A Transformação

Ashlley olhou-se no espelho, incrédula. Não podia acreditar que a cor do cabelo fizesse tanta diferença! A tintura mudou seu tom de loiro para um castanho com reflexos dourados. Parecia completamente natural e ela era uma nova mulher.

A transformação foi auxiliada pelo fato de Ashlley ter decidido cortar os cabelos. Aos primeiros golpes da tesoura, olhou com certo arrependimento para as madeixas que caíam no chão. Conforme o peso dos longos fios eram removidos, os cabelos se encacheavam com naturalidade, emoldurando o rosto e tornando-o ainda mais delicado. Ashlley examinou o resultado final no espelho, sem poder dizer com certeza se havia gostado ou não. O novo corte a fazia parecer frágil e feminina.

Uma batida na porta interrompeu seus pensamentos. Quando ela abriu, Taylor entrou boquiaberto.

— Não posso acreditar! Como uma loira tão linda pôde transformar-se em uma morena fabulosa?

— Ficou bom? Acho que ninguém me reconhecerá agora, não é?

— Com certeza.

— Então podemos começar a procurar por Will? — Ashilley estava ansiosa e não queria perder um só minuto.

— Temos que cuidar de algumas coisas primeiro. Deixe-me olhar para você. — Ele colocou as mãos nos ombros de Ash, fazendo-a dar uma volta. Quando os dedos dele tocaram-lhe os cachos da nuca, ela sentiu um arrepio. — Você fez um trabalho fantástico!

— De que coisas temos que tratar antes de começar a busca?

— Roupas, por exemplo. Eu a acho muito atraente vestida com a roupa de enpregada, mas imagino que você iria chamar muita atenção se saísse na rua desse jeito.

— Ah, é verdade. Nossa muito sofisticado este vestido para ser de empregada.

— Enquanto você arrumava o cabelo, eu saí e comprei algumas roupas.

Ele deixou o quarto e retornou minutos depois, carregado de pacotes.

— Taylor, que exagero! Para que tantas roupas?

— Tive que comprar tudo. Você tem apenas aquela roupa transparente de harém, lembra-se?

— É claro, mas não vamos precisar ficar aqui por muito tempo, não é?

— Nunca se sabe. Espero que você aprecie minhas escolhas.

— Como você sabe meu tamanho?

— Tive algumas oportunidades precisas... Sei tudo sobre você, a não ser o tamanho dos sapatos. — Os olhos dele brilharam ao percorrer-lhe o corpo esguio.

O coração de Ashlley começou a bater mais forte quando ela se lembrou de como ele obtivera tais informações.

Encontrava-se quase nua quando ele a tomou nos braços por tantas horas no deserto e depois ele a viu totalmente despida no chuveiro.

― Que tal você se trocar e nós sairmos para jantar — Taylor sugeriu. — Estou morrendo de fome, você não?

A menção ao jantar quase dissipou a indignação de Ashlley. Ela de repente percebeu que estava faminta, como se não comesse há dias. A comida no acampamento nômade era horrível e, além disso, ela havia estado ansiosa demais para se alimentar. Mesmo assim, relutava em deixar a segurança da casa.

― Eu poderia preparar alguma coisa para comermos aqui mesmo... — sugeriu com hesitação.

— Eu não sei se há mantimentos, Ash. São os empregados que cuidam disso e eles só estarão aqui amanhã. Não quis ninguém por perto até que você completasse a transformação.

— Como vai explicar a minha presença?

— Não acho que isso seja necessário. Deixemos que eles tirem suas próprias conclusões.

— Entendi.

— Ótimo. — Taylor tinha um largo sorriso nos lábios. — Então espero por você na sala.

Ele saiu do quarto, deixando ela entregue a seus pensamentos. Além de ter perdido as roupas, o dinheiro e a liberdade, iria perder também a reputação, ela concluiu, desanimada. Mas já que não havia mais nada a fazer no momento, resolveu deixar o problema de lado e começou a abrir as caixas.

O conteúdo provava que Taylor conhecia bem as necessidades femininas. Além de vestidos, sapatos e bolsas, ele havia comprado calcinhas, sutiãs, meias e uma camisola fina que era bonita demais para ser usada para dormir. Mas, talvez, não fosse esse o uso que ele tinha em mente. Era provável que o destino das camisolas que ele comprara para outras garotas tivesse sido dobradas ao pé da cama. Os olhos de Ash brilharam, indignados.

Ashlley sentia-se bem melhor ao encontrar Taylor na sala. Era a primeira vez em vários dias que se encontrava totalmente vestida, apesar de que jamais escolheria sozinha aquele vestido vermelho de linho, cujo decote era por demais exagerado. No entanto, precisava admitir que a roupa era bastante chique. As sandálias pretas de salto alto lhe serviam com perfeição e davam um toque especial à sua aparência.

A expressão de admiração de Taylor já estava se tornando comum.

— Afinal eu não sei se fiz uma boa escolha. A ideia era evitar chamar a atenção sobre você.

— É um belo vestido — ela respondeu, com timidez.

— Seu corpo valoriza qualquer roupa. — Taylor caminhou em volta dela, observando cada detalhe.

— Pare com isso! Você me faz sentir como se ainda estivesse naquele leilão.

— Desculpe. Eu não pretendia ser tão insensível.

Ela sabia disso. Embora a provocasse tanto, ele havia sido extremamente gentil. Poucas pessoas enfrentariam tantos riscos por uma estranha, ou seriam tão solícitas quanto a seu bem-estar.

— Acho que vou demorar um pouco para voltar a confiar nos homens.

Havia um ar pensativo nos olhos dele ao observar os traços delicados do rosto daquela bela mulher.

― Talvez seja mesmo a melhor atitude. É o tipo de mulher da qual os homens não conseguem ficar longe. — Em um instante a expressão dele mudou e seus lábios abriram-se em um sorriso. — Mas no momento você está segura. A única coisa que eu tenho forças para atacar é um bom bife.

Ashlley sentia-se tensa ao entrar no luxuoso restaurante que Taylor escolheu. Sua apreensão aumentou quando o gerente cumprimentou-o pelo nome.

— Por que você me trouxe a um lugar onde é conhecido? — ela perguntou em voz baixa, enquanto eram conduzidos à mesa.

Após se sentarem, Taylor respondeu:

— Era a coisa mais segura a ser feita. É muito provável que logo corram notícias de que há uma garota americana comigo, já que, infelizmente, eu sou bastante conhecido por aqui. Se eu tentasse escondê-la, todos começariam a se perguntar o motivo disso.

Ashlley concordou com a explicação, mas ainda se sentia um pouco constrangida. Só começou a relaxar quando Taylor a fez beber um copo de vinho.

— Você conhece bem este país?

— Sim. Fiz uma longa pesquisa sobre Yahren, para meu último livro.

— Você é uma pessoa surpreendente.

Ela observou o homem sentado à sua frente. O cabelo escuro apresentava um corte perfeito e as roupas se mostravam impecáveis. Ele estaria a vontade em qualquer grande capital da Europa e, no entanto, passaria por um chefe nômade com a mesma facilidade.

— Espero que isso seja um cumprimento.

— E é. Eu estava pensando como deve ser maravilhoso poder andar pelo mundo e adaptar-se a qualquer cultura.

— Qualquer pessoa que ficasse tempo suficiente em um país acabaria se adaptando. A maior parte dos turistas tenta conhecer tudo em uma única viagem, o que é totalmente impossível. Além disso, seguem apenas o roteiro que as agências de viagem fornecem, hospedam-se em hotéis de luxo. Não captam a atmosfera dos locais que visitam.

— É verdade. Aquela casa linda em que estamos é sua?

— Não, é alugada. Já havia ficado nela em minha estada anterior e, por sorte, a consegui de novo agora. Até os empregados são os mesmos.

— Quer dizer que você não estava no país? Veio para cá apenas por que Greg Watson pediu?

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo