É, acho que não tínhamos muito o que fazer, a não ser aguentar Kika barrando a gente de poder ficar juntos, mas mesmo assim, ainda a amo.
Ao chego em casa do colégio, eu me deparo com Henrique agredindo minha mãe.
- Para, para! - Grito.
Mas ele continua a bater nela com um cinto, noto que minha mãe está toda roxa, parece que está apanhando a muito tempo. Noah estava em seu quarto, escutando música no último volume e Kim estava sentada no sofá vendo toda cena e chorando muito. Me dava uma pena dela quando tinha que presenciar essas coisas, era tão pequena pra passar por tudo isso.
- Deixa ela, deixa ela. - Imploro já chorando.
- Cala boca, seu viadinho. - Diz Henrique ao me empurrar.
Noto o bafo de cachaça quando ele fala, ele estava bêbado, completamente bêbado e descontrolado, bate em minha mãe sem dó nem piedade. Como pode existir um ser humano tão ruim assim?
- Papai para, você vai matar a mamãe. - Diz Kim.
Henrique olha pra gente e começa a chorar, foram poucas as vezes que eu o vi chorar. Ele sai de casa, o que ele costumava fazer após as agressões, pois Henrique tinha o costume de beber ou usar drogas, depois ele batia na mamãe, e acho que ele ficava com peso na consciência, e pra tentar esquecer ia beber ou se drogar de novo. Kim e eu corremos até a nossa mãe e a abraçamos, ela estava tão machucada, cheia de hematomas. Ah, se mamãe tivesse coragem de denunciar esse monstro, se eu tivesse coragem de denunciar ele... Como queria poder pedir um conselho a alguém, mas eu tinha medo do que podia acontecer, caso isso fosse parar no ouvido de Henrique, sei que ele não deixaria barato e isso me preocupava muito.
Cuido dos machucados de minha mãe, mas bem nesse momento surge lá em casa, a tia Stef, mãe do Vi, pedindo para usar o telefone, pois o seu havia estragado.
- Ju, o que houve com você? - Pergunta tia Stef horrorizada.
- Hã... Eu cai da escada. - Mamãe respondeu.
- Meu Deus! Você precisa ir ao médico...
- Não, está tudo bem. Foi só uma queda, eu vou ficar bem.
- Mas você poder ter quebrado ou machucado algo. - Falou tia Stef para minha mãe.
- Stefany, eu estou bem, se eu ver que dói algo prometo que corro pro médico.
- Tudo bem, minha irmã.
Tia Stef pega o celular de minha mãe e faz sua ligação. Realmente, ela havia ficado muito preocupada com mamãe, ah, se ela soubesse que é seu cunhado que fez aquela obra-prima.
Ao anoitecer vou para casa de Vi. Kika já havia chegado, o que queria dizer que não poderíamos aproveitar nem um minuto juntos.
Tia Stef havia encomendado algumas pizzas, não era em vão que ela era minha tia preferida.
- E onde nós vamos dormir? - Pergunta Kika.
- No quarto do Vi. - Responde tia Stef.
- Noi tre dormiremos no mesmo quarto? - Pergunta Kika espantada.
- Claro, vocês sempre fizeram isso. - Responde minha tia.
Ótimo, que legal, Vi e eu não teríamos um segundo sozinhos, que beleza. Tia Stef era um amor, mas dessa vez ela havia pisado na bola. Vincenzo e eu apenas nos olhamos discretamente para não chamarmos atenção, mas, sabia que ele também não havia gostado disso. Kiara era um doce, coisa mais querida, como uma irmã para mim, mas precisava dormir no mesmo quarto conosco? Isso já era demais.
Após o jantar fomos para o quarto de Vi para vermos filme. Um filme romântico muito chato, com aqueles casaizinhos melosos, que se beijam o filme todo, como pode ter gente que gosta desses filmes? Kika chorou o filme todo, até nos momentos alegres e ainda dizia que não entendia como a gente não se emocionava com aquele filme, mas eu que não entendia como ela podia ficar daquele jeito por conta de uma ficção.
Ao terminar o filme, Kika foi para sua cama e eu para a minha. Vi possuía uma bi cama em seu quarto, tia Stef dizia que a cama de baixo era minha, pois sempre que possível eu dormia lá, e foi até Vi que escolheu ter uma bi cama por minha causa. Fiquei com a cama de baixo, e Kika dormiria em um colchão, ao lado da cama de Vi, do lado contrário da cama de baixo.
- Bem que nós três podíamos fazer isso mais vezes, né? - Nos questiona Kika.
Vi e eu nos olhamos, em silêncio, ultimamente estávamos tendo tipo, os mesmos pensamentos, será que isso era normal? Olhamos para Kika, que aguardava uma resposta nossa e apenas concordamos. Ficamos conversando até de madrugada, quando eu comecei a reclamar de sono. Era umas 4h00 quando fomos dormir, Kika levou uma meia hora para pegar no sono.
- Kika? - A chamo, mas ela não responde.
Me levanto e chamo por Vi, que também já havia dormido.
- O que foi, Mike? - Ele pergunta sonolento.
- A Kika dormiu. - Digo.
Vi me olha com olhar meio malicioso, chama por Kika, que continua dormindo, e então ele se pôs a me beijar. Já estava com saudade do beijo dele.
- Eu adoro ficar assim com você. - Diz Vi ao me abraçar.
- Eu também.
Ficamos um bom tempo nos beijando e abraçados. Podia sentir o coração de Vi acelerado, o que me deu uma boa sensação, pois senti como se ele estivesse realmente gostando de mim. Sei que não devíamos estar juntos, afinal, ele era meu primo, mas nessas coisas do coração a gente não manda. Bom, não parava de pensar sobre o que eu faria com relação à Kate, não me sentia nada bem com essa situação, na verdade, estava meio incomodado com tudo isso. Mesmo não sendo apaixonado por Kate, eu estava ficando com ela.
Fiquei com Vi por cerca de uma hora mais ou menos, até que o sono realmente bateu e eu fui dormir. Dormi pensando em Vi e acabei sonhando com ele, um sonho lindo. Sonhei que estávamos namorando, e que até nossas famílias estavam de acordo, e no sonho, Henrique era um pai maravilhoso e me amava muito, adorava poder sentir que eu tinha um pai de verdade, mesmo que fosse apenas nos meus sonhos.
No dia seguinte, ao me acordar, avisto que Kika e Vi já havia levantado. Troco de roupa e vou fazer minha higiene matinal.
- Buongiorno. - Falou Kika ao me ver.
- Bom dia! - Falei.
Vi ao me ver, apenas sorriu, e eu fiz o mesmo. Fomos tomar nosso café, apenas nós três, pois os pais de Vi haviam saído.
Era um feriado, com a glória de Deus, sério, feriado era a coisa mais maravilhosa, uma das melhores coisas que já inventaram, depois da internet e do chocolate, é claro.
- Nossa, ontem eu dormi muito rápido. - Falou Kika. - E vocês?
- Ah, dormimos pouco depois de você. - Falei.
- Ah, legal. - Disse Kiara sem tirar os olhos da gente.
Mais tarde, resolvemos dar umas voltas em um parque tradicional da nossa cidade, e ficamos passeando por lá.
- Vou ao banheiro. - Falou Vi ao se retirar.
Kika e eu nos sentamos em um banco que tinha perto do banheiro e ficou um tremendo silêncio no ar.
- Mike, por que você nunca me contou? - Me questionou Kiara. - Pensei que fôssemos migliori amici.
- E somos... - Falei.
- Então por que você não me falou que você e o Vi estão tendo um caso?
- Quê? - Indaguei.
Mas como assim? Como Kiara sabia? Quem será que tinha contado a ela? Como ela havia descoberto? E agora? Será que nosso segredo viria à tona?
- De onde você tirou isso? - Perguntei à Kika.- Ah, eu me acordei uma hora e vi vocês se beijando, mas eu não entendi porque você não me contou nada.- Por vergonha. - Falei cabisbaixo.- Vergonhadi me? Da sua melhor amiga?- É. Sei lá, a gente não falou pra ninguém.- Isso é tão legal! - Disse Kika empolgada.- Legal a gente não ter contado pra ninguém? - Indaguei sem entender.- Não, o fato de vocês serem gays.- Tá, agora me explica a parte legal nisso, pois eu não acho legal LGBT's morrerem e serem agredidos todos os dias por conta de sua orientação sexual, nem acho legal o fato de não podermos ficar em público por conta de idiotas que olham torto, e nem acho legal sermos vistos como aberrações, e muito menos, o fato de sofrermos preconcei
As duas senhoras ficaram indignadas e foram embora. Muitas pessoas que viram tudo, nos xingaram chamando a gente de boiolas e viados, mas várias outras pessoas nos deram parabéns e falaram que a gente tinha dado um tapa no recalque da sociedade e ficamos muito felizes com os comentários positivos.Alguns dias depois, eu estava em casa, almoçando com meus irmãos e minha mãe, papai tinha ido viajar naquele dia bem cedinho, não sabia quando ele voltaria, mas confesso que estava torcendo pra ele não voltar nunca mais, pois só assim pra gente ter paz.- E o Vincenzo? - Perguntou mamãe.- Ah, está bem. - Falei dando de ombros.- Talvez você devesse convidar ele pra fazer algo, é bom pra você sair um pouco.- É, talvez eu passe na casa dele mais tarde. - Falei.Ah, esqueci de contar... Por diversas vezes, Kate me ligou e mandou
Estava na aula de espanhol, cara, eu adorava espanhol, mas a professora Amanda era muito chata, aquelas que ninguém aguenta mesmo, e ela estava a um ano dizendo que ia sair do colégio, pois não nos aguentava mais, mas infelizmente já estávamos perdendo as esperanças de ela nos dar essa alegria, e o pior era que mesmo sendo uma matéria que eu gostasse bastante, ela acabava tornando a aula muito chata.- O que vamos ter depois? – Perguntou Lucca.- Matemática. – Disse Kika.- Tomara que o período de espanhol demore pra terminar. – Falou o garoto.Kika e Lucca eram um caso meio complicado, os dois se gostavam, mas nenhum deles sabia sobre os sentimentos do outro, e também nenhum dava o braço a torcer pra tomar a iniciativa, vai entender esse povo.A pior aula pra maioria da turma era de matemática, pois era muito difícil os exercícios, e
- Kimberly, o que você está fazendo aqui? – Perguntei.- Queria ficar com vocês. – Ela disse. – Ah, ninguém mandou vocês não trancarem a porta.- Eu achei que você tinha trancado. – Disse Vi.- Digo o mesmo. – Falei.- Vocês estavam se beijando. – Falou Kim.- Não, não estávamos. – Falou Vincenzo.- Estavam sim, eu vi e eu enxergo muito bem.Vi e eu nos olhamos sem saber o que fazer, ou o que dizer, eis que Kim fala:- Ah, rapazes, não esquentem, eu sei guardar segredo.- Meu Deus! – Disse Vincenzo. – Isso não é uma criança, é uma anã.- Sou criança, mas não sou burra. – Ela disse.Sim, ela tinha 6 anos, pelo menos, era o que constava na certidão de nascimento de minha irmã, como era possível eu tamb&e
- Hey, o que foi? – Vi perguntou.Eu o abracei sem conseguir dizer uma palavra sequer, e me pus a chorar.- Vem Mike, vamos pro meu quarto.Os pais de Vi estavam dormindo, então, a gente teve que ir com muito cuidado para não fazermos barulho para não acordar eles. Ao entrarmos em seu quarto, eu me sentei na cama dele, e Vi puxou a cadeira do computador e se sentou de frente pra mim.- Agora que está só nós dois, me conta o que houve. – Pediu Vi ao pegar em minhas mãos.Queria tanto contar toda a verdade, mas estava com tanto medo, não sabia como Vi reagiria, tinha medo do que ele pudesse fazer se eu contasse tudo a ele.- Desculpa, mas eu não posso. – Falei aos prantos.- Calma, calma, tá tudo bem. – Ele disse ao me abraçar. – Eu estou aqui! Tô com você, vai ficar tudo bem.Mas eu nã
- Claro que sim. - Falou Kim, me assustando. - Cada vez que ele bate em ti ou na mamãe, é como se ele tivesse batendo em mim.Ai gente, como não amar esse serzinho? Me digam, como? É impossível.- Oh, pequena, não fica assim, nós somos grandes, sabemos nos virar. - Falei ao abraçá-la.Papai entrou em meu quarto e nos viu ali deitados em minha cama, e a única coisa que ele disse, foi:- Kim, tá na hora de dormir, vem, que eu vou te colocar na cama.- Eu não quero. Mike, posso dormir com você?- Claro, pequena... - Falei.- Não desobedece o papai. Estou mandando você vir, você tem que dormir no seu quartinho, já tá grande. - Disse meu pai.Kim me abraçou e me deu um beijo no rosto e saiu com nosso pai, se bem que nem dá pra chamar aquilo de pai. Mas ela estava com um semblante triste, e fiquei m
- Kim, isso não é coisa de criança, fugir pode ser perigoso. - Falei.- E o que você pode fazer que uma criança não pode?Sério, eu me negava a crer que ela tivesse apenas 6 anos, oxe, parecia gente grande falando. Queria tanto levar Kim comigo, mas ao mesmo tempo tinha medo por ela, medo do perigo, e do que Henrique podia fazer com ela se nos encontrassem. Estava em uma sinuca de bico, nunca havia entendido direito esse ditado, mas era como eu estava me sentindo. Olhei para minha irmã, ali tão pequena, com aqueles olhinhos lacrimejados, esperando que eu falasse algo... Foi quando eu disse:- Tudo bem. Fugimos hoje à meia noite. Arruma uma mochila com algumas roupas.- Obrigada Mike, eu sabia que você não me abandonaria. - Disse Kim se pondo a me abraçar.Kim saiu em disparada para seu quarto e eu fiquei me perguntando se havia feito a coisa certa, ela era t&at
Ah, estava tão triste com toda essa situação, mas eu acho que era o certo a se fazer naquele momento.Os pais de Vi também ligaram para falar com ele, mas Vi não atendeu, acho que ele devia ter atendido, mas ele sabia o que fazia.À tarde a Redenção lotou, sempre era bem movimentada, pessoas caminhando com famílias, amigos, animais... E nesse dia teve parada LGBT, era sempre alí onde se fazia essas festas, e já aproveitamos para ficar pra festa.Estava bem legal, tinha bastante drags dançando, transsexuais, e centenas de gays e lésbicas se beijando. Kim estava junto e ela via tudo, homem beijando homem, mulher beijando mulher e parecia tão normal pra ela.- Mano, é homem ou mulher? - Perguntou Kim se referindo a uma transsexual lindíssima que estava dançando no palco.- Digamos, que ela nasceu no corpo errado, nasceu menino, mas ag