7 meses depois.
Laura Martins:
Batidas fortes na porta me despertam de um sono agitado, desencadeando uma dor latejante na minha têmpora, lembrando-me da queda que sofri anteontem na empresa quando desmaiei e bati a cabeça na privada, acordei só no dia seguinte. A luz do sol entrando pelas frestas das da janela de madeira faz meus olhos arderem.
— Já vai! — Tento gritar, mas minha voz sai fraca, um mero sussurro.
As batidas continuam, mais urgentes. Respiro fundo, tentando dissipar a dor, e me levanto cambaleando. O quarto gira por um momento, mas me estabilizo, apoiando-me na parede enquanto caminho até a porta. O eco das batidas se mistura com o zumbido na minha cabeça.
— Quem é? — Minha voz sai rouca, quase inaudível, enquanto destranco a porta.
— Senhorita Martins? — Uma voz feminina responde.
Abro a porta lentamente, revelando uma mulher jovem e elegante. Ela é alta e magra, vestindo um terno perfeitamente ajustado. Seus olhos me observam com intensidade, e um leve sorriso curva seus lábios.
— Posso ajudar? — Pergunto, com desconfiança.
— Quero tratar de um assunto delicado com a senhorita. Posso entrar?
— Não é uma boa ideia deixar uma estranha entrar — respondo, hesitante.
Ela sorri suavemente, tentando parecer amigável.
— Entendo sua hesitação, mas somos colegas de trabalho. Garanto que o que tenho a oferecer é do seu interesse.
A dor na cabeça dificulta pensar, mas a curiosidade me faz abrir a porta. Não me preocupo com a bagunça; a única coisa na sala é um sofá de três lugares que a vizinha me doou. Ela senta-se no lado direito, e eu no esquerdo.
— Anteontem, encontrei você desmaiada no banheiro da empresa... — ela começa, mas a interrompo.
— Então você veio cobrar o dinheiro do hospital, não é? Eu não tenho como pagar agora, mas se me der um pouco de tempo...
— Não! — Ela me interrompe. — Foi minha chefe quem pagou o hospital para você, e ela quer lhe oferecer uma proposta.
Minha desconfiança aumenta, e meu coração acelera.
— Que tipo de acordo?
Ela coloca um envelope na mesa e me olha nos olhos.
— Minha chefe vai pagar todos os seus tratamentos, cirurgia e medicação para a cura do seu câncer, além de uma mesada de mil reais por mês.
— Em troca de quê? — Pergunto, desconfiada. Ninguém faz nada de graça; não acredito em fadas madrinhas.
— Ela quer te alugar — responde, como se estivesse apenas dizendo que o céu está lindo.
— Quê!? — Exclamo em choque. — Me alugar para quê? — Indago, confusa.
— Para amar o filho dela — responde com um sorriso enorme no rosto, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.
— Não vou me prostituir! — Exclamo extremamente ofendida com esse acordo proposto. — Sei que não tenho muito dinheiro, mas sei muito bem que tenho o meu valor!
— Não, Laura, nada disso. Ela não está pagando para você ter relações com ele. Apenas para ser o suporte emocional que ele precisa — pontua. — Ele está passando por um momento muito difícil, e minha chefe acredita que você pode ajudá-lo a superar isso.
— Por que eu? — Olho para ela, tentando decifrar suas intenções.
— Você despertou emoções boas nele, por isso achamos que você pode salva-lo.
— Despertei? Salva-lo? — A minha pergunta ressoa cheia de ironia e incredulidade. — Eu sequer sei de quem você está falando! — Falo o obvio e reviro olhos, erro meu, o latejar nas minhas têmporas aumentam ainda mais.
— Entenda, você salva o filho dela e ela salva você, simples assim. E se por um motivo você acabar se apaixonando por ele, não tem problema, com tanto que esse acordo nunca saia do sigilo. Reforço, ninguém além de você, eu e ela dever saber — sua fala num tom de aviso me deixa alarmada.
— Eu nem aceitei o acordo e vocês já estão pensaram na possibilidade de me apaixonar por um completo estranho? O que vocês têm na...
— A minha chefe quer ver o seu filho voltar a sorrir — me interrompe, sua voz carregada de urgência. — Curiosamente, ele quando está com você, esboça sentimentos bons. Ela assim como você, está desesperada. Há anos o filho dela se trancou dentro de si e vivi afastando todos. Por dois longos anos ele sequer saiu de casa, e quando finalmente saiu, destilou frieza e grosseira para todos. Os olhos dele perderam a cor e ela sente que a cada dia estar pendendo mais e mais do seu querido filho, ela teme que ele acabe, acabe... — ela fecha os olhos, como se as lembranças ainda a atormentassem, já consigo imaginar o que ela quer dizer, suicídio. — O que é importa é que você ascendeu uma esperança.
O desespero na fala dela me toca. Não posso dizer que sei o que a mãe dele está sentindo — nunca fui mãe, e a minha sempre me quis longe —, mas é triste viver sem esperança. Nos últimos quatro meses, vi-me no buraco. Apesar de estar trabalhando, meu salário não é suficiente bancar as despesas da casa e um tratamento particular.
— Não vou me apaixonar por ele — falo convicta, sentindo o peso da minha escolha sobre meus ombros.
— Se você diz — ela entoa com um sorrisinho no rosto, como se não acreditasse no que eu disse. — Amanhã será o primeiro encontro de vocês!
— Amanhã!? — Engasgo com a saliva.
— Uma dúvida — ergo minha mão com o indicador levantado. — Quando poderei parar de fingir que amo esse cara?
— O contrato tem validade de dois anos. Se parar antes, terá que pagar multa e devolver todo o dinheiro gasto com o seu tratamento e as mesadas — responde, seu semblante se tornando sério novamente. Suspiro, onde é que eu fui me meter? — Veja bem, você já está no estágio dois da sua doença. Se recusar essa proposta, cada dia que se passar, as chances da evolução aumentam e a sua sobrevivência diminuí.
Suas palavras são como vários t***s na minha cara, deixando o pulsar dolorido na minha cabeça ainda mais forte.
— Tudo bem — murmuro, sem alternativas, realmente essa parece ser a única forma de eu conseguir sobreviver.
— Assine. Vou buscar as roupas — ela informa e se levanta.
> Noite do dia seguinte:
Respiro profundamente, enchendo os pulmões de ar enquanto me detenho diante da entrada suntuosa de um dos restaurantes mais requintados da cidade. Uma onda de nervosismo percorre meu estômago, uma sensação de torpor me invade, e percebo meus dedos frios e rígidos. Eu nunca fui num encontro "às cegas" —vamos nomear assim —. É estranho, já assisti doramas coreanos onde isso é normal, mas aqui no Brasil? Nunca ouvir falar.
A mulher, que descobri se chamar Ana, não quis me dizer o nome e nem mostrar a foto do rapaz, tudo o que eu tenho é um pedaço de papel com o sobrenome dele: "senhor Duarte", e uma instrução simples: dirigir-me à recepção. Com o coração palpitante, agarro-me à coragem e adentro o estabelecimento.
O piso de mármore sob meus pés ressoa cada passo meu pelo luxuoso hall de entrada, e luto para camuflar minha ansiedade. Aproximando-me do balcão, a recepcionista muito elegante usando um terninho cinza me atende muito educada. Pergunto pela reserva no nome do meu "cliente" —acho melhor tratá-lo assim, não quero apegar-me a ele—, o senhor Duarte.
— Por aqui, senhorita — ela diz com uma voz serena, conduzindo-me por entre mesas meticulosamente arranjadas até uma localização privilegiada ao lado de uma ampla janela.
A cada passo, meu coração acelera, minha respiração se torna mais ofegante e gotículas de suor começam a escorrer por minha nuca. O homem está com o rosto virado para a janela, sem notar nossa aproximação.
— Senhor Duarte? — A recepcionista o chama.
O homem vira o rosto em nossa direção e ao pousar os seus olhos —de uma tonalidade de azul tão profundo e gélido— em mim, sinto um calafrio percorrer a minha espinha tensionando todos os meus músculos.
Essa não, essa não! Que merda! O meu cliente tinha que ser logo ele, o ogro.
A surpresa me golpeia com a força de um trovão, misturando temor e incredulidade, enquanto me vejo diante da última pessoa que esperaria encontrar —reencontrar- no mundo.
Não, não, não, mas que droga! Entre tantos homens neste mundo, por que tinha que ser justamente ele? Desde o primeiro momento em que nos conhecemos, eu o chamo de ogro. Seu nome? Não sei, mas agora sei o seu sobrenome, ótimo.
— O que está fazendo aqui? — Ele questiona, sua expressão de poucos amigos, os olhos penetrantes azuis como gelo.
Sento meu estômago revirar e meu coração acelerar. Não posso acreditar que, entre todas as pessoas possíveis, é ele quem estava ali.
— O ogro continua de mau humor — falo e revirei os olhos. Merda, escapuliu. A frustração era evidente na minha voz.
— Sua fedelha... — Ele começa, mas não espero para ouvir o resto. Viro-me de costas e começo a me afasta da mesa, meu corpo inteiro tremendo com um misto de emoções que eu não sei descrever nesse momento.
Antes que eu consiga chegar à porta, uma mão grande e firme segura meu antebraço, me fazendo parar. O toque é quente, mas a intenção claramente não era amigável, mediante a hostilidade de seu aperto.
— Você é a senhorita Martins? — Ele indaga, sua voz baixa e ameaçadora. Puxo meu braço para fora do seu aperto, sentindo uma onda de adrenalina misturada com raiva se espalhar em meu corpo.
— Para que quer saber, seu troglodita? — Retruco, tentando manter a compostura enquanto meu coração golpeia descontroladamente em meu peito.
— Como conseguiu marcar um encontro comigo? — Ele pergunta, seus olhos agora fixos nos meus, como se tentasse desvendar meus segredos.
— Eu não sabia que era você — respondo, minha voz carregada de desdém. — Jamais iria querer um encontro às cegas com um ogro feio como você — provoco.
Seus olhos se estreitam, e ele dá um passo à frente, a raiva pulsando em seu olhar.
— Não pensei que passaria de mendiga para rameira em tão pouco tempo...
O calo com um tapa estalado na cara, o som ecoando pela restaurante. Minha mão arde, fecho-a em punho para conter um pouco do ardor, a raiva me ajudando a ignorar.
— Não vou aceitar nem mais um insulto seu — declaro, minha voz firme. — Lave a sua boca antes de falar comigo.
Sinto todos os olhares sobre mim, mas não me importo. Sei que fui alugada para "amar" esse cara, mas não vou permitir que ele me desrespeite assim.
Mais uma vez, viro-me de costas e retorno para o caminho de saída. Cada passo parece uma eternidade, e meu corpo está tenso. No entanto, antes que eu alcançasse a porta, uma tontura me atinge. Minhas vistas escurecem, e todo o meu corpo fia leve, como se eu estivesse caindo lentamente.
Antes que eu perca todos os sentindo, sinto o meu corpo ser amparado por braços fortes, que erguem o meu corpo; minhas pálpebras estão quase fechadas, mas tento ver quem me salvou. Seus olhos azuis encontram-se com os meus, e diferente de segundos atrás, não estão frios e vários.
Sem forças para me manter desperta, meus olhos se fecham.
Fernando Duarte:No meu relógio marca 19 horas e 30 minutos, e a minha paciência diminui a cada segundo. Se essa mulher se atrasar um minuto sequer, estou fora. Eu nem queria está aqui para começo de conversar, só estou aqui porque a minha mãe ameaçou colocar fogo em sua própria casa.Impaciente, dedilho a mesa, viro o rosto para a janela e começo a observar os carros passando apressados pela frente do restaurante escolhido por minha mãe.Só mais trinta segundos...— Senhor Duarte? — Ouça a voz da recepcionista, se ela está aqui só pode significar uma coisa.Merda!Respiro fundo e controlo a raiva, só faltavam trinta segundos para que eu pudesse estar livre e usar a desculpa de que a tal mulher não apareceu me deixando no vácuo.Desvio minha atenção dos carros e olho para a moça que me chama. De baixo pra cima, observo a mulher que está ao lado da recepcionista.Dentro de um vestido tubinho de cor preta, os meus olhos percorrem o seu corpo, observando as curvas suaves e delicadas marca
Fernando Duarte:O momento presente se dissolve, e minha mente é abruptamente arrastada de volta àquela noite fatídica. o barulho ensurdecedor, repentino e violento de uma batida, seguido pelo estrondo assustador de uma explosão atrás do meu carro.O mundo ao meu redor transformou-se num caos vivo: os olhos verdes desesperados, os gritos dilacerantes por socorro perfurando a noite, misturados ao som das sirenes sendo abafadas pelo zumbido em meu ouvido. Lágrimas mesclam-se ao sangue que tingia toda a minha visão de um vermelho profundo e sombrio.O horror da imagem tingida de vermelho me dá náuseas — membros perdidos, um braço aqui, pernas ali, espalhado pelo interior do carro, o forte cheiro do sangue...Enquanto o passado me consome, uma gota de suor frio traça um caminho pela minha testa. O descompasso de meu coração martela contra meu peito, enquanto minhas vistas se embaçam com a iminência de mais um colapso emocional. Lágrimas, antes contidas, agora fluem livremente, embaçando mi
Fernando Duarte:Após deixar o restaurante, dirijo com pressa tendo o caminho iluminado pelas luzes amarelas dos portes. Seguro tão firme o volante do carro, sentindo o metal gelado contra a palma da minha mão, que sinto as falanges dos meus dedos doerem e as veias do dorso das minhas mãos saltarem.De onde a minha mãe conhece Laura? E por que diabos a minha mãe achou que seria uma boa ideia arranjar um encontro com essa pirralha irritante?A frustração e a raiva se acumulam dentro de mim. Com fúria, desfiro um golpe no volante.— Porra! Por que tinha que ser logo ela? Ela era a última pessoa que eu queria encontrar — grito exasperado dentro do carro.Os faróis dos outros carros se misturam em um borrão de luzes, espelhando meu estado de espírito tumultuado. Minha respiração está tensa, e os pensamentos sobre Laura, sobre o meu passado, giram furiosamente na minha mente.Ao estacionar em frente à casa da minha mãe, respiro fundo, saio do carro e aperto a campainha. Ana, o braço direto
Laura Martins:Pago a passagem e me sento no banco mais alto. O ônibus começa a se mover, e apoio meu cotovelo na janela, repousando o queixo na palma da mão. Observo as luzes urbanas se desdobrarem à medida que o ônibus segue para a estação. Minha mente volta ao restaurante, lembrando os olhos do senhor Duarte, antes gélidos, agora cheios de terror e desespero. O que o teria deixado assim?Para! Já tenho problemas demais para me preocupar com os dos outros.Busco refúgio nos meus fones de ouvido e seleciono a música "Dias Melhores" do Jota Quest. Deixo-me levar pela melodia enquanto olho as ruas movimentadas."🎶 Vivemos esperando dias melhores.Dias de paz, dias a mais,dias que não deixaremos para trás.Oh oh, vivemos esperando o dia que seremos melhores,melhores no amor, melhores na dor, melhores em tudo... 🎶"Cantarolo baixinho, meus olhos se enchem de lágrimas, mas pisco para afastá-las. Sou egoísta demais, pensando em tudo o que ele já fez por mim. Ninguém nunca fez o que ele
Laura Martins:"Ele sempre teve uma boca tão bonita assim?" —Me questiono internamente, mordo o meu lábio inferior. Será que são macios? Quentes? A língua... será que... de repente e bruscamente, como se tivesse uma doença altamente contagiosa, ele me solta e se afasta. Cambaleio um pouco antes de retornar ao equilíbrio. Uma pontada de vergonha toma conta de mim, me atingindo como um soco no estômago, a minha mente martela com a possibilidade de que ele percebeu que, por um breve momento, eu talvez quisesse beijá-lo. Rezo em silêncio para que ele não tenha notado as minhas intenções nesse pequeno instante que encarei a boca dele.O som de um pigarro seco escapa da minha garganta enquanto tento esconder o meu constrangimento.Sinto um calor subir pelas minhas bochechas, o conflito interno entre raiva e atração deixando-me confusa.— Eu... eu não preciso da sua ajuda — sussurro, minha voz traindo a determinação que tento manter.— Por que você sempre tem que complicar tudo? — ele questio
Laura Martins: — Laura, o que aconteceu no restaurante? O meu filho chegou aqui transtornado! — a mulher começa. Lá vamos nós, penso me preparando para receber o esporro. — O nosso acordo era para você deixá-lo feliz e não ainda mais infeliz! — A voz da mulher ressoar familiar por trás da linha. De onde a conheço... de onde... já sei! É ela! A senhora elegante e gentil de terninho. Cristiane, é esse o nome dela, por que eu não me lembrei assim que vi o ogro? Será que foi o choque por ter sido justo ele? — Está aí? — Cristiane, a mãe do ogro, chama impaciente. — Si-sim! Estou sim — respondo, tentando suar calma, mesmo com o coração disparado. — Então por que não me respondeu? — Questiona. — Eu estava tentando me lembrar de onde conhecia a sua voz — explico e mordo o lábio com vergonha da minha lerdeza. — Você não lembrava que era eu? — Consigo sentir a surpresa em sua voz. — Desculpe — peço envergonhada, provavelmente o nome dela estava no contrato, mas eu só li a parte dos bene
Laura Martins:— Você! — exclamamos juntos, ambos claramente atônitos e, no meu caso, desesperada.Meu coração dispara em meu peito, ecoando um alarme surdo que parece preencher todo o espaço da sala de reuniões. Minhas mãos tremem tanto que mal consigo segurar a bandeja. Diante de mim, com os olhos azuis mais gélidos, que parece até congelar o ar entre nós, que eu já encontrei, está o ogro... não, o CEO da empresa onde trabalho, o mesmo homem em que a mãe me “alugou” para amar. Céus!Seu olhar sobre mim é uma mistura de surpresa e irritação, tão intensa que nesse momento, eu quero desaparecer.A única coisa que consigo fazer é encará-lo com uma expressão que eu só posso imaginar como uma mistura de choque e horror.Sinto os olhares curiosos de todos sobre nós, olho em volta e subitamente me sinto muito pequena. Sinto o peso de cada olhar, julgando, questionando. Procuro por uma rota de fuga, mas a realidade da situação me golpeia com força. Não tem como eu correr.— O que está fazend
Fernando Duarte:Não consigo me concentrar nos desenhos dos designs das novas joias apresentadas nos slides. Na minha mente só vem Laura, especificamente o dia em que nós encontramos pela primeira vez: Sete meses atrás:— Senhor, vim busca-lo — Ana informa por trás da porta.Ajeito o paletó, levanto da poltrona e seguro a maleta com alguns papeis dentro. Saio do quarto e Ana segue atrás de mim, de frente a porta de saída de casa, meus pés travam. Depois de dois anos, sendo perseguido pelas vozes, atormentado pelo passado, torturado pelas lembranças e me sentindo culpado, essa é a quinta vez que saio dessa casa; com o passar do tempo, até a luz do dia começou a me incomodar, ficar no escuro fazia as vozes se calarem.Mas a minha mãe, me tirou de dentro de casa. Ela e a minha irmã, agora sei que foi tudo armado pelas duas, no começo fiquei com raiva, mas agora me controlo melhor.Não quero sair! A minha mente e o meu corpo gritam, aperto com força a alça da maleta,