A festa de aniversário dos oitos anos de Samuel ocorria na elegante e espaçosa propriedade de sua família em uma cidade do interior. A decoração temática de super-heróis estava por todo o ambiente, com balões coloridos e mesas decoradas com os personagens favoritos do menino. O som de risadas e brincadeiras preenchia o ar, enquanto os adultos conversam.Depois de um início tímido, seu habitual quando não conhecia as pessoas ao seu redor, logo Max se unia ao aniversariante e as outras crianças em corridas, jogos e várias brincadeiras diversas com entusiasmo.Em certa altura da festa, após cantarem os parabéns, cansados e de barriga estourando de doces, por algum motivo alheio a entendimento de Max, iniciou-se uma comparação dos feitos dos pais. O assunto o encheu de insegurança à medida que cada criança narrava os momentos especiais com seus pais.— Meu pai me levou para ver um jogo de futebol no estádio! Foi demais! — disse Samuel, animado.— Meu pai tem um carro super rápido! Ele me
Circulando pela festa, Nikolas perdeu Anya e Max de vista por alguns minutos, logo reencontrando a Hoffmann conversando com outras mulheres, mas nada do menino por perto. Não querendo preocupa-la o procurou discretamente.Acabou o encontrando atrás de uma árvore, sentado na grama, chorando. Aproximou-se lentamente, agachou-se ao lado do garoto e pousou sua mão sobre a cabeça do menino, que ergueu o rosto assustado.— Ei, o que aconteceu? — quis saber acariciando os fios cacheados suavemente para tranquilizá-lo. — Por que essa carinha triste?Sem segurar as lágrimas, ele se jogou nos braços de Nikolas, que, pego de surpresa, o abraçou com carinho.— Mamãe disse pra eu não chamar você de papai, Nik... — ele respondeu soluçando. — Eu queria tanto que você fosse meu papai, Nik...Nikolas sentiu um nó na garganta. Ele sabia que Max estava passando por momentos difíceis e, desde que o viu no quarto de Anya, se encheu de expectativas. Desconcertado, apertou o pequeno em um abraço mais forte.
Logo após deixar Max na mansão dos Hoffmann, Nikolas seguiu por algumas quadras ao sair do condomínio de luxo e estacionou em uma rua tranquila. Respirou fundo, fechou os olhos e jogou a cabeça para trás. O silêncio pesado dentro do veículo amplificava os pensamentos turbulentos assombrando-o, nublando a mente sempre analítica e centrada.Precisava de um olhar de fora, ouvidos para desabafar, mesmo que a boca o criticasse, decidiu buscando no bolso da calça o celular. — Boa noite, Ricardo — saudou após o amigo e sócio atender no segundo toque. — Está ocupado?— Nikolas? — Era perceptível sua confusão. Rever uma ligação em um domingo à noite não era comum, ainda mais se a pessoa do outro lado da linha era seu sócio. — Tô aguardando o jantar. O que houve? — Só preciso falar com um amigo. Desanuviar a mente de algumas coisas, sabe? — respondeu com a voz cansada, esfregando os olhos.— Pode vir aqui em casa. Laura e Benji vão adorar sua visita.Nikolas hesitou diante do convide, porém,
Ao chegar ao bar, Nikolas estacionou e ficou um momento sentado, respirando fundo antes de sair do carro. Precisava desabafar, porém, sabia que Ricardo o criticaria em vários pontos, o principal sendo seu relacionamento atual com Anya.Sentaram em um canto discreto do bar Blank e pediram as bebidas de costume. O ambiente estava tranquilo, com poucas pessoas presentes, criando uma atmosfera perfeita para conversas confidenciais, caso da que Nikolas pretendia ter com o amigo e sócio.Nikolas mexia distraidamente no copo de cerveja, o olhar perdido nas sombras do bar. Precisava desabafar e se aconselhar, mas as palavras pareciam difíceis de encontrar e não sabia exatamente de que ponto iniciar o relato. Ricardo, seu melhor amigo e sócio, observava-o com preocupação, esperando pacientemente que começasse, porém, inquieto com a demora.— Então, o que está acontecendo? — Ricardo perguntou quebrando o silêncio, ansioso para saber o motivo de o amigo chamá-lo em pleno domingo a noite. — Nunca
— O quê?! — Ricardo grasnou, o susto fazendo a batata entalar em sua garganta.Começou a tossir violentamente, pegando o copo de cerveja na esperança que o líquido ajudasse a desobstruir a garganta. Nikolas se levantou rapidamente e deu tapas nas costas do amigo, atraindo olhares curiosos dos poucos ocupantes do bar. Finalmente, com a face vermelha, Ricardo conseguiu limpar a garganta e, arfante, encarou o sócio.— Cara, não pode falar esses absurdos quando eu estou comendo! — queixou-se limpando os cantos dos olhos úmidos.— É sério, Ricardo. Pensei muito sobre isso. — Nikolas se sentou novamente, explicando seus motivos: — Anya disse que Max nasceu em julho, ela terminou comigo em fevereiro, o que leva a duas opções: Max nasceu prematuro ou é meu filho.Ricardo balançou a cabeça e encarou o amigo com incredulidade.— Assuma que está procurando motivos para se apegar ainda mais à Anya e ao filho dela — repreendeu.— Minha mãe sempre comenta como ele se parece comigo.Vendo que não ve
A luz suave das luminárias da sala, Anya se esticava no sofá, verificando documentos do processo de guarda que Ricardo lhe deixou dias antes. Queria saber cada detalhe que lhe fosse permitido, estar preparada para as acusações que viriam e pensar formas de revertê-las.Também usava a leitura para afastar os pensamentos de Nikolas, da conversa que sabia que teriam. A princípio esperava para ouvir o motivo do silêncio e distanciamento que perdurava desde sábado à noite. Mas a futura conversa tinha recebido uma dimensão maior nas últimas horas. Temia esse momento, e ocupava a mente para não se afogar em cenários hipotéticos.Sua concentração se desfez pelo som da porta se abrindo abruptamente. Ergueu o olhar esperando encontrar Nikolas, o que de fato ocorreu, mas o estado dele a fez abandonar os documentos na mesinha e se aproximar dele preocupada.Deixando a porta escancarada, ele entrou cambaleando, os cabelos desarrumados e a camisa meio aberta. Nunca o tinha visto naquele estado, tão
Virando-se lentamente a cabeça latejante para sua direita, Nikolas viu seu irmão mais velho, Viktor, parado a poucos passos, casualmente de braços cruzados e um sorriso malicioso no rosto. Claramente satisfeito em pegar o irmão caçula no flagra.— Viktor... O que está fazendo aqui tão cedo? — perguntou tentando parecer calmo, mas visivelmente desconfortável. O momento, seu estado lastimável e a dor de cabeça cortavam qualquer linha racional que pudesse usar.— Eu que te pergunto. Parece que a casa de hóspedes tem novos atrativos? — o mais velho provocou se aproximando.— Vim... resolver algumas coisas...— Resolver algumas coisas? — Viktor analisou de cima a baixo seu estado deplorável, o riso na voz ao comentar: — Imagino que teve muitas... Resoluções.— Estive discutindo... Sobre o processo de gua
Em pé atrás de sua escrivaninha, Nikolas aguardou paciente a porta do seu escritório abrir e sua secretária dar passagem a Klaus Hoffmann e Liam Petrov. Klaus entrou com passos firmes, a presença imponente inconfundível, os olhos verdes irradiando autoridade e uma severidade que poderia fazer qualquer um recuar. Liam seguia logo atrás, um largo sorriso no rosto.— Advogado, temos pendências a respeito da guarda do meu neto — Klaus anunciou imperioso, sem preâmbulos. — Esse processo precisa ser acelerado. Tenho planos de mandar Maximilian para estudar no exterior, longe da influência da Anya.— Senhor Hoffmann, compreendo suas preocupações, mas precisamos seguir os procedimentos legais, que demoram — retrucou calmo e firme. — Estamos lidando com a vida de uma criança de quatro anos, e todos desejamos o melhor para ele. — destacou. — E penso que mandar uma criança pequena ao exterior, longe da mãe, é uma péssima ideia.Klaus estreitou os olhos, seu olhar fixo em Nikolas, que não demonst