**Ricardo Aires - Obstetra, personagem de uma estória futura.
Abro os olhos e a escuridão do quarto me envolve. O relógio do despertador marca três horas no instante em que a quietude da noite é quebrada pelo suave murmúrio de Luca, através da babá eletrônica.Me levanto e percebo Gaya se remexer para acender o abajur.— Tá na hora? — pergunta sonolenta enquanto senta na cama.— Parece que Luca precisa de fralda limpa e delivery de leite. — brinco e ela ri.— Já vou.Do outro lado do corredor, a luz suave revela nosso pequeno pacote de alegria se agitando no berço.— Olá, pequenino! Papai vai te deixar mais confortável, ok?Com suas bochechas rosadas e olhos curiosos, Luca sorri quando me vê. Com cuidado, troco a fralda, enquanto Gaya se prepara para amamentar.Muitos insistem que devíamos contratar babás para as noites, mas preferimos ser os pais que cuidam do filho. Não por economia, já que temos recursos de sobra. A verdade é que queremos vivenciar todas as etapas e momentos do nosso Luca, aproveitando não apenas os momentos agradáveis, mas ta
***GAYA MATARAZZO***Dois anos depois…Faltando uma semana para o aniversário de dois anos de Luca, nos reunimos com a família para verificar como ficou a conclusão das obras na área de lazer da fazenda, que agora é propriedade da dona Vilma e dos filhos.— Ficou muito boa essa área, Gaya. Agora meu netinho vai poder se divertir ainda mais quando passa os dias aqui. — minha sogra fala entusiasmada.— Netinhos, no plural né, dona Vilma… — falo para provar Kiara, que me olha de cara feia. Ela ainda não confirmou, mas eu desconfio que minha cunhada esteja grávida.— Netinhos… você está grávida, Gaya? — o rosto da minha sogra se ilumina.— Não, sogra. Ainda não, talvez daqui a um ano pensemos em uma irmãzinha pro Luca. Mas o que eu quero dizer é que a fazenda agora é oficialmente sua, vai poder ver todos os netinhos que venha a ter, correndo por esse pátio.— É verdade, sou muito grata a você e seu irmão por isso.— Não tem o que agradecer, a senhora merece. — digo e recebo um sorriso agr
***GAYA MATARAZZO***— Festa! — Luca exclama, lançando um balão para o alto.— Sim, filho. Por isso tem que ficar quietinho pro papai terminar de arrumar seu cabelo. Só assim podemos ir curtir sua festa de aniversário. — André pede com carinho.— Nivelsário bebê! — Luca comemora, ainda atropelando as letras.— Isso mesmo, meu pequeno experto!Paro na porta, meu coração derretendo com a visão do momento pai e filho, sempre tão cúmplices e parceiros.André, mesmo com alguns fios de cabelo prateados, que surgiram no último ano, continua com sua forma física impecável. Ele mantém sempre a postura séria e imponente quando está no modo trabalho, mas se transforma em um bobo quando está comigo e com o filho.Luca, com seus dois aninhos, é uma cópia em miniatura do pai, mesmo tendo herdado meus cabelos escuros e encaracolados. Além disso, apesar de estar apenas começando a desenvolver sua fala, ele já mostra um talento incrível na arte da comunicação, se expressando com uma habilidade impressi
***Gaya Matarazzo*****ALGUNS MESES ATRÁS **Em meio a tempestade, diante do trânsito caótico, meu motorista dirigia o mais rápido que conseguia. Eu, no entanto, ansiosa e apreensiva, tentava novamente contato com meu marido.“De novo na caixa postal! Onde Cláudio se meteu? Liguei pra empresa, a secretária disse que ele saiu logo após o almoço. Deve ter desligado o telefone durante a reunião.”Desapontada, cliquei sobre o nome da minha irmã na agenda e aconteceu a mesma coisa. A mensagem automática mandava para a caixa postal.“Logo hoje os dois resolveram tomar chá de sumiço”.Deixei escapar um suspiro resignado, pressionei a têmpora na esperança de amenizar as pontadas que prenunciava uma forte dor de cabeça.“Que dia, meu Deus, que dia!”Através da janela, mesmo com a visão embaçada pela chuva torrencial, percebi que estávamos chegando ao destino.Ciente da triste realidade que teria de enfrentar sozinha nos próximos minutos, me preparei psicologicamente.“Não pode ser nada bom, os
***André Burck ***Acerto um último soco no saco de pancadas e recolho minhas coisas. Tomo um gole generoso de água e seco o suor que escorre pelo meu rosto.—Fala, Dani! — Atendo o telefone assim que vejo o número do meu irmão na tela.—Tá em casa, mano?—Tô saindo da academia. — respondo, já me dirigindo para o elevador.—Beleza, vou pedir uma pizza, tá a fim? — meu irmão me convida com entusiasmo e eu me pergunto como ele pode ser tão diferente de mim, sempre tão alegre e disposto.Penso em recusar, dizer que estou cansado e quero dormir cedo, mas lembro que prometi para a minha mãe que não me afastaria mais da família. Além disso, Daniel, mais do que meu irmão, é meu único amigo.— Cara, você ainda tá aí? — ele chama, me tirando dos meus pensamentos.—Me dá uma meia hora que já desço.—Tava pensando numa desculpa pra não vir, não é? — diz, rindo, me deixando irritado.—Vai se ferrar… daqui a pouco to aí.—Valeu, irmão.Dani e eu moramos no mesmo prédio. Quando me mudei pra essa ci
***Gaya Matarazzo***Algumas semanas se passaram desde a morte do meu pai, a saudade que sinto dói profundamente, porém, está sendo amenizada pela melhor notícia da minha vida.“Parabéns, Gaya, sua gestação está confirmada, os exames mostram que você está grávida de 12 semanas.” A voz do meu ginecologista ainda ecoa na memória enquanto me dirijo para a empresa da família.— Cláudio vai ficar radiante com a notícia — murmuro comigo mesma enquanto atravesso o estacionamento para ir ao encontro do meu marido.Optei por ter a confirmação do médico antes de alarmar para ele o resultado que o teste de farmácia já havia apontado como positivo. “Cláudio anda tão estranho ultimamente, espero que a notícia da chegada do nosso primeiro filho faça com que ele volte a ser o homem atencioso e carinhoso que foi desde que nos conhecemos” — penso ao entrar no elevador.É a primeira vez que volto nesse lugar desde que papai ficou doente. Meu desejo era de ir para casa, preparar um jantar romântico e
***Gaya Matarazzo*** Sinto o calor do motor do automóvel em minha perna e caio de joelhos no chão, mais pelo susto do que pela pancada. — Você é alguma maluca, por acaso? — A voz de um homem visivelmente irritado ecoa assim que ele desce do carro e estende a mão para eu levantar. — Desculpe, realmente não prestei atenção ao sinal. — revelo com sinceridade enquanto aceito a ajuda. Envergonhada, forço-me a encará-lo e sua expressão surpresa reflete a minha. — Você? — falamos ao mesmo tempo, surpresos por mais um encontro inesperado. A pessoa que quase me atropelou é nada mais nada menos do que o irmão do médico do meu pai, André Burck, o homem que misteriosamente tem cruzado meu caminho com frequência. — Definitivamente, você é a pessoa mais perigosa para si mesma que eu já conheci. — comenta sarcástico, mas logo retoma a expressão fechada. — Agora é sério, Gaya… onde estava com a cabeça quando resolveu atravessar a avenida com o sinal vermelho para pedestre? — Pode parar de que
***Gaya Matarazzo***Horrorizada por tudo que acabei de escutar, não posso mais conter a raiva e a repulsa por Cláudio e Larissa. Eu escancaro a porta do quarto, os fazendo saltar da cama com o estrondo da madeira batendo contra a parede.— Gaya! — Cláudio profere meu nome com surpresa.Larissa, apesar do susto inicial, não demonstra nenhuma reação. Ela permanece deitada, apenas cobrindo as partes íntimas com o lençol.— Como vocês puderam fazer isso com papai, comigo? Vocês são desprezíveis. — cuspo as palavras e uma lágrima solitária escapa, sem que eu consiga evitar.Meu marido veste apenas a cueca e se levanta lentamente. Sem demonstrar arrependimento, ele caminha em minha direção e dou um passo cambaleante para trás, a fim de evitar contato. — Não me toque com essas mãos imundas. — grito e ele para onde está.— Ei, não grite — Cláudio repreende entre dentes — Os empregados podem ouvir e não queremos escândalo.Por um instante pensei que Cláudio estivesse preocupado com meus senti