- Ana Carolina – ele respondeu de forma debochada – Nininha... Ana... Aninha... Ou simplesmente Nina, como ela preferia ser chamada.- Você sempre soube quem eu era! – Fiquei pasmo.- Acha que sou idiota, Pedro Moratti? Quantos Moratti você acha que existem em Laranjeiras?- Por que nunca disse nada? – Clara perguntou, atordoada.- Ana? – Josephine balançou a cabeça, com os olhos lacrimejando – A mãe de Pedro era a Ana?- Sim... Tudo leva a crer que meu pai era o amante da mãe de Pedro... E estava ao volante do carro quando houve o acidente. – Clara explicou.Josephine me olhou, com o semblante entristecido, dando para perceber a dor em seus olhos:- Eu sinto muito, Pedro.- Não, não sinta... – falei enquanto soltava Joaquim, que caiu na calçada – Você não tem culpa de nada, Josephine.- Vai fazer o que, moleque? Comer a minha filha para se vingar? – Joaquim continuou provocando.- Você foi o responsável pela morte da minha mãe. – Falei olhando em seus olhos, como desejei a vida intei
POV ClaraAbril de 2002.Eu estava sentada na poltrona ao lado da mesa de telefone, vendo a enorme quantidade de caixas para organizar. Nunca imaginei que fazer uma mudança de casa dava tanto trabalho. Estava cansada e enjoada e decidi dar uma pausa. Minha vida tinha virado literalmente do avesso, em todos os sentidos.Liguei para Renan:- Olá, irmão preferido. Como está?Ouvi o som da risada dele do outro lado da linha:- Ainda achando que você casar aos 22 anos é uma loucura.- Na minha opinião loucura é sair pelo mundo sem voltar por anos, abandonando uma família que o ama.- Vamos voltar este assunto?- Enquanto eu estiver viva, sim. E como a possibilidade de eu morrer nos próximos sete meses é praticamente nula, terá uns bons meses para me convencer a desistir de tentar fazê-lo voltar.- Como assim sete meses? Aconteceu alguma coisa? Você não está bem?- Se eu não estivesse, você voltaria, independente do raio de lugar onde esteja?- Clara, não brinque comigo!Respirei fundo. Não
- E como isso foi acontecer? - Ainda queria entender, incrédulo.- Segundo o médico, o excesso de pílulas do dia seguinte causou alterações no ciclo menstrual, comprometendo a sua eficácia, ou seja, quanto mais se usa, maiores as chances de ela não funcionar e a gestação acontecer.- Eu disse a você que o excesso daquelas pílulas poderiam causar vários efeitos colaterais.- O nosso bebê meio que é um dos efeitos colaterais. – Ri.Pedro me pegou no colo:- O melhor efeito colateral que já aconteceu na minha vida.Enquanto ele me conduzia entre as caixas, tentando encontrar espaço para caminhar, ajeitei seus cabelos negros e perguntei:- Está feliz? Meio que... Você tinha medo de ter um filho.- Sim, realmente tinha... Antes de conhecê-la – me pôs sobre o colchão ainda ensacado num canto do quarto – Agora tudo que quero é realizar todos os nossos sonhos, querida. E neles sempre estiveram inclusas duas crianças.- Acha que vem primeiro o Lucas ou a Laís?- Não importa qual dos dois venha
- Literalmente pode ser pior, pois a vagina alarga do tamanho da cabeça do bebê.- Raramente alguém morre por este “alargamento”. Fará o pré-natal certinho e dará tudo certo. Não tem a mínima possibilidade de dar algo errado, entendeu? E você está proibida de me deixar nervoso com isto.Suspirei:- É que eu li...Pedro tapou minha boca com a sua mão:- Estará proibida de ler nos próximos sete meses.Fiz sinal negativo com a cabeça e tentei falar, ainda impedida por ele. Enquanto ainda tentava me expressar oralmente, ele ria.Retirei sua mão e estreitei os olhos, furiosa:- Não pode me proibir de falar.- Posso, sim. Só vai falar se forem coisas boas.- Ok... Eu estava tentando dizer que não posso ficar proibida de ler nos próximos meses.- Não vou deixá-la fazer pesquisas sobre parto ou possíveis problemas que podem acontecer neles. Só ouviremos o médico.- Mas eu precisarei ler muito e fazer pesquisas. Mas não sobre o bebê ou a gravidez.- Sobre o que pesquisaria? – Ficou curioso.-
- Uau! – o médico sorriu – Temos aqui dois embriões. Ou seja, uma gravidez de gêmeos bivitelinos.- O quê? – Clara perguntou, apavorada, sem tirar os olhos da tela.- Os gêmeos bivitelinos são formados por dois ou mais óvulos, que fecundados por dois ou mais espermatozoides, formam indivíduos geneticamente distintos. Dessa forma, a aparência dos gêmeos não será idêntica. Neste caso, temos duas placentas e duas bolsas. – Ele explicou, sem desviar os olhos da tela, parecendo animado.Clara me olhou:- Você pôs “dois” espermatozoides dentro de mim?- Isso foi castigo por termos jogado tantos fora. – Tentei me defender.- Porra, Laís e Lucas vem juntos, de uma vez só? Como vou parir duas crianças ao mesmo tempo, doutor?O médico riu e senti Clara apertar minha mão com força.- A probabilidade de terem um casal é bem grande neste caso. E não se preocupe que é possível parir os dois, embora não ao mesmo tempo... Primeiro um e depois o outro. – Explicou o médico.- Pedro... – Ela me olhou, s
- Não acho, tenho certeza. Não estamos perfeitamente bem? Por que não torcer por eles também?- Talvez eu seja um pouco ciumenta com relação a você.- Um pouco?- Vou ser ciumenta com as crianças também. Acho que preciso ler um dos seus livros.- Eu ia mesmo lhe oferecer. – Confessei, rindo.Conforme íamos nos aproximando da recepção, perguntei:- Como daremos a notícia a eles?- Devagar... Para não ficarem em choque.- Ok. – Concordei.Chegamos na recepção e Josephine, Felix e Flora imediatamente levantaram:- E então, tudo certo? – Josephine perguntou.- Já sabem o sexo? – Flora estava ansiosa.- Bem... – Comecei, com tranquilidade, conforme ela havia sugerido.- São dois bebês – Clara disse de forma imediata – Teremos gêmeos.Houve um minuto de silêncio até que todos processassem a informação. Logo começaram a comemorar e nos abraçaram, fazendo mil planos.Observei o semblante de orgulho e felicidade de Clara. Ainda bem que ela sugeriu darmos a notícia devagar. Comecei a rir sozinh
Nossos olhos se encontraram e há metros de distância eu consegui sentir tudo que aquilo significava. Era o momento dele, mas também o meu... O nosso. Porque estivemos juntos em todas as horas, boas e ruins.Pedro esteve ao meu lado nas noites em que os gêmeos choravam. E muitas vezes teve que estudar durante a madrugada porque passávamos mais tempo entre mamadeiras e trocas de fraldas do que qualquer outra coisa.E quando pensávamos que melhoraria, aparecia uma doença. E sempre que um deles tinha algo, o outro também pegava, parecendo combinado.Cheguei a cancelar a faculdade no ano de 2003, porque não dava conta da demanda que era estudar e cuidar das crianças. Em 2004 ele me obrigou a voltar, incentivando-me a não desistir, alegando que as crianças cresceriam e logo a tempestade daria lugar ao sol.Ele sempre segurou a minha mão e me ajudou a passar por todos os obstáculos. Então chegou o tempo que a Clara covarde já não era mais tão fraca. E sabia que dava conta de tudo que aparece
Pedro suspirou:- É pedir demais tomar um banho com a minha esposa?Sorri e peguei o telefone, ligando para minha mãe:- Oi, mãe. Pode pegar os gêmeos para passear aí na sua casa um pouquinho?Sorri e encerrei a ligação, piscando de forma provocante:- Pedido atendido, Cabide! – Retirei a gravata dele com habilidade.- Os gêmeos brigaram muito hoje?- A cadela deu cinco filhotes e eles conseguem brigar por cada um deles. – Ri.- É muito amor envolvido! – Pedro balançou a cabeça, gargalhando.Logo minha mãe levou as crianças, certamente sabendo o motivo pelo qual estava fazendo aquilo. Pouco me importei, porque ela já estava “um pouco” acostumada.Não tenho certeza se mamãe já tinha fechado o portão quando Pedro me pegou no colo, me assustando, fazendo-me segurar em seu pescoço:- O que é isso? – Comecei a rir.- Isso é um marido... – beijou meu pescoço – Levando sua querida e bela esposa para o banho.Deitei a cabeça no ombro dele e alisei sua nuca, sentindo-me acolhida, amada e ampar