- Mike, eu gosto muito de você, muito mesmo, você nem faz ideia do quanto, mas consentir com isso seria loucura. Eu não posso ser cúmplice de um agressor e pedófilo, eu estaria me igualando a ele. - Falou Vincenzo.
- Não, você não é igual a ele. - Falei aos prantos. - Vi, por favor, não fala nada, ele vai matar minha mãe, e provavelmente eu também, é isso que você quer?
- Não, claro que não, mas acho que ele não teria coragem.
- Claro que teria, você não tem ideia do que ele é capaz de fazer, um homem que é capaz de abusar sexualmente do próprio filho, também é capaz de matar. - Falei soluçando de tanto chorar.
- Tá bem Mike, eu não falo nada, mas não chora mais. - Disse Vincenzo, se pondo a me abraçar.
- Promete que não vai contar pra ninguém?
- Prometo. - Falou Vi cabisbaixo.
Sorri e lhe dei um selinho, como agradecimento, mas notei que Vi não estava feliz com aquilo, e passou o resto do tempo meio quieto, como se tivesse pensando em tudo o que eu havia dito. Não sei se eu havia feito certo ou errado em contar a ele, mas eu estava precisando me abrir com uma pessoa, alguém de confiança, poder desabafar... E confesso que estava me sentindo um pouco mais aliviado.
- Guris, venham jantar. - Falou meu pai ao entrar em meu quarto.
- Já vamos. - Disse Vi o encarando seriamente.
- Está tudo bem, querido? - Perguntou papai para meu primo.
- Tudo sim, só estou cansado e com sono. - Ele falou seriamente.
- Então vamos jantar para depois vocês irem dormir.
Durante todo o jantar, Vi ficou encarando meu pai, e o pior que ele nem disfarçava, estava com muito medo de que ele notasse algo, então, pedi discretamente para Vincenzo disfarçar um pouco, e ele o fez.
Ao deitarmos para dormir, Vi logo foi para minha cama e deitou do meu lado.
- Sabe, eu sempre tive o tio Henrique como um segundo herói, claro que o primeiro sempre foi meu pai, mas agora... Agora eu nunca mais o verei com os mesmos olhos, pra mim, agora ele é um monstro, e da pior espécie. Não sei como ele teve coragem, e me dói tanto não poder fazer nada para te ajudar, saber disso e ter que ficar quieto...
- Hey, esqueça isso. Eu vou ficar bem, eu prometo. - Falei.
- Me desculpa? - Pediu Vi sem tirar os olhos dos meus.
- Pelo quê?
- Por não poder te ajudar.
- Não tem do que se desculpar. - Falei ao me aproximar dele.
Vi e eu ficamos nos olhando, senti um certo embrulho no estômago, e me aproximei mais um pouco dele, e então, nos beijamos, beijo esse que nos deixara sem fôlego, como era bom o beijo de Vi, e como eu gostava daquilo. Se era certo ou errado primos se beijarem, eu não sabia, e nem importava, mas pra mim, o que importava mesmo é que a gente gostava daquilo.
Então, sem pensar muito, eu coloquei a mão na perna de Vi, e fui subindo, achei que ele tiraria minha mão, mas ele não fez, então subi mais um pouco, até chegar no pênis dele, olhei para Vincenzo, pensei que ele pediria pra eu parar, mas para minha surpresa, ele consentiu num gesto com a cabeça. Mas para nossa surpresa, ouvimos passos se aproximando de meu quarto, foi apenas o tempo de eu tirar a mão do pênis dele. E então mamãe entrou em meu quarto, olhamos para ela com cara de ''não estávamos aprontando nada''.
- Vi, o que você está fazendo aí? - Perguntou mamãe para Vincenzo.
- Ah, só estávamos conversando um pouco, mas já estava indo para minha cama.
Vi foi para o colchão que ele dormiria, mamãe nos deu boa noite, e logo foi para seu quarto.
- Boa noite! - Falou Vi ao me dar um selinho rapidamente.
- Boa noite! - Falei entre sorrisos.
Nunca mais tentamos fazer nada, nem ''brincamos'' daquele jeito, também nunca mais nos beijamos, nem selinho sequer.
O tempo passou, crescemos, amadurecemos, já estávamos com 16 anos, e algumas coisas mudaram ao longo desses 4 anos. Vi e eu seguíamos amigos, e muito próximos, ainda um dormia na casa do outro, mas já não ficávamos mais desde que minha mãe quase nos pegou no flagra, talvez o susto tivesse sido muito grande.
Agora Vincenzo namorava uma garota, ele começou a namorar meninas aos 14 anos, e sempre foi bem mulherengo, não parava muito tempo com a mesma garota. Já eu, nunca tinha namorado.
Se eu ainda gostava dele? Muito, mas cresci guardando esse sentimento apenas para mim. Acho que Vincenzo tinha esquecido tudo o que a gente passou quando pequenos, e eu estava tentando esquecer também, embora não estivesse dando certo.
Agora Noah tinha 18 anos e estava mais chato ainda, vivia fazendo brincadeira de péssimo gosto, e não gostava nada de mim, só porque eu nunca tinha namorado ele fazia piadas sobre minha sexualidade, e assim era com papai também, e até na escola, mas será mesmo que garotos da minha idade não podiam não ter namoradas que já eram gays? No meu caso, eu era mesmo, mas eles também não precisavam saber disso.
Kimberly agora estava com 6 anos, e era o nosso xodó, ninguém conseguia dizer ''não'' pra ela. Kim era uma criança muito inteligente, alegre e brincalhona, aprendeu a ler e a escrever aos 3 anos, e a amarrar os tênis aos 4, sempre foi dotada de uma enorme inteligência, sua professora ficava apavorada com ela, Kim estava no primeiro ano do ensino fundamental, e as vezes, a professora ia ensinar pras crianças coisas que minha irmã já sabia, era o nosso orgulho. Papai era louco por ela, e ela por ele, para minha alegria papai nunca tinha levantado a mão pra ela, mas embora minha irmã gostasse muito de nosso pai, ela ainda tinha um pouco de medo dele, pois ela cresceu vendo ele bater em mim e na mamãe.
Sim, aos 16 anos, papai ainda batia na gente, mas o pior era que ele ainda me estuprava, mas com essa idade, eu já tentava me defender, só que não adiantava muito, e muitas vezes, se eu me negava a fazer algo, ele me batia com seu cinto, o instrumento de agressão preferido dele.
Aos 14, eu havia dito para Vincenzo que meu pai tinha parado com os abusos, não gostava de mentira, mas já estava com muita vergonha disso, e Vi vivia me pressionando pra eu denunciar ele, óbvio que eu queria fazer isso, mas o medo era maior, e por medo de Vi acabar contando pra alguém pra tentar me ajudar, eu acabei falando que ele tinha parado com isso, e ainda bem que Vi acreditara. Mas desde que eu contei tudo pra ele, ele nunca mais foi o mesmo com meu pai, e desde então, eu passei a dormir mais na casa dele do que ele na minha, pois ele evitava ter que ver meu coroa.
- Acorda filho. - Diz minha mãe. - É seu primeiro dia de aula.
- Não quero, me deixa dormir. - Peço.
- Viu, isso que dá ficar até as 2h00 jogando videogame. Pode levantar. Dez minutos. - Ela diz se pondo a retirar em seguida.
Ah, que droga. Odiava levantar cedo, odiava estudar, e odiava os chatos dos meus colegas, com exceção de Kika e Vincenzo, claro. Será que todas as mães são chatas assim? Sei que ela me amava mais que tudo, e só queria o meu bem, mas precisava me obrigar a ir pra escola?
- Tá atrasado. - Disse Kika, assim que eu cheguei no colégio.
- Ah, é que eu tentava me levantar, mas a cama me puxava de volta, não queria deixar eu vir. - Brinco.
- Ah, ragazzo, quando você vai entender que escola é um ótimo lugar de aprendizagem?
- Nunca. Até por que você sabe, né?
- Bruce, Dylan e Taylor. Sei sim. Também não suporto eles. - Diz Kika.
Bruce, Dylan e Taylor, eram nossos colegas, e eles eram os garotos mais insuportáveis do mundo. Viviam pegando no meu pé, e no de quem estivesse comigo, não entendo por que eles me odiavam, na verdade, acho que é porque uma vez eu fiquei com a Hilary, a garota mais sexy e popular da escola, só que logo em seguida, eu descobri que o Dylan, chefe do bando, era a fim da Hilary, e aí, eles que já não gostavam muito de mim, passaram a me odiar, e tudo que o Dylan mandava, os dois idiotas faziam. Em toda minha vida, eu tinha ficado com poucas garotas, até por não sentir atração por elas, mas fazia isso mais para disfarçar, não queria que soubessem que sou gay, mas mesmo assim, eles me chamavam de ''viado, baitola'', etc.
- Cadê o namorado? - Me questionou Bruce, se referindo à Vincenzo.
- Por parlar no Diabo. - Falou Kika.
Kika parecia não ter medo deles, eles eram maiores que ela, mas ela não estava nem aí, se pudesse ia com tudo pra cima deles, era muito corajosa, queria eu ter a coragem de Kiara, estava sempre me defendendo, e comprando minhas brigas, era a melhor amiga que alguém poderia ter, nem sei o que seria de mim sem ela. Kika era simplesmente demais!
Por um momento, achei que Kiara estava louca em querer desafiar aqueles brutamontes, mas adorava quando ela me defendia e ficava ao meu lado até o fim.- Como é, magricela? - Questiona Dylanse aproximandoagressivamente de Kika.- Deixa ela, babaca. - Digoafastando – o.- Ah, seu infeliz. - Diz Dylanao me empurrar.Demos início a uma briga física, socos; tapas; empurrões, etc. Escuto Kiara pedindo pra gente parar, e um povo gritando ''briga, briga''.Nunca havia brigado antes, não desse jeito, mas já não aguentava mais eles implicando com a gente, dia após dia, mês após mês e ano após ano, estava de saco cheio disso.A diretora Suzana, aparece e nos separa, nos levando para sua sala, em seguida.- Mas começaram o ano bem, hein. - Ironiza a diretora.- Obrigado dire. - Diz Dylan.- Isso não f
Ah, como eu gostaria de poder contar toda a verdade a alguém, mas não queria que minha mãe sofresse com isso, pois ela já sofria bastante, sendo agredida por esse miserável.Mamãe já quis por diversas vezes se separar dele, mas meu pai não deixava, ele dizia que não sabia viver sem a gente, pois nos amava muito, que bela maneira dele demonstrar isso. Teve uma vez que mamãe pegou a gente, e fugimos para outra casa, bem longe, ficamos três meses livres dele, mas depois ele nos encontrou, e fez a gente voltar a morar com ele, e assim que voltamos, ele passou a nos tratar muito bem, como um pai e um marido de verdade deve tratar os filhos e a esposa, disse que estava arrependido, e que mudaria por amor a gente, até chegou a entrar numa clínica de reabilitação, e eu, idiota, acreditei naquela farsa, que não durou nem seis meses. Ah, como eu gostaria que ele realmente muda
Vi e eu tínhamos ficado muito sem graça, mas logo depois fomos jogar vídeo game e não tocamos mais no assunto. Ele não dormiu na minha casa naquele dia como eu gostaria.- Posso entrar? - Me questiona Kim no dia seguinte.- Claro. - Respondoao desligar a televisão.Ela deita em minha cama, ao meu lado, e sem dizer nada, apenas me abraça, um abraço forte, acho que fazia tempo que Kim não me abraçava daquele jeito.- Porque o papai nos odeia?- Hey, ele não nos odeia. - Minto.Que legal, olha eu aí mentindo de novo, e dessa vez pra minha irmãzinha, isso já estava ficando fora do controle. Mas como dizer pra uma garotinha de 6 anos que nosso pai nos odeia mesmo?- Como não? Ele bate na mamãe e só briga com a gente. E ainda vive fedendo.É, pela primeira vez, minha irmãzinha havia me deixa
- Vi, a gente não deve, é muito arriscado. - Falei. - E se alguém descobrir?- Você vai contar pra alguém? - Ele me questiona.- Óbvio que não. - Respondo.- Ótimo, por que eu também não vou.Ele se põe a me beijar novamente, com a mesma intensidade do beijo anterior. Confesso que estava adorando aquilo. Ficamos nos beijando e nos acariciando por volta de uma meia hora, em seguida, Vincenzo destrancou a porta e se deitou no colchão, ao lado de minha cama. Não fizemos nada naquela noite, a não ser nos beijar, mas acabamos dormindo de mãos dadas, com um cobertor cobrindo nossas mãos para caso alguém entrasse em meu quarto não visse.No dia seguinte, me acordo com Vi me olhando.- Bom dia. - Falosem conter o sorriso.- Bom dia. - Ele diz se pondo a me dar um selinho.Era um sábado, melhor dia da
É, acho que não tínhamos muito o que fazer, a não ser aguentar Kika barrando a gente de poder ficar juntos, mas mesmo assim, ainda a amo.Ao chego em casa do colégio, eu me deparo com Henrique agredindo minha mãe.- Para, para! - Grito.Mas ele continua a bater nela com um cinto, noto que minha mãe está toda roxa, parece que está apanhando a muito tempo. Noah estava em seu quarto, escutando música no último volume e Kim estava sentada no sofá vendo toda cena e chorando muito. Me dava uma pena dela quando tinha que presenciar essas coisas, era tão pequena pra passar por tudo isso.- Deixa ela, deixa ela. - Implorojá chorando.- Cala boca, seu viadinho. - Diz Henrique ao me empurrar.Noto o bafo de cachaça quando ele fala, ele estava bêbado, completamente bêbado e descontrolado, bate em minha mãe sem dó nem p
- De onde você tirou isso? - Perguntei à Kika.- Ah, eu me acordei uma hora e vi vocês se beijando, mas eu não entendi porque você não me contou nada.- Por vergonha. - Falei cabisbaixo.- Vergonhadi me? Da sua melhor amiga?- É. Sei lá, a gente não falou pra ninguém.- Isso é tão legal! - Disse Kika empolgada.- Legal a gente não ter contado pra ninguém? - Indaguei sem entender.- Não, o fato de vocês serem gays.- Tá, agora me explica a parte legal nisso, pois eu não acho legal LGBT's morrerem e serem agredidos todos os dias por conta de sua orientação sexual, nem acho legal o fato de não podermos ficar em público por conta de idiotas que olham torto, e nem acho legal sermos vistos como aberrações, e muito menos, o fato de sofrermos preconcei
As duas senhoras ficaram indignadas e foram embora. Muitas pessoas que viram tudo, nos xingaram chamando a gente de boiolas e viados, mas várias outras pessoas nos deram parabéns e falaram que a gente tinha dado um tapa no recalque da sociedade e ficamos muito felizes com os comentários positivos.Alguns dias depois, eu estava em casa, almoçando com meus irmãos e minha mãe, papai tinha ido viajar naquele dia bem cedinho, não sabia quando ele voltaria, mas confesso que estava torcendo pra ele não voltar nunca mais, pois só assim pra gente ter paz.- E o Vincenzo? - Perguntou mamãe.- Ah, está bem. - Falei dando de ombros.- Talvez você devesse convidar ele pra fazer algo, é bom pra você sair um pouco.- É, talvez eu passe na casa dele mais tarde. - Falei.Ah, esqueci de contar... Por diversas vezes, Kate me ligou e mandou
Estava na aula de espanhol, cara, eu adorava espanhol, mas a professora Amanda era muito chata, aquelas que ninguém aguenta mesmo, e ela estava a um ano dizendo que ia sair do colégio, pois não nos aguentava mais, mas infelizmente já estávamos perdendo as esperanças de ela nos dar essa alegria, e o pior era que mesmo sendo uma matéria que eu gostasse bastante, ela acabava tornando a aula muito chata.- O que vamos ter depois? – Perguntou Lucca.- Matemática. – Disse Kika.- Tomara que o período de espanhol demore pra terminar. – Falou o garoto.Kika e Lucca eram um caso meio complicado, os dois se gostavam, mas nenhum deles sabia sobre os sentimentos do outro, e também nenhum dava o braço a torcer pra tomar a iniciativa, vai entender esse povo.A pior aula pra maioria da turma era de matemática, pois era muito difícil os exercícios, e