Nossos olhos se encontraram e há metros de distância eu consegui sentir tudo que aquilo significava. Era o momento dele, mas também o meu... O nosso. Porque estivemos juntos em todas as horas, boas e ruins.Pedro esteve ao meu lado nas noites em que os gêmeos choravam. E muitas vezes teve que estudar durante a madrugada porque passávamos mais tempo entre mamadeiras e trocas de fraldas do que qualquer outra coisa.E quando pensávamos que melhoraria, aparecia uma doença. E sempre que um deles tinha algo, o outro também pegava, parecendo combinado.Cheguei a cancelar a faculdade no ano de 2003, porque não dava conta da demanda que era estudar e cuidar das crianças. Em 2004 ele me obrigou a voltar, incentivando-me a não desistir, alegando que as crianças cresceriam e logo a tempestade daria lugar ao sol.Ele sempre segurou a minha mão e me ajudou a passar por todos os obstáculos. Então chegou o tempo que a Clara covarde já não era mais tão fraca. E sabia que dava conta de tudo que aparece
Pedro suspirou:- É pedir demais tomar um banho com a minha esposa?Sorri e peguei o telefone, ligando para minha mãe:- Oi, mãe. Pode pegar os gêmeos para passear aí na sua casa um pouquinho?Sorri e encerrei a ligação, piscando de forma provocante:- Pedido atendido, Cabide! – Retirei a gravata dele com habilidade.- Os gêmeos brigaram muito hoje?- A cadela deu cinco filhotes e eles conseguem brigar por cada um deles. – Ri.- É muito amor envolvido! – Pedro balançou a cabeça, gargalhando.Logo minha mãe levou as crianças, certamente sabendo o motivo pelo qual estava fazendo aquilo. Pouco me importei, porque ela já estava “um pouco” acostumada.Não tenho certeza se mamãe já tinha fechado o portão quando Pedro me pegou no colo, me assustando, fazendo-me segurar em seu pescoço:- O que é isso? – Comecei a rir.- Isso é um marido... – beijou meu pescoço – Levando sua querida e bela esposa para o banho.Deitei a cabeça no ombro dele e alisei sua nuca, sentindo-me acolhida, amada e ampar
“Tudo que acontece uma vez pode nunca mais acontecer. Mas tudo que acontece duas vezes, acontecerá certamente uma terceira.” Paulo Coelho (O Alquimista)CAPÍTULO 1. PRÓLOGONo momento que Ana Clara pisou na cafeteria, onde há mais de vinte anos atrás era uma locadora de CD’S, sentiu as pernas fraquejarem e o coração acelerar. Se fechasse os olhos, ainda lembrava de cada momento que passou naquele lugar e ainda podia ver as prateleiras tomando conta de todas as paredes, coloridas, com as capas de CD’S das melhores bandas nacionais e internacionais.Olhou para baixo, observando a parede branca, vazia. Sorriu sozinha ao lembrar que ali ficavam os seus favoritos: “Surf Music”. Fez uma careta e chegou a sentir vontade de vomitar.- Clara?Ouvir a voz de sua amiga tanto tempo depois foi como se tivesse chegado em casa... Mesmo sabendo que “casa” não existia mais.Andou vagarosamente até a amiga, observando-a minuciosamente. A mulher não havia mudado nada naqueles anos. A pele continuava bon
- Sinto muito.Ah, se ela soubesse que Ana Clara não sentia!Por um breve momento Ana Clara olhou à sua volta, temendo estar sendo observado por alguém. Respirou fundo e chamou o atendente, pedindo um cappuccino pequeno. Não esperava demorar-se muito por ali.Os planos eram realmente rever parte da família que havia ficado na cidade e ir embora de vez para qualquer lugar. Riu sozinha. De que adiantava fingir para si mesma? Podia enganar a todo o mundo, menos o seu coração. Só voltou por ele... A fim de revê-lo a última vez na sua vida, para que pudesse seguir enfim seu caminho, sem as sombras do passado.- Ainda somos amigas? – A outra perguntou seriamente.- Preciso responder? – Ana Clara foi sarcástica, tentando deixar claro que a resposta era “não”.- Quero que durma com meu marido.Ana Clara olhou para a antiga amiga que estava escorada tranquilamente no encosto da cadeira, sem um sorriso que fosse no rosto. Achou não entender direito e começou a olhar o cardápio, pensando num doc
Baccarath, 1998Olhei em volta mais uma vez, tentando enxergar alguma coisa em meio à escuridão e à fumaça dos cigarros que ficava sobre as cabeças das pessoas, para tentar avistar Anastácia. Me peguei rindo sozinho, porque mesmo que ela estivesse ali, misturada com o pessoal da pista de dança, certamente não daria para identificá-la, pois era muito baixinha.- Esperando alguém? – Marcos debochou.- Não!Ele balançou a cabeça, rindo, certo de que eu esperava por ela. - ¡Este lugar es realmente bueno! Me voy a quedar con unas cinco chicas a la vez. – Gritava enlouquecido o amigo de Marcos.Estávamos em quatro homens no camarote. Aluguei para comemorar meu aniversário de 18 anos. Porém era bem difícil conseguir aquela simples mesa com bancos almofadados ao redor, custando um valor absurdo. Então acabei tendo que marcar um mês antes da data em que completava a maioridade, caso contrário não haveria a confraternização entre amigos.- Sus faldas son demasiado cortas. Dios mío, estoy en el
- Você é gay?- Não! – Arqueei a sobrancelha, confuso – Por quê?- Porque disse que tem “namorado”.- Não... Eu disse que também tenho namorada. – Menti, me explicando.- Entendi namorado. Desculpa. – Bateu a mão no meu ombro, com força, de forma irônica e irritante.Na verdade, eu não namorava mais Anastácia, mas como ficávamos no vai e volta, sempre achava que mais cedo ou mais tarde ela voltaria a ser. Era como se eu não pudesse me livrar dela. Com tantas garotas, por que fui me envolver justo com Anastácia, que não queria nada sério com ninguém? Ela só queria curtir a vida. E eu, ao contrário, não queria nada. Mas enquanto não me beijou ela não sossegou. E depois que a beijei eu que não sosseguei mais, querendo que ela ficasse comigo sob um compromisso.Começou a tocar “Smash Mouth”, e a garota cantava e gritava enlouquecidamente.“It ain't no joke I'd like to buy the world a tokeTeach the world to sing in perfect harmonyAnd teach the world to snuff the fires and the liarsHey I
POV CLARA- Você sabe o que acaba de me dizer? – Ele perguntou seriamente, como se eu tivesse cometido um crime.- Fo-da-se. – Sussurrei no ouvido dele, de forma lenta, me contendo para não rir.O garoto não disse mais nada, ficou ali, fingindo realmente ser um cabide. Bem que ele poderia ser mais divertido, já que era “bonitinho”. Alto... Demais da conta, ao menos para mim. Olhos castanhos, maxilar bem definido, cabelos castanho-escuros lisos e bem penteados, levemente arrepiados. Magro! Certamente debaixo daquela camiseta preta, lisa, sem nenhum detalhe, só havia ossos. A boca dele era bem desenhada e os lábios grossos. Eu diria que grande demais para o tamanho da face. E que porra de dentes milimetricamente enfileirados?- Você usou aparelho? – Perguntei.Ele me olhou, demorando a responder:- Não! Por quê?- Filho de dentistas?- Não! - Estreitou os olhos. – Por quê?- Seus dentes...- O que tem os meus dentes?- São perfeitos, típicos de quem usou aparelho. Deveria sorrir mais, C
- Ah, me poupe, Pedro! – Abri a mão dele e pus a taça, que se obrigou a segurar – Beba esta porra! Aos nossos dezoito! – levantei a taça, fazendo o brinde.Meu sonho sempre foi beber o Chandon. E que porra de coisa ruim! Fiz careta, balançando a cabeça de forma involuntária.Olhei a taça de Pedro, que estava vazia.- Você... Bebeu tudo? – Perguntei, confusa.Ele assentiu.Pus a minha taça na mesa e começou a tocar “Celebration” de Kool and the Gang. Deus, se eu tivesse feito uma lista para o DJ duvido que tivesse saído tão perfeita. Parecia um brinde aos meus dezoito.Gritei e Flora riu, pulando comigo. Eu não sabia a porra do Inglês, mas amava cantar. Aliás, eu era uma ótima cantora no chuveiro.Todos estavam se divertindo e dançando, exceto meu novo amigo Pedro.- Não está ouvindo? Celebration... – Mexi os braços dele, tentando fazê-lo se mexer.- Sabe o que quer dizer? – Ele me perguntou, parecendo uma pedra.- Vamos celebrar? – Arrisquei.- Celebrar, comemorar...- Acertei! – Pule