***Gaya Matarazzo***Algumas semanas se passaram desde a morte do meu pai, a saudade que sinto dói profundamente, porém, está sendo amenizada pela melhor notícia da minha vida.“Parabéns, Gaya, sua gestação está confirmada, os exames mostram que você está grávida de 12 semanas.” A voz do meu ginecologista ainda ecoa na memória enquanto me dirijo para a empresa da família.— Cláudio vai ficar radiante com a notícia — murmuro comigo mesma enquanto atravesso o estacionamento para ir ao encontro do meu marido.Optei por ter a confirmação do médico antes de alarmar para ele o resultado que o teste de farmácia já havia apontado como positivo. “Cláudio anda tão estranho ultimamente, espero que a notícia da chegada do nosso primeiro filho faça com que ele volte a ser o homem atencioso e carinhoso que foi desde que nos conhecemos” — penso ao entrar no elevador.É a primeira vez que volto nesse lugar desde que papai ficou doente. Meu desejo era de ir para casa, preparar um jantar romântico e
***Gaya Matarazzo*** Sinto o calor do motor do automóvel em minha perna e caio de joelhos no chão, mais pelo susto do que pela pancada. — Você é alguma maluca, por acaso? — A voz de um homem visivelmente irritado ecoa assim que ele desce do carro e estende a mão para eu levantar. — Desculpe, realmente não prestei atenção ao sinal. — revelo com sinceridade enquanto aceito a ajuda. Envergonhada, forço-me a encará-lo e sua expressão surpresa reflete a minha. — Você? — falamos ao mesmo tempo, surpresos por mais um encontro inesperado. A pessoa que quase me atropelou é nada mais nada menos do que o irmão do médico do meu pai, André Burck, o homem que misteriosamente tem cruzado meu caminho com frequência. — Definitivamente, você é a pessoa mais perigosa para si mesma que eu já conheci. — comenta sarcástico, mas logo retoma a expressão fechada. — Agora é sério, Gaya… onde estava com a cabeça quando resolveu atravessar a avenida com o sinal vermelho para pedestre? — Pode parar de que
***Gaya Matarazzo***Horrorizada por tudo que acabei de escutar, não posso mais conter a raiva e a repulsa por Cláudio e Larissa. Eu escancaro a porta do quarto, os fazendo saltar da cama com o estrondo da madeira batendo contra a parede.— Gaya! — Cláudio profere meu nome com surpresa.Larissa, apesar do susto inicial, não demonstra nenhuma reação. Ela permanece deitada, apenas cobrindo as partes íntimas com o lençol.— Como vocês puderam fazer isso com papai, comigo? Vocês são desprezíveis. — cuspo as palavras e uma lágrima solitária escapa, sem que eu consiga evitar.Meu marido veste apenas a cueca e se levanta lentamente. Sem demonstrar arrependimento, ele caminha em minha direção e dou um passo cambaleante para trás, a fim de evitar contato. — Não me toque com essas mãos imundas. — grito e ele para onde está.— Ei, não grite — Cláudio repreende entre dentes — Os empregados podem ouvir e não queremos escândalo.Por um instante pensei que Cláudio estivesse preocupado com meus senti
***André Burck*** A sustentação oral durou apenas 20 minutos. Meu olhar encontra nos olhos de cada um dos jurados a resposta que eu quero, a resposta que a família da vítima merece. — Diante de todo o exposto, senhores, acredito verdadeiramente que aqui, hoje, será feita justiça à vítima. E não só a ela, mas a toda sua família, principalmente a filhinha de apenas 5 anos, obrigada a assistir a sua mãe ser agredida física e emocionalmente pelo homem que deveria protegê-la. Após mais algumas palavras, finalizo o meu discurso confiante de que mais um assassino será retirado das ruas. A defesa ainda tenta reverter a opinião do júri, mas depois de aproximadamente uma hora, quando o juiz lê a sentença, saio do tribunal com a certeza do dever cumprido, pois o monte de estrume que matou a esposa diante da própria filha pegou pena máxima, 30 anos de reclusão, o que para mim ainda é pouco. “Fui educado por uma mulher, que criou a mim e aos meus irmãos, sozinha. Sei de todas as dificuldades q
***André Burck*** Depois de tentar acalmar meu irmão, também respiro fundo para clarear a mente. Precisamos pensar friamente em situações como essa. 📲 Certo Dani. A governanta, não disse mais nada, algo que passamos identificar que tipo de perigo? 📲 Não, mano. Como eu disse, não dava pra escutar direito. No fim ela falou algo como “ajudem minha menina”, e então desligou. 📲 Você tem o contato da Gaya? Tentou falar com ela? 📲 Tentei, ela não atende. — diz ele, frustrado — Será que o imbecil do marido dela descobriu alguma coisa? 📲 Droga! Essa história está saindo de controle, melhor você não se envolver mais nisso, deixa pra mim. — exijo e ele bufa do outro lado. 📲 Já tô envolvido, não podemos esquecer que é graças a Gaya que temos o que temos hoje. Eu devo isso a ela e ao senhor Matarazzo. 📲 Não precisa me lembrar disso a todo momento. 📲 Parece que preciso. — ele retruca irritado, mas logo volta ao tom preocupado — Agora tenho que ir. Vê o que você consegue e me avisa
***Gaya Matarazzo***O som de um “bip” contínuo e irritante invade meus ouvidos.A dor latejante se alastra pela minha cabeça no instante em que abro minimamente os olhos.“Onde estou?”Forço as pálpebras a se manterem abertas, mas a dor aumenta e um gemido trêmulo escapa de mim.Confusa, tento me mover, mas os braço e pernas pesam feito chumbo.“Ai, Deus! O que aconteceu comigo?” — Penso e logo em seguido o barulho de uma porta abrindo e fechando retumba dolorosamente em meus tímpanos.— Ela está acordando, ligue para o Doutor Daniel. — uma voz feminina ecoa pelo ambiente.Ouço passos se aproximando. Mesmo com a visão ainda turva, vejo uma mulher de meia-idade, de olhar sereno e sorriso gentil. Ela chega bem perto da cama, segura em minha mão e fala com ternura.— Calma, querida, não se agite. Vai ficar tudo bem, logo o médico virá vê-la.“Médico? Onde estou e como vim parar aqui?” — questiono mentalmente.A sensação pastosa na língua e o amargor na boca me fazem perceber que estou c
*****André Burck*****Desde ontem, quando Dani avisou que Gaya havia acordado do coma, estive ansioso por vê-la. Porém, como médico, ele pediu para dar um tempo, ela ainda estava muito confusa.Estas últimas três semanas não foram fáceis. Assim que o quadro de saúde dela estabilizou, tivemos de tirá-la do hospital por questões de segurança.Hoje, quando cheguei na fazenda, ela tinha acabado de dormir. Então liberei a enfermeira para descansar um pouco.Apesar da fisionomia abatida e das olheiras fundas, Gaya continua linda. O cabelo está diferendo da forma como costumava ser. Nas poucas vezes que a encontrei, ela esteve com os fios lisos e presos, agora estão crespos, o que talvez seja o natural, porém não menos bonitos.Enquanto velo por seu sono, observo seus traços delicados e me deixo levar por um impulso incontrolável de tocá-la. Acaricio sua mão de leve e Gaya desperta assustada.— Quem é você?Num movimento brusco, ela puxa a mão da minha. Apavorada e visivelmente fragilizada,
***Gaya Matarazzo***.Uma semana passou desde que acordei do coma e agora estou vivendo na cobertura de André.Tentei convencê-los de me deixar na fazenda, me sentia mais à vontade lá, mas os irmãos foram irredutíveis, alegando que seria o melhor para a minha segurança.Sentada em uma cadeira de rodas na varanda, contemplo a paisagem cinza da cidade. Ainda não consigo caminhar sozinha, mas tive alguns avanços, pois já consigo mexer as pernas e Alice me ajuda com exercícios diários recomendados pela fisioterapeuta.Eles não me contaram mais nada sobre o acidente e sempre fogem do assunto, o que vem me deixando profundamente irritada.“Eles sempre desconversam ou dão respostas evasivas. Por isso, decidi que hoje vou esperar André chegar do trabalho e vou colocá-lo contra a parede.”“Não é como se eu pudesse fazer muita coisa sentada nessa cadeira, mas ele vai ter que escutar.”Enquanto me perco em pensamentos, não percebo quando André chega e para ao meu lado.— Boa tarde, Gaya. Como se