Fernando Duarte:Não consigo me concentrar nos desenhos dos designs das novas joias apresentadas nos slides. Na minha mente só vem Laura, especificamente o dia em que nós encontramos pela primeira vez: Sete meses atrás:— Senhor, vim busca-lo — Ana informa por trás da porta.Ajeito o paletó, levanto da poltrona e seguro a maleta com alguns papeis dentro. Saio do quarto e Ana segue atrás de mim, de frente a porta de saída de casa, meus pés travam. Depois de dois anos, sendo perseguido pelas vozes, atormentado pelo passado, torturado pelas lembranças e me sentindo culpado, essa é a quinta vez que saio dessa casa; com o passar do tempo, até a luz do dia começou a me incomodar, ficar no escuro fazia as vozes se calarem.Mas a minha mãe, me tirou de dentro de casa. Ela e a minha irmã, agora sei que foi tudo armado pelas duas, no começo fiquei com raiva, mas agora me controlo melhor.Não quero sair! A minha mente e o meu corpo gritam, aperto com força a alça da maleta,
Laura Martins:— Logo você ficará boa — Oliver diz terminando de enfaixar a minha mão, e fecha o kit de primeiros socorros.— Obrigada — agradeço. — Como eu nunca te vi antes? — Questiono curiosa. Oliver, apesar de ter uma beleza quase feminina, é bonito. Seria impossível não reparar nele.— Oliver, está aqui? — A voz de Mike ressoa, antes que Oliver possa me responder. — Oliver, por que você chegou... — ele para de falar ao me ver, então olha para Oliver que está ao meu lado e para mim novamente, repete o movimento mais uma vez e só então repara na minha mão. — O que aconteceu?Mike se aproxima preocupado, pega na minha mão e observa o curativo feito por Oliver.— Está doendo? — Indaga preocupado.— Não, Oliver passou uma pomada de assadura e fez um curativo para a pomada não sair.— O que aconteceu para queimar sua mão assim?— Na sala de reunião, uma mulher do nada fingiu que eu prendi a xícara de café e derrubou ele na minha mãe, depois começou a gritar como eu ousava derruba café
Laura Martins:— Não sabia que era o senhor — respondo, canalizando a tranquilidade de um monge em meditação, embora por dentro estivesse mais para um desenho animado em pânico. — Creio que esclareci isso no restaurante, lembra? Quando você decidiu gritar comigo na frente de todas aquelas pessoas — acrescento, lançando-lhe um olhar significativo.Fernando me encara com uma frieza calculada, seus lábios formam uma linha reta, mas eu percebo uma ligeira hesitação em seus malabarismos com a caneta.— Como conheceu a minha mãe? — Ele dispara a pergunta, e eu quase engasgo com a surpresa.Droga!— Por que acha que eu conheço a sua mãe? — Retruco, tentando soar tão inocente possível, quanto uma criança flagrada fazendo travessuras, enquanto desesperadamente tento ganhar tempo para tecer uma resposta plausível.Fernando para de brincar com a caneta, seu olhar foca intensamente em meu rosto, quase me perfurando e analisando, tentando encontrar a verdade em minhas feições. Falho miseravelmente
Fernando Duarte:— Então, em breve receberei um convite de casamento, é isso? — brinco, enquanto observo Pietro passar as mãos por seus cabelos com uma expressão de quem preferia estar em qualquer outro lugar.Não posso dizer que sei como ele se sente, há três anos, eu estava na mesma situação que ele, em um casamento arranjado, mas tinha apenas uma diferença, eu queria aquele casamento. Pior erro da minha vida.— Melhor eu aproveitar, serão os meus últimos dias solteiro — ele diz, esboçando um sorriso que mais parecia uma careta de dor contida.Eu e Pietro nos tornamos amigos na faculdade, porém enquanto eu fazia o curso de administração, ele fazia medicina, foi um acaso nos tornamos amigos. Apesar de ele ser quatro anos mais novo do que, ele entrou bem cedo na faculdade, agora ele já tem dois anos sendo o melhor cardiologista do hospital de sua família. — Pelo menos ela é bonita — comento, tentando deixar a situação um pouco menos sufocante para ele. — E aí, acha que vai consegui
Laura Martins:— A mamãe vai me matar! — Profiro observando a travessa de vidro espatifada na pia.— Laura!? — A voz de Luciano ressoa por trás de mim, viro-me para ele com os olhos cheios de lágrimas. — O que aconteceu? Por que gritou? — Ele indaga preocupado. Meu lábio treme.— A travessa... que..quebrou — gaguejo com a voz aflita. — Não foi de proposito — apresso em me defender. — Eu só coloquei em cima da pia, e aí ela estourou — explico em prantos.Meu irmão se aproxima de mim, com os polegares ele enxuga as minhas lágrimas.— Tão bobinha, o que você estava fazendo com a travessa?— Eu queria fazer um bolo para você, com mousse, por isso usei a travessa — explico. — Queria te acordar e cantar os parabéns, mas só fiz gritar e a agora a mamãe vai me bater — falo e começo a chorar ainda mais, Luciano me abraça e alisa as minhas costas, aos poucos vou me acalmando.— Vá para o quarto e tome banho, não conte nada para a mãe, deixa que o seu mano resolve, tá bem?Balanço a cabeça que s
Laura Martins: — O que quer dizer? — Questiono ainda um pouco aérea. — Bom dia, Laura — Ana, chama minha atenção com um cumprimento antes de seguir junto a mãe de Fernando para dentro da minha casa. — O que fazem aqui? — Questiono, e fecho a porta da minha casa. — Tratar de negócios, querida — Cristiane fala enquanto se senta no sofá. Ana também se senta, vou até a cozinha e pego minha cadeira, me juntando a elas na sala. — O jantar na quinta-feira com Fernando foi um fracasso, passei a sexta inteira pensando em como poderia aproximar vocês dois, sem que ele perceba essa armação. — Entendo — digo apenas. — Hoje à noite, vai acontecer um evento beneficente no hospital, para o tratamento de crianças com câncer, para ajudar aquelas que não tem condições de pagar o tratamento — Cristiane diz. — Vai ser no hospital Vivaz? — Questiono, eu já ouvir falar muito nesse hospital, tem uma rede imensa espalhada por todo o país, de acordo com as minhas pesquisas, ele ocupa o lugar número 1
Laura Martins:Observo Cristiane desaparecer por entre as portas do hospital."Calma, coração, calma!" — Digo a mim mesma, tentando controlar o nervosismo. Como que ele vai reagir? Eu deveria ter aceito o vestido novo, e se ele pensar que eu não tenho outra roupa?“Mas você não tem outra roupa” — a voz insistente da minha consciência me lembra, como se eu já não soubesse da minha limitada seleção de vestuário. “Ele não precisa saber disso,” contra-argumento em pensamentos.Vários carros estacionam e pessoas elegantes saem de dentro, vestindo roupas chiques e ternos pomposos. Mordo os lábios. Pego meu celular na bolsa e confiro mais uma vez o horário, são quase vinte horas.Viro o rosto e observo mais um carro preto estacionar, apenas uns dois metros distante de mim; a porta se abre um homem sai, demoro um pouco, mas consigo reconhecer, é homem que entrou ontem na sala de Fernando, o nome dele... Pietro, isso, é Pietro. Ele está bonito, o terno chique lhe caiu bem, ele dá a volta no ca
Laura Martins: Ao passar pela porta giratória, o ar gélido dos ar-condicionados invade os meus pulmões, junto com o cheiro da limpeza antisséptica. As luzes brancas reforçam a sensação de que o ambiente está ainda mais estéril. Várias mesas pelo pavilhão da recepção, praticamente todas ocupadas, as pessoas conversam entre si, observo algumas jovens andando por entre as mesas, conversando com os rapazes; todas bem vestidas, cabelos perfeitamente arrumados em penteados que combinam com o formato de seus rostos. Levo uma mão até o meu cabelo, o qual apenas lavei, passei creme e deixei solto, agora ele já está seco e cacheado na altura dos meus ombros. Pelo canto do olho, localizo Cristiane sentada em uma mesa, junto a sua filha, também tem um senhor. Será que é o pai de Fernando? Começo a caminhar entre as mesas, mas paro ao sentir a mão de Fernando em minha cintura. — O que... — Por aqui — ele responde sem me deixar terminar a pergunta. Deixo que ele me guie, caminhamos até uma me