- Literalmente pode ser pior, pois a vagina alarga do tamanho da cabeça do bebê.- Raramente alguém morre por este “alargamento”. Fará o pré-natal certinho e dará tudo certo. Não tem a mínima possibilidade de dar algo errado, entendeu? E você está proibida de me deixar nervoso com isto.Suspirei:- É que eu li...Pedro tapou minha boca com a sua mão:- Estará proibida de ler nos próximos sete meses.Fiz sinal negativo com a cabeça e tentei falar, ainda impedida por ele. Enquanto ainda tentava me expressar oralmente, ele ria.Retirei sua mão e estreitei os olhos, furiosa:- Não pode me proibir de falar.- Posso, sim. Só vai falar se forem coisas boas.- Ok... Eu estava tentando dizer que não posso ficar proibida de ler nos próximos meses.- Não vou deixá-la fazer pesquisas sobre parto ou possíveis problemas que podem acontecer neles. Só ouviremos o médico.- Mas eu precisarei ler muito e fazer pesquisas. Mas não sobre o bebê ou a gravidez.- Sobre o que pesquisaria? – Ficou curioso.-
- Uau! – o médico sorriu – Temos aqui dois embriões. Ou seja, uma gravidez de gêmeos bivitelinos.- O quê? – Clara perguntou, apavorada, sem tirar os olhos da tela.- Os gêmeos bivitelinos são formados por dois ou mais óvulos, que fecundados por dois ou mais espermatozoides, formam indivíduos geneticamente distintos. Dessa forma, a aparência dos gêmeos não será idêntica. Neste caso, temos duas placentas e duas bolsas. – Ele explicou, sem desviar os olhos da tela, parecendo animado.Clara me olhou:- Você pôs “dois” espermatozoides dentro de mim?- Isso foi castigo por termos jogado tantos fora. – Tentei me defender.- Porra, Laís e Lucas vem juntos, de uma vez só? Como vou parir duas crianças ao mesmo tempo, doutor?O médico riu e senti Clara apertar minha mão com força.- A probabilidade de terem um casal é bem grande neste caso. E não se preocupe que é possível parir os dois, embora não ao mesmo tempo... Primeiro um e depois o outro. – Explicou o médico.- Pedro... – Ela me olhou, s
- Não acho, tenho certeza. Não estamos perfeitamente bem? Por que não torcer por eles também?- Talvez eu seja um pouco ciumenta com relação a você.- Um pouco?- Vou ser ciumenta com as crianças também. Acho que preciso ler um dos seus livros.- Eu ia mesmo lhe oferecer. – Confessei, rindo.Conforme íamos nos aproximando da recepção, perguntei:- Como daremos a notícia a eles?- Devagar... Para não ficarem em choque.- Ok. – Concordei.Chegamos na recepção e Josephine, Felix e Flora imediatamente levantaram:- E então, tudo certo? – Josephine perguntou.- Já sabem o sexo? – Flora estava ansiosa.- Bem... – Comecei, com tranquilidade, conforme ela havia sugerido.- São dois bebês – Clara disse de forma imediata – Teremos gêmeos.Houve um minuto de silêncio até que todos processassem a informação. Logo começaram a comemorar e nos abraçaram, fazendo mil planos.Observei o semblante de orgulho e felicidade de Clara. Ainda bem que ela sugeriu darmos a notícia devagar. Comecei a rir sozinh
Nossos olhos se encontraram e há metros de distância eu consegui sentir tudo que aquilo significava. Era o momento dele, mas também o meu... O nosso. Porque estivemos juntos em todas as horas, boas e ruins.Pedro esteve ao meu lado nas noites em que os gêmeos choravam. E muitas vezes teve que estudar durante a madrugada porque passávamos mais tempo entre mamadeiras e trocas de fraldas do que qualquer outra coisa.E quando pensávamos que melhoraria, aparecia uma doença. E sempre que um deles tinha algo, o outro também pegava, parecendo combinado.Cheguei a cancelar a faculdade no ano de 2003, porque não dava conta da demanda que era estudar e cuidar das crianças. Em 2004 ele me obrigou a voltar, incentivando-me a não desistir, alegando que as crianças cresceriam e logo a tempestade daria lugar ao sol.Ele sempre segurou a minha mão e me ajudou a passar por todos os obstáculos. Então chegou o tempo que a Clara covarde já não era mais tão fraca. E sabia que dava conta de tudo que aparece
Pedro suspirou:- É pedir demais tomar um banho com a minha esposa?Sorri e peguei o telefone, ligando para minha mãe:- Oi, mãe. Pode pegar os gêmeos para passear aí na sua casa um pouquinho?Sorri e encerrei a ligação, piscando de forma provocante:- Pedido atendido, Cabide! – Retirei a gravata dele com habilidade.- Os gêmeos brigaram muito hoje?- A cadela deu cinco filhotes e eles conseguem brigar por cada um deles. – Ri.- É muito amor envolvido! – Pedro balançou a cabeça, gargalhando.Logo minha mãe levou as crianças, certamente sabendo o motivo pelo qual estava fazendo aquilo. Pouco me importei, porque ela já estava “um pouco” acostumada.Não tenho certeza se mamãe já tinha fechado o portão quando Pedro me pegou no colo, me assustando, fazendo-me segurar em seu pescoço:- O que é isso? – Comecei a rir.- Isso é um marido... – beijou meu pescoço – Levando sua querida e bela esposa para o banho.Deitei a cabeça no ombro dele e alisei sua nuca, sentindo-me acolhida, amada e ampar
“Tudo que acontece uma vez pode nunca mais acontecer. Mas tudo que acontece duas vezes, acontecerá certamente uma terceira.” Paulo Coelho (O Alquimista)CAPÍTULO 1. PRÓLOGONo momento que Ana Clara pisou na cafeteria, onde há mais de vinte anos atrás era uma locadora de CD’S, sentiu as pernas fraquejarem e o coração acelerar. Se fechasse os olhos, ainda lembrava de cada momento que passou naquele lugar e ainda podia ver as prateleiras tomando conta de todas as paredes, coloridas, com as capas de CD’S das melhores bandas nacionais e internacionais.Olhou para baixo, observando a parede branca, vazia. Sorriu sozinha ao lembrar que ali ficavam os seus favoritos: “Surf Music”. Fez uma careta e chegou a sentir vontade de vomitar.- Clara?Ouvir a voz de sua amiga tanto tempo depois foi como se tivesse chegado em casa... Mesmo sabendo que “casa” não existia mais.Andou vagarosamente até a amiga, observando-a minuciosamente. A mulher não havia mudado nada naqueles anos. A pele continuava bon
- Sinto muito.Ah, se ela soubesse que Ana Clara não sentia!Por um breve momento Ana Clara olhou à sua volta, temendo estar sendo observado por alguém. Respirou fundo e chamou o atendente, pedindo um cappuccino pequeno. Não esperava demorar-se muito por ali.Os planos eram realmente rever parte da família que havia ficado na cidade e ir embora de vez para qualquer lugar. Riu sozinha. De que adiantava fingir para si mesma? Podia enganar a todo o mundo, menos o seu coração. Só voltou por ele... A fim de revê-lo a última vez na sua vida, para que pudesse seguir enfim seu caminho, sem as sombras do passado.- Ainda somos amigas? – A outra perguntou seriamente.- Preciso responder? – Ana Clara foi sarcástica, tentando deixar claro que a resposta era “não”.- Quero que durma com meu marido.Ana Clara olhou para a antiga amiga que estava escorada tranquilamente no encosto da cadeira, sem um sorriso que fosse no rosto. Achou não entender direito e começou a olhar o cardápio, pensando num doc
Baccarath, 1998Olhei em volta mais uma vez, tentando enxergar alguma coisa em meio à escuridão e à fumaça dos cigarros que ficava sobre as cabeças das pessoas, para tentar avistar Anastácia. Me peguei rindo sozinho, porque mesmo que ela estivesse ali, misturada com o pessoal da pista de dança, certamente não daria para identificá-la, pois era muito baixinha.- Esperando alguém? – Marcos debochou.- Não!Ele balançou a cabeça, rindo, certo de que eu esperava por ela. - ¡Este lugar es realmente bueno! Me voy a quedar con unas cinco chicas a la vez. – Gritava enlouquecido o amigo de Marcos.Estávamos em quatro homens no camarote. Aluguei para comemorar meu aniversário de 18 anos. Porém era bem difícil conseguir aquela simples mesa com bancos almofadados ao redor, custando um valor absurdo. Então acabei tendo que marcar um mês antes da data em que completava a maioridade, caso contrário não haveria a confraternização entre amigos.- Sus faldas son demasiado cortas. Dios mío, estoy en el