O que quer que ele estivesse dito, causou um tumulto de protesto entre os homens reunidos. Akmed, porém, exibia um ar de aprovação e seus olhos brilhavam de ganância ao estender a mão na direção do desconhecido, para receber dele uma pequena bolsa de couro. Ashilley assistiu atordoada à transação, sentindo a realidade fugir do alcance de sua compreensão. Mas, quando o retardatário aproximou-se da mesma e envolveu-lhe a cintura com o braço, ela recuperou a consciência e lutou com todas as forças de que era capaz seu corpo esguio.
— Não pode fazer isso comigo! ― gritou, batendo com os punhos no peito sólido como rocha de seu raptor. O braço que lhe prendia a cintura com firmeza revelava que o esforço era inútil, mas mesmo assim Ashilley continuou a resistir freneticamente. Ele inclinou a cabeça até encostar-lhe a boca no ouvido. — Eu aconselharia você a cooperar, a menos que goste da ideia de se tornar um brinquedo nas mãos de um desses homens. Ashy ficou tão surpresa que amoleceu o corpo. O estranho tirou vantagem do momento para montar e levantá-la até a sela. Mantendo-a presa entre os braços, esporeou o cavalo e deixou para trás o acampamento. — Você é americano! — ela exclamou. — Mas por quê... — Mais tarde eu explico — avisou ele, tenso. A mente de Ashilley fervilhava com perguntas, mas não havia oportunidade de expressá-las. O galope do cavalo tornava a conversação impossível e ela era forçada a segurar-se ao corpo forte do homem que conduzia o animal para manter-se segura sobre a sela. As coxas firmes dele roçavam as suas, deixando-a incomodamente consciente do contato entre seus corpos. A única esperança que a alentava era pensar que o cavalo não poderia continuar naquela marcha veloz para sempre. Muito tempo se passou antes de chegarem a um pequeno oásis, nada mais do que um agrupamento de palmeiras junto a um escasso gramado. Um nativo com um rifle e um cavalo tomava conta de um velho jipe. O homem que conduzia Ashy desmontou e dirigiu-se ao guarda. — Algum problema, Abdbbul? Ao receber a resposta negativa, ele entregou ao árabe algum dinheiro antes de voltar para junto do cavalo e ajudar Ashilley a descer. Ela sentia as pernas moles e dores por todo o corpo. Quando ele tentou ampará-la, Ashilley o repeliu. — Quem é você, afinal? — Podemos falar disso mais tarde. No momento temos assuntos mais importantes para tratar. Ele tirou o kaffiyeh da cabeça, revelando os cabelos escuros e uma pequena cicatriz na testa. Ao despir o caftã, Ashilley surpreendeu-se ao ver que ele vestia um calção jeans branco e uma camiseta azul por baixo do traje árabe. Quem seria àquele homem? Por que fingia ser um nômade? As perguntas tiveram que esperar, porque ele já lhe entregava o caftã e a empurrava para dentro do jipe. — Aqueles sujeitos não ficaram muito satisfeitos quando eu tirei você do acampamento. Acho melhor sairmos logo daqui antes que pensem duas vezes e resolvam vir atrás de nós. O jipe afastou-se do oásis através do deserto, enquanto Ashilley tentava pôr os pensamentos em ordem. Decidiu que não poderia esperar mais para saber o que estava acontecendo. — Há alguma razão para você não querer me contar quem é? — Nenhuma. Meu nome é Taylor Hunter. Havia um tom de expectativa na voz dele, como se esperasse que ela reconhecesse o nome. Na verdade, Ashy o achou vagamente familiar, mas estava muito preocupada para pensar nisso. — O que está fazendo em Yahren e como apareceu de repente no meio do deserto? — Acho muito mais estranho a sua presença naquele lugar. — Oh, sim foi horrível! Eles me sequestraram, me mantiveram presa por três dias e eu não tinha como me comunicar com as pessoas e descobrir o motivo. Mas parece que você fala a língua deles. Onde aprendeu? — Passei algum tempo aqui no ano passado. Eles não a molestaram, não é? — Não fisicamente, mas a ansiedade que senti foi uma verdadeira tortura. Primeiro pensei que eles tinham me prendido para pedir resgate, e quando descobri... Não quero nem falar nisso. Como podem vender um ser humano? Ele esticou o braço e segurou a mão de Ashilley, transmitindo-lhe uma inexplicável sensação de segurança. Embora nem soubesse bem quem era aquele homem, ela experimentava a estranha impressão de que nada de ruim poderia lhe acontecer enquanto estivesse ao lado dele. — Eles fazem qualquer coisa por dinheiro. Além disso, você precisa se lembrar de que é uma mercadoria muito valiosa. Loiras de pele clara são uma raridade nesta parte do mundo. E eu duvido que eles já tenham visto alguma vez um par de olhos de um verde tão lindo quanto os seus. — Está defendendo aqueles sujeitos? — Não, apenas explicando. — Ele sorriu com ar malicioso e seus olhos brilharam ao fitar o corpo de Ashy, envolto na túnica árabe. — Pensando bem, talvez eu tenha um pouco de inveja daqueles nômades. Há algo de atraente nas sociedades que ainda não foram atingidas pela chamada "civilização". — Como pode dizer isso? Iria querer uma mulher que você tivesse que comprar? — Quem sabe? — ele murmurou, rindo ao ver o ar zangado de Ashilley. — Não se preocupe, minha querida, isso nunca aconteceu comigo. Ela o observou com o canto do olho, pensando que aquele homem nunca precisaria comprar uma mulher. Era mais provável que o problema dele fosse escolher entre as pretendentes. Tinha um rosto bonito e, mais do que isso, interessante e atraente. Dava a impressão de ter sempre vivido com intensidade...e de ter amado muitas mulheres. Ashilley se surpreendeu imaginando que tipo de amante ele devia ser. Terno? Autoritário? Embaraçada, apressou-se em afastar o pensamento. Foi com alívio que viu uma cidade surgir no horizonte. O longo pesadelo estava quase terminado! Ainda tinha problemas a enfrentar, como descobrir o que havia acontecido a Roby e Will, contatar a revista para receber instruções, arrumar roupas decentes, mas eram insignificâncias em relação ao sufoco pelo qual acabou de passar. Taylor entrou em uma tranquila rua residencial, estacionou o jipe ao lado de um Mercedes prateado e desligou o motor. As apreensões de Ashilley retornaram. — Por que paramos aqui? Preciso de um telefone. — Daqui a pouco você o terá — ele garantiu, ajudando-a a sair do jipe e entrar no Mercedes. — Por que estamos mudando de carro? — Não precisa se preocupar tanto. Mercedes são comuns por aqui e não repararão em nós. Além disso, ele tem a vantagem de ser rápido. Tenho certeza de que posso despistar qualquer carro de polícia. — Mas por que faria isso? Eu quero ver a polícia! — Ah, é? — ele retrucou, em tom cínico. Sem lhe dar chance de responder, entrou no carro, fechou a porta e deu a ela o Katieh que usava na cabeça com o caftã. — Coloque isso e mantenha-se abaixada. — Não! Não obedecerei mais nenhuma ordem antes de saber para onde está me levando. A expressão de Taylor endureceu. — Ouça, garota, eu acabei de pagar um resgate milionário por você e faço questão de obter o que vim procurar. Depois disso, pode ir à polícia, se for tola a esse ponto. O automóvel veloz movia-se pelas ruas desertas. Ashilley já não compreendia nada e sua sensação de segurança havia evaporado, mas, pelo menos, não se sentia tão indefesa na cidade. Sempre poderia pedir ajuda em alguma casa. Encolheu o corpo pensando nas chances de sobreviver se pulasse do carro em movimento. — Nem pense nisso — avisou Taylor, lendo-lhe os pensamentos. — Mesmo que não quebre esse lindo pescoço, eu posso correr muito mais depressa do que você nessa túnica comprida, Ele tinha razão, admitiu Ashy, afundando-se no banco de couro e desistindo do plano. Era preciso manter a calma e esperar para ver o que iria ocorrer. Poucos minutos depois, Taylor entrou por um portão aberto em um muro branco que circundava inteiramente uma casa, deixando-a pouco visível da rua. Havia extensos gramados e jardins bem-cuidados diante da residência, uma imponente mansão de pedras rosadas em estilo mourisco. Quando Taylor a conduziu através do vestíbulo, Ashilley notou que os aposentos abriam-se todos para um pátio interno. Uma fonte azulejada no centro refrescava e alegrava o ambiente e um grande número de vasos de flores e plantas ornamentais perfumava o ar com aromas delicados. O interior do prédio estava fresco, apesar do calor que fazia do lado de fora. As grossas paredes funcionavam como isolantes naturais. A mobília da sala combinava de modo harmonioso o moderno e o antigo: confortáveis sofás brancos combinavam com os belos tapetes persas que cobriam o assoalho de madeira. Mesmo nas circunstâncias em que se encontrava, Ashilley apreciou o ambiente em que era introduzida. — Vou lhe mostrar seu quarto — disse Taylor. — Não vou ficar aqui. Você está sempre prometendo respostas, mas por enquanto ainda não me contou nada. Quero saber com exatidão qual é a sua parte em toda esta história! — Eu pretendo lhe contar e, em troca disso, espero uma igual franqueza. Apenas pensei que você gostaria de se refrescar primeiro, já que eu estou ansioso por uma ducha. Mas, se prefere conversar agora, por mim está bem. Ashilley lembrou-se que há três dias não tomava um banho decente e sentia-se suja e suada. Depois de tudo que passou, mais meia hora sem esclarecimentos não faria muita diferença. — Eu gostaria de tomar banho, se você prometer que depois iremos conversar. — Eu prometo. O quarto a que foi conduzida era tão bonito quanto o resto da casa. Uma grande cama coberta por uma colcha de seda rosa era cercada por cadeiras almofadadas e tapetes felpudos no chão escuro. O interesse de Ashy, porém, concentrava-se no banheiro, em especial no grande chuveiro fechado por um box de vidro transparente. Logo que Taylor a deixou sozinha, ela tirou o caftã e o ridículo traje de dançarina árabe e abriu as torneiras. Lavou primeiro os cabelos e, depois, ensaboou o corpo esbelto para livrá-lo da areia. Demorou, longos e deliciosos minutos sob a água e apenas quando saiu do chuveiro e enrolou-se em uma toalha lembrou que não tinha roupas limpas para vestir. Era inadequado ter de colocar a túnica suada que acabou de tirar.Após pentear os cabelos molhados, Ashilley voltou para o quarto com a vaga ideia de olhar o guarda-roupa. Talvez algum hóspede anterior pudesse ter deixado algo que ela pudesse usar. Antes de cumprir seu propósito, percebeu algo sobre a cama e aproximou-se para identificar o que seria. Encontrou um vestido branco de algodão, e roupas íntimas.Feliz por ele ter resolvido seu problema, Ashilley pendurou a toalha em um cabide e começou a se vestir. Foi então que se lembrou de que havia deixado a porta do banheiro aberta enquanto tomava banho. "Será que ele a tinha visto?", pensou. Sentiu o corpo todo esquentar diante da possibilidade, mas convenceu a si própria de que aquilo era apenas uma reação da raiva. O vestido lhe coube perfeitamente. Não havia como arrumar sandalias, mas não se importava por ficar descalça. Era um alívio estar limpa e vestida de modo decente. Os cabelos, já quase secos, foram penteados para trás.Taylor a esperava na sala, vestindo uma calça caqui que moldava os q
— Percebe o perigo em que se coloca se estiver mentindo para mim? Não posso escondê-la para sempre e, quando a polícia a encontrar, você vai pegar uma sentença dura. As prisões aqui não são lugares agradáveis, Ashilley. Odiaria ver você enfiada em uma dessas celas por alguns anos.— Eu também não vou ficar muito satisfeita. — Ashy tentou não demonstrar pânico, mas o tremor da voz a traiu.— Você jura que não está envolvida nesse negócio com Will Kennet?— Eu gostaria de nem estar no mesmo país que ele. Will tornou minha vida quase, insuportável desde o dia em que começamos o trabalho. Roby até teve que permanecer no acampamento depois de terminar sua parte, porque ficou com receio de me deixar sozinha com ele.— Parece o tipo de sujeito que faria mesmo uma estupidez, como roubar uma peça arqueológica de valor.Ashilley levantou-se, mais animada.— Quer dizer que você acredita em mim?— Acredito. Mas continuamos com um problema.Os olhos dela encheram-se de lágrimas. O pesadelo ainda e
Ashlley olhou-se no espelho, incrédula. Não podia acreditar que a cor do cabelo fizesse tanta diferença! A tintura mudou seu tom de loiro para um castanho com reflexos dourados. Parecia completamente natural e ela era uma nova mulher.A transformação foi auxiliada pelo fato de Ashlley ter decidido cortar os cabelos. Aos primeiros golpes da tesoura, olhou com certo arrependimento para as madeixas que caíam no chão. Conforme o peso dos longos fios eram removidos, os cabelos se encacheavam com naturalidade, emoldurando o rosto e tornando-o ainda mais delicado. Ashlley examinou o resultado final no espelho, sem poder dizer com certeza se havia gostado ou não. O novo corte a fazia parecer frágil e feminina.Uma batida na porta interrompeu seus pensamentos. Quando ela abriu, Taylor entrou boquiaberto.— Não posso acreditar! Como uma loira tão linda pôde transformar-se em uma morena fabulosa?— Ficou bom? Acho que ninguém me reconhecerá agora, não é?— Com certeza.— Então podemos começar a
— É para isso que servem os amigos. Não estava escrevendo nenhum livro, e me sentia muito entediado. Quando Greg disse que eu precisaria de toda minha esperteza contra o governo de Yahren, como poderia resistir?— Não sei como você conseguiu me encontrar no meio do deserto. Parece um milagre.— Tivemos alguma sorte. Em primeiro lugar, Roby alertou Greg imediatamente. Mas o mais importante foi o fato de Akmed ser tão ambicioso. Ele poderia ter vendido você no dia seguinte à captura, mas decidiu que alcançaria um preço mais alto se fizesse um leilão. Precisou de algum tempo para avisar e reunir os compradores e isso me deu a oportunidade de chegar aqui e fazer perguntas.— A quem você poderia fazer perguntas?— Tenho alguns contatos, pessoas que me devem favores. Depois que descobri o que estava havendo, foi fácil.Ashilley pressentiu mais alguma coisa que ele não queria contar. Recordava-se da maneira como Taylor olhava para trás de tempos em tempos ao deixar o acampamento dos nômades
— Ashilley, você é como a Bela Adormecida esperando que um príncipe venha acordá-la com um beijo.— Não tenha ideias, sr. Hunter! Tenho vinte e seis anos e sei muito bem cuidar de mim mesma. Você vem escrevendo histórias há tanto tempo que está começando a acreditar em sua própria ficção. Minha vida pode parecer monótona para você, mas é perfeita para mim!Antes que ele pudesse responder, foram interrompidos pela aproximação de um casal vestido de maneira elegante.— Taylor, querido! — cumprimentou a mulher insinuante ruiva, com uma voz melodiosa. — Eu ouvi dizer que você estava de volta, mas não acreditei. Vai escrever outro livro aqui?— Oi Mônica. Como vai, Tedy? Não, estou apenas de férias.— Não pensei que você fizesse alguma coisa que as pessoas comuns fazem — disse Tedy.— Procuro não fazer. "Sheylla", estes são Mônica e Tedy Fretsgeraldy. Tedy é o presidente da filial de uma grande firma americana, a Robesco. Mônica pode lhe contar tudo o que acontece em Yahren. Gostaria que v
— Foi assim que as autoridades descobriram que tinha havido um roubo?— Exato. A polícia bloqueou todas as saídas da cidade e, dessa forma, ele está preso aqui. Sabe se Will conhece alguém em Yahren que poderia escondê-lo?— Acho que não. Ele nunca mencionou ninguém.— Então as coisas não devem estar fáceis para ele. É só uma questão de tempo até nós o pegarmos. Espero que consigamos antes da polícia.— Pode ser falta de generosidade de minha parte, mas não me importo com o que venha a acontecer com ele.— Nem eu. Estou pensando em você. Pelo que me contou sobre Will, não me surpreenderia se ele tentasse comprometê-la para livrar-se de parte da culpa.Ashilley arregalou os olhos.— Quer dizer que estou em perigo mesmo se nós o encontrarmos?— Isso não será difícil de resolver — ele assegurou.— Se Will não conhece os lugares onde os criminosos costumam se esconder, como vamos saber onde procurá-lo?— Para começar, podemos eliminar todos os grandes hotéis, já que exigem a apr
Como ela poderia explicar que talvez não fosse necessário forçá-la? Não havia dúvida de que fazer amor com ele seria uma experiência muito especial para ela. Para Taylor, seria apenas mais uma conquista entre tantas. Ele a possuiria com paixão e carinho, preenchendo as necessidades que só ao lado dele começou a sentir, introduzindo-a a prazeres que ela conhecia apenas através da imaginação. Depois, estaria tudo acabado. Não tinha experiência suficiente para conquistar um homem como Taylor. Mesmo assim, poderia valer a pena... se, ao partir; ele não lhe levasse o coração. Era disso que tinha medo.Taylor esperava pela resposta e ela tomou cuidado para escolher as palavras.— Estou muito grata a você, Taylor. Eu sei o quanto lhe devo.— Você não pode estar pensando que eu espero possuí-la como pagamento! Não haveria a menor diferença entre mim e aqueles bandidos que a raptaram!— É claro que não. Porém, eu acho que você espera que haja algum relacionamento mais íntimo entre nós, um
Ashilley acordou tarde na manhã seguinte, sentindo-se calma e descansada, até que a memória voltou, trazendo de novo todos os problemas.Os incidentes da noite anterior não poderiam se repetir. Ela teria que estabelecer limites para que a vida em comum com Taylor fosse suportável. Depois de ter admitido que sentia atração por ele, a tarefa não iria ser fácil, mas precisava encontrar um jeito de assumir o controle da situação sem magoá-lo.Após tomar banho e vestir-se com calças brancas e uma camisa amarela estampada, Ashilley sentiu-se um pouco melhor. Dirigiu-se à cozinha, preparada para encontrar Taylor e tratá-lo com naturalidade. Em vez dele, porém, quem a cumprimentou foi uma mulher morena e forte que falava inglês com um forte sotaque árabe.— Bom dia, srta. "Hort". Quer tomar café agora?— Sim, obrigada. O sr. Hunter já comeu?— Há muito tempo. Está trabalhando no escritório.Os dedos de Taylor se moviam freneticamente pelo teclado do computador quando Ashilley parou junt