Cláudio se meteu? Liguei pra empresa, a secretária disse que ele saiu logo após o almoço. Deve ter desligado o telefone durante a reunião.”Desapontada, cliquei sobre o nome da minha irmã na agenda e aconteceu a mesma coisa. A mensagem automática mandava para a caixa postal.“Logo hoje os dois resolveram tomar chá de sumiço”.Deixei escapar um suspiro resignado, pressionei a têmpora na esperança de amenizar as pontadas que prenunciava uma forte dor de cabeça.“Que dia, meu Deus, que dia!”Através da janela, mesmo com a visão embaçada pela chuva torrencial, percebi que estávamos chegando ao destino.Ciente da triste realidade que teria de enfrentar sozinha nos próximos minutos, me preparei psicologicamente.“Não pode ser nada bom, os
***André Burck ***Acerto um último soco no saco de pancadas e recolho minhas coisas. Tomo um gole generoso de água e seco o suor que escorre pelo meu rosto.—Fala, Dani! — Atendo o telefone assim que vejo o número do meu irmão na tela.—Tá em casa, mano?—Tô saindo da academia. — respondo, já me dirigindo para o elevador.—Beleza, vou pedir uma pizza, tá a fim? — meu irmão me convida com entusiasmo e eu me pergunto como ele pode ser tão diferente de mim, sempre tão alegre e disposto.Penso em recusar, dizer que estou cansado e quero dormir cedo, mas lembro que prometi para a minha mãe que não me afastaria mais da família. Além disso, Daniel, mais do que meu irmão, é meu único amigo.— Cara, você ainda tá aí? — ele chama, me tirando dos meus pensamentos.—Me dá uma meia hora que já desço.—Tava pensando numa desculpa pra não vir, não é? — diz, rindo, me deixando irritado.—Vai se ferrar… daqui a pouco to aí.—Valeu, irmão.Dani e eu moramos no mesmo prédio. Quando me mudei pra essa ci
***Gaya Matarazzo***Algumas semanas se passaram desde a morte do meu pai, a saudade que sinto dói profundamente, porém, está sendo amenizada pela melhor notícia da minha vida.“Parabéns, Gaya, sua gestação está confirmada, os exames mostram que você está grávida de 12 semanas.” A voz do meu ginecologista ainda ecoa na memória enquanto me dirijo para a empresa da família.— Cláudio vai ficar radiante com a notícia — murmuro comigo mesma enquanto atravesso o estacionamento para ir ao encontro do meu marido.Optei por ter a confirmação do médico antes de alarmar para ele o resultado que o teste de farmácia já havia apontado como positivo. “Cláudio anda tão estranho ultimamente, espero que a notícia da chegada do nosso primeiro filho faça com que ele volte a ser o homem atencioso e carinhoso que foi desde que nos conhecemos” — penso ao entrar no elevador.É a primeira vez que volto nesse lugar desde que papai ficou doente. Meu desejo era de ir para casa, preparar um jantar romântico e
***Gaya Matarazzo*** Sinto o calor do motor do automóvel em minha perna e caio de joelhos no chão, mais pelo susto do que pela pancada. — Você é alguma maluca, por acaso? — A voz de um homem visivelmente irritado ecoa assim que ele desce do carro e estende a mão para eu levantar. — Desculpe, realmente não prestei atenção ao sinal. — revelo com sinceridade enquanto aceito a ajuda. Envergonhada, forço-me a encará-lo e sua expressão surpresa reflete a minha. — Você? — falamos ao mesmo tempo, surpresos por mais um encontro inesperado. A pessoa que quase me atropelou é nada mais nada menos do que o irmão do médico do meu pai, André Burck, o homem que misteriosamente tem cruzado meu caminho com frequência. — Definitivamente, você é a pessoa mais perigosa para si mesma que eu já conheci. — comenta sarcástico, mas logo retoma a expressão fechada. — Agora é sério, Gaya… onde estava com a cabeça quando resolveu atravessar a avenida com o sinal vermelho para pedestre? — Pode parar de que
***Gaya Matarazzo***Horrorizada por tudo que acabei de escutar, não posso mais conter a raiva e a repulsa por Cláudio e Larissa. Eu escancaro a porta do quarto, os fazendo saltar da cama com o estrondo da madeira batendo contra a parede.— Gaya! — Cláudio profere meu nome com surpresa.Larissa, apesar do susto inicial, não demonstra nenhuma reação. Ela permanece deitada, apenas cobrindo as partes íntimas com o lençol.— Como vocês puderam fazer isso com papai, comigo? Vocês são desprezíveis. — cuspo as palavras e uma lágrima solitária escapa, sem que eu consiga evitar.Meu marido veste apenas a cueca e se levanta lentamente. Sem demonstrar arrependimento, ele caminha em minha direção e dou um passo cambaleante para trás, a fim de evitar contato. — Não me toque com essas mãos imundas. — grito e ele para onde está.— Ei, não grite — Cláudio repreende entre dentes — Os empregados podem ouvir e não queremos escândalo.Por um instante pensei que Cláudio estivesse preocupado com meus senti
***André Burck*** A sustentação oral durou apenas 20 minutos. Meu olhar encontra nos olhos de cada um dos jurados a resposta que eu quero, a resposta que a família da vítima merece. — Diante de todo o exposto, senhores, acredito verdadeiramente que aqui, hoje, será feita justiça à vítima. E não só a ela, mas a toda sua família, principalmente a filhinha de apenas 5 anos, obrigada a assistir a sua mãe ser agredida física e emocionalmente pelo homem que deveria protegê-la. Após mais algumas palavras, finalizo o meu discurso confiante de que mais um assassino será retirado das ruas. A defesa ainda tenta reverter a opinião do júri, mas depois de aproximadamente uma hora, quando o juiz lê a sentença, saio do tribunal com a certeza do dever cumprido, pois o monte de estrume que matou a esposa diante da própria filha pegou pena máxima, 30 anos de reclusão, o que para mim ainda é pouco. “Fui educado por uma mulher, que criou a mim e aos meus irmãos, sozinha. Sei de todas as dificuldades q