Laura Martins:— Relaxe os braços — o doutor Mendes pede enquanto me ajeito na maca. Respiro fundo e sigo suas instruções, tentando ignorar o frio que se infiltra em minha pele. Deveria ter vindo mais agasalhada, pelo menos meus braços estariam protegidos do ar-condicionado implacável.Sinto a pressão das pontas dos dedos cobertas pela luva branca sobre meus seios nus. Que frio! Embora saiba que é normal, e o próprio médico tenha explicado, sinto um rubor de vergonha aquecer meu rosto. Fecho os olhos enquanto o doutor Mendes realiza movimentos circulares em toda a extensão do meu seio.— Levante o braço — obedeço ao seu pedido e ele continua os movimentos, desta vez na minha axila, antes de retornar ao meu seio.Um frêmito de nervosismo me percorre quando sinto uma secreção escapar do meu mamilo devido à pressão dos dedos do médico. Sei que é apenas um efeito colateral da doença, e também sei que é uma bobagem da minha parte, mas ainda assim me sinto constrangida, talvez ficasse menos
Fernando Duarte: Olho no relógio e já são dez de quarenta. Respiro fundo enquanto me ajeito em minha cadeira acolchoada. Por algum motivo idiota, hoje eu me senti ansioso para vim trabalhar. Ao chegar, até me senti ridículo, andei pela empresa com os meus olhos vagando por todos os contos, analisando os rostos, os meus olhos eles queriam vê-la de novo... — Senhor, precisamos ir agora — a voz da minha secretária ressoa pelo interfone interrompendo os meus pensamentos. — Prepare o carro — respondo-a dando uma ordem. Ajeito o meu paletó e saio da minha sala, Amanda já me espera segurando os catálogos dos melhores modelos que temos para apresentação. Caminho para fora da empresa com Amanda atrás de mim, ao sair pela porta giratória, Pedro já estar com o carro estacionado. Eu odeio quando preciso me reunir fora da empresa, estava sendo um enorme sacrifício sair de casa para vim, e agora ter que sair daqui para outros lugares, com várias pessoas desconhecidas me deixa muito estressado.
Laura Martins: — Mamãeee! — Maya grita, alegremente e pula no meu colo assim que a minha vizinha, Camily, abre a porta de sua casa. Ao segurá-la, minhas pernas bambeiam, sinto as cores se misturarem em meus olhos. Dou passos para trás, minhas vistas começam a ficar turvas e escuras. Céus, eu estou tonta! Tento segurar Maya com mais firmeza, porém meus braços estão moles e sem forças, estou cedendo... Maya vai cair comigo, preciso de ajuda, mas ao abrir a boca não sai nenhum som. Meu coração palpita tão forte que chega a doer, estou na ponta da escada. As lágrimas queimam em meus olhos. — Laura? — Ouço de longe uma voz me chamar. Ao não receber nenhuma resposta, Maya é retirada dos meus braços. Agora me curvo para frente, evitando cair da escada. Camily me segura e me ajuda a sentar nas escadas de sua casa. — Espera, vou pegar água para você. Fecho os olhos, droga! Suspiro, foi quase como da vez que desmaiei no banheiro da empresa, por sorte, dessa vez eu não bati a minha cabeça em
Laura Martins:Ao sair do elevador, o corredor até a sala de Fernando parece ser mais curto que o normal à minha frente. Os passos com as minhas galochas ecoam contra o chão no silencio da minha caminhada sob o tapete cinza.Diante da porta do escritório de Fernando, sinto as mãos suarem e o meu coração acelerar em expectativas dos tipos de mentiras terei que falar para convencê-lo. Respiro fundo, tentando controlar a respiração, mas meu peito está tão apertado que parece que não consigo obter ar suficiente. É como se eu estivesse prestes a pular de um precipício sem ter certeza do que me espera lá embaixo.Enquanto espero um momento para me recompor, minha mente vagueia em como devo agir. Como faço para seduzir um homem? E não um homem qualquer, mas um homem como ele que exala poder e confiança, que não liga de ser grosseiros com os outros, que apenas um olhar é capaz de congelar completamente todo um ambiente caloroso.Como alguém como eu, cheia de insegurança e de uma classe inferi
Laura Martins:— Laura! — Ouço o meu nome sendo chamado com urgência. — Você está bem? — Mike pergunta, enquanto agarra os meus ombros. Pisco os olhos desnorteada, estava tão imersa que nem o vi se aproximando.— Si-sim — gaguejo um pouco, mas logo me recomponho e saio do aperto dele. — O que estão fazendo aqui? — Pergunto, por cima do ombro de Mike vejo Oliver encostado ao lado do elevador, ele se aproxima.— Ficamos preocupados, é a segunda vez, em menos de uma semana, que o chefe te chama na sala dele — Oliver explica, com um olhar preocupado.— Ah, owmm, vocês são tão fofinhos — digo com um enorme sorriso, enquanto aperto um lado da bochecha de cada um deles ao mesmo tempo.— Chega, chega — Oliver logo tira minha mão de sua bochecha. Tão tímido, ele é muito fofo. — Ela sempre foi assim? — Oliver sussurrar para Mike.— Nem sempre, mas é parte do charme dela, não é? — Mike responde, dando de ombros com um sorriso divertido.— Ata, entendi — Oliver diz e coloca as mãos em seus bolsos
Fernando Duarte:“Nem eu sei o porquê” — a respondo mentalmente, mas para ela, permaneço em silêncio. Onde eu estava com a porcaria da cabeça quando a trouxe para a minha casa? Agir por impulso, queria provoca-la e agora estamos aqui.Estou um pouco arrependido, eu não devia ter a trazido aqui e muito menos ter dito para ela mesma preparar o almoço.O meu coração bate descompassado em meu peito, as minhas mãos estão um pouco suadas e levemente trêmulas. Estou nervoso e uma ponta de culpa me bate na consciência. Já tem quase um ano que voltei a trabalhar, porém, hoje eu não queria ir para a empresa. Queria apenas ficar em casa, no frio e escuro enquanto escutava todas as vozes gritarem na minha cabeça, me acusando e me lembrando os porquês de eu não merecer ser feliz.Hoje, é o aniversário de três anos de morte da minha falecida esposa – fico com um gosto amargo na boca só de me lembrar que um dia já fui casado com aquela mulher. – Quando sugerir que viéssemos para cá, eu estava tão en
Cristiane Mendonça:Ao ouvir a notificação de uma nova mensagem e ver quem a mandou, uma onda de ansiedade e preocupação me envolve instantaneamente. Meu coração aperta-se em meu peito enquanto leio cada palavra, com os olhos fixos na tela do celular: Secretaria Amanda: “O senhor Fernando saiu já tem mais de uma hora da empresa e ainda não retornou, tentei ligar para ele, mas o celular só dá caixa postal. Cancelei os dois próximos compromissos dele para à tarde.”As palavras lidas ressoam em minha mente, evocando lembranças dolorosas dos últimos anos antes de Fernando voltar para a empresa. Imagens de meu filho sozinho e desolado em seu quarto escuro e frio irrompem em minha consciência. Lembro claramente dos seus punhos serrados socando-se várias e várias, o rosto molhado de lágrimas e os gritos ecoando por toda a casa vazia. Ele repetia sem cessar:“Eu sei que a culpa é mim, sei que é quem deveria estar morto. Pare! Cala-se! Saia da minha cabeça!”.Cada palavra carregada de dor e s
Fernando Duarte:— Aaah! — Grito, enquanto com força lanço tudo o que estava sobre o balcão ao chão. Os potes de tempero e os pratos de porcelana estilhaçam-se em cacos, espalhando-se pelo piso da cozinha. Merda, merda, merdaaaa!O som estridente dos estilhaços e dos talheres misturam-se ao apito do temporizador, indicando que o macarrão de forno preparado por Laura já está pronto.Ignoro os pedaços de vidro sob meus pés descalços, sinto o impacto agudo das lascas perfurando a minha pele, mas não dou importância. Pego a luva térmica ao lado do fogão e retiro a forma fumegante do forno, coloco-a abruptamente sobre a bancada.As lágrimas queimam nos meus canais lacrimais, acumulam-se nos meus olhos e escorrem livremente por minhas bochechas. Soluços sufocam a minha garganta, apoio as minhas costas no balcão, deslizo até estar sentado no chão frio dessa cozinha. O cheiro metálico do sangue misturado ao aroma do macarrão invade as minhas narinas, mas não me importo. Nada disso importa ago