Uma semana havia se passado... Kika havia ido dormir em minha casa, e tanto ela quanto Vincenzo, achavam meu pai o máximo, adoravam ele, pois sempre viam meu pai brincalhão, e de bem com a vida, ah, se eles soubessem de toda a verdade... Não aguentava mais o meu pai, as vezes até pensava que seria melhor se eu não o tivesse, se fosse só minha mãe e meus irmãos, seria tudo diferente, tudo melhor.
Estávamos todos jantando, quando meu pai começou a contar histórias engraçados de seu falso trabalho, pois ele dizia para todo mundo que era professor. Papai conseguiu arrancar risada de todo mundo com suas hilariantes histórias, até de mim, mas olhava para ele, todo risonho, e pensava ''por que ele não pode ser assim mesmo? Por que meu pai não pode ser esse homem que está sentado à mesa conosco? Por que eu tenho o pai que eu tenho? E por que ele não poder ser igual aos outros pais? Trocaria tudo para ter um pai bom, que não fosse esse monstro, e que em vez de abusar de mim, me cuidasse e me protegesse.''
- Noah, quer fazer algo com a gente? – Perguntou Kiara para Noah, assim que acabamos de jantar. - Podíamos ver filme, jogar algum jogo... Que tal?
Kiara e Noah quando mais novos eram muito amigos (antes de Noah ficar chato), e eu achava legal quando brincávamos Kika, Noah, Vincenzo e eu, pena que depois Noah passou a não querer mais brincar com a gente.
- Obrigado pelo convite, mas eu dispenso. – Falou meu irmão indo para seu quarto.
Ele nunca gostou muito de brincar comigo e com meus amigos, dizia que éramos muito crianças, mesmo que fôssemos poucos anos mais novos que ele. Mas aos 14 anos, foi quando Noah passou a ficar muito chato, só queria saber de sair com os amigos, de garotas e festas, ele ainda não podia entrar em festas, mas sempre rolava festinha na casa de algum amigo dele, no fundo, achava que Noah só ia nessas festas, e quase não parava em casa, pelo mesmo motivo que eu, para não ter que ver as merdas que o meu pai fazia.
Kika e eu estávamos em meu quarto, eu deitado em minha cama, e Kiara em um colchão, ao meu lado, pois não tinha cama extra em meu quarto. E de repente, para minha surpresa, Kiara me perguntou:
- Mike, você já beijou uma garota?
Confesso que aquela pergunta me deixou meio sem graça, bom, eu nunca tinha beijado menina, já menino...
- Hã... Não. – Respondi. – Por quê?
Nisso, Kiara, sentou – se em minha cama de frente para mim, e fechou os olhos, acho que ela estava esperando que eu a beijasse, mas eu não podia, eu não queria. Fiquei ali, sem saber o que fazer, sem reação, então, acabei dando um beijo em seu rosto. Ela abriu os olhos, parecia meio decepcionada, e foi novamente para seu colchão.
- Que foi? – Perguntei.
- Nada não.
Naquele momento, me passou pela cabeça que talvez Kika tivesse uma quedinha por mim, mas eu nunca tinha pensado nessa hipótese antes, até por ela ser um ano mais nova que eu, sinceramente não tinha entendido nada, só esperava que ela não ficasse chateada comigo, pois Kika era minha melhor amiga.
Mas com o passar do tempo, Kiara nunca mais teve essas atitudes, nem disse nada sobre sentir alguma coisa por mim, acho que era mais coisa de criança mesmo.
Semanas haviam se passado. Tudo igual. Papai do mesmo jeito, seguia no '' trabalho '' dele, continuava batendo em mim e na minha mãe, e os abusos haviam se tornado mais frequentes, era quase toda noite, muitas vezes fazia eu assistir à filmes adultos com ele, e depois falava pra gente fazer as mesmas posições do filme, óbvio que eu não queria, e que eu não gostava, mas eu não tinha escolha. Acho que ele só não me violentava quando ia alguém dormir lá em casa, ou quando eu dormia na casa de alguém, tentava fazer isso sempre que dava.
Muitas vezes ia dormir de tanto chorar, isso quando eu dormia, pois, tinha noites que eu nem pregava os olhos com medo dele ir em meu quarto, se eu não me engano, foi aí que eu comecei a odiá-lo. Mas sabem, preferia que ele me batesse, quase me matasse do que me violentasse, pois os abusos doíam bem mais do que a agressão física, pois cada vez que ele me abusava era como se ele me batesse por dentro, pois sempre ficava uma enorme cicatriz, e isso não teria tempo que poderia curar.
Ainda bem que papai tinha loucura por Kim, era o xodó dele, e ele nunca tentou bater nela, ainda bem, pois eu não sei o que faria se ele tentasse encostar um dedo em minha irmãzinha. Eu tinha uma enorme paixão por ela, desde que Kim nasceu, eu ajudava mamãe a cuidar dela, dava banho em minha irmã, ajudava a trocar a fralda dela, menos quando era o número dois. Kim também tinha loucura por mim, éramos muito grudados.
As vezes papai batia em mim ou na minha mãe na frente dela, e Kim começava a chorar desesperadamente, e gritava '' papai mal, papai feio '', teve até uma vez que ela pegou um chinelo pra bater nele. Mas quando Noah estava em casa, ele a levava para seu quarto e ficava com ela até acabar a tortura.
Era um sábado, quando Vi foi dormir em minha casa. E pouco antes dele chegar, meu pai tinha me batido, pois pela primeira vez eu havia me negado a ter relações com ele, se eu estava com medo? Não. Eu estava era apavorado, não parava de pensar que ele poderia fazer algo para mamãe, ou até mesmo para Kim, ele demonstrava gostar muito dela, mas de um louco daqueles eu não duvidava de nada.
Estava muito mal com aquilo tudo, tinha vários machucados por todo meu corpo, machucados esses que eu tentava cobrir com calça e camisa de manga longa.
- O que houve? - Me questionou Vi. - Você está muito quieto.
- Hã... Nada. - Falei cabisbaixo.
- Hey, achei que fossemos melhores amigos, e amigos de verdade não têm segredo um com o outro. - Falou Vincenzo.
- Se eu te contar um segredo, você promete que não conta pra ninguém? - Perguntei. - É algo que eu nunca falei pra outra pessoa antes, por... Por... Por medo.
- Medo de quê? Você está me assustando.
- Promete que não conta pra ninguém? Sério Vi, ninguém pode saber disso.
- Tá bom, prometo. O que foi?
Tentei conter uma lágrima que queria cair, engoli a seco, respirei fundo, e então, sem pensar muito, tirei minha camisa, e baixei a cabeça meio envergonhado.
- Meu Deus! - Falou Vi apavorado. - Mike, o que é isso? Quem te bateu?
- Você não vai contar pra ninguém mesmo? Nem pros seus pais, né? - O questionei receoso.
- Já disse que não, sei guardar segredo. Prometo.
- Foi... Foi o meu pai. - Falei por fim.
- Não Mike, não pode ser, eu sempre admirei o tio Henrique, sempre pensei que ele fosse uma pessoa boa, como ele pôde?
- E isso não é o pior. - Falei ao por minha camisa novamente.
- Ainda tem mais?
- Sim. Bom, desde o meu aniversário de dez anos que ele... Que ele abusa de mim. É horrível Vi, eu me sinto tão sujo, tão mal...
- Não pode ser. Juro que se você não me contasse eu não acreditaria. Que filho da puta, como ele pôde fazer isso com uma criança? E ainda com o próprio filho... É muita maldade, ah, se eu pudesse pegar ele... Juro que não sobraria um ossinho sequer pra contar história. Que miserável!
Contei também a ele sobre o trabalho sujo de meu pai, e cada coisa que eu falava sobre aquele animal vestido de gente, Vi ficava mais apavorado. Não acreditava que pudesse existir uma pessoa tão perversa assim no mundo.
- Vi, por favor, me prometa que você não vai dizer nenhuma palavra sobre isso pra ninguém.
- Mas Mike, isso é muito grave, se eu não contar, seu pai vai seguir fazendo isso contigo. Eu não posso saber disso e continuar calado, seria como se eu fosse cúmplice dele.
- Vincenzo, você não está entendendo. - Falei sem conter as lágrimas. - Ele me ameaçou, ele disse que se eu contasse pra alguém, ele mataria minha mãe e a mim, e ele vive me fazendo ameaças, e sei que ele teria coragem.
- Calma. Michael, escute, se você contar pra alguém isso vai acabar. Seu pai será preso e o pesadelo terá fim. Confie em mim.
- Não Vincenzo, você não entende. Ah, eu não devia ter te contado nada. Como fui idiota, pensei que podia contar com você. Se eu soubesse não tinha te dito nada.
Ah, meu Deus! Se Vincenzo contar, já era, meu pai vai matar minha mãe, e sei que ele teria coragem para isso. E eu não quero isso, eu amo minha mãe, a amo demais. Ah, o que fazer agora?
- Mike, eu gosto muito de você, muito mesmo, você nem faz ideia do quanto, mas consentir com isso seria loucura. Eu não posso ser cúmplice de um agressor e pedófilo, eu estaria me igualando a ele. - Falou Vincenzo.- Não, você não é igual a ele. - Falei aos prantos. - Vi, por favor, não fala nada, ele vai matar minha mãe, e provavelmente eu também, é isso que você quer?- Não, claro que não, mas acho que ele não teria coragem.- Claro que teria, você não tem ideia do que ele é capaz de fazer, um homem que é capaz de abusar sexualmente do próprio filho, também é capaz de matar. - Faleisoluçando de tanto chorar.- Tá bem Mike, eu não falo nada, mas não chora mais. - Disse Vincenzo, se pondo a me abraçar.- Promete que não vai contar pra ningu&
Por um momento, achei que Kiara estava louca em querer desafiar aqueles brutamontes, mas adorava quando ela me defendia e ficava ao meu lado até o fim.- Como é, magricela? - Questiona Dylanse aproximandoagressivamente de Kika.- Deixa ela, babaca. - Digoafastando – o.- Ah, seu infeliz. - Diz Dylanao me empurrar.Demos início a uma briga física, socos; tapas; empurrões, etc. Escuto Kiara pedindo pra gente parar, e um povo gritando ''briga, briga''.Nunca havia brigado antes, não desse jeito, mas já não aguentava mais eles implicando com a gente, dia após dia, mês após mês e ano após ano, estava de saco cheio disso.A diretora Suzana, aparece e nos separa, nos levando para sua sala, em seguida.- Mas começaram o ano bem, hein. - Ironiza a diretora.- Obrigado dire. - Diz Dylan.- Isso não f
Ah, como eu gostaria de poder contar toda a verdade a alguém, mas não queria que minha mãe sofresse com isso, pois ela já sofria bastante, sendo agredida por esse miserável.Mamãe já quis por diversas vezes se separar dele, mas meu pai não deixava, ele dizia que não sabia viver sem a gente, pois nos amava muito, que bela maneira dele demonstrar isso. Teve uma vez que mamãe pegou a gente, e fugimos para outra casa, bem longe, ficamos três meses livres dele, mas depois ele nos encontrou, e fez a gente voltar a morar com ele, e assim que voltamos, ele passou a nos tratar muito bem, como um pai e um marido de verdade deve tratar os filhos e a esposa, disse que estava arrependido, e que mudaria por amor a gente, até chegou a entrar numa clínica de reabilitação, e eu, idiota, acreditei naquela farsa, que não durou nem seis meses. Ah, como eu gostaria que ele realmente muda
Vi e eu tínhamos ficado muito sem graça, mas logo depois fomos jogar vídeo game e não tocamos mais no assunto. Ele não dormiu na minha casa naquele dia como eu gostaria.- Posso entrar? - Me questiona Kim no dia seguinte.- Claro. - Respondoao desligar a televisão.Ela deita em minha cama, ao meu lado, e sem dizer nada, apenas me abraça, um abraço forte, acho que fazia tempo que Kim não me abraçava daquele jeito.- Porque o papai nos odeia?- Hey, ele não nos odeia. - Minto.Que legal, olha eu aí mentindo de novo, e dessa vez pra minha irmãzinha, isso já estava ficando fora do controle. Mas como dizer pra uma garotinha de 6 anos que nosso pai nos odeia mesmo?- Como não? Ele bate na mamãe e só briga com a gente. E ainda vive fedendo.É, pela primeira vez, minha irmãzinha havia me deixa
- Vi, a gente não deve, é muito arriscado. - Falei. - E se alguém descobrir?- Você vai contar pra alguém? - Ele me questiona.- Óbvio que não. - Respondo.- Ótimo, por que eu também não vou.Ele se põe a me beijar novamente, com a mesma intensidade do beijo anterior. Confesso que estava adorando aquilo. Ficamos nos beijando e nos acariciando por volta de uma meia hora, em seguida, Vincenzo destrancou a porta e se deitou no colchão, ao lado de minha cama. Não fizemos nada naquela noite, a não ser nos beijar, mas acabamos dormindo de mãos dadas, com um cobertor cobrindo nossas mãos para caso alguém entrasse em meu quarto não visse.No dia seguinte, me acordo com Vi me olhando.- Bom dia. - Falosem conter o sorriso.- Bom dia. - Ele diz se pondo a me dar um selinho.Era um sábado, melhor dia da
É, acho que não tínhamos muito o que fazer, a não ser aguentar Kika barrando a gente de poder ficar juntos, mas mesmo assim, ainda a amo.Ao chego em casa do colégio, eu me deparo com Henrique agredindo minha mãe.- Para, para! - Grito.Mas ele continua a bater nela com um cinto, noto que minha mãe está toda roxa, parece que está apanhando a muito tempo. Noah estava em seu quarto, escutando música no último volume e Kim estava sentada no sofá vendo toda cena e chorando muito. Me dava uma pena dela quando tinha que presenciar essas coisas, era tão pequena pra passar por tudo isso.- Deixa ela, deixa ela. - Implorojá chorando.- Cala boca, seu viadinho. - Diz Henrique ao me empurrar.Noto o bafo de cachaça quando ele fala, ele estava bêbado, completamente bêbado e descontrolado, bate em minha mãe sem dó nem p
- De onde você tirou isso? - Perguntei à Kika.- Ah, eu me acordei uma hora e vi vocês se beijando, mas eu não entendi porque você não me contou nada.- Por vergonha. - Falei cabisbaixo.- Vergonhadi me? Da sua melhor amiga?- É. Sei lá, a gente não falou pra ninguém.- Isso é tão legal! - Disse Kika empolgada.- Legal a gente não ter contado pra ninguém? - Indaguei sem entender.- Não, o fato de vocês serem gays.- Tá, agora me explica a parte legal nisso, pois eu não acho legal LGBT's morrerem e serem agredidos todos os dias por conta de sua orientação sexual, nem acho legal o fato de não podermos ficar em público por conta de idiotas que olham torto, e nem acho legal sermos vistos como aberrações, e muito menos, o fato de sofrermos preconcei
As duas senhoras ficaram indignadas e foram embora. Muitas pessoas que viram tudo, nos xingaram chamando a gente de boiolas e viados, mas várias outras pessoas nos deram parabéns e falaram que a gente tinha dado um tapa no recalque da sociedade e ficamos muito felizes com os comentários positivos.Alguns dias depois, eu estava em casa, almoçando com meus irmãos e minha mãe, papai tinha ido viajar naquele dia bem cedinho, não sabia quando ele voltaria, mas confesso que estava torcendo pra ele não voltar nunca mais, pois só assim pra gente ter paz.- E o Vincenzo? - Perguntou mamãe.- Ah, está bem. - Falei dando de ombros.- Talvez você devesse convidar ele pra fazer algo, é bom pra você sair um pouco.- É, talvez eu passe na casa dele mais tarde. - Falei.Ah, esqueci de contar... Por diversas vezes, Kate me ligou e mandou