Ashilley percebia vagamente os olhares disfarçados que lhe dirigiam quando ela entrou na região mais pobre da cidade. Sabia que sua pele bronzeada ainda era pálida em comparação com a dos nativos e seu vestido fino de linho a marcava como estrangeira. Era inevitável e Will também devia enfrentar o mesmo problema. Foi contando com isso que se embrenhou pelas ruas estreitas.Caminhou vários quilômetros pelas vielas abarrotadas de gente e sujeira. O sol batia com força em sua cabeça, mas ela nem notava. Só lhe importava encontrar Will.Ignorou a passagem do tempo até que as sombras que se alargavam sobre as calçadas lhe avisaram que a noite se aproximava. Com relutância, achou melhor voltar para casa antes que Taylor telefonasse para Mônica para saber o que havia acontecido.Teve que andar de volta até o centro para encontrar um táxi. Ao sentar-se no carro, percebeu como estava cansada. As pernas doíam, a cabeça pesava e a caminhada não adiantara nada. Porém, Ashilley recusava-se a de
Ia ser difícil sair sozinha outra vez sem que ele desconfiasse.Já tinha uma desculpa pronta, mas Taylor não a aceitaria sem discussão. "Por quanto tempo poderia enganá-lo?", pensou, angustiada.Taylor reagiu de maneira previsível quando Ashilley lhe deu a notícia no escritório.— Você vai poder trabalhar bastante hoje sem ninguém para perturbá-lo — ela comentou, casual.— Por quê? Onde você vai estar?— Não lhe falei? Prometi a Margô que a ajudaria a encontrar uma urna antiga para sua sala. Só espero que possa fazê-la desistir de enchê-la com flores secas — ela acrescentou, rindo.— Por mim ela pode encher até de canja de galinha! Ashilley, quero que você fique aqui comigo.— Pare de agir como criança, Taylor! Tente compreender, é um daqueles compromissos inevitáveis.— Não penso assim. Você poderia ter recusado o convite.— Taylor, você sabe quanta rivalidade existe entre Mônica e Margô. Eu aconselhei Mônica a respeito de suas antiguidades. Como poderia agora recusar-me a f
Teddy logo bateu os olhos nos copos sobre a mesa.— Ótimo, chegamos bem na hora dos aperitivos. Que acha dessa cronometragem perfeita?— Eu diria que não foi tão perfeita assim — disse Taylor, sério. Quando Tedy levantou uma sobrancelha, sem entender, ele fez um esforço para esconder o aborrecimento. — Quis dizer que estamos com um drinque de vantagem.— Não se preocupe. Eu bebo rápido.Enquanto Taylor foi até o bar para servir os visitantes, a mente de Ashiley se debatia desesperada. Como poderia fazer para que eles fossem embora antes que Taylor descobrisse que ela mentiu sobre os encontros com Mônica e Margô? Tinha o corpo rígido de tensão.— Para onde vão hoje? — perguntou a Mônica, tentando avaliar quanto tempo duraria a visita.— Ouvi falar de um novo restaurante. Pensamos que talvez você e Taylor quisessem vir conosco.— Hoje, não — ele respondeu, depressa.— Nós ainda nem falamos sobre o lugar — protestou Jefferson. — Servem carne feita em fogão de lenha e batatas frit
— Até agora não trouxeram nada.— Você acha que eles não estão se empenhando?— Não disse isso... Eu... eu só pensei que poderia ajudar se houvesse mais pessoas na trilha de Will.— Mesmo assim você não me pediu para ir com você. Por quê?— Pensei que você ia querer me dissuadir. É o que sempre fez em outras oportunidades.— E você compreendeu a razão. O que aconteceu para que, de repente, não confiasse mais em mim? E por que a súbita urgência em sair de Yahren?O coração de Ashilley se acelerou. Precisava evitar a qualquer custo que Taylor seguisse aquela linha de raciocínio. Era melhor dar a impressão de que havia se cansado ou que estava ansiosa para voltar para Ravier. Tudo, menos a verdade! Já bastava de humilhação.— Eu já expliquei. Não é muito agradável saber que, de uma hora para outra, posso ser arrastada para a prisão.— Não há nenhum perigo imediato.— Mas também não estamos mais perto de resolver o problema. Não podemos continuar assim para sempre, Taylor. Você
Os dias foram se passando, cada um mais tenso e sem esperanças do que o anterior. Ashilley não sabia o que era pior: a dificuldade para encontrar Will ou o sarcasmo de Taylor. Evitava o marido tanto quanto possível, saindo cedo e voltando tarde. Uma noite, chegou depois de haver escurecido e encontrou Taylor zangado, andando pela sala. Foi o único momento em que ele perdeu o ar de indiferença.— Por onde andou até esta hora?— Foi difícil encontrar um táxi.— Não tem ideia de como é perigoso ficar perambulando sozinha nesta cidade?— Que diferença faz, afinal?— Pare com isso, Ashilley! Não quero mais que você chegue depois de escurecer. Se me desobedecer, não sairá mais desta casa, entendeu?Quando se viu sozinha no quarto, Ashilley tentou encontrar algum sentido no comportamento de Taylor. "Por que ele se preocupava tanto? Será que restava algum afeto?", Ashilley suspirou, ao pensar que a resposta era bem mais simples: ele apenas não queria tê-la como um peso na consciência.
Após a empregada se retirar, preparou um almoço substancial para Will: sopa, carne assada, salada, pão, manteiga e sobremesa. Embora não tivesse nem um pouco de pena, tinha que admitir que parecia fazer tempo que ele não comia direito. Depois de pôr a comida na mesa, voltou ao quarto para chamá-lo.A desordem com que se deparou fez os olhos de Ashilley faiscarem de raiva. As roupas de Ralph estavam empilhadas no chão e havia toalhas molhadas por toda parte. O espelho estava borrifado de água e o vidro de xampu sem tampa. Naquele instante, Will apareceu vestindo um robe de Taylor.— Você está bem aqui, não é? — ele observou. — O sujeito do quarto ao lado deve ser bem rico, a julgar pelo guarda-roupa.— Eu lhe disse para ficar neste quarto!— Você queria que eu voltasse a pôr aquelas roupas imundas? Ou talvez preferisse me emprestar uma de suas lindas camisolas? Não, garota, gosto mais disto aqui — ele disse, alisando a manga do robe de seda.— Você não tem o direito de mexer nas c
— É lindo! — murmurou.— Você está louca! — exclamou Will. — Se eu visse essa bugiganga em uma loja não daria mais de um dólar por ele.— Seu gosto é tão bom quanto o seu conhecimento das leis — comentou Taylor. — O roubo dessa "bugiganga" poderia lhe custar trinta anos na prisão.Will ficou mais pálido ainda.— Nós fizemos um trato! Você disse que eu ia escapar!— Não tenho nenhum interesse em mantê-lo aqui. Sente-se e fique comportado que eu vou dar um jeito de tirá-lo do país.O resto do dia foi marcado pela tensão. Taylor deu roupas limpas para Will e ordenou que ele permanecesse no quarto de hóspedes e não deixasse ninguém vê-lo. O rapaz estava tão apavorado que nem pensou em discutir as instruções.Após fazer alguns telefonemas, Taylor saiu de casa, deixando Ashilley ansiosa e irrequieta. "E se as autoridades não concordassem em fazer o acordo, mesmo tendo o amuleto de volta? Nunca acreditariam que ela não tinha nada a ver com o furto, ainda mais sendo uma especia
— Isso não é da sua conta.— Sempre gosto de saber o fim da história. Curiosidade de escritor. Você planeja fingir-se de noivinha tímida na sua noite de núpcias? E quando Ravier fizer amor com você? Será que vai conseguir demonstrar a mesma paixão com que respondeu a mim? — Ele levantou o queixo dela e fitou-a dentro dos olhos. — Responda, Ashilley!Ashilley sentiu que o quarto começava a virar na sua frente. Taylor segurou-a quando ela vacilou.— O que foi, querida? — perguntou, com ar preocupado. — Você não se sente bem?— Não é nada. Só fiquei um pouco tonta. Já estou bem.— Fique deitada. Vou buscar um pano úmido para colocar em sua testa. — Ele a ajudou caminhar até á cama e a ajudou a deitar.Quando Taylor saiu, Ashilley respirou fundo várias vezes. Precisava controlar o nervosismo ou ele começaria a suspeitar. Poderia até perder o bebê! Diante do pensamento terrível, colocou as mãos protetoras em torno da barriga.Taylor voltou logo depois com uma toalha úmida. Tirou-lhe