— Ashilley, você é como a Bela Adormecida esperando que um príncipe venha acordá-la com um beijo.
— Não tenha ideias, sr. Hunter! Tenho vinte e seis anos e sei muito bem cuidar de mim mesma. Você vem escrevendo histórias há tanto tempo que está começando a acreditar em sua própria ficção. Minha vida pode parecer monótona para você, mas é perfeita para mim! Antes que ele pudesse responder, foram interrompidos pela aproximação de um casal vestido de maneira elegante. — Taylor, querido! — cumprimentou a mulher insinuante ruiva, com uma voz melodiosa. — Eu ouvi dizer que você estava de volta, mas não acreditei. Vai escrever outro livro aqui? — Oi Mônica. Como vai, Tedy? Não, estou apenas de férias. — Não pensei que você fizesse alguma coisa que as pessoas comuns fazem — disse Tedy. — Procuro não fazer. "Sheylla", estes são Mônica e Tedy Fretsgeraldy. Tedy é o presidente da filial de uma grande firma americana, a Robesco. Mônica pode lhe contar tudo o que acontece em Yahren. Gostaria que vocês conhecessem "Sheylla Hort". Os olhos ávidos de Mônica passearam por Ashilley, observando cada detalhe do corte de cabelo, rosto e tipo físico. — É um prazer conhecê-la, srta. Hort. Também está aqui em férias? — Não, eu... — Ashilley olhou para Travis em busca de ajuda, mas ele permaneceu impassível. — Estou aqui a trabalho. — Que interessante! O que você faz? — Bem, eu... eu trabalho com antiguidades. — Uma antiquária! Eu tenho algumas peças maravilhosas e gostaria que você desse uma olhada nelas. Tedy diz que fui enganada, mas tenho certeza de que são autênticas. Você viria até minha casa dar sua opinião? — "Sheylla" terá prazer em fazer-lhe este favor — interveio Taylor. Ashilley dirigiu-lhe um olhar indignado antes de dirigir-se a Mônica. — Tudo tem um certo valor. Sempre digo que o mais importante é a gente gostar da peça. — Para Tedy não. Você ficaria convencido com a opinião de uma autoridade? — perguntou Mônica ao marido. — Essa tática é injusta. Eu acreditaria em qualquer coisa que a srta. "Hort" me dissesse. — Pode confiar, Tedy. "Sheylla" é mesmo uma especialista — disse Taylor, rindo. — E muito esperta. — Esperteza é essencial quando não se pode contar com ninguém a não ser consigo própria — Ashilley respondeu com suavidade, embora dirigisse a Taylor um olhar ameaçador. — Isso não deveria ser problema. Você acabou de mostrar como é auto-suficiente — ele comentou, com ar inocente. Tedy falou com o garçom e segurou o braço da esposa. — Vamos, Mônica. Nossa mesa está pronta. — Espere! Ainda não descobri quanto tempo a srta. "Hort" pretende ficar aqui. — Ela virou-se para Ashilley, ansiosa. — Quando acha que pode olhar as peças? Seria rápido, e depois nós poderíamos almoçar no clube. Ashilley sabia que Mônica estava apenas procurando fazer amizade, já que, com certeza, a vida das mulheres devia ser monótona naquele país, com os maridos trabalhando o dia todo e poucos conhecidos para conversar. No entanto, não tinha tempo nem disposição para iniciar uma vida social. — Parece interessante, mas no momento minha agenda está lotada. — Eu gostaria de poder dizer o mesmo — suspirou Mônica, confirmando a teoria de Ashilley. — Bem, talvez você queira relaxar um pouco quando as coisas se acalmarem. Eu lhe telefonarei. Em que hotel você está? Ashilley começava a sentir-se desesperada quando Taylor pareceu se sensibilizar com sua situação e resolveu ajudar. — Ela está em minha casa. Na verdade, trabalha para mim. Eu não fui muito sincero quando disse que estava em férias. Comecei um novo livro e "Sheylla" me ajuda nas pesquisas. — Interessante. — Havia um tom de incredulidade na voz de Mônica. — Eu pensei que você mesmo fizesse suas pesquisas. — Costuma ser assim, mas descobri que "Sheylla" tem uma aptidão incrível para me fazer conhecer pessoas que eu nunca encontraria sozinho. — O olhar que Taylor dirigiu para Ashilley era cheio de ironia. Mônica olhou-a com uma expressão estranha. — Já que vai ficar por aqui, srta. "Hort", tenho certeza de que voltaremos a nos ver. Depois que o casal se afastou, Ashilley pôde expressar seu nervosismo. — Imagino que agora todas as pessoas que falam inglês vão saber que nós estamos vivendo juntos. — É pena que o boato tenha se adiantado à realidade, mas já que ganhamos a fama... — Estou falando sério! Você deu a entender que Mônica é a porta-voz da cidade. Agora ela vai contar para todo mundo e a notícia de que eu estou aqui vai se espalhar. — Eu lhe disse que nós não poderíamos manter isso em segredo. No entanto, encontrar os Fitzgerald talvez tenha sido uma coisa boa. Se as pessoas pensarem que estamos tendo um caso, nunca vão ligar você a Ashilley Hilden. — Por quê? Você não seria capaz de ter um caso com uma fugitiva? Ele recebeu a pergunta ácida com um sorriso malicioso. — Poderia abrir uma exceção no seu caso. Ashilley desistiu de discutir com ele e voltou à sua preocupação inicial. — Você parece não perceber que o perigo aumenta conforme mais pessoas saibam de minha existência. A notícia poderia chegar às autoridades e... — É provável que chegue. Mas vamos nos preocupar com isso quando chegar o momento. A sensação de estar num beco sem saída cresceu dentro de Ashy. — Espero que você tenha um bom plano para me tirar da prisão. — Eu pensarei em um, se for o caso. Ashilley, eu lhe disse que cuidaria de você, não é verdade? Não fique tão nervosa e preocupada. Ele inspirava tanta confiança que Ashilley relachou um pouco. — Tem alguma ideia de onde podemos começar a procurar por Will? — Eu fiz algumas sondagens esta tarde. Amanhã devemos ter alguma informação. — Conhece alguém para quem ele poderia tentar vender o amuleto? — perguntou Ashy. — Conheço pessoas que o comprariam, mas não acho que isso ajude. O problema é que Will Kenet é um amador. Viu uma oportunidade de tornar-se rico e a agarrou. — Que diferença isso faz? Ele continua sendo um ladrão. — Sim, mas imprevisível. Em situações normais, eu iria contatar todos os grandes colecionadores e receptadores da cidade. São os locais onde um objeto como esse, pela lógica, deve aparecer. Mas Will não tem a menor ideia de onde vendê-lo. Fez uma bobagem atrás da outra. Meus informantes me disseram que ele começou a oferecer a peça em pequenas lojas que não tinham condições de pagar o valor exigido. Porém, a notícia passou de um comerciante para outro.— Foi assim que as autoridades descobriram que tinha havido um roubo?— Exato. A polícia bloqueou todas as saídas da cidade e, dessa forma, ele está preso aqui. Sabe se Will conhece alguém em Yahren que poderia escondê-lo?— Acho que não. Ele nunca mencionou ninguém.— Então as coisas não devem estar fáceis para ele. É só uma questão de tempo até nós o pegarmos. Espero que consigamos antes da polícia.— Pode ser falta de generosidade de minha parte, mas não me importo com o que venha a acontecer com ele.— Nem eu. Estou pensando em você. Pelo que me contou sobre Will, não me surpreenderia se ele tentasse comprometê-la para livrar-se de parte da culpa.Ashilley arregalou os olhos.— Quer dizer que estou em perigo mesmo se nós o encontrarmos?— Isso não será difícil de resolver — ele assegurou.— Se Will não conhece os lugares onde os criminosos costumam se esconder, como vamos saber onde procurá-lo?— Para começar, podemos eliminar todos os grandes hotéis, já que exigem a apr
Como ela poderia explicar que talvez não fosse necessário forçá-la? Não havia dúvida de que fazer amor com ele seria uma experiência muito especial para ela. Para Taylor, seria apenas mais uma conquista entre tantas. Ele a possuiria com paixão e carinho, preenchendo as necessidades que só ao lado dele começou a sentir, introduzindo-a a prazeres que ela conhecia apenas através da imaginação. Depois, estaria tudo acabado. Não tinha experiência suficiente para conquistar um homem como Taylor. Mesmo assim, poderia valer a pena... se, ao partir; ele não lhe levasse o coração. Era disso que tinha medo.Taylor esperava pela resposta e ela tomou cuidado para escolher as palavras.— Estou muito grata a você, Taylor. Eu sei o quanto lhe devo.— Você não pode estar pensando que eu espero possuí-la como pagamento! Não haveria a menor diferença entre mim e aqueles bandidos que a raptaram!— É claro que não. Porém, eu acho que você espera que haja algum relacionamento mais íntimo entre nós, um
Ashilley acordou tarde na manhã seguinte, sentindo-se calma e descansada, até que a memória voltou, trazendo de novo todos os problemas.Os incidentes da noite anterior não poderiam se repetir. Ela teria que estabelecer limites para que a vida em comum com Taylor fosse suportável. Depois de ter admitido que sentia atração por ele, a tarefa não iria ser fácil, mas precisava encontrar um jeito de assumir o controle da situação sem magoá-lo.Após tomar banho e vestir-se com calças brancas e uma camisa amarela estampada, Ashilley sentiu-se um pouco melhor. Dirigiu-se à cozinha, preparada para encontrar Taylor e tratá-lo com naturalidade. Em vez dele, porém, quem a cumprimentou foi uma mulher morena e forte que falava inglês com um forte sotaque árabe.— Bom dia, srta. "Hort". Quer tomar café agora?— Sim, obrigada. O sr. Hunter já comeu?— Há muito tempo. Está trabalhando no escritório.Os dedos de Taylor se moviam freneticamente pelo teclado do computador quando Ashilley parou junt
Taylor sorriu.— Acho que essa mocinha tem gostos mais caros, não é, doçura?Aquelas palavras não combinavam com Taylor. Ela o encarou com uma expressão intrigada, mas não disse nada.— Ela adora jóias — Taylor continuou, colocando o braço sobre os ombros de Ashilley. — Descobri isso logo que olhei para esse narizinho levantado. Mas, ora essa, eu posso comprar o que ela quiser! Tudo para deixar minha doçurinha contente.De repente, Ashilley percebeu que Taylor fingia ser um daqueles lamentáveis turistas americanos cheios de dinheiro e com muito pouca sensibilidade. "Ele tem mesmo um grande talento dramático", pensou, observando a interpretação totalmente convincente.Os olhos do comerciante brilharam com a perspectiva de uma grande venda.— Que tal uma linda corrente de ouro? — Ele mostrou várias gargantilhas baratas. — Estas são muito valiosas. Não vão encontrar coisa tão boa por aqui.Ashilley sacudiu a cabeça, preparada para desempenhar seu papel.— Eu quero pedras preciosa
Ashilley sentia o sangue ferver de raiva. Taylor sabia que aquilo ia acontecer e, a julgar por seu rosto, estava achando até divertido! Teve dificuldade para esconder a irritação quando alguém lhe perguntou:— Como você e Taylor se conheceram? Ashilley teve uma súbita inspiração.— Através do meu noivo. — Ela apreciou as expressões de espanto de todos os presentes, exceto Taylor, que parecia continuar se divertindo.— Seu noivo é escritor? — comentou uma das mulheres.— Não, ele está na política. Ele e Taylor se conhecem há anos. Um dia, quando estavam almoçando juntos, Ravier ficou sabendo que Taylor pretendia começar um livro ambientado na Antiguidade e me indicou como a pessoa ideal para auxiliá-lo. Taylor descobriu que eu tinha as qualificações necessárias e me trouxe junto com ele.— Eu pensei que você fazia as pesquisas sozinho — disse um homem, voltando-se para Taylor.— Quem dispensaria uma assistente com a aparência de "Sheylla"? — ele respondeu, com um sorriso nos lábi
— Se eles acreditaram em você, por que acha que seu noivo não acreditará?— Eu sei que acreditaria, mas não há razão para ele saber.— Começo a formar o quadro em minha cabeça. Se eu fosse você, pensaria duas vezes antes de me casar com esse sujeito. Parece um bobão.— Você não tem direito de dizer isso sem ao menos conhecê-lo — respondeu Ashilley, já cansada daquela conversa.— De uma coisa eu sei: se você fosse minha, eu ia querer que todo mundo soubesse disso.A atmosfera no carro fechado tornou-se subitamente muito íntima. Ashilley umedeceu os lábios, nervosa.— Ravier sabe que sou fiel e isso é tudo o que importa. Vamos entrar agora? Estou muito cansada.Enquanto se aprontava para dormir, Ashilley relembrou a, conversa com Taylor. Lamentava ter feito de seu Ravier fictício um homem tão fraco e dependente da opinião alheia. Já que estava inventando um noivo, era preferível ter criado alguém impetuoso e ousado, mas as coisas não haviam acontecido de uma maneira previsível. O
— Não sei. Ele poderia estar em qualquer lugar agora: em uma das lojas de departamentos, ou em outra rua. Foi um golpe de sorte darmos com ele no centro da cidade. Há tantos turistas por aqui que é difícil alguém ficar em evidência.— Will parecia mais um mendigo do que um turista. Havia uma moça com ele, você não viu?— Uma estrangeira?— Não, eu acho que ela era daqui.— Pode ter sido assim que ele nos despistou por tanto tempo. Se conheceu uma moça da cidade, ela pode estar escondendo ele. Bem, o importante é que ele apareceu. Logo devemos ter alguma notícia.— Oh, Taylor, isso seria maravilhoso!— É, seria fantástico — ele disse, olhando o rosto ansioso de Ashilley.Conforme Taylor havia previsto, naquela noite receberam um telefonema de um dos informantes. Will foi visto em um bairro perto do centro. Sua localização exata era desconhecida, mas estavam trabalhando nisso.— Podemos ir até lá procurá-lo? — pediu Ashilley, assim que Taylor lhe passou as informações.— Seria
O capitão levantou-se.— Eu lhe entendo. Mais uma coisa antes de eu ir embora. É apenas uma formalidade, é claro, mas já que estou aqui, poderia ver o passaporte da srta. "Hort"?Ashilley ficou gelada, mas Taylor permaneceu tranquilo.— Nossos passaportes estão em um cofre no Banco de Yahren. Uma vez que não planejamos deixar seu belo país, achamos que lá era o lugar mais seguro para guardá-los. — Taylor olhou para o relógio. — É uma pena, mas o banco ainda não abriu.— Talvez eu possa acompanhá-lo até lá mais tarde.— Certamente, se não se incomodar com o fato de se deslocar até lá para assumir a responsabilidade.O policial pareceu, de repente, ser cauteloso.— Acho que não compreendi.— Os jornais podem chegar à conclusão errônea de que eu e "Sheyla" somos suspeitos de alguma coisa. O senhor deve admitir que é pouco usual um oficial de sua posição executar verificações de passaporte.— É pouco provável que a imprensa tome conhecimento do fato.— Talvez não sai