Medo e Insegurança

— Percebe o perigo em que se coloca se estiver mentindo para mim? Não posso escondê-la para sempre e, quando a polícia a encontrar, você vai pegar uma sentença dura. As prisões aqui não são lugares agradáveis, Ashilley. Odiaria ver você enfiada em uma dessas celas por alguns anos.

— Eu também não vou ficar muito satisfeita. — Ashy tentou não demonstrar pânico, mas o tremor da voz a traiu.

— Você jura que não está envolvida nesse negócio com Will Kennet?

— Eu gostaria de nem estar no mesmo país que ele. Will tornou minha vida quase, insuportável desde o dia em que começamos o trabalho. Roby até teve que permanecer no acampamento depois de terminar sua parte, porque ficou com receio de me deixar sozinha com ele.

— Parece o tipo de sujeito que faria mesmo uma estupidez, como roubar uma peça arqueológica de valor.

Ashilley levantou-se, mais animada.

— Quer dizer que você acredita em mim?

— Acredito. Mas continuamos com um problema.

Os olhos dela encheram-se de lágrimas. O pesadelo ainda estava longe de terminar.

Taylor a envolveu nos braços, aconchegou-lhe a cabeça sobre o ombro.

— Ei, não vai perder a coragem agora, não é?

— Eu não sei o que fazer. A polícia está atrás de mim e eu não tenho roupas nem dinheiro.

— Você tem a mim — ele murmurou, acariciando-lhe os cabelos. Os dedos enroscaram-se nos cabelos. Taylor, então, alisou os longos fios loiros, que caíam soltos e suaves sobre os ombros dela. — Acha que eu deixaria alguma coisa acontecer a você depois de ter pago todo aquele dinheiro?

Ela afastou-se um pouco para olhá-lo de frente.

— Por que está fazendo tudo isso por mim?

Taylor limpou uma lágrima do rosto dela, seguindo-lhe o curso pela face molhada. Havia algo de sensual naquele toque, transformando-o em uma carícia. Ashilley sentiu o coração bater mais forte ao perceber que a atmosfera entre eles mudou sutilmente. De repente, tomou consciência de que Taylor era um homem muito viril e de que os motivos para ele estar ali ao seu lado ainda se mostravam nebulosos.

Os olhos escuros de Taylor brilhavam ao olhar-lhe os longos cílios e, depois, a boca rosada.

— Você deve ter tido muitos homens dispostos a protegê-la. Ela soltou-se do abraço, jogando os cabelos para trás com dedos trêmulos.

— Não, não tive.

Ashilley dizia a verdade. Levou uma vida bastante enclausurada durante o período de faculdade. Seus pais haviam morrido quando ela tinha dezoito anos, deixando-a quase sem dinheiro. Teve que trabalhar para manter os estudos, o que a deixava com pouco tempo livre para encontros amorosos. Depois de formada, permaneceu na universidade, onde conheceu vários rapazes cujo interesse principal era o trabalho. Chegou a sair com alguns deles, mas sem nenhum envolvimento mais sério. Nenhuma das companhias que teve até o momento possuía muito mais experiência do que ela própria. Nunca havia conhecido alguém como Taylor.

— Mal posso acreditar nisso. — Ele não tentou abraçá-la outra vez, mas a proximidade daquele corpo masculino era perturbadora.

— Você foi pago para me encontrar?

— Não, foi um favor que fiz para Greg. O roubo do amuleto deixou a revista em uma posição bastante comprometedora. Se você tivesse mesmo sido a autora do furto, a Architectural World poderia ser acusada de cúmplice. As pessoas poderiam pensar que o artigo sobre a tumba não passava de um disfarce.

— E por que eu? Por que Greg não lhe pediu para encontrar Will?

— Na verdade, ele desconfiava dos dois. Se a suspeita caísse apenas sobre Will, talvez Greg o deixasse sofrer as consequências, mas a prisão de uma bela e jovem arqueóloga alcançaria as manchetes dos jornais. Afinal, a história envolve intriga, suspense, romance, todos os requisitos para chamar a atenção.

Greg me pediu para achá-la, devolver o amuleto e tirar você e Will do país sem qualquer tipo de publicidade.

— Você é alguma espécie de detetive particular?

— Não, sou escritor.

— Ah! Taylor Hunter, o escritor! Como eu não reconheci o nome?

— Acho que você acabou me dando material para mais um livro.

Ashilley enrubesceu. Havia lido alguns dos romances de Taylor. Embora fossem histórias de aventuras, continham uma grande dose de sexo. Em geral, havia uma heroína em perigo, assim como ela, mas as semelhanças terminavam por aí. Pouco depois de se conhecerem, o herói e a heroína dos livros faziam amor de modo alucinante e a situação perdurava por todo o romance.

Taylor era considerado um excelente escritor. Seus livros tornavam-se longo bestsellers e ocupavam o primeiro lugar nas vendas durante longos períodos. Ele pesquisava os locais exóticos que utilizava nas histórias e havia rumores de que vivia tantas aventuras quanto seus heróis de ficção.

— Desculpe por não tê-lo reconhecido logo, Taylor.

— Não se desculpe. Você tinha algumas outras coisas na cabeça, não é?

— E ainda tenho. Como farei para sair daqui?

— No momento é impossível. Se estivéssemos na Europa, haveria inúmeras maneiras de fazê-la passar a fronteira. Mas, aqui, as autoridades estarão examinando cada mulher de língua inglesa que tentar deixar o país. É uma pena que você não tenha aprendido a língua local.

— Quer dizer que é apenas uma questão de tempo até eles me pegarem?

— Não. Apenas temos que encontrar Will kennet e recuperar o amuleto. Se o devolvermos às autoridades, elas não se interessarão mais por você.

— Mas podemos demorar para encontrá-lo! O que eu vou fazer enquanto isso?

— Pode aceitar minha hospitalidade.

Havia algo no sorriso dele que a perturbou. Taylor parecia um felino esperando o momento exato para dar o bote. O plano dele exigiria que se escondessem naquela casa por um período indeterminado e, a julgar pela reputação que possuía, Taylor não pretendia passar o tempo sozinho jogando paciência. Não mesmo!

Ashilley não tinha intenção de participar de qualquer atividade sexual que ele houvesse planejado, mas também não podia se desentender com o anfitrião. Taylor era sua única esperança. Apertou os dentes, assegurando-se que sairia daquela situação a salvo, embora soubesse que os dias que teria pela frente não seriam fáceis. Ele era um homem experiente e, com certeza, não deixaria de assediá-la.

Taylor, a observava com ar crítico, certo de que sua oferta havia sido aceita.

— Vamos ter que fazer alguma coisa para mudar sua aparência. Talvez tingir o cabelo.

— Por quê, se ninguém vai me ver? Só vou sair quando estiver bem escuro.

— Não pode ficar escondida aqui dentro de casa. Isso seria suspeito. As pessoas acabarão sabendo que você está aqui.

— Quer que eu saia à luz do dia? Não posso fazer isso! Você mesmo disse que estão procurando por mim!

— Contanto que você não seja loira, não será parada na rua. Eles só estão examinando com atenção as mulheres americanas que tentam sair do país. Vou sair e comprar uma tintura preta para cabelos.

— Você acha mesmo que isso é necessário? — ela perguntou, relutante.

— Confie em mim.

Ashilley não estava confiante, mas não encontrou meios de discordar.

— Compre castanho-escuro, Taylor. Preto sempre dá a impressão de tingido.

Suas apreensões aumentaram quando se viu sozinha na casa. Conseguiriam encontrar Will antes da polícia? E ele ainda estaria com o amuleto? Uma outra preocupação era saber quanto tempo Taylor estaria disposto a dedicar-se à busca, sem receber nada em troca.

No momento, aquilo era uma aventura para ele, uma experiência que poderia usar em um de seus livros. Mas e se ele se entediasse? Mesmo conhecendo-o há tão pouco tempo, podia apostar que Taylor Hunter nunca suportaria o tédio.

Ashilley estremeceu. Era bom que não demorassem a encontrar Will, ou ela teria que pensar em uma maneira aceitável de manter Taylor entretido.

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