As semanas passaram lentamente para os Hoffmann, a tensão da família crescendo com a demora do processo de guarda e a cada nova saída de Maximilian para encontrar Anya. Não foi diferente no jantar de quinta à noite, véspera do dia em que Max ficaria com a mãe.O ambiente ricamente decorado sempre presenciava refeições formais, onde o silêncio só era cortado pelo som dos talheres e dos passos leves dos empregados servindo a longa mesa. Porém, naquele dia, Klaus Hoffmann estava especialmente impaciente e irritado, o descontentamento transbordante, e não fazia questão de esconder.— Faz mais de um mês e nada dessa maldita guarda ser resolvida. Isso é um absurdo! — Klaus bradou.— Concordo, é inaceitável essa demora — Liam contribuiu, atiçando a impaciência do patriarca Hoffmann. — Mandarei mensagem hoje mesmo para cobrar o advogado.— E o mande reavaliar as visitas. Cansei dessa patifaria.Em suas roupas engomadas e com o cabelo todo penteado para trás, sentado ao lado de Klaus à direita
Pronto para acompanhar Anya e Max à festa de aniversário da família que conheceram no museu da imaginação, Nikolas digeria a conversa com o ex-marido dela. Ajeitando a gravata diante do espelho, decidiu que não estragaria o fim de semana com assuntos que acabaria com qualquer chance de alegria de uma mãe, e em consequência do filho.Tentaria mudar a decisão dos Hoffmann e do Petrov antes de sobrecarregar e preocupar Anya. Liam parecia irredutível, no entanto, esperava conseguir alguma abertura com os pais dela. Na segunda solicitaria uma reunião e apresentaria o melhor caminho a seguir, frisando o quanto beneficiaria Max não ser afastado da mãe.Entrou na casa de hóspedes e seguiu para o quarto principal, conduzido pelo som de vozes. Parou a poucos passos da porta, sem querer interromper mãe e filho. Em parte para deixar que tivessem esses momentos a sós. Se Klaus e Liam conseguissem o que queriam, seriam momentos raros.— Max, deixe a mamãe colocar seu tênis. Não queremos chegar atra
A festa de aniversário dos oitos anos de Samuel ocorria na elegante e espaçosa propriedade de sua família em uma cidade do interior. A decoração temática de super-heróis estava por todo o ambiente, com balões coloridos e mesas decoradas com os personagens favoritos do menino. O som de risadas e brincadeiras preenchia o ar, enquanto os adultos conversam.Depois de um início tímido, seu habitual quando não conhecia as pessoas ao seu redor, logo Max se unia ao aniversariante e as outras crianças em corridas, jogos e várias brincadeiras diversas com entusiasmo.Em certa altura da festa, após cantarem os parabéns, cansados e de barriga estourando de doces, por algum motivo alheio a entendimento de Max, iniciou-se uma comparação dos feitos dos pais. O assunto o encheu de insegurança à medida que cada criança narrava os momentos especiais com seus pais.— Meu pai me levou para ver um jogo de futebol no estádio! Foi demais! — disse Samuel, animado.— Meu pai tem um carro super rápido! Ele me
Circulando pela festa, Nikolas perdeu Anya e Max de vista por alguns minutos, logo reencontrando a Hoffmann conversando com outras mulheres, mas nada do menino por perto. Não querendo preocupa-la o procurou discretamente.Acabou o encontrando atrás de uma árvore, sentado na grama, chorando. Aproximou-se lentamente, agachou-se ao lado do garoto e pousou sua mão sobre a cabeça do menino, que ergueu o rosto assustado.— Ei, o que aconteceu? — quis saber acariciando os fios cacheados suavemente para tranquilizá-lo. — Por que essa carinha triste?Sem segurar as lágrimas, ele se jogou nos braços de Nikolas, que, pego de surpresa, o abraçou com carinho.— Mamãe disse pra eu não chamar você de papai, Nik... — ele respondeu soluçando. — Eu queria tanto que você fosse meu papai, Nik...Nikolas sentiu um nó na garganta. Ele sabia que Max estava passando por momentos difíceis e, desde que o viu no quarto de Anya, se encheu de expectativas. Desconcertado, apertou o pequeno em um abraço mais forte.
Logo após deixar Max na mansão dos Hoffmann, Nikolas seguiu por algumas quadras ao sair do condomínio de luxo e estacionou em uma rua tranquila. Respirou fundo, fechou os olhos e jogou a cabeça para trás. O silêncio pesado dentro do veículo amplificava os pensamentos turbulentos assombrando-o, nublando a mente sempre analítica e centrada.Precisava de um olhar de fora, ouvidos para desabafar, mesmo que a boca o criticasse, decidiu buscando no bolso da calça o celular. — Boa noite, Ricardo — saudou após o amigo e sócio atender no segundo toque. — Está ocupado?— Nikolas? — Era perceptível sua confusão. Rever uma ligação em um domingo à noite não era comum, ainda mais se a pessoa do outro lado da linha era seu sócio. — Tô aguardando o jantar. O que houve? — Só preciso falar com um amigo. Desanuviar a mente de algumas coisas, sabe? — respondeu com a voz cansada, esfregando os olhos.— Pode vir aqui em casa. Laura e Benji vão adorar sua visita.Nikolas hesitou diante do convide, porém,
Ao chegar ao bar, Nikolas estacionou e ficou um momento sentado, respirando fundo antes de sair do carro. Precisava desabafar, porém, sabia que Ricardo o criticaria em vários pontos, o principal sendo seu relacionamento atual com Anya.Sentaram em um canto discreto do bar Blank e pediram as bebidas de costume. O ambiente estava tranquilo, com poucas pessoas presentes, criando uma atmosfera perfeita para conversas confidenciais, caso da que Nikolas pretendia ter com o amigo e sócio.Nikolas mexia distraidamente no copo de cerveja, o olhar perdido nas sombras do bar. Precisava desabafar e se aconselhar, mas as palavras pareciam difíceis de encontrar e não sabia exatamente de que ponto iniciar o relato. Ricardo, seu melhor amigo e sócio, observava-o com preocupação, esperando pacientemente que começasse, porém, inquieto com a demora.— Então, o que está acontecendo? — Ricardo perguntou quebrando o silêncio, ansioso para saber o motivo de o amigo chamá-lo em pleno domingo a noite. — Nunca
— O quê?! — Ricardo grasnou, o susto fazendo a batata entalar em sua garganta.Começou a tossir violentamente, pegando o copo de cerveja na esperança que o líquido ajudasse a desobstruir a garganta. Nikolas se levantou rapidamente e deu tapas nas costas do amigo, atraindo olhares curiosos dos poucos ocupantes do bar. Finalmente, com a face vermelha, Ricardo conseguiu limpar a garganta e, arfante, encarou o sócio.— Cara, não pode falar esses absurdos quando eu estou comendo! — queixou-se limpando os cantos dos olhos úmidos.— É sério, Ricardo. Pensei muito sobre isso. — Nikolas se sentou novamente, explicando seus motivos: — Anya disse que Max nasceu em julho, ela terminou comigo em fevereiro, o que leva a duas opções: Max nasceu prematuro ou é meu filho.Ricardo balançou a cabeça e encarou o amigo com incredulidade.— Assuma que está procurando motivos para se apegar ainda mais à Anya e ao filho dela — repreendeu.— Minha mãe sempre comenta como ele se parece comigo.Vendo que não ve
A luz suave das luminárias da sala, Anya se esticava no sofá, verificando documentos do processo de guarda que Ricardo lhe deixou dias antes. Queria saber cada detalhe que lhe fosse permitido, estar preparada para as acusações que viriam e pensar formas de revertê-las.Também usava a leitura para afastar os pensamentos de Nikolas, da conversa que sabia que teriam. A princípio esperava para ouvir o motivo do silêncio e distanciamento que perdurava desde sábado à noite. Mas a futura conversa tinha recebido uma dimensão maior nas últimas horas. Temia esse momento, e ocupava a mente para não se afogar em cenários hipotéticos.Sua concentração se desfez pelo som da porta se abrindo abruptamente. Ergueu o olhar esperando encontrar Nikolas, o que de fato ocorreu, mas o estado dele a fez abandonar os documentos na mesinha e se aproximar dele preocupada.Deixando a porta escancarada, ele entrou cambaleando, os cabelos desarrumados e a camisa meio aberta. Nunca o tinha visto naquele estado, tão