No escritório de Nikolas, a luz do sol da tarde entrava pelas grandes janelas, iluminando a mesa de madeira escura cheia de documentos. Ele estava sentado à sua mesa, revisando um dos processos, quando ouviu uma batida na porta.— Entre!Tendo sido informado minutos antes que Liam Petrov estava no prédio, nem se importou em levantar os olhos dos papéis quando a porta se abriu. Dando um longo respiro, cruzou as mãos sobre a mesa e ergueu o olhar para o incomodo visitante mantendo a expressão neutra e profissional.— Nikolas, podemos sair para beber e conversar? — Liam pediu com um sorriso frio, ignorando o pedido para que se sentasse.Nikolas recusou e gesticulou novamente em direção uma das cadeiras.— Sente-se! E me fale o que precisa — disse, explicando apenas por educação: — Tenho de ir ao tribunal em algumas horas, não posso me alongar em conversas.Ocultando a irritação pela prepotência do advogado, Liam se acomodou na cadeira, ajustando o paletó com um sorriso forçado e olhar de
A declaração de Nikolas fez Liam recuar surpreso, a constante expressão de superioridade se dissolvendo rapidamente. Ficou parado, encarando-o sem entender nada, a boca abrindo e fechando enquanto procurava algo para dizer.— O que disse? Explique-se — exigiu.Nikolas caminhou até a porta do escritório e a abriu totalmente, apontando para fora num gesto decidido.— Não trabalho mais para os Hoffmann e nem para você.Momentaneamente sem palavras, Liam piscou atônito, a raiva e a confusão se misturando em seu rosto.— O quê? Ficou louco? Não pode fazer isso!— Tanto posso que estou fazendo. Agora saia do meu escritório!— Você não pode simplesmente largar o trabalho e me expulsar — Liam retrucou com a voz trêmula de raiva. — Meu sogro paga caro para essa porcaria de escritório representá-lo.Nikolas deu um passo em direção ao Petrov, que recuou diante do olhar soturno.— Devolverei cada centavo — anunciou, a voz baixa, mas intensa e sombria. — Precisarão para encontrar um advogado que m
Voltando do dia ao lado de Laura, cansada, com os ombros e pés doloridos, Anya entrou na casa de hóspedes e seguiu direto para o quarto. Jogou-se na cama, ouvindo o colchão rangendo suavemente sob seu peso, deixando as lágrimas de decepção e tristeza, que segurou por tanto tempo, escorrerem livremente pelo rosto.Estar tão perto de realizar um sonho e perdê-lo doía em sua alma. No entanto, o pior era pressentir que a culpa era de seu pai. Klaus tinha usado suas inúmeras conexões para sabotar suas chances de trabalhar na área de formação quando ela saiu da mansão, era difícil não associá-lo a essa nova rejeição.— Mais uma vez, estive tão próxima de algo bom e perdi tudo... — sussurrou para o vazio. — O que eu vou fazer agora?A voz de Laura ecoou em sua mente, lembrando-a da oferta generosa feita ao mostrar um apartamento para Anya.— Você precisa de um lugar adequado para você e Max. Morar no quintal dos Oliveira não me parece correto. Posso pagar o aluguel até que consiga um trabalh
Com a ameaça circulando ao ser redor, Nikolas saiu da casa de hóspedes, os passos firmes e rápidos, carregando uma raiva que parecia queimar cada célula de seu corpo. Anya correu atrás dele, o desespero estampado em seu rosto.— Nikolas, espere! O que você quer dizer com pedir a guarda do Max?Nikolas parou abruptamente, fazendo com que Anya, que estava a poucos passos atrás dele, colidisse contra suas costas. Se virou com olhos fulminantes.— Entrarei com uma ação contra você e Liam, requerendo a guarda de Max. Tenho provas de que vocês dois não são adequados para o bem-estar dele.— Não pode fazer isso comigo — queixou-se desesperada. — Sabe que sou uma boa mãe!— O único que sei é que você é uma mentirosa, uma elitista que me desprezou porque eu era pobre e escondeu o meu filho de mim! — esbravejou amargurado.— Não foi assim, juro que não foi! Tive meus motivos... — murmurou um bolor dolorido cortando cada palavra.— Quais motivos, Anya? — exigiu exaltado. — Diga-me quais motivos p
Deitado encarando o teto com um olhar vazio e perturbado, Nikolas sentia que a noite seria interminável, a escuridão ao seu redor sufocante. Revirou na cama, tentando encontrar uma posição confortável, mas o problema era interno e não o deixava em paz.Seu tormento atendia pelo nome Anya. Não bastasse abandoná-lo e casar com outro, foi capaz de esconder que tinham tido um filho. Era óbvio que, enquanto ele se encheu de ilusões quando namoraram, ela sempre o viu como um passatempo, nada além de um pobre qualquer com quem passava algumas horas de diversão. Mentiu por puro egoísmo e ambição, para não perder a vida de luxos.E agora, mesmo correndo o risco de perder a guarda de Max, ela não lhe contou a verdade."Deve achar que continuo a ser o rapaz pobre e insignificante que ela abandonou”, imaginou pressionando o dorso da mão na testa. “Mas não sou. Conquistei tudo o que tenho por conta própria”.A imagem de Max, o pequeno garoto que ele supervisionava com tanto carinho, agora tinha um
Quando o canto dos pássaros preencheu o lado de fora da casa de hóspedes, anunciando o novo dia, Anya desistiu de lutar para dormir e se levantou. Arrastou-se até o banheiro e, apoiando as mãos na bancada, encarou o espelho acima da pia, não se surpreendendo com as olheiras e o cansaço presente em seus olhos.Estava em uma situação que não enxergava saída e se sentia mais vulnerável do que nunca. O medo de perder Max era paralisante. Tinha de lutar com mais empenho, determinou-se molhando o rosto.Com esse pensamento, começou a se arrumar para o novo dia. A noite em claro deixou suas marcas, e não tinha todas as respostas para vencer os obstáculos do lado de fora, mas uma coisa era certa: faria qualquer coisa para proteger e ficar do lado de seu filho.Preparando para sair para o trabalho pegou o celular e verificou as mensagens. A de Laura chamou sua atenção. A princípio esperou alguma novidade, uma nova e milagrosa vaga de emprego, mas em instantes deu-se conta que era só mais uma p
Em pé, de costas para Ricardo e de frente para a vista panorâmica da cidade, Nikolas tinha os punhos cerrados enquanto contava o que ocorreu na noite anterior, em sua discussão com Anya. Ricardo, sentado em uma poltrona de couro, encarava as costas tensas do amigo com preocupação.— Ela ainda tentou negar — relembrou Nikolas ao fim do relato. — Mentiu para mim todos esses anos e continuaria a mentir.— Entendo seus motivos para estar magoado. Mas o que exatamente você pretende fazer agora? — Ricardo questionou, soltando com um meio sorriso: — Fora espancar um cliente.— Ex-cliente — Nikolas corrigiu e se virou, a expressão em seu rosto sombria. — Quero que ela saia da mansão assim que o prazo de experiência acabar. Só quero vê-la novamente no tribunal, quando entrar com o processo para conseguir a guarda do Max.Ricardo levantou as sobrancelhas, surpreso.— E sua família? Eles sabem disso? Dos seus planos em relação à Anya e sobre o Max ser seu filho?— Sim. E sabe o que é pior? Meu i
Nikolas dirigia de volta para casa, os faróis do carro iluminando a estrada à frente enquanto sua mente revisava os eventos da tarde. O encontro com Klaus Hoffmann havia sido extenuante, e não conseguia afastar a sensação de que estava sendo pressionado contra um muro. A chuva fina tamborilava no para-brisa, acompanhando o ritmo acelerado de seus pensamentos.Lembrou-se claramente do momento em que entrou no escritório de Klaus, decorado com madeira escura e uma coleção de obras de arte caras, que ostentavam riqueza e poder. O Hoffmann estava sentado atrás de uma imponente escrivaninha de mogno, os olhos verdes fixos em Nikolas como um predador estudando sua presa. Sentado do outro lado da escrivaninha, Liam observava com uma expressão de prazer malicioso no rosto.— Então, realmente pretende abandonar o caso? — Klaus começou, a voz carregada de desprezo. Não recebendo qualquer indicação para se sentar, Nikolas se manteve em pé e de postura firme, mesmo que por dentro sentisse a ten