Os primeiros raios de sol passaram através das cortinas semi-abertas do quarto, trazendo a claridade ao ambiente, mas não foi isso que despertou Anya. Acordou com gritos e pulos eufóricos.Levou um minuto inteiro para perceber que se tratava de seu filho. E outro de puro horror para perceber que não estava sozinha na cama. Nikolas não tinha ido embora antes do amanhecer.— Mamãe! Nik! Acordem! — Max pedia pulando cheio de energia.No susto puxou quase todo lençol para si, parando antes de causar outra catástrofe. Só então percebeu que usava a camiseta de Nikolas. Quando a colocou? Não lembrava e tinha coisas mais urgentes a resolver.— Calma, Max! — Nikolas pediu se sentando, os olhos piscando para se adaptarem a claridade e animação a sua frente. — Vai acabar caindo.— Max, pare de pular — Anya exigiu mais exaltada do que pretendia, ainda com a mente nublada pelo despertar abrupto e se sentindo uma adolescente flagrada pelos pais, com a diferença que estava em um papel invertido.O m
As semanas passavam e para Max tudo era pura alegria. Ele adorava estar com sua mãe e gostava muito de Nikolas, que fazia lanches deliciosos e contava histórias engraçadas. Desejava poder chamá-lo de papai, mas sabia que deveria guardar segredo, como sua mamãe e Nikolas haviam pedido.Estava ansioso pelo dia em que poderia contar a todos que tinha outro papai, um que era mais divertido que o papai Liam. Cada vez que Max comparava seu novo papai com seu pai, Liam, um sentimento confuso surgia dentro dele. Ele amava seu pai Liam, mas sentia-se mais feliz e tranquilo quando estava com Nikolas.Observando sua mãe, percebia que ela também parecia mais feliz quando estava com Nikolas. Isso fazia Max sentir-se mais contente e seguro, porque significava que sua mãe não ficaria triste e chorando como antes.Ter um novo papai também despertou outros anseios em Max, um deles girava em torno de Clara Oliveira, mãe de Nikolas. Durante as visitas à sua mãe, Max se encantava cada vez mais com Clara.
As semanas passaram lentamente para os Hoffmann, a tensão da família crescendo com a demora do processo de guarda e a cada nova saída de Maximilian para encontrar Anya. Não foi diferente no jantar de quinta à noite, véspera do dia em que Max ficaria com a mãe.O ambiente ricamente decorado sempre presenciava refeições formais, onde o silêncio só era cortado pelo som dos talheres e dos passos leves dos empregados servindo a longa mesa. Porém, naquele dia, Klaus Hoffmann estava especialmente impaciente e irritado, o descontentamento transbordante, e não fazia questão de esconder.— Faz mais de um mês e nada dessa maldita guarda ser resolvida. Isso é um absurdo! — Klaus bradou.— Concordo, é inaceitável essa demora — Liam contribuiu, atiçando a impaciência do patriarca Hoffmann. — Mandarei mensagem hoje mesmo para cobrar o advogado.— E o mande reavaliar as visitas. Cansei dessa patifaria.Em suas roupas engomadas e com o cabelo todo penteado para trás, sentado ao lado de Klaus à direita
Pronto para acompanhar Anya e Max à festa de aniversário da família que conheceram no museu da imaginação, Nikolas digeria a conversa com o ex-marido dela. Ajeitando a gravata diante do espelho, decidiu que não estragaria o fim de semana com assuntos que acabaria com qualquer chance de alegria de uma mãe, e em consequência do filho.Tentaria mudar a decisão dos Hoffmann e do Petrov antes de sobrecarregar e preocupar Anya. Liam parecia irredutível, no entanto, esperava conseguir alguma abertura com os pais dela. Na segunda solicitaria uma reunião e apresentaria o melhor caminho a seguir, frisando o quanto beneficiaria Max não ser afastado da mãe.Entrou na casa de hóspedes e seguiu para o quarto principal, conduzido pelo som de vozes. Parou a poucos passos da porta, sem querer interromper mãe e filho. Em parte para deixar que tivessem esses momentos a sós. Se Klaus e Liam conseguissem o que queriam, seriam momentos raros.— Max, deixe a mamãe colocar seu tênis. Não queremos chegar atra
A festa de aniversário dos oitos anos de Samuel ocorria na elegante e espaçosa propriedade de sua família em uma cidade do interior. A decoração temática de super-heróis estava por todo o ambiente, com balões coloridos e mesas decoradas com os personagens favoritos do menino. O som de risadas e brincadeiras preenchia o ar, enquanto os adultos conversam.Depois de um início tímido, seu habitual quando não conhecia as pessoas ao seu redor, logo Max se unia ao aniversariante e as outras crianças em corridas, jogos e várias brincadeiras diversas com entusiasmo.Em certa altura da festa, após cantarem os parabéns, cansados e de barriga estourando de doces, por algum motivo alheio a entendimento de Max, iniciou-se uma comparação dos feitos dos pais. O assunto o encheu de insegurança à medida que cada criança narrava os momentos especiais com seus pais.— Meu pai me levou para ver um jogo de futebol no estádio! Foi demais! — disse Samuel, animado.— Meu pai tem um carro super rápido! Ele me
Circulando pela festa, Nikolas perdeu Anya e Max de vista por alguns minutos, logo reencontrando a Hoffmann conversando com outras mulheres, mas nada do menino por perto. Não querendo preocupa-la o procurou discretamente.Acabou o encontrando atrás de uma árvore, sentado na grama, chorando. Aproximou-se lentamente, agachou-se ao lado do garoto e pousou sua mão sobre a cabeça do menino, que ergueu o rosto assustado.— Ei, o que aconteceu? — quis saber acariciando os fios cacheados suavemente para tranquilizá-lo. — Por que essa carinha triste?Sem segurar as lágrimas, ele se jogou nos braços de Nikolas, que, pego de surpresa, o abraçou com carinho.— Mamãe disse pra eu não chamar você de papai, Nik... — ele respondeu soluçando. — Eu queria tanto que você fosse meu papai, Nik...Nikolas sentiu um nó na garganta. Ele sabia que Max estava passando por momentos difíceis e, desde que o viu no quarto de Anya, se encheu de expectativas. Desconcertado, apertou o pequeno em um abraço mais forte.
Logo após deixar Max na mansão dos Hoffmann, Nikolas seguiu por algumas quadras ao sair do condomínio de luxo e estacionou em uma rua tranquila. Respirou fundo, fechou os olhos e jogou a cabeça para trás. O silêncio pesado dentro do veículo amplificava os pensamentos turbulentos assombrando-o, nublando a mente sempre analítica e centrada.Precisava de um olhar de fora, ouvidos para desabafar, mesmo que a boca o criticasse, decidiu buscando no bolso da calça o celular. — Boa noite, Ricardo — saudou após o amigo e sócio atender no segundo toque. — Está ocupado?— Nikolas? — Era perceptível sua confusão. Rever uma ligação em um domingo à noite não era comum, ainda mais se a pessoa do outro lado da linha era seu sócio. — Tô aguardando o jantar. O que houve? — Só preciso falar com um amigo. Desanuviar a mente de algumas coisas, sabe? — respondeu com a voz cansada, esfregando os olhos.— Pode vir aqui em casa. Laura e Benji vão adorar sua visita.Nikolas hesitou diante do convide, porém,
Ao chegar ao bar, Nikolas estacionou e ficou um momento sentado, respirando fundo antes de sair do carro. Precisava desabafar, porém, sabia que Ricardo o criticaria em vários pontos, o principal sendo seu relacionamento atual com Anya.Sentaram em um canto discreto do bar Blank e pediram as bebidas de costume. O ambiente estava tranquilo, com poucas pessoas presentes, criando uma atmosfera perfeita para conversas confidenciais, caso da que Nikolas pretendia ter com o amigo e sócio.Nikolas mexia distraidamente no copo de cerveja, o olhar perdido nas sombras do bar. Precisava desabafar e se aconselhar, mas as palavras pareciam difíceis de encontrar e não sabia exatamente de que ponto iniciar o relato. Ricardo, seu melhor amigo e sócio, observava-o com preocupação, esperando pacientemente que começasse, porém, inquieto com a demora.— Então, o que está acontecendo? — Ricardo perguntou quebrando o silêncio, ansioso para saber o motivo de o amigo chamá-lo em pleno domingo a noite. — Nunca