Capítulo VI

— Senhor Caleb? — Bati na porta, mesmo estando aberta.

Caleb estava sentado em sua cadeira, de costa para mim, o terno estava no braço do sofá que havia na sala. 

— Só vou dizer uma vez Kalel, quero esse projeto na minha mesa hoje! Até o fim do expediente, do contrário nem precisa ir trabalhar amanhã! — Vociferou contra o telefone.

Coitado do Kalel...

Não havia percebido que ele estava ao telefone, estava prestes a ir para a minha mesa, — ou ao menos descobrir onde ficava— quando ele se virou e me viu, gesticulou com a mão para que entrasse e assim eu fiz. Fiquei em pé próximo a porta, esperando-o acabar a ligação, o que fez em menos de 2 minutos. 

— Vai continuar parada aí na porta, parecendo um vaso? — Não estava olhando para mim e sim para o computador.

Bom dia para você também!

— Desculpe, estava aguardando o senhor acabar a ligação, não queria interromper. O que deseja? — Me sentei na cadeira e fiquei de frente para ele. 

— No momento o que desejo você não pode me dar.

Voltou a me olhar e me assustei com sua resposta e ele percebeu. Sua boca subiu em um leve sorriso sacana e senti minhas bochechas pegarem fogo. 

M*****a vergonha.

— Você está atrasada! E não gosto de atrasos, ainda mais no primeiro dia de trabalho. 

— Tecnicamente... Não estou atrasada, meu horário de trabalho começa às 8h e ainda são 7h45, então nesse caso. Estou adiantada. — Pela expressão dele, acho que não gostou muito da minha resposta.

Sempre fui bem bocuda e acho que essa minha característica não seria muito do seu agrado. 

E estava cagando para isso. 

— Está querendo ser comediante, é? Está no ramo errado então! Você disse que chegaria em 15 minutos e já se passaram 25 desde que te liguei, então... Sim, você está atrasada. — Ele apoiou os cotovelos na mesa e cruzou as mãos, me encarando com todo o desdém e arrogância que tinha.

— Ta, já entendi. — Revirei os olhos. — Já estou aqui! O que deseja? Dessa vez sem piadinhas. 

Ele já estava me estressando e pelo sorriso que tinha nos lábios nesse momento, o meu estresse o divertia. 

Ah pronto, virei motivo de entretenimento agora! Dá próxima vez venho com uma melancia no pescoço para fazer jus ao papel de bobo da corte!

— Mas não foi uma piada Eduarda. O que eu desejo você não pode me dar. Sorte sua... — Ele realmente estava achando graça da minha cara. — Mas continuando, te chamei aqui pois preciso que me faça algumas coisas, as 9h teremos uma reunião com nossos novos clientes para discutir sobre a campanha do marketing e quero você junto. Para já começar a pegar o jeito. 

Ele se levantou e veio em minha direção, parando na minha frente encostando na mesa. Ficando apenas alguns poucos centímetros de mim. 

— Você vai ficar responsável pelo planejamento desse projeto comigo. Quero ver como vai se sair no seu primeiro trabalho. — Ele cruzou os braços e continuou me encarando. 

— Tudo bem... — Não conseguia pensar com muita clareza com ele tão próximo a mim.

Toda essa proximidade me impedia de raciocinar direito. Só agora percebi o quão forte ele era. No dia anterior não deu pra notar, pois estava de terno. Mas agora ele estava com a camisa dobrada até a altura dos cotovelos, marcando com exatidão o volume do seu bíceps. Os dois botões da frente da camisa estavam desabotoados, igual ao dia anterior. Só que dessa vez consegui uma visão melhor do seu peito e a camisa marcava todo o abdômen dele.

Percebi que ele me encarava, seus lábios sorriam maliciosamente e seus olhos tinham o tom mais azul do que no dia anterior, dava para perceber a malicia em seu olhar a quilômetros de distância. Seu cabelo estava penteado pra trás, de um jeito tão alinhado, que não havia um único fio solto e barba continuava bem desenhada e bem aparada.

Senti minhas bochechas ardendo e meu rosto pegando fogo, seu olhar ainda estava sob mim, me avaliando de cima a baixo. Ele desceu os olhos até minhas pernas — que ao contrário do dia anterior — hoje estavam a mostra, devido ao bom tempo lá fora.

Ao meu fogo no rabo também, que resolveu aparecer bem naquele momento, me fazendo apertar as coxas a procura de algum alivio ao calor que se instalava ali. 

Meu vestido era até a altura do joelho, vermelho escarlate, com sandálias de salto alto da mesma cor, que quase me deixavam na mesma altura que ele. Aproveitava o fato de não ser tão alta — com os meus 1,70 cm — para abusar do salto.

O suor estava começando a escorrer pelo meu pescoço e sentia minha nuca molhada, fazendo meu cabelo começar a grudar no pescoço. 

Porque diabos eu não vim de coque hoje?

Todo esse calor que estava sentindo não era só por conta do sol batendo lá fora e sim da temperatura que estava dentro daquela sala. Pelo visto toda essa proximidade com ele estava afetando não só meu corpo, mas o meu juízo também. 

— Vou ir para a minha mesa, quando a reunião começar te encontro na sala. — Me levantei nos deixando ainda mais próximos.

Ele continuou a me encarar, os olhos tão penetrados em mim que poderia enxergar minha alma e nesse momento eu soube, que nossa relação seria mais complicada do que imaginava.

— Se precisar de mim Senhor Caleb, estarei na minha mesa! — Forcei as palavras para fora da minha boca.

Isso se conseguir encontrar. 

— Tudo bem. — Ele ainda me encarava, me avaliando.

Me virei e caminhei em direção a porta, ou pelo menos tentei, mas minhas pernas se recusavam a me obedecer. Se tornando difícil o simples fato de andar.

É só colocar um pé na frente do outro, Eduarda. Vai! Direita, esquerda... Isso! 

Quando estava quase chegando na porta — depois de muito custo — ele me chamou. Respirei fundo e me virei em sua direção.

— Você ainda vai me dar muita dor de cabeça Maria Eduarda! Soube disso no exato momento em que apareceu por essa porta... — Ele estava de costa para mim, sentado em sua cadeira — Te encontro na reunião. — Ele finalizou a conversa, me deixando mais confusa do que quando entrei pela porta.

Onde eu fui me meter? 

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