Victoria se enxergou em um lindo campo, com flores amarelas e azuis. O céu estava ensolarado e brilhante, com poucas nuvens que escondessem a beleza que revelava ao se mostrar tão vivo.Ela sentia seus pés descalços tocarem a grama que os causava leves cócegas em suas solas nuas, correndo em direção ao horizonte. Seu corpo se esforçava mais do que o normal, e sair do lugar parecia impossível ao sentir como se pesasse uma tonelada.Mesmo assim, ela continuou focando na imagem a sua frente, a borrada silhueta de duas pessoas que ela acreditava ser os seus pais.Não tinha como ter certeza, já que ela não conseguia enxergar claramente a forma física das pessoas à sua frente. Independente disso, ela podia dizer com certeza que eram os mesmos, já que sentia em seu coração. Ela sentia como se finalmente estivesse em casa, prestes a dar um abraço apertado em ambos e sentir o cheiro de terra em seu pai, que vivia enfiado no jardim que tanto gostava de cultivar.Por isso, era cada vez mais dese
O suor constante escorrendo em sua testa fez Victoria se sentir como se estivesse em um forno. As febres interruptas já haviam a deixado enfraquecida, e mesmo com uma das empregadas a ajudando durante o dia, os sintomas não estavam melhorando.Para a sua sorte, a mulher chamada Filipa, não se importava em demonstrar que provavelmente era uma mãe muito aplicada.Ela foi a única que se importou em visitar Victoria durante a noite, e mesmo enquanto ela dormia conferia sua febre, com a palma das suas mãos em contato com a testa exposta da mais nova. Levou bacias com água fria e ordenou que a ruiva continuasse fazendo as compressas geladas para diminuir sua temperatura, e ia regularmente ministrar os remédios que tratou de encontrar para ajudá-la.Victoria não soube dizer o que motivou a doce mulher de cabelos quase grisalhos a ajudá-la de maneira tão instintiva e preocupada, porém, estava grata, e um tanto tocada ao se lembrar de maneira tão verossímil o quanto ela a lembrava de sua queri
Cansada de esperar ao lado da porta da loira, que continuou chorando copiosamente conforme Victoria poderia escutar através da porta que as separava, ela decidiu ir até a cozinha e procurar por Filipa, que ainda não retornara com o seu jantar.No momento em que ela passou em frente ao quarto onde ficou antes de ser obrigada a ir até Londres junto de Damiano, ela conseguiu ver uma pequena brecha da porta aberta, descobrindo que a empregada estava no cômodo em questão, auxiliando a estranha que havia tomado seu antigo lugar.Curiosa, apesar de ter medo, decidiu se aproximar para observar e ver o que acontecia lá. Porém, ao notar que ela observava, a mulher saiu rapidamente do quarto, fechando a porta de maneira brusca.— O que está fazendo aqui? — Ela perguntou. Segurava uma bandeja com panos sujos de algo que era semelhante a sangue.— Está tudo bem com ela? — Victoria perguntou, assustada.— Nada que seja do seu interesse. Está se colocando em perigo perambulando pela casa. Aqui não é
As horas se passaram, e Damiano não havia chegado.Victoria teria visto a chegada da noite, da madrugada intensa e fria, e até da chuva que sucedeu à noite nublada. Viu de tudo, menos o que mais queria.Mais uma noite se passou, e Damiano não a visitou. Mais uma vez sozinha em um quarto, sem qualquer contato com outra pessoa além da mulher responsável pelos seus cuidados, que após perceber sua melhora, cessou suas idas constantes.Novamente, Victoria se viu sozinha. Presa em um cômodo um pouco maior, presa com sua própria mente.Ela só tinha a si mesma. Era responsável por cuidar de si, ser sua própria companhia, seu suporte emocional e sua rede de apoio.Se ver nessa situação novamente era exaustivo. E pensar que teve a chance de sair, era ainda mais torturante.Agora de volta naquele lugar, todas as oportunidades de fuga que teve passaram em sua mente. Logo após de saber sobre os seus pais, ela poderia ter tido a oportunidade de tentar encontrá-los por conta própria.Infelizmente, e
Damiano estava sentado na poltrona próximo a de seu pai em seu escritório, analisando todos os detalhes que ajudavam a compor toda a estrutura do local. As cores escuras, puxadas para um tom de maneira avermelhado, davam um ar mais sombrio e escurecido ao ambiente, que era decorado com móveis que combinavam com suas paredes.Sua grande mesa fica ao centro, em frente a parede principal, onde havia a cabeça de um grande cervo empalhado, demonstrando a maneira como Dominique se enxergava, ou pelo menos a forma que gostaria de ser visto pelas pessoas próximas e por seus inimigos.No entanto, Damiano refletia sobre o curioso fato de sempre ver seu pai como uma criatura medíocre. A graciosidade e respeito que um belo cervo impõe é completamente diferente da postura ditadora e autoritária de um homem como ele.Rude e sem saber como é ter uma ação de gentileza, nunca soube utilizar das suas palavras para atingir os seus objetivos, sendo necessário agir com violência e recursos baixos para con
Catarina era o diamante dos olhos de Dominique. Desde o dia em que ela nasceu, ele soube que ela seria responsável por trazer grandes benefícios para si de alguma forma. Sujo e sem escrúpulos, ele enxergou nos olhos azuis e cabelos loiros uma preciosidade que poderia ser muito útil futuramente. Desde um bebê, até um idoso, ele era o tipo de homem que tenta tirar proveito de todas as coisas — ou pessoas — que passam por sua vida.Se você tem a infelicidade de fazer parte da vida de Damiano em algum momento, pode ter certeza que algum tipo de utilidade para ele, você terá.Essas são as suas normas, e todos que tem o que querem a partir dele, precisam dar algo que ele queira tanto quanto.Ele gostava de trabalhar com trocas, sentia que era bom ajudar e ser ajudado, apesar de na maioria das vezes, ele ser o único que tira vantagem da situação proposta.Completamente enganador, ele vestia a sua melhor máscara de acordo com quem ele estivesse disposto a negociar.Há muitos anos, Dominique e
Catarina estava se sentindo exausta. Não conseguia dormir há dias, mal comia e não via sentido em se manter arrumada ou apresentável de forma alguma.Sua vida havia parado pela segunda vez. A primeira, aconteceu há muitos anos, e felizmente, ela mal se lembrava.Porém, agora ela tinha o terrível papel de se recordar de outra memória ruim que havia adquirido ao longo da sua vida.Seu corpo parecia como uma casca vazia, perambulando sem qualquer destino ou direção, se sentindo perdida ao refletir qual seria o motivo de passar por algo do tipo.Andando às pressas no corredor, parecia querer fugir de algo; ou melhor, de alguém.Suas pernas trêmulas seguiam em direção ao seu quarto, e qualquer coisa que pensasse em se colocar em seu caminho, deveria ter muito cuidado ao mexer com os seus objetivos. No entanto, Victoria parecia ignorar completamente o sinal de pare explícito em seus olhos quase sangrentos de raiva ao fitá-la em frente a porta do quarto, se mantendo firme em seus posicioname
— Você sente vontade de ir embora daqui? — Victoria perguntou, observando atentamente as expressões de Catarina.— Claro que sim, é algo que eu desejo desde a minha adolescência. — Catarina respondeu, observando os desenhos que haviam no teto de seu quarto.— E o que te impede? — a ruiva perguntou de uma maneira inocente.— Bom, vejamos. Meu pai tem contato com líderes de outros países, tem um enorme poder de armamento, contato com o mercado ilegal e outras máfias. Mesmo se eu fizesse o plano perfeito, não seria o suficiente para fugir dele. — a loira parecia frustrada, sentindo seus olhos marejados novamente.Ela não queria chorar, estava cansada de chorar. Na verdade, estava exausta de toda a merda que precisou aturar durante o último mês.— Sinto muito que seja dessa forma, Catarina. Não é justo. — Victoria respondeu.— Não é mesmo, mas a vida é assim. Você também está aqui e não merece, não é mesmo? — a loira deu um sorriso frustrado, não parecendo nem um pouco contente.— Isso é