— O quê?! — Ricardo grasnou, o susto fazendo a batata entalar em sua garganta.Começou a tossir violentamente, pegando o copo de cerveja na esperança que o líquido ajudasse a desobstruir a garganta. Nikolas se levantou rapidamente e deu tapas nas costas do amigo, atraindo olhares curiosos dos poucos ocupantes do bar. Finalmente, com a face vermelha, Ricardo conseguiu limpar a garganta e, arfante, encarou o sócio.— Cara, não pode falar esses absurdos quando eu estou comendo! — queixou-se limpando os cantos dos olhos úmidos.— É sério, Ricardo. Pensei muito sobre isso. — Nikolas se sentou novamente, explicando seus motivos: — Anya disse que Max nasceu em julho, ela terminou comigo em fevereiro, o que leva a duas opções: Max nasceu prematuro ou é meu filho.Ricardo balançou a cabeça e encarou o amigo com incredulidade.— Assuma que está procurando motivos para se apegar ainda mais à Anya e ao filho dela — repreendeu.— Minha mãe sempre comenta como ele se parece comigo.Vendo que não ve
A luz suave das luminárias da sala, Anya se esticava no sofá, verificando documentos do processo de guarda que Ricardo lhe deixou dias antes. Queria saber cada detalhe que lhe fosse permitido, estar preparada para as acusações que viriam e pensar formas de revertê-las.Também usava a leitura para afastar os pensamentos de Nikolas, da conversa que sabia que teriam. A princípio esperava para ouvir o motivo do silêncio e distanciamento que perdurava desde sábado à noite. Mas a futura conversa tinha recebido uma dimensão maior nas últimas horas. Temia esse momento, e ocupava a mente para não se afogar em cenários hipotéticos.Sua concentração se desfez pelo som da porta se abrindo abruptamente. Ergueu o olhar esperando encontrar Nikolas, o que de fato ocorreu, mas o estado dele a fez abandonar os documentos na mesinha e se aproximar dele preocupada.Deixando a porta escancarada, ele entrou cambaleando, os cabelos desarrumados e a camisa meio aberta. Nunca o tinha visto naquele estado, tão
Virando-se lentamente a cabeça latejante para sua direita, Nikolas viu seu irmão mais velho, Viktor, parado a poucos passos, casualmente de braços cruzados e um sorriso malicioso no rosto. Claramente satisfeito em pegar o irmão caçula no flagra.— Viktor... O que está fazendo aqui tão cedo? — perguntou tentando parecer calmo, mas visivelmente desconfortável. O momento, seu estado lastimável e a dor de cabeça cortavam qualquer linha racional que pudesse usar.— Eu que te pergunto. Parece que a casa de hóspedes tem novos atrativos? — o mais velho provocou se aproximando.— Vim... resolver algumas coisas...— Resolver algumas coisas? — Viktor analisou de cima a baixo seu estado deplorável, o riso na voz ao comentar: — Imagino que teve muitas... Resoluções.— Estive discutindo... Sobre o processo de gua
Em pé atrás de sua escrivaninha, Nikolas aguardou paciente a porta do seu escritório abrir e sua secretária dar passagem a Klaus Hoffmann e Liam Petrov. Klaus entrou com passos firmes, a presença imponente inconfundível, os olhos verdes irradiando autoridade e uma severidade que poderia fazer qualquer um recuar. Liam seguia logo atrás, um largo sorriso no rosto.— Advogado, temos pendências a respeito da guarda do meu neto — Klaus anunciou imperioso, sem preâmbulos. — Esse processo precisa ser acelerado. Tenho planos de mandar Maximilian para estudar no exterior, longe da influência da Anya.— Senhor Hoffmann, compreendo suas preocupações, mas precisamos seguir os procedimentos legais, que demoram — retrucou calmo e firme. — Estamos lidando com a vida de uma criança de quatro anos, e todos desejamos o melhor para ele. — destacou. — E penso que mandar uma criança pequena ao exterior, longe da mãe, é uma péssima ideia.Klaus estreitou os olhos, seu olhar fixo em Nikolas, que não demonst
Tendo deixado tudo preparado para servirem o jantar, Anya pediu para falar um momento com Clara. Não queria deixar a única pessoa que lhe estendeu a mão sem saber o que planejava.— Hoje recebi uma oferta de trabalho na área de administração de empresas — iniciou tão nervosa que podia ouvir o coração em seus ouvidos. — É o que eu estudei e sempre quis fazer. Uma oportunidade que não posso deixar passar — explicou.Clara franziu o cenho, surpresa, mas logo seu rosto suavizou.— Sempre soube que esse momento chegaria, embora é mais cedo do que imaginei — Clara lamentou tocando a mão de Anya com carinho. — Óbvio que pode ir atrás dos seus sonhos. O tempo de experiência está no fim, então o contrato de trabalho não será um empecilho.— Obrigada! E não se preocupe, vou ajudar a senhora a encontrar alguém antes de sair.— Tenho certeza de que vai brilhar onde quer que vá. Nesses quase três meses se saiu tão bem cuidando dessa casa, mesmo não tendo experiência. — Resignada, estendeu os braço
Conduzindo Anya em direção ao quarto sem deixar de beijá-la, os pensamentos de Nikolas estavam em turbilhão. Sentia-se fraco e tolo, dando razão ao sócio, por dizer que ele se enganava quando o assunto envolvia Anya.Seguir dessa forma, com tantas lacunas entre eles, era imprudente, mas não conseguia parar, se afastar do desejo avassalador que o levava direto para os braços dela. A necessidade de estar com ela, de sentir seu calor, superava qualquer pensamento racional.A deitou suavemente na cama, deixando-a ali, tentadoramente ofegante e com a face corada, enquanto se desfazia das roupas. Ansiosa, Anya também lançou longe as peças que usava.— Necessito de você — admitiu em sussurrou ao deitar junto dela. — Mais do que é seguro.As íris azuladas encontraram o olhar negro e seu corpo derreteu-se.— Também te necessito...Lançando os braços em volta do pescoço dele, Anya o puxou para mais perto, unindo seus lábios novamente, as línguas se provando como se fossem o mais delicioso dos m
Ocupando toda a ala norte da mansão dos Hoffmann, tendo somente Maximilian próximo ao seu quarto, Liam Petrov tinha toda a liberdade de fazer e ser como desejasse sem o olhar crítico do sogro. Fato que o ajudava há anos a manter Carla, babá de Maximilian, como sua amante.Tinha temido que a descoberta por parte do menino, e a revelação dele para Anya, pudesse gerar sua queda na ascendente construção de seu relacionamento com os Hoffmann. Felizmente, os erros da ex-esposa eram maiores que um caso trivial com uma funcionária, e não ajudou para a Anya pedir o divórcio. A honra e moral da família valiam para Klaus do que sentimentalismos tolos, mesmo que para isso tivesse que esconder algumas sujeiras embaixo do tapete, palavras do Hoffmann.Diante do espelho, ajeitando a gravata, Liam encarava o próprio semblante irritado, antevendo uma nuvem em seus planos ensolarados. Óbvio que tinha o apoio irrestrito de Klaus para ascender à presidência das empresas quando a aposentadoria chegasse, m
No escritório de Nikolas, a luz do sol da tarde entrava pelas grandes janelas, iluminando a mesa de madeira escura cheia de documentos. Ele estava sentado à sua mesa, revisando um dos processos, quando ouviu uma batida na porta.— Entre!Tendo sido informado minutos antes que Liam Petrov estava no prédio, nem se importou em levantar os olhos dos papéis quando a porta se abriu. Dando um longo respiro, cruzou as mãos sobre a mesa e ergueu o olhar para o incomodo visitante mantendo a expressão neutra e profissional.— Nikolas, podemos sair para beber e conversar? — Liam pediu com um sorriso frio, ignorando o pedido para que se sentasse.Nikolas recusou e gesticulou novamente em direção uma das cadeiras.— Sente-se! E me fale o que precisa — disse, explicando apenas por educação: — Tenho de ir ao tribunal em algumas horas, não posso me alongar em conversas.Ocultando a irritação pela prepotência do advogado, Liam se acomodou na cadeira, ajustando o paletó com um sorriso forçado e olhar de