Quando o canto dos pássaros preencheu o lado de fora da casa de hóspedes, anunciando o novo dia, Anya desistiu de lutar para dormir e se levantou. Arrastou-se até o banheiro e, apoiando as mãos na bancada, encarou o espelho acima da pia, não se surpreendendo com as olheiras e o cansaço presente em seus olhos.Estava em uma situação que não enxergava saída e se sentia mais vulnerável do que nunca. O medo de perder Max era paralisante. Tinha de lutar com mais empenho, determinou-se molhando o rosto.Com esse pensamento, começou a se arrumar para o novo dia. A noite em claro deixou suas marcas, e não tinha todas as respostas para vencer os obstáculos do lado de fora, mas uma coisa era certa: faria qualquer coisa para proteger e ficar do lado de seu filho.Preparando para sair para o trabalho pegou o celular e verificou as mensagens. A de Laura chamou sua atenção. A princípio esperou alguma novidade, uma nova e milagrosa vaga de emprego, mas em instantes deu-se conta que era só mais uma p
Em pé, de costas para Ricardo e de frente para a vista panorâmica da cidade, Nikolas tinha os punhos cerrados enquanto contava o que ocorreu na noite anterior, em sua discussão com Anya. Ricardo, sentado em uma poltrona de couro, encarava as costas tensas do amigo com preocupação.— Ela ainda tentou negar — relembrou Nikolas ao fim do relato. — Mentiu para mim todos esses anos e continuaria a mentir.— Entendo seus motivos para estar magoado. Mas o que exatamente você pretende fazer agora? — Ricardo questionou, soltando com um meio sorriso: — Fora espancar um cliente.— Ex-cliente — Nikolas corrigiu e se virou, a expressão em seu rosto sombria. — Quero que ela saia da mansão assim que o prazo de experiência acabar. Só quero vê-la novamente no tribunal, quando entrar com o processo para conseguir a guarda do Max.Ricardo levantou as sobrancelhas, surpreso.— E sua família? Eles sabem disso? Dos seus planos em relação à Anya e sobre o Max ser seu filho?— Sim. E sabe o que é pior? Meu i
Nikolas dirigia de volta para casa, os faróis do carro iluminando a estrada à frente enquanto sua mente revisava os eventos da tarde. O encontro com Klaus Hoffmann havia sido extenuante, e não conseguia afastar a sensação de que estava sendo pressionado contra um muro. A chuva fina tamborilava no para-brisa, acompanhando o ritmo acelerado de seus pensamentos.Lembrou-se claramente do momento em que entrou no escritório de Klaus, decorado com madeira escura e uma coleção de obras de arte caras, que ostentavam riqueza e poder. O Hoffmann estava sentado atrás de uma imponente escrivaninha de mogno, os olhos verdes fixos em Nikolas como um predador estudando sua presa. Sentado do outro lado da escrivaninha, Liam observava com uma expressão de prazer malicioso no rosto.— Então, realmente pretende abandonar o caso? — Klaus começou, a voz carregada de desprezo. Não recebendo qualquer indicação para se sentar, Nikolas se manteve em pé e de postura firme, mesmo que por dentro sentisse a ten
Alinhando os próximos passos em sua mente, Nikolas se dirigiu à casa de hóspedes, a luz fraca do luar iluminando o caminho. Cada passo pesado, ecoando a tensão da recente discussão na mansão Hoffmann. Tinha a chave reserva, dada por Anya, mas optou por bater na porta. Anya atendeu a porta, seus olhos azuis cheios de insegurança ao encontrar a frieza no olhar dele.— Precisamos conversar — disse Nikolas, a voz carregada de seriedade.Ela assentiu, mordendo o lábio inferior, um gesto nervoso que ele conhecia bem.— Pode entrar... — ela murmurou, dando um passo para o lado para deixá-lo passar.Ele entrou, o ambiente pequeno e acolhedor contrastando com a turbulência que sentia por dentro. Sentaram-se mantendo um espaço entre eles, criando um muro invisível.— Depois de muito pensar, acredito que a única maneira de conseguir a guarda de Max é revelando que eu sou o pai biológico dele — começou Nikolas.Anya arregalou os olhos, surpresa.— Revelar? Por que...?— Porque sou pai dele — resp
Depois do café da manhã, Nikolas chamou sua família e Anya ao escritório, trocando a calma diária pela tensão que os seguia desde a descoberta da verdade sobre Max.No escritório, o ambiente estava carregado de tensão. Nikolas, mantendo uma distância evidente de Anya, estava de pé ao lado da janela, observando o jardim com um olhar distante. Clara, sentada em uma poltrona próxima à escrivaninha, analisava o casal com uma ruga proeminente na testa, enquanto Viktor, encostado na parede com os braços cruzados, mantinha a expressão neutra.— Temos uma notícia para compartilhar — começou Nikolas, sem desviar o olhar da janela. — Anya e eu vamos nos casar.O sorriso de Clara se alargou imediatamente.— Oh, meu filho! Isso é maravilhoso! — exclamou, levantando-se e indo em direção a Anya para abraçá-la.Anya forçou um sorriso e aceitou o abraço, mesmo não tendo motivo para comemorar. De novo entrava em uma união fadada ao fracasso.— Obrigada, Clara — disse baixinho e hesitante.Viktor arque
Anya andava de um lado ao outro da casa de hóspedes, as mãos trabalhando mecanicamente para colocar seus pertences e os de Max em uma caixa. Sua mente permanecia longe dali, imersa na conversa que teve com Clara e nas lembranças dolorosas da noite anterior."Tenha paciência", Clara dissera, mas a paciência parecia uma virtude difícil de alcançar no momento.Parou por um momento de recolher as coisas, segurando um porta-retratos com a foto dela e de Max, o coração apertado ao recordar a conversa com Nikolas, a dor reluzindo nos olhos quando questionou o motivo dela não ter contado que estava grávida quando estavam juntos.“Medo de não aceitar meu filho com você? Pretendia te pedir em casamento quando me formasse, como rejeitaria nosso filho?”.Mordeu o lábio inferior, segurando a dor de reconhecer seu erro. Um erro que lhe custava muito agora. Observou a foto, vendo a inocência no rosto de Max, e a onda de culpa a engolfou. A verdade era que tinha tentado protegê-lo, mas agora parecia
Preparado para a substituição, uma vez que não representava mais Liam e os Hoffmann, Nikolas pegou o documento que o Petrov estendeu em sua direção, anunciando imperioso:— Está tudo aqui, com a devida autorização. Pode dar meia volta.Nikolas leu rapidamente o documento, confirmando a veracidade das palavras de Liam. Respirou fundo, tentando manter a calma antes de encarar o homem a sua frente.— Como avisei por telefone: Estou aqui representando Anya, para levar Max até ela. — Abriu sua pasta e tirou de dentro a procuração que validava sua presença ali. — Onde está o Max?Segurando a raiva por não poder se livrar definitivamente do advogado, Liam fez um gesto para que Nikolas o seguisse. Eles caminharam pelo suntuoso hall de entrada até chegarem à sala de estar, onde Max brincava no chão, sob a supervisão de Carla, a babá. O menino levantou os olhos e sorriu ao ver Nikolas.—Nik! — gritou Max, correndo em sua direção.Nikolas agachou-se para abraçar o filho, sentindo o calor e a ale
Carregando Max, Nikolas seguia Anya e Clara para apresentarem o novo quarto do menino. Clara estava animada, um sorriso caloroso iluminando seu rosto enquanto caminhava à frente do grupo.— Espero que goste, Max. Decorei especialmente para você — disse, sua voz cheia de carinho e expectativa.Agarrado ao pescoço de Nikolas, Max estava visivelmente ansioso, os olhos azuis brilhando de curiosidade e antecipação desde que sua mãe avisou que agira morariam dentro da casa principal.Nikolas mantinha a expressão séria, embora seus olhos frequentemente se suavizassem ao olhar para o filho. Anya, por sua vez, parecia dividida entre a tristeza do que se tornou sua relação com Nikolas e a esperança de que Max se sentisse bem na família a qual de fato pertencia.Empolgada, Clara tomou as honras e abriu a porta do quarto, ficando imediatamente satisfeita com a reação de Max. Colocado no chão, o menino entrou com os olhos se arregalando de fascinação e um enorme sorriso se espalhando em seu rosto.