Chegamos ao aeroporto 1 hora depois e ainda tínhamos pouco mais de 40 minutos livres até o horário de embarque. Aproveitamos a folga para já fazer o check -in e comer em seguida. Resolvemos comer nessas lanchonetes que tem no aeroporto mesmo, depois aproveitei para passar numa livraria que tinha em frente e pegar um livro para ler na viagem. Conhecendo a amiga que eu tinha, sabia que ficaria falando sozinho depois dos 10 primeiros minutos de decolagem do voo, ela sempre desmaiava em qualquer tipo de transporte. Maggie parece urso quando hiberna, deitou e dormiu.
Faltando 15 minutos para o nosso horário, fomos para a plataforma de embarque.
— Me liga assim que você chegar lá Maria Eduarda, por favor. — Meu pai dizia enquanto me abraçava, meio sem jeito, mas com muito amor.
— Está bem pai, eu ligo. Prometo! — Peguei minha mala que estava no chão, subindo o puxador dela. — Pai, o senhor vai ficar bem na minha ausência? Se não for ficar, eu adio minha viagem e vou daqui a uns meses somente, mas...
— Pode parar com isso! Eu vou ficar bem.
Te prometo! — Ele me cortou antes que eu pudesse terminar a frase. — Não quero que você pare sua vida por minha causa. Você merece recomeçar e era isso que sua mãe iria querer, se fosse ao contrário. Então recomece minha filha, mas saiba que você sempre terá para aonde voltar. Mesmo esse velho sendo rabugento e calado. Saiba que ele te ama, do jeito dele, mas ama... — Abracei meu pai novamente e naquele momento soube que estava fazendo a escolha certa. Me despedi dele, ambos com os olhos marejados e um nó preso na garganta.— Tudo bem, eu vou. Mas prometo que te visito pelo menos 1 vez ao mês. — Ele concordou com um sorriso calmo nos lábios.
Maggie me esperava perto do balcão de embarque. Mantendo uma certa distância para respeitar nosso momento, ela conhecia meu pai muito bem e sabia que ele não era de muito afeto, principalmente em público.
Estava indo em direção a Maggie quando escuto meu pai me chamando.
— Duda, espera aí! — Ele caminhava em minha direção. — Quero te entregar uma coisa que sua mãe deixou para você. — Tirou um envelope do bolso e me entregou.
Na frente estava escrito meu nome com a caligrafia inconfundível da minha mãe.
— E quero te entregar isso também... —Ele tirou um cartão da carteira com o meu nome. — É a sua poupança e sua mãe me pediu para te entregar assim que ela falecesse, a senha é a sua data de aniversário. — Meu pai viu que fiquei bem surpresa com aquilo. — Nós começamos a juntar desde quando você nasceu. Todo mês a gente dava um jeito de colocar um pouquinho para conseguir pagar sua faculdade se fosse necessário. Mas nem com isso a gente precisou gastar, você se esforçou tanto e conseguiu tua tão sonhada bolsa de estudo. Mesmo assim continuamos a juntar. Só parei a 6 meses atrás, que foi no momento que sua mãe ficou mais debilitada, devido a doença e com isso não consegui mais guardar por conta dos gastos com o tratamento... — Ele me entregou o cartão e me deu um último abraço. — Agora vai antes que você se atrase! Não esquece que eu te amo. — Ouvir meu pai me dizendo te amo pela segunda vez era um recorde, mas isso me deixou meio sem chão.
Em 22 anos ele nunca foi tão sincero com os sentimentos dessa forma.
— Eu também te amo pai!
Meus olhos embaçaram devido as lagrimas e o nó da garganta voltou. Respirei fundo para não desmoronar ali mesmo.
Peguei minha mala e fui de encontro a Maggie que já me esperava na porta de embarque. Antes de entrar dei uma última olhada para trás, para o meu velho pai e vê-lo ali parado, me observando e esperando sair de sua visão, me fez perceber o quanto eu o amava. Ele acenou com carinho e eu acenei de volta entrando pelo longo corredor.
Embarcamos no avião e Maggie fez a gentileza de me deixar sentar na janela, até porque nunca havia viajado de avião antes e ela sabia que ficaria deslumbrada com tudo aquilo.
Ela colocou os fones de ouvido, o apoio do pescoço e em menos de 10 minutos depois capotou, me deixando com o meu silêncio e uma série de suposições do que aconteceria comigo agora, na minha nova vida.
A viagem era rápida, mas não consegui aquietar um só segundo, sentia o coração acelerado, a respiração descompassada e limpava as mãos a todo momento na calça.
Algo me dizia, no fundo da minha mente que tudo isso seria o meu recomeço e que conseguiria realizar minhas conquistas, ao menos na parte financeira.
A parte amorosa deixaria em segundo plano, por enquanto, não tinha cabeça para pensar nisso.Ao menos, eu acho que não.
Já estava quase na hora da minha entrevista e eu estava uma pilha de nervos.
—Pelo amor de Deus! Sossega esse rabo no sofá daqui a pouco você faz um buraco no chão de tanto que está andando de um lado para o outro.
Não conseguia ficar quieta. A ansiedade estava a mil, estava prestes a começar a trabalhar numa das maiores empresas de publicidade da cidade e não estava acreditando nisso ainda.
— Se você continuar andando de um lado para o outro, juro que vou colar esse seu salto no tapete de casa. — Maggie realmente estava ficando irritada com aquilo, resolvi me sentar antes que me jogasse da janela e isso não seria muito agradável, já que estávamos no décimo quinto andar e a queda seria no mínimo bem feia.
— Pronto, satisfeita? — Sentei no sofá ao seu lado, que estava terminando de se maquiar e a fiquei observando.
— Se continuar me encarando desse jeito vou te trancar no quarto e só te tirar de lá na hora de sair! Isso, se eu te tirar de lá! — Ela estava mesmo brava.
Comecei a mexer no celular esperando dar a hora de sairmos. O prédio da empresa ficava a 20 minutos de casa, mas como iríamos de carro não demoraria nem 10 minutos para chegar lá. Enquanto a Maggie terminava de se arrumar verifiquei se estava levando tudo que precisava para a entrevista. Chequei minha roupa mais uma vez, estava com roupas adequadas para uma entrevista e um salto alto preto, com pouca maquiagem e o cabelo preso em um rabo de cavalo que chegava até o meio das costas.
— Pronto terminei, vou só chamar o carro para gente ir. — Maggie se levantou e foi até o quarto pegar as coisas dela. Ela trabalhava no setor de fotografia publicitária, que ficava no mesmo andar em que eu trabalharia — caso passasse na entrevista, — seria praticamente o mesmo setor que o meu, já que teríamos o mesmo chefe. O temido Caleb Jones que era filho do dono da empresa, o senhor David. Caleb cuidava de todo o setor de fotografia e planejamento de campanha, minha entrevista seria para a vaga de assistente de planejamento de campanha. Trabalharia quase que diretamente com o senhor Caleb, eu e a Maggie. Minha entrevista seria com ele e a Maggie já tinha me antecipado sobre a empresa e o nosso chefe.
— Não liga para o mau-humor dele, é assim com todo mundo e já te aviso que ele é bem arrogante. Se você acha seu pai reservado, é porque não conhece o Caleb ainda e ele não é uma pessoa fácil de se lidar. — enquanto caminhávamos para o carro Maggie foi me dando alguns toques em relação à empresa e a entrevista. — Só responda o que ele te perguntar, ele não gosta de conversa aleatória, diz ser perda do precioso tempo dele e tente manter a calma.
Fui memorizando tudo que a Maggie ia me explicando e ela foi me informando sobre tudo enquanto seguíamos até a empresa.
— Chegamos. — ela disse enquanto pagava o motorista. Pegamos nossas coisas e descemos do carro.
O prédio da Jones Publicidade era grande, tinha cerca de 10 andares e Maggie me disse que cada andar era um setor diferente. Haviam 2 andares que era alugado para outras empresas e o restante era da Jones. Caminhei até o balcão. — Bom dia, sou Maria Eduarda de Albuquerque e vim para a entrevista com o... — Senhor Jones? — Ela complementou minha frase. A recepcionista era muito bonita, me deixando um pouco intimidada com sua beleza. Era ruiva, tinha os cabelos na cintura e olhos claros, um azul bem peculiar e sua pele, tão branca quanto uma folha de papel. Sua simpatia me fez sorrir, não aparentava ter mais do que 20 anos. — Só vou precisar do seu documento para fazer um pré-cadastro no sistema, para liberar sua entrada. — Entreguei o documento a ela, Maggie já havia subido para trabalhar. Estava tão nervosa que mal lembrava se havia se despedido de mim. — Olha aqui, por gentileza? — Disse a moça da recepção, me entregando o doc
Estava terminando de me arrumar, estava uma pilha de nervos, era meu primeiro dia de trabalho e ainda por cima com um chefe bem autoritário. Por experiência própria, convivendo com um filho de militar, sabia que isso não daria certo, mas não seria eu que jogaria a toalha. Uma coisa que meus pais me ensinaram foi a nunca desistir dos meus sonhos e nem das minhas escolhas. Era isso que iria fazer e daria o melhor por esse emprego. Terminei de pegar minhas coisas, hoje iria sozinha para o trabalho, Maggie saiu cedo de casa, tinha uma reunião com um cliente em potencial. Desci até a portaria para aguardar o carro chegar, enquanto isso mexia no celular da empresa, o notebook já estava na bolsa, esses dois aparelhos seriam meus melhores amigos a partir de hoje. Não percebi que o carro chegando, abri a porta de trás e me sentei, colocando as coisas no colo. Não tenho o hábito de sentar na frente, principalmente em carros de desconhecidos, sempre fui muito r
— Senhor Caleb? — Bati na porta, mesmo estando aberta. Caleb estava sentado em sua cadeira, de costa para mim, o terno estava no braço do sofá que havia na sala.— Só vou dizer uma vez Kalel, quero esse projeto na minha mesa hoje! Até o fim do expediente, do contrário nem precisa ir trabalhar amanhã! — Vociferou contra o telefone. Coitado do Kalel... Não havia percebido que ele estava ao telefone, estava prestes a ir para a minha mesa, — ou ao menos descobrir onde ficava— quando ele se virou e me viu, gesticulou com a mão para que entrasse e assim eu fiz. Fiquei em pé próximo a porta, esperando-o acabar a ligação, o que fez em menos de 2 minutos. — Vai continuar parada aí na porta, parecendo um vaso? — Não estava olhando para mim e sim para o computador. Bom dia para você também! — Desculpe, estava aguardando o senhor acabar a ligação, não queria interromper. O que deseja? — Me sentei na ca
Consegui encontrar minha mesa, depois de muito custo. Estava sentada ao lado da Maggie, pela graça de Deus e a minha frente tinham dois rapazes, que pela conversa, eram do mesmo setor que eu. — O que o filho do capiroto queria com você? — Realmente a Maggie estava tendo um mal dia, para xingar assim logo cedo. — Boa sorte para você, vai trabalhar diretamente com o dono do inferno. O que ele tem de lindo, tem de arrogante! Maggie estava na mesa dela, que por sinal estava uma bagunça e meu toc chegou a chorar com tamanha desorganização. Ela digitava alguma coisa no computador, enquanto seu pé batia continuamente no assoalho, o barulho do bico fino do seu salto 15 cm já estava começando a me irritar. — Nada, queria informar sobre a reunião e me tirar do sério logo cedo. Senhor! Que homem insuportáv
Cheguei na sala, Maggie e Nick já estavam sentados. Me sentei ao lado direito da Maggie, já que Nick estava do lado esquerdo e ao meu lado direito tinha uma cadeira vaga. Thomas entrou e se sentou ao meu lado dando uma piscadela para mim, me deixando desconcertada e em seguida se virou para organizar suas coisas na mesa. — Pela forma que você organiza tudo, dá para notar que alguém sofre de um leve toc. — Brinquei, fazendo ele rir. — É tão evidente assim minha mania de organização? — Perguntou enquanto se virava para mim. — Só um tiquinho. — Disse enquanto gesticulava com a mão. — Mas pode ficar tranquilo, seu segredo está guardado comigo. — Dei uma piscadela para ele. — Graças a Deus. — Ele colocou a mão no peito encenando alivio. — Guardei por tanto tempo esse segredo que não queria que depois de 2 anos na Jones, ele fosse descoberto. Que bom saber que você é ótima em guardar segredos. – El
Caminhávamos em direção a Jones, conversando no caminho. Thomas me explicou como conheceu Lina, ela é mãe de sua ex namorada; Beatrice. Luna é sua afilhada e sobrinha da sua ex. Eles tinham um bom relacionamento, mesmo depois do término, continuavam se dando bem, sempre com muito respeito e carinho. Nick e Maggie seguiam conversando também e pela forma que ela estava, a conversa estava indo muito bem. Sentei na minha mesa e comecei a planejar a campanha do nosso cliente. Vire e mexe o Thomas virava e fazia alguma gracinha ou me ajudava em algo relacionado ao trabalho. Ele era bem pró ativo. Caleb passou o resto do dia entre reuniões e ligações. Da minha mesa tinha visão para a sala dele e isso me deixou incomodada, principalmente por não conseguir parar de olhar para lá. Ele andava de um lado para outro e parecia irritado com alguém ao telefone, afrouxou a gravata, nem havia percebido que a tinha colocado novamente.
Os dois foram no banco de trás e eu na frente com o Thomas. A balada ficava a uns 30 minutos de distância, em menos de 10 minutos no carro os dois já estavam se pegando no banco de trás. — Caramba, esses dois não perdem a oportunidade, né? — Brinquei tentando diminuir o barulho da pegação deles. — Obvio que não. É do Nickolas que estamos falando, não perde a oportunidade, ainda mais quando tem mulher na parada. — Começamos a rir, ele sabia como deixar um clima amigável. Thomas colocou a mão em minha coxa, o contato da sua pele com a minha fez meus pelos arrepiarem, tentei relaxar e conter a respiração, acho que não deu muito certo. El
Quando os meninos nos deixaram em casa já passava da 01h da manhã, nem sabia como conseguiria trabalhar na manhã seguinte e ainda teria que ir viajar com Caleb para a reunião. — Te vejo amanhã gatinha. — Thomas me deu um beijo, se despedindo. — Se quiser, passo aqui amanhã para pegar vocês, moro aqui perto. — Ele brincava com uma mecha do meu cabelo enquanto falava. — Não precisa. Amanhã vou ter que ir com o Caleb para uma reunião. Não sei se volto a tempo para a Jones. — Reunião? Onde? — Thomas arqueou a sobrancelha, desconfiado. — Não sei, acho que é na cidade vizinha. — Dei de ombros sem muita importância. — Hum estranho, pois geralmente quem vai a essas reuniões sou eu ou Nick. — O vinco entre suas sobrancelhas entregava a preocupação em que estava. — Ordens do chefe manda quem pode, obedece quem tem juízo. — Bati o dedo na ponta do seu nariz,