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E Os Abusos Continuam

Por um momento, achei que Kiara estava louca em querer desafiar aqueles brutamontes, mas adorava quando ela me defendia e ficava ao meu lado até o fim.

- Como é, magricela? - Questiona Dylan se aproximando agressivamente de Kika.

- Deixa ela, babaca. - Digo afastando – o.

- Ah, seu infeliz. - Diz Dylan ao me empurrar.

Demos início a uma briga física, socos; tapas; empurrões, etc. Escuto Kiara pedindo pra gente parar, e um povo gritando ''briga, briga''.

Nunca havia brigado antes, não desse jeito, mas já não aguentava mais eles implicando com a gente, dia após dia, mês após mês e ano após ano, estava de saco cheio disso.

A diretora Suzana, aparece e nos separa, nos levando para sua sala, em seguida.

- Mas começaram o ano bem, hein. - Ironiza a diretora.

- Obrigado dire. - Diz Dylan.

- Isso não foi um elogio. E não me chame de dire.

Bom, resumindo, o sermão que ganhamos... Dylan e eu levamos uma bela advertência. Não sei como é nas outras escolas, mas na minha, se você ganha uma advertência, não acontece nada, se ganha duas, chamam o responsável, na terceira, você ganha suspensão e na quarta, você é convidado a se retirar da escola. Não sei se isso é verdade, ou se falam só para assustar os alunos, mas na dúvida, eu só vou até a terceira advertência, e como a cada ano zera, então está tudo tranquilo.

Ah, primeiro dia de aula, pode ter coisa pior que isso? Até pode, três garotos insuportáveis, pegando no seu pé o dia todo, eita, que coisa irritante.

Quando a aula acabou, resolvi dar umas voltas, não estava a fim de ir para casa e ter que voltar para aquele pesadelo. Me sento em um banco e fico pensando na vida. Lembro da primeira vez que meu pai me violentou, já fazia 6 anos, mas ainda lembrava como se fosse ontem, eu era pequeno, apenas uma criança, não tinha maldade, e nem via maldade em ninguém, confesso que até hoje me pergunto, por que justo ele? Pai é pra ser nosso super herói, aquele que está sempre ali para nos proteger de todo o mal, que só quer a nossa felicidade, e que jamais nos machucaria dessa forma, mas infelizmente esse modelo de pai eu nunca tive.

- Oi. - Diz Vincenzo se sentando ao meu lado.

- Vi! - Falei meio sorridente, e tentando conter minha emoção em vê-lo.

Vincenzo tinha passado as férias em Cancun, era o sonho dele conhecer a cidade mexicana, e por fim, havia conseguido ir. Tínhamos ficado quase dois meses sem nos ver, e confesso, que eu estava morrendo de saudade dele.

- Quando você chegou de viagem? - Lhe perguntei.

- Agora pouco. Não deu tempo de chegar pra aula, mas queria te ver.

- Senti sua falta na escola. - Falei.

- Ah, trouxe algo para você. - Disse Vincenzo ao abrir sua mochila.

Ele pega um urso de pelúcia e me dá. Um urso enorme, coisa mais linda, acho que eu nunca tinha visto um urso daquele tamanho.

- Uau. Ele é lindo. Obrigado. - Digo ao pegar o urso. - Mas como você descobriu que eu adoro ursos de pelúcia?

- Ah, a sua coleção de mais de cem ursos de pelúcia, de diversos tamanhos, me deu uma dica.

De fato, eu realmente tinha uma coleção de ursos de pelúcia, não sei se eu tinha mais de 100, mas com certeza mais de 50 eu tinha, e eu tinha algumas estantes com ursos pequenos, e os grandes ficavam em um canto, no chão.

- Eu amei. Vou dormir com ele. - Digo ao abraçar fortemente o urso.

- Sabia que você ia gostar. - Diz Vi sorrindo, e me deixando meio sem graça.

Ficamos na rua por um bom tempo, comemos um lanche em um bar, e depois fomos caminhar um pouco, para colocar o papo em dia. Ele me contou cada coisa da viagem, estava bem empolgado, confesso que morri de vontade de ir junto, mas aposto que o senhor que minha mãe falava que era meu pai, não me deixaria ir.

Chego em casa, pouco antes das 18h00. Porém, ao entrar, Kim vem correndo me abraçar, e escuto Noah falar:

- Eu disse que ele estava vivo, fez isso só pra chamar atenção.

Eis, que eu lembro que eu não avisei que chegaria tarde. Minha mãe já estava aos prantos, ligando para as delegacias, hospitais, necrotérios, sem mentira, pois ela era muito exagerada.

- Tá encrencado, rapaz. - Diz Kimberly apontando o dedo indicador para mim.

Explico a situação, mas mamãe me dá um sermão daqueles, diz que a próxima vez que eu fizer isso, ficarei um ano sem Internet e video game. Ah, nem era pra tanto, por que mãe tem que ser tão exagerada assim?

- E esse urso? De quem você ganhou? - Me perguntou papai.

- O Vincenzo me deu. Ele chegou hoje de viagem e me trouxe isso de presente. - Respondo.

Vou para meu quarto, me jogo em minha cama, e fico abraçado no urso que Vincenzo me deu, havia amado o presente, ah, Vi era tão fofo, seria impossível se eu não me derretesse por ele.

Pego meu celular para olhar minhas redes sociais, eis, que eu avisto oito chamadas não atendidas de Kate.

Kate era minha ficante. Sim, eu ficava com mulher, não que eu gostasse, era mais para esconder minha verdadeira orientação sexual. Ela era louca para ser minha namorada, mas namorar garota já era demais também. Kate e eu nos conhecíamos a cerca de um ano, ela era um ano mais nova que eu, estudávamos na mesma escola, porém em turmas diferentes, eu estava no segundo ano do ensino médio, e Kate no primeiro. Ela era muito bonita, isso também não posso negar, mas o que tinha de linda, tinha de chata e fresca, se achava superior a todo mundo, era uma verdadeira patricinha, mas dava pra quebrar galho.

- Oi gatinha. - Digo assim que ela atende meu telefonema.

- Por que não atendeu minhas ligações?

- Oi pra você também. Eu estou bem, obrigado por perguntar. E você?

- Desculpa amor, mas por que não atendeu meus telefonemas? - Perguntou Kath.

- Ah, eu estava com o Vi, e não vi o celular tocar.

- Quer fazer algo hoje? - Ela me perguntou.

- Desculpa, mas o professor de Geografia pediu pra gente revisar toda a matéria do ano passado e temos que fazer um resumo para a próxima aula. -Falo olhando para o meu video game.

- Ok. Então a gente combina outro dia, chuchu. - Diz Kate.

Desligamos a ligação, e nisso Noah entrou em meu quarto se oferecendo para jogar video game comigo, para minha surpresa, pois nem lembro quando havia sido a última vez em que jogamos algo juntos.

- Cara, sinto falta de quando a gente jogava video game assim, com frequência. - Digo.

- Ah, meu, para de ser tão gay. - Diz Noah.

- Eu não sou gay. - Falo aborrecido.

- Mas as vezes você fala como um.

Na real, eu não queria que minha família soubesse, muito menos Noah e o doador do esperma que me concebeu. Pois aí minha vida que já era horrível, pioraria de vez, e não era isso que eu queria, e estava bem longe de ser.

Após a meia-noite, Noah desligou meu video game e foi para seu quarto. Peguei o urso que Vincenzo me deu e me deitei para dormir. Quando estou quase dormindo, escuto o barulho da porta de meu quarto abrindo, é ''meu querido papai''. Estou sonolento, apenas peço para ele me deixar dormir, mas não é o que acontece. Ele me levanta bruscamente da cama, fazendo eu me despertar de vez, e me coloca encostado na parede e baixa minha bermuda, percebo que o pesadelo vai começar outra vez.

Kate e eu já tínhamos transado algumas vezes, não que eu gostasse dela, ou algo parecido, mas eu era homem, tinha minhas necessidades, claro que eu queria que fosse com algum cara, mas já que não dava, ia com Kate mesmo, por mais que não fosse tão bom assim, pelo fato dela não ter o mesmo que eu, se é que vocês me entendem... E eu escondia de todo mundo que eu gostava de rapazes, nem Kika sabia, e por isso acabava não ficando com outros caras, para ninguém descobrir. Mas por mais ruim que fosse transar com Kate, com papai era mil vezes pior, pois com ele era tão nojento.

Ele parecia tão feliz com aquilo que ele estava fazendo. Por quê? Por que eu tinha que ter ele como pai? Por que ele tinha que me odiar tanto assim? Ah, quando será que esse inferno teria fim?

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