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***André Burck*** Depois de tentar acalmar meu irmão, também respiro fundo para clarear a mente. Precisamos pensar friamente em situações como essa. 📲 Certo Dani. A governanta, não disse mais nada, algo que passamos identificar que tipo de perigo? 📲 Não, mano. Como eu disse, não dava pra escutar direito. No fim ela falou algo como “ajudem minha menina”, e então desligou. 📲 Você tem o contato da Gaya? Tentou falar com ela? 📲 Tentei, ela não atende. — diz ele, frustrado — Será que o imbecil do marido dela descobriu alguma coisa? 📲 Droga! Essa história está saindo de controle, melhor você não se envolver mais nisso, deixa pra mim. — exijo e ele bufa do outro lado. 📲 Já tô envolvido, não podemos esquecer que é graças a Gaya que temos o que temos hoje. Eu devo isso a ela e ao senhor Matarazzo. 📲 Não precisa me lembrar disso a todo momento. 📲 Parece que preciso. — ele retruca irritado, mas logo volta ao tom preocupado — Agora tenho que ir. Vê o que você consegue e me avisa
***Gaya Matarazzo***O som de um “bip” contínuo e irritante invade meus ouvidos.A dor latejante se alastra pela minha cabeça no instante em que abro minimamente os olhos.“Onde estou?”Forço as pálpebras a se manterem abertas, mas a dor aumenta e um gemido trêmulo escapa de mim.Confusa, tento me mover, mas os braço e pernas pesam feito chumbo.“Ai, Deus! O que aconteceu comigo?” — Penso e logo em seguido o barulho de uma porta abrindo e fechando retumba dolorosamente em meus tímpanos.— Ela está acordando, ligue para o Doutor Daniel. — uma voz feminina ecoa pelo ambiente.Ouço passos se aproximando. Mesmo com a visão ainda turva, vejo uma mulher de meia-idade, de olhar sereno e sorriso gentil. Ela chega bem perto da cama, segura em minha mão e fala com ternura.— Calma, querida, não se agite. Vai ficar tudo bem, logo o médico virá vê-la.“Médico? Onde estou e como vim parar aqui?” — questiono mentalmente.A sensação pastosa na língua e o amargor na boca me fazem perceber que estou c
*****André Burck*****Desde ontem, quando Dani avisou que Gaya havia acordado do coma, estive ansioso por vê-la. Porém, como médico, ele pediu para dar um tempo, ela ainda estava muito confusa.Estas últimas três semanas não foram fáceis. Assim que o quadro de saúde dela estabilizou, tivemos de tirá-la do hospital por questões de segurança.Hoje, quando cheguei na fazenda, ela tinha acabado de dormir. Então liberei a enfermeira para descansar um pouco.Apesar da fisionomia abatida e das olheiras fundas, Gaya continua linda. O cabelo está diferendo da forma como costumava ser. Nas poucas vezes que a encontrei, ela esteve com os fios lisos e presos, agora estão crespos, o que talvez seja o natural, porém não menos bonitos.Enquanto velo por seu sono, observo seus traços delicados e me deixo levar por um impulso incontrolável de tocá-la. Acaricio sua mão de leve e Gaya desperta assustada.— Quem é você?Num movimento brusco, ela puxa a mão da minha. Apavorada e visivelmente fragilizada,
***Gaya Matarazzo***.Uma semana passou desde que acordei do coma e agora estou vivendo na cobertura de André.Tentei convencê-los de me deixar na fazenda, me sentia mais à vontade lá, mas os irmãos foram irredutíveis, alegando que seria o melhor para a minha segurança.Sentada em uma cadeira de rodas na varanda, contemplo a paisagem cinza da cidade. Ainda não consigo caminhar sozinha, mas tive alguns avanços, pois já consigo mexer as pernas e Alice me ajuda com exercícios diários recomendados pela fisioterapeuta.Eles não me contaram mais nada sobre o acidente e sempre fogem do assunto, o que vem me deixando profundamente irritada.“Eles sempre desconversam ou dão respostas evasivas. Por isso, decidi que hoje vou esperar André chegar do trabalho e vou colocá-lo contra a parede.”“Não é como se eu pudesse fazer muita coisa sentada nessa cadeira, mas ele vai ter que escutar.”Enquanto me perco em pensamentos, não percebo quando André chega e para ao meu lado.— Boa tarde, Gaya. Como se
***ANDRÉ BURCK***Depois do desespero de Gaya nesta semana, decidimos que já é hora de revelar a ela toda a verdade.Apenas aguardamos a chegada de Cecília, sua melhor amiga, pois Gaya precisará de todo o apoio que puder ter nesse momento. Tenho certeza de que alguns fatos serão difíceis para ela assimilar.— Vem, amiga. Vamos sentar no sofá que é melhor, eu te ajudo.Cecília se coloca ao lado de Gaya e com o apoio de Daniel, ajeita a amiga de maneira mais confortável.— Ok. Já estou bem acomodada, podem começar. — ela pede, ansiosa.— Bom, pra você entender melhor, vamos começar do começo. Mãe, a senhora, por favor. — peço.Dona Vilma fica de um lado de Gaya, Cecília está do outro, Dani e eu sentamos no sofá em frente a elas e assim se forma uma rede de proteção em torno da herdeira Matarazzo.— Bom Gaya, vou te contar sobre a sua origem.Olho para nossa menina e noto seu semblante confuso.— Minha origem? Vocês conheceram meus pais?— Sim. — confirma dona Vilma — Sua mãe e eu eramos
***GAYA MATARAZZO***Ainda estou digerindo tudo que ouvi.A verdade sobre meus pais é agridoce, sinto-me feliz por saber que minha mãe lutou por mim e não me abandonou por vontade própria. Ao mesmo tempo estou magoada e decepcionada com meu pai por me esconder esses anos todos que era meu pai biológico e não adotivo.— Amiga, tem certeza que não quer descansar um pouco antes de continuar? É muita emoção junta. — Cecília demonstra preocupação.— Não, eu estou bem, quero saber de tudo. Por favor, não me escondam mais nada.Falo isso olhando diretamente para André, que está em silêncio me encarando, como se não soubesse por onde começar.— Fala André, não se preocupe em ferir meus sentimentos, arranque o curativo sem dó, se é pra doer que doa tudo de uma vez.Ele assente com um meneio de cabeça, me dando um sorriso contido.André se levanta e começa a caminhar pela sala, assume a postura rígida do promotor.— A primeira coisa que precisa ter em mente é que o seu marido não era a pessoa qu
***ANDRÉ BURCK***O sábado foi tenso. Depois de tantas revelações impactantes para Gaya, concordamos que seria bom para ela passar o domingo na fazenda, em meio à natureza.Acredito que daqui pra frente, sem o estresse de ter que mentir ou esconder certos assuntos, tudo ficará mais fácil.— Filho? — ouço minha mãe chamar e me arrancar dos pensamentos.— Você está bem?— Apenas cansado, dona Vilma, não se preocupe.Olho para a pessoa que mais amo, em pé na entrada da varanda, me encarando com a sobrancelha arqueada e um sorriso malicioso.— Gaya mexe demais com você, não é?— Não do jeito que a senhora está pensando. Lanço um olhar sério para ela, mas não tem jeito, depois que essa mulher encasqueta com alguma coisa não há Cristo que dê jeito.— Minha intuição me diz que quando essa tempestade passar, terei uma nora.E lá vamos nós…— Mãe… a senhora está falando do Daniel e da Cecília, certo? — me faço de desentendido.— Não seja cínico, André… — ela ralha — Aqueles dois lá eu nem pre
***GAYA MATARAZZO*** Abraço meu corpo, sentada ao ar livre, o ar fresco do outono faz arrepiar minha pele. Desde que voltei a caminhar sozinha, com a ajuda das muletas, André me apresentou essa parte do triplex que fica no terceiro andar, tem vista panorâmica da cidade, um jardim muito bem ornamentado e piscina. Me pego pensando em nele, em que momento aproveita tudo isso, se está sempre no trabalho ou na fazenda com a mãe, às vezes ele me parece tão solitário. Na mansão não era diferente, nunca aproveitamos todos os espaços da imensa propriedade que meu marido chamava de palácio. Ao pensar em Cláudio, meu peito fica apertado. Como ele pode ser alguém tão diferente do que sempre transpareceu? Talvez ele seja um excelente ator, afinal. “Como pude me enganar tanto? Ou eu apenas não queria ver o que estava bem na minha frente esses anos todos?” Soube por André que as investigações não avançaram, é como se meu ex-marido, e é tão estranho pensar nele assim, tivesse evaporado no ar jun