***ANDRÉ BURCK***O sábado foi tenso. Depois de tantas revelações impactantes para Gaya, concordamos que seria bom para ela passar o domingo na fazenda, em meio à natureza.Acredito que daqui pra frente, sem o estresse de ter que mentir ou esconder certos assuntos, tudo ficará mais fácil.— Filho? — ouço minha mãe chamar e me arrancar dos pensamentos.— Você está bem?— Apenas cansado, dona Vilma, não se preocupe.Olho para a pessoa que mais amo, em pé na entrada da varanda, me encarando com a sobrancelha arqueada e um sorriso malicioso.— Gaya mexe demais com você, não é?— Não do jeito que a senhora está pensando. Lanço um olhar sério para ela, mas não tem jeito, depois que essa mulher encasqueta com alguma coisa não há Cristo que dê jeito.— Minha intuição me diz que quando essa tempestade passar, terei uma nora.E lá vamos nós…— Mãe… a senhora está falando do Daniel e da Cecília, certo? — me faço de desentendido.— Não seja cínico, André… — ela ralha — Aqueles dois lá eu nem pre
***GAYA MATARAZZO*** Abraço meu corpo, sentada ao ar livre, o ar fresco do outono faz arrepiar minha pele. Desde que voltei a caminhar sozinha, com a ajuda das muletas, André me apresentou essa parte do triplex que fica no terceiro andar, tem vista panorâmica da cidade, um jardim muito bem ornamentado e piscina. Me pego pensando em nele, em que momento aproveita tudo isso, se está sempre no trabalho ou na fazenda com a mãe, às vezes ele me parece tão solitário. Na mansão não era diferente, nunca aproveitamos todos os espaços da imensa propriedade que meu marido chamava de palácio. Ao pensar em Cláudio, meu peito fica apertado. Como ele pode ser alguém tão diferente do que sempre transpareceu? Talvez ele seja um excelente ator, afinal. “Como pude me enganar tanto? Ou eu apenas não queria ver o que estava bem na minha frente esses anos todos?” Soube por André que as investigações não avançaram, é como se meu ex-marido, e é tão estranho pensar nele assim, tivesse evaporado no ar jun
***GAYA MATARAZZO***Depois que a psicóloga vai embora, sozinha e sem ter o que fazer, penso que devo preparar o jantar.Geralmente André pede algo, ou esquentamos algum prato que dona Vilma deixa pronto, mas hoje estou com vontade de uma comida feita na hora.Largo as muletas em um canto da cozinha, já não preciso tanto delas, a fisioterapia tem dado resultados bem significativos.Abro a geladeira, pego ovos, legumes e verduras frescos, que trouxemos da fazenda, e decido preparar uma torta salgada. “Sempre gostei de ficar vendo a cozinheira da mansão preparar nossas refeições e com ela aprendi algumas coisas.”Ponho uma música animada no aplicativo de música do celular, lentamente vou picando os alimentos, enquanto cantarolo baixinho.— Olá, Gaya. Me assunto com a chegada repentina e silenciosa do dono da casa. Apesar de ser um homem grande, André tem passos muito leves.— Ah, oi. — respondo e me viro para encará-lo. Seus olhos verdes se fixam nos meus, sinto como se estivéssemos h
***ANDRÉ BURCK*** Há alguns dias minha mente está uma bagunça. Não paro de pensar que quase beijei Gaya aquela noite na cozinha. Para ajudar, minha hospede expressou a vontade de ter seu próprio apartamento e até cogitei ajudá-la com isso. Acontece, que não me sinto pronto para deixá-la ir. Travo uma luta diária comigo mesmo quando volto para casa, a encontro tão linda, e o desejo de beijá-la ou simplesmente abraçá-la, me invade. Mesmo no trabalho, não desligo meus pensamentos dela, trocamos mensagens sempre que tenho tempo livre e até invento desculpas para ligar e ouvir sua voz. Uma parte minha está arrependida de ter me envolvido nessa confusão, o medo de vê-la machucada outra vez é imenso, o receio de arrastá-la para a minha escuridão interna, agora que finalmente está reagindo positivamente a tudo, me sufoca. No entanto, Gaya me entrega um pouco de confiança a cada dia. Aquela mulher tem uma força impressionante. Eu a vi destruída há semanas atrás e agora ela consegue fazer
***GAYA MATARAZZO*** Hoje o dia foi difícil, começou na madrugada quando acordei de um sonho estranho, que, na verdade, não era sonho e sim partes das memórias voltando. Não quis acordar André, durante o dia os flashs continuaram vindo e por fim lembrei de tudo, foi triste, extremamente doloroso. Em alguns momentos pensei que ia morrer sufocada por tanta dor e dei graças a Deus por ser dia de terapia com a Débora, ela ajudou muito, ficou até além do tempo contratado. Quando a terapeuta saiu, decidi escutar seus conselhos de não deixar nada disso me paralisar. Tomei banho e vim me ocupar do jantar. A todo instante as lembranças vão e vêm, mas no momento fiquei tão distraída que não percebi quando André entrou. Apenas senti seu olhar sobre mim, ergui a cabeça e encontrei seus lindos olhos verdes que me fitam com intensidade capaz de afastar qualquer medo ou dor que esteja me assombrando. Sem dizer nada, ele caminha em minha direção, não desvia o olhar e meu corpo estremesse a cada
****GAYA MATARAZZO **** Algum tempo após fugir da cozinha, amedrontada pela reação acalorada de André, ouço passos do lado de fora do quarto. Uma batida à porta e a voz firme, mas suave, do dono da casa ecoa no corredor. — Desculpe, Gaya, não quis te assustar. Jamais a machucaria, nem farei nada que não queira, só me deixa entrar, conversa comigo. Dá para sentir que ele está mais calmo, esperou a raiva passar para vir atrás de mim e eu agradeço por isso. — Entre, a porta está aberta. Fito o horizonte por um momento, ele se aproxima com cuidado e sentando-se na beirada da cama sem me tocar. — Preciso que me desculpe pela minha reação exagerada. — Tudo bem. Eu só não consigo lidar com mais agressividade agora. — E nem deve. Ergo os olhos e sinto sua imensidão verde me perfurando. — Vou controlar esse meu instinto de homem das cavernas de hoje em diante. — ele brinca para amenizar o clima. André consegue plantar um sorriso amarelo em meus lábios, que morre ao próximo questiona
***GAYA MATARAZZO*** Faz duas semanas que recuperei completamente as memórias, mas às vezes preferia ter permanecido sem elas. Algumas coisas são muito dolorosas e me causam uma dor quase física ao relembrar. — Como você está hoje, Gaya? — A voz da minha terapeuta me traz de volta ao momento presente. Estou feliz por hoje ser dia de terapia, quero contar a ela meus progressos. — Eu estou bem. Alguns dias são piores que outros, mas acho que estou me saindo bem em superar. — Fico feliz em ouvir isso. Significa que decidiu não permitir que o medo te paralise e isso é importante no processo de cura. Sobre o que vamos falar hoje? — André - afirmo com veemência — Interessante. E o que tem ele? O olhar de Débora não mostra nenhum julgamento, mas ainda assim fico sem jeito de falar sobre minhas intimidades e mexo no cabelo de leve, disfarçando o ligeiro desconforto. — Bom… tenho me aventurado na cama dele todas as noites. Com um sorriso bobo de menina apaixonada, conto a ela como
***GAYA MATARAZZO***Após muito argumentar sobre como estou exposta e como André vai ficar furioso com isso, Lorenzo me convence a deixar o shopping.Logo que entramos no apartamento, ele deixa as sacolas sobre o sofá, puxa o celular do bolso e faz uma careta estranha.— Não era ela, senhora. — ele vira a tela do aparelho para mim — Meus homens enviaram uma foto para tranquilizá-la. Era só alguém com mesmo tipo físico e tom de cabelo.Observo a mulher da foto por um instante, eles conseguiram pegar o momento em que ela tira o óculos para cumprimentar outra pessoa, realmente não é Larissa.Sinto um certo alívio e, ao mesmo tempo, queria que fosse, pois pegando ela, logo chegariam a Cláudio e toda essa patifaria teria fim.— Tudo bem, Lorenzo, acho que eu estou ficando paranoica mesmo, me desculpe.— É compreensível, senhora. É muita pressão. Mas não se arrisque mais como fez hoje. — ele adverte — Quando suspeitar de algo, avise a mim ou algum dos homens, estamos aqui pra isso.— Certo.