A Hora Da Verdade

Após pentear os cabelos molhados, Ashilley voltou para o quarto com a vaga ideia de olhar o guarda-roupa. Talvez algum hóspede anterior pudesse ter deixado algo que ela pudesse usar. Antes de cumprir seu propósito, percebeu algo sobre a cama e aproximou-se para identificar o que seria. Encontrou um vestido branco de algodão, e roupas íntimas.

Feliz por ele ter resolvido seu problema, Ashilley pendurou a toalha em um cabide e começou a se vestir. Foi então que se lembrou de que havia deixado a porta do banheiro aberta enquanto tomava banho. "Será que ele a tinha visto?", pensou. Sentiu o corpo todo esquentar diante da possibilidade, mas convenceu a si própria de que aquilo era apenas uma reação da raiva. O vestido lhe coube perfeitamente. Não havia como arrumar sandalias, mas não se importava por ficar descalça. Era um alívio estar limpa e vestida de modo decente. Os cabelos, já quase secos, foram penteados para trás.

Taylor a esperava na sala, vestindo uma calça caqui que moldava os quadris estreitos. A camisa branca de linho estava desabotoada até a metade sobre o peito bronzeado. Ele parecia muito urbano e sofisticado e era difícil imaginar que pudesse ser o mesmo homem que a resgatou no leilão e atravessou o acampamento com ela nos braços.

Ao avistar Ashilley, ele se levantou e sorriu.

— Sente-se melhor?

— Sim. Obrigada pelas roupas limpas.

— Foi um prazer levá-las a você — disse ele, com um sorriso malicioso nos lábios.

Já não havia dúvidas de que ele a viu no chuveiro, pensou Ashilley, sentindo as faces corar.

— Era necessário me espionar?

— Eu juro que não foi intencional. Você deixou a porta do banheiro aberta.

— Porque pensei que estava sozinha!

— Eu não podia saber. — Os olhos escuros de Taylor a observaram com admiração, dos seios firmes às pernas bem delineadas e tornozelos delicados. — Mas não vejo por que você está aborrecida. Não tem nenhum defeito a esconder. Até mesmo aquela pequena mancha rosada em sua... nádega... é charmosa.

— É assim que você pretende me tranquilizar?

— Você não tem que se preocupar, acredite em mim. Nunca violentei uma mulher. Seu problema é que está tensa demais. Que tal um drinque para relaxar?

— Não, obrigada.

— Está com medo que eu tente drogá-la?

— É claro que não! Quer parar de me assustar?

— Não acho que você se assuste com tanta facilidade. — Ele aproximou-se de Ashilley, levantou-lhe o queixo e examinou seu rosto com ar de aprovação. — Você é corajosa, garota. Muitas mulheres estariam profundamente abaladas se estivessem passando por metade das coisas que você enfrentou.

— Não foi tão fácil assim para mim.

— Tente esquecer isso. Já está quase terminado. — Ele acariciou-lhe o rosto com delicadeza. — Apenas dê-me o amuleto e pode voltar para casa.

Os longos dedos de Taylor na pele de Ashilley lhe davam uma imensa sensação de conforto Por um momento, ela teve uma vontade quase irresistível de descansar a cabeça naqueles ombros largos e deixar que os braços fortes a envolvessem em um ninho de segurança. Foi então que registrou as últimas palavras dele.

— Que amuleto?

— Você não vai poder escapar com ele, Ashilley. Será que isso é mais importante que sua liberdade?

— Como sabe meu nome?

— Sei tudo sobre você — Taylor afirmou, com calma.

— Como?

— Greg Watson, o editor-chefe da revista para a qual você está trabalhando, é um velho amigo meu. Quando as coisas se complicaram por aqui, ele me pediu para encontrar você e livrá-la da enrascada. Roby Rikcs telefonou e contou a ele o que havia acontecido.

— Quer dizer que ele está bem! Eu fiquei tão preocupada! A última vez que o vi, ele e Will estavam amarrados e abandonados no deserto.

— Conseguiram se soltar e chegar à cidade, pelo menos Roby. Ele estava mesmo chocado. Telefonou do aeroporto e pegou o primeiro avião de volta para os Estados Unidos.

— Roby não se deu bem com o clima daqui. Posso compreender por que ele deixou o país, mas por que o sr, Watson não chamou a polícia depois do telefonema de Roby?

— Infelizmente, ele chamou. --Ashy sentia-se atordoada e confusa.

— Por que não devia ter chamado?

— Porque pareceu estranho você desaparecer ao mesmo tempo que o amuleto.

— Que amuleto? É a segunda vez que você fala nisso e eu não sei a que está se referindo.

Taylor observou-a por um longo momento, demorando os olhos no rosto agitado de Ashilley.

— Está bem, vou entrar no seu jogo e contar toda a história, como se você não soubesse de nada. Pelo que me disseram, você foi contratada para fornecer informações sobre a tumba recentemente descoberta.

— Exato. Todos os objetos haviam sido removidos e, portanto, uma pessoa comum não saberia para que as salas funerárias eram usadas. Os reis antigos acreditavam que a morte era uma transição necessária para uma outra vida. Por isso eram enterrados com todos seus bens materiais, incluindo dinheiro e jóias, coisas que eles poderiam precisar no outro mundo. As tumbas eram, na verdade, apartamentos completos. No entanto, sem o mobiliário é necessária a presença de um arqueólogo para interpretar as pinturas e sinais gráficos na parede e identificar a função de cada aposento.

— Muito interessante. Essas tumbas são muito escuras, não é? Acredito que até um pesquisador treinado poderia passar por cima de alguma coisa, mesmo que fosse um rubi encravado em uma peça de ouro que, após todos esses milênios, já devia estar sem brilho. Um amuleto como esse valeria uma fortuna.

— Está dizendo que esse tal objeto foi encontrado e depois perdido?

— Não, estou dizendo que você e seu parceiro Will Kennet o encontraram e agora estão tentando vendê-lo. O erro estúpido, porém, foi oferecê-lo para venda aqui em Yahren. O governo não gostou de ver seu tesouro nacional em mãos alheias.

Ashilley ficou um momento em silêncio, tentando dar sentido às palavras que ouvia.

— Se existe mesmo essa peça, só agora ouvi falar dela. Nunca vi esse amuleto!

— Não vai adiantar, Ashilley. Apenas você saberia o valor de tal descoberta.

— Que adiantaria para mim? Fui raptada, lembra-se?

— Isso deve ter sido um acidente previsto nos planos originais, mas não altera os fatos. Você não desistiria do amuleto com facilidade, mas poderia estar guardando a peça para usar como um último recurso: sua liberdade em troca do amuleto.

Ashy sentia-se atordoada e tentava afastar o pânico para poder raciocinar melhor.

— Você disse que Will ofereceu o objeto para vender. Como poderia fazer isso se eu estivesse com o amuleto?

— Ele ofereceu o objeto, mas não mostrou a mercadoria. Talvez esteja tentando dar um golpe. Com certeza, sabe bem como é o amuleto e pode fazer sua descrição soar autêntica. Porém, logo que Will começou a falar, a notícia de que um valioso ornamento antigo estava sendo vendido no mercado paralelo espalhou-se depressa. O governo tomou conhecimento e agora toda a polícia está atrás de você e de seu companheiro. Não poderá sair do país, minha querida, a não ser que se torne invisível. Sua única chance é devolver o amuleto.

Ashilley sentiu as pernas trêmulas e teve que sentar-se no sofá. Como Taylor poderia pensar que ela, uma arqueóloga, privaria o mundo de um tesouro como o que descreveu? Lembrou-se, então, do estranho comportamento de Will no dia anterior ao ataque dos nômades do deserto. Ele havia feito várias perguntas a respeito de ornamentos antigos e as razões pelas quais esses povos esculpiam em pedras preciosas. Foi a única conversa amistosa que tiveram e Will parecia entusiasmado pelo assunto. O motivo acabava de ficar claro para Ashilley.

Os olhos de Taylor suavizaram-se ao notar que ela tremia, mas suas voz continuou seca.

— Se você está com ele ou sabe onde se encontra, é melhor me dizer.

— Eu falei a verdade. Sei que não existe qualquer razão para acreditar em mim, mas eu nunca soube desse amuleto antes de você me falar dele.

Ele enfiou as mãos nos bolsos e a observou com atenção

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo