Laura Martins:— A mamãe vai me matar! — Profiro observando a travessa de vidro espatifada na pia.— Laura!? — A voz de Luciano ressoa por trás de mim, viro-me para ele com os olhos cheios de lágrimas. — O que aconteceu? Por que gritou? — Ele indaga preocupado. Meu lábio treme.— A travessa... que..quebrou — gaguejo com a voz aflita. — Não foi de proposito — apresso em me defender. — Eu só coloquei em cima da pia, e aí ela estourou — explico em prantos.Meu irmão se aproxima de mim, com os polegares ele enxuga as minhas lágrimas.— Tão bobinha, o que você estava fazendo com a travessa?— Eu queria fazer um bolo para você, com mousse, por isso usei a travessa — explico. — Queria te acordar e cantar os parabéns, mas só fiz gritar e a agora a mamãe vai me bater — falo e começo a chorar ainda mais, Luciano me abraça e alisa as minhas costas, aos poucos vou me acalmando.— Vá para o quarto e tome banho, não conte nada para a mãe, deixa que o seu mano resolve, tá bem?Balanço a cabeça que s
Laura Martins: — O que quer dizer? — Questiono ainda um pouco aérea. — Bom dia, Laura — Ana, chama minha atenção com um cumprimento antes de seguir junto a mãe de Fernando para dentro da minha casa. — O que fazem aqui? — Questiono, e fecho a porta da minha casa. — Tratar de negócios, querida — Cristiane fala enquanto se senta no sofá. Ana também se senta, vou até a cozinha e pego minha cadeira, me juntando a elas na sala. — O jantar na quinta-feira com Fernando foi um fracasso, passei a sexta inteira pensando em como poderia aproximar vocês dois, sem que ele perceba essa armação. — Entendo — digo apenas. — Hoje à noite, vai acontecer um evento beneficente no hospital, para o tratamento de crianças com câncer, para ajudar aquelas que não tem condições de pagar o tratamento — Cristiane diz. — Vai ser no hospital Vivaz? — Questiono, eu já ouvir falar muito nesse hospital, tem uma rede imensa espalhada por todo o país, de acordo com as minhas pesquisas, ele ocupa o lugar número 1
Laura Martins:Observo Cristiane desaparecer por entre as portas do hospital."Calma, coração, calma!" — Digo a mim mesma, tentando controlar o nervosismo. Como que ele vai reagir? Eu deveria ter aceito o vestido novo, e se ele pensar que eu não tenho outra roupa?“Mas você não tem outra roupa” — a voz insistente da minha consciência me lembra, como se eu já não soubesse da minha limitada seleção de vestuário. “Ele não precisa saber disso,” contra-argumento em pensamentos.Vários carros estacionam e pessoas elegantes saem de dentro, vestindo roupas chiques e ternos pomposos. Mordo os lábios. Pego meu celular na bolsa e confiro mais uma vez o horário, são quase vinte horas.Viro o rosto e observo mais um carro preto estacionar, apenas uns dois metros distante de mim; a porta se abre um homem sai, demoro um pouco, mas consigo reconhecer, é homem que entrou ontem na sala de Fernando, o nome dele... Pietro, isso, é Pietro. Ele está bonito, o terno chique lhe caiu bem, ele dá a volta no ca
Laura Martins: Ao passar pela porta giratória, o ar gélido dos ar-condicionados invade os meus pulmões, junto com o cheiro da limpeza antisséptica. As luzes brancas reforçam a sensação de que o ambiente está ainda mais estéril. Várias mesas pelo pavilhão da recepção, praticamente todas ocupadas, as pessoas conversam entre si, observo algumas jovens andando por entre as mesas, conversando com os rapazes; todas bem vestidas, cabelos perfeitamente arrumados em penteados que combinam com o formato de seus rostos. Levo uma mão até o meu cabelo, o qual apenas lavei, passei creme e deixei solto, agora ele já está seco e cacheado na altura dos meus ombros. Pelo canto do olho, localizo Cristiane sentada em uma mesa, junto a sua filha, também tem um senhor. Será que é o pai de Fernando? Começo a caminhar entre as mesas, mas paro ao sentir a mão de Fernando em minha cintura. — O que... — Por aqui — ele responde sem me deixar terminar a pergunta. Deixo que ele me guie, caminhamos até uma me
Laura Martins:Fernando se levanta, piscando os olhos, como se estivesse se sentindo tão perdido quanto eu e precisasse se orientar. Observo a garota mais alta do que eu o abraçar; olho para trás, Cristiane e o outro senhor também se aproximam.— Quem é ela? — A menina pergunta, agora de frente para mim. Ela me analisa, faço o mesmo com ela, observo os seus cabelos bonitos loiros soltos em ondas caindo por seus ombros, o vestido longo de cor azul céu, o vestido não mostrar as curvas de seu corpo um pouco cheinho, porém, preciso admitir, essa menina está linda, ela tem nas mãos uma pena bolsinha.— Não quer apresenta-la a Fernanda, mãe? — Fernando intica a mãe, engulo seco.— A senhora a conhecesse, mamãe? — Ela indaga, olhando para a mãe, mas logo voltando a falar comigo. — Você não é a moça que estava conversando com a minha mãe do lado de fora?Molho a boca, céus, como ela conseguiu me ver atrás daquele vaso? Ou será que ela me viu quando Cristiane olhou para trás antes de ir com el
Fernando Duarte:Sinto que não estou no controle do meu corpo, as minhas pernas querem correr para o mais longe de todos daqui. Sinto os meus dedos trêmulos e a boca seca.Eu deveria ter ficado em casa!Tento respirar fundo, preciso admitir, eu estava tento uma noite agradável. Observar as expressões de Laura para as crianças foi algo estranho, foi bonito e tocante, ela parecia realmente tocada com cada apresentação. Vê-la imitar a coreografia das crianças e ouvi-la cantar aquela música infantil foi engraçado e me fez imaginar ela cantando para os meus filhos... esse pensamento me assustou. Que tipo de merda eu estava delirando?— O que você achou das apresentações das crianças? — Ouço a voz de Laura ao meu lado.— Bom — respondo, mantendo a voz neutra.— Eu também achei, muito bom. Tão pequenas, e já estão passando por tanta coisa. Imagino o desespero que os pais daquelas crianças não deveriam estar sentindo, ainda mais por não terem dinheiro para o tratamento.— Por isso aconteceu e
Laura Martins:— Laura?— Oi? Que foi?— Laura?— Que é?— Laura!— Oi, caramba!— Acorda! — Sinto o meu ombro ser chacoalhado.— O, o que aconteceu? — Questiono enquanto minhas vistam desembaçam.— Pensei que tinha morrido sobre meu ombro — Fernando fala, o choque da realidade b**e em minha mente como um soco me fazendo arregalar os olhos.— Eu dormi no seu ombro — constato nervosamente, agora consigo perceber a baba seca no canto da minha boca, olho para o ombro dele e a enxergo lá também.— Estou aprovado como travesseiro? — Provoca.— Muito duro — respondo.— Prefere mole?— Meio termo — respondo inocente, mas o seu sorriso malicioso me faz entender. — Seu idiota! — Xingo-o constrangida. Desvio o olhar do dele.— Como não sei onde fica a sua casa, paramos aqui nesse ponto — ele informa.— Obrigada — digo rápido e abro a porta do carro correndo para fora. — Obrigada, senhor Pedro — aceno com a cabeça.Sentindo toda a minha cara quente, como se eu tivesse comido uma pimenta malagueta
Fernando Duarte:— Ela é muito bonita, senhor — desvio minha atenção da janela para o retrovisor, onde o meu olhar se encontra com o dele.— Quem?— A moça que o senhor estava dando em cima — me engasgo e começo a tossir.— Não dei em cima dela — me defende recuperando o fôlego.Pedro balança a cabeça descrente enquanto sorrir sem mostrar os dentes. Nenhum de nós dois falamos mais nada, o restante do caminho é feito em silêncio.— Obrigado, Pedro, tenha uma boa-noite! — Me despeço dele e encontro em casa.Subo as escadas com passos pesados, arrastando-me até meu quarto. As roupas são arrancadas do meu corpo e jogadas sem cerimônia pelo chão. No banheiro, a luz branca parece penetrar minha mente como uma lâmina afiada, cortando a escuridão que tento desesperadamente abraçar. Desligo a luz, mergulhando na penumbra reconfortante do espaço confinado.Conhecendo o caminho de cor, adentro o box e ligo o chuveiro. Os jatos fortes de água fria caiem sob meu cabelo, rosto e corpo. O som da águ