Cristiane Mendonça:Ao ouvir a notificação de uma nova mensagem e ver quem a mandou, uma onda de ansiedade e preocupação me envolve instantaneamente. Meu coração aperta-se em meu peito enquanto leio cada palavra, com os olhos fixos na tela do celular: Secretaria Amanda: “O senhor Fernando saiu já tem mais de uma hora da empresa e ainda não retornou, tentei ligar para ele, mas o celular só dá caixa postal. Cancelei os dois próximos compromissos dele para à tarde.”As palavras lidas ressoam em minha mente, evocando lembranças dolorosas dos últimos anos antes de Fernando voltar para a empresa. Imagens de meu filho sozinho e desolado em seu quarto escuro e frio irrompem em minha consciência. Lembro claramente dos seus punhos serrados socando-se várias e várias, o rosto molhado de lágrimas e os gritos ecoando por toda a casa vazia. Ele repetia sem cessar:“Eu sei que a culpa é mim, sei que é quem deveria estar morto. Pare! Cala-se! Saia da minha cabeça!”.Cada palavra carregada de dor e s
Fernando Duarte:— Aaah! — Grito, enquanto com força lanço tudo o que estava sobre o balcão ao chão. Os potes de tempero e os pratos de porcelana estilhaçam-se em cacos, espalhando-se pelo piso da cozinha. Merda, merda, merdaaaa!O som estridente dos estilhaços e dos talheres misturam-se ao apito do temporizador, indicando que o macarrão de forno preparado por Laura já está pronto.Ignoro os pedaços de vidro sob meus pés descalços, sinto o impacto agudo das lascas perfurando a minha pele, mas não dou importância. Pego a luva térmica ao lado do fogão e retiro a forma fumegante do forno, coloco-a abruptamente sobre a bancada.As lágrimas queimam nos meus canais lacrimais, acumulam-se nos meus olhos e escorrem livremente por minhas bochechas. Soluços sufocam a minha garganta, apoio as minhas costas no balcão, deslizo até estar sentado no chão frio dessa cozinha. O cheiro metálico do sangue misturado ao aroma do macarrão invade as minhas narinas, mas não me importo. Nada disso importa ago
Fernanda Mendonça: — Será que ele vai achar muito exagerado? — Indago a mim mesma enquanto observo pelo espelho grande do closet o meu vestido vermelho tomara-que-caia, justo do busto até a cintura e rodado até os joelhos. Eu já perdi as contas de quantas vezes troquei de roupa sem me sentir confortável em nenhuma. Simplesmente, até as roupas que eu me sentia bem, agora me fazem parecer vinte quilos mais gorda do que já sou. Eu não costumava ligar para os comentários alheios, porque a minha família e Pietro sempre me dizem que eu estava linda e me sentir bem comigo mesma é o mais importante. Contudo, desde que Pietro oficializou o noivado com a sobrinha de Adélia –a mãe da falecida esposa do meu irmão e já até tem a sua data de casamento marcada– os comentários da mãe dele ficaram mais agressivos e bem indiscretos, o que vem me deixando extremamente triste e insegura. Pietro também parou de ficar me elogiando e tem passado mais tempo com a sua noiva, a penúltima vez que o vi foi no
Laura Martins:— O que está acontecendo? — Mike indaga, segurando o meu pulso com firmeza. Olho em seus olhos e vejo sua real preocupação para comigo. Desvio o olhar para Oliver e ele também me olha preocupado.Mordo os lábios, desde de que comecei a trabalhar aqui, aconteceram tantas coisas boas comigo. Mesmo alguns meses depois eu recebendo a notícia de que estava com câncer, daqui também saiu a minha salvação. — Eu tenho que ir buscar a minha filha na creche — respondo, após soltar um longo suspiro.— Filha!? — Mike e Oliver indagam juntos, ambos com as sobrancelhas arqueadas e a boca aberta em total surpresa.— Sim — digo, Mike finalmente solta a minha mão.— Por que nunca me contou que tem uma filha? — Mike indaga. — Eu sei que só conhece Oliver a uma semana, então entendo não contar a ele, mas eu? Cara, nos conhecemos a oito meses! Oito meses! — enfatiza, deixando claro sua chateação. — Poxa, pensei que fossemos amigos.— E somos! — Afirmo segurando a sua mão. — Tenho muita con
Fernando Duarte:Confiro mais uma vez as horas no relógio digital do meu celular, os números luminosos marcam exatamente vinte e duas horas. Uma sensação de ansiedade palpita em cada ponta dos meus dedos, fazendo-me agitar o celular entre as mãos. Perdi a conta de quantas vezes peguei o aparelho, ascendi e apaguei a tela, como se esse simples ato pudesse adiantar o tempo ou trazer alguma resposta a algo que eu sequer perguntei.Cada segundo parece uma eternidade enquanto aguardo meu coração batendo descompassado no peito se acalmar.“Por que está assim? Voltou a ser um adolescente, foi?” — Meu subconsciente debocha de mim diante a minha covardia. “Um homem de trinta e dois anos com medinho de enviar uma mensagem” — reviro os olhos com o quão provocador a minha mente está hoje; num rompante de inconformação com os meus pensamentos, começo a digitar, o toque suave das teclas digitais do celular sob meus dedos é como uma dança ansiosa, escrevo e apago várias vezes.Drogaaa! F
Laura Martins:Oliver olha para Mike com uma sobrancelha arqueada, alternando o olhar entre ele e a mão estendida em sua direção, como se estivesse decifrando um enigma complexo.— O que quer? — Oliver pergunta, sua expressão um misto de curiosidade e desconfiança.— Hoje, os homens que pagam a conta — responde Mike, repetindo a frase com uma ponta de impaciência, seus olhos rolando em um gesto de exasperação.A reação de Oliver é impagável. Ele franze o cenho, como se estivesse ponderando a situação, e então solta a pérola:— Então pague — declara, com um gesto casual, como se estivesse sugerindo a solução mais óbvia do mundo, e volta sua atenção para o celular, como se nada tivesse acontecido.Prendo o riso diante a resposta de Oliver enquanto Mike olha para ele com uma expressão de incredulidade, como se não pudesse acreditar no que acaba de ouvir.— E o senhor, tio Oliver? — Maya indaga, sua voz inocente quebrando o breve impasse, trazendo Oliver de volta à realidade.Oliver fecha
Laura Martins: — A porta, está aberta, o sr. Fernando está esperando-a na cozinha — Pedro avisa quando saio do carro. Aceno com a cabeça e percorro o caminho de pedras entre as flores até a entrada da casa de Fernando, ao passar pelo umbral da porta, minhas narinas são preenchidas por um delicioso aroma, seguindo o cheiro, faço o caminho até a cozinha de Fernando. Ao adentra, meus olhos são imediatamente atraídos para Fernando, cujo o corpo está curvado sobre o balcão da pia, imerso em uma concentração intensa. Seus movimentos são precisos e coordenados; ele está tão absorto que sequer escuta o som das minhas galochas contra a piso aproximando-se por suas costas. A nossa diferença de altura é notável, mas com sua postura inclinada me permite ter uma visão clara por cima de seus ombros dos pratos que ele está arrumando. Fico nas pontas dos pés, para ficar mais próxima de seu ouvido, o cheiro do seu perfume amadeirado invade o meu nariz fazendo o meu coração soltar uma batida. Que ch
Fernando Duarte: O meu coração b**e tão rápido que chega a ser doloroso, fiquei tão assustado quando a vi sendo engolida pelas águas claras da piscina que um choque de medo percorreu todo o meu corpo me arrepiando horrivelmente; eu não deveria ter soltado a bicicleta, para começo eu sequer deveria ter sugerido ensina-la, se ela se afogar a culpa vai ser somente minha. Apesar da minha extrema preocupação, enquanto tiro os seus fios molhados de seu rosto, para ter garantias que ela não se machucou, noto ainda mais a sua beleza, gotas de água deslizando por seu rosto e algumas contornando a sua boca entreaberta não ajuda em nada o meu coração a se acalmar. Os olhos de Laura descem para a minha boca, encarando-a com uma intensidade tão grande que a sinto formigar sob seu olhar. Sua respiração é calma, contrastando com a agitação que parece tomar conta de mim. Mas, de repente, antes que eu possa processar a situação, Laura se lança em minha direção, colando a sua boca na minha, pego de s