Laura Martins:Observo Cristiane desaparecer por entre as portas do hospital."Calma, coração, calma!" — Digo a mim mesma, tentando controlar o nervosismo. Como que ele vai reagir? Eu deveria ter aceito o vestido novo, e se ele pensar que eu não tenho outra roupa?“Mas você não tem outra roupa” — a voz insistente da minha consciência me lembra, como se eu já não soubesse da minha limitada seleção de vestuário. “Ele não precisa saber disso,” contra-argumento em pensamentos.Vários carros estacionam e pessoas elegantes saem de dentro, vestindo roupas chiques e ternos pomposos. Mordo os lábios. Pego meu celular na bolsa e confiro mais uma vez o horário, são quase vinte horas.Viro o rosto e observo mais um carro preto estacionar, apenas uns dois metros distante de mim; a porta se abre um homem sai, demoro um pouco, mas consigo reconhecer, é homem que entrou ontem na sala de Fernando, o nome dele... Pietro, isso, é Pietro. Ele está bonito, o terno chique lhe caiu bem, ele dá a volta no ca
Laura Martins: Ao passar pela porta giratória, o ar gélido dos ar-condicionados invade os meus pulmões, junto com o cheiro da limpeza antisséptica. As luzes brancas reforçam a sensação de que o ambiente está ainda mais estéril. Várias mesas pelo pavilhão da recepção, praticamente todas ocupadas, as pessoas conversam entre si, observo algumas jovens andando por entre as mesas, conversando com os rapazes; todas bem vestidas, cabelos perfeitamente arrumados em penteados que combinam com o formato de seus rostos. Levo uma mão até o meu cabelo, o qual apenas lavei, passei creme e deixei solto, agora ele já está seco e cacheado na altura dos meus ombros. Pelo canto do olho, localizo Cristiane sentada em uma mesa, junto a sua filha, também tem um senhor. Será que é o pai de Fernando? Começo a caminhar entre as mesas, mas paro ao sentir a mão de Fernando em minha cintura. — O que... — Por aqui — ele responde sem me deixar terminar a pergunta. Deixo que ele me guie, caminhamos até uma me
Laura Martins:Fernando se levanta, piscando os olhos, como se estivesse se sentindo tão perdido quanto eu e precisasse se orientar. Observo a garota mais alta do que eu o abraçar; olho para trás, Cristiane e o outro senhor também se aproximam.— Quem é ela? — A menina pergunta, agora de frente para mim. Ela me analisa, faço o mesmo com ela, observo os seus cabelos bonitos loiros soltos em ondas caindo por seus ombros, o vestido longo de cor azul céu, o vestido não mostrar as curvas de seu corpo um pouco cheinho, porém, preciso admitir, essa menina está linda, ela tem nas mãos uma pena bolsinha.— Não quer apresenta-la a Fernanda, mãe? — Fernando intica a mãe, engulo seco.— A senhora a conhecesse, mamãe? — Ela indaga, olhando para a mãe, mas logo voltando a falar comigo. — Você não é a moça que estava conversando com a minha mãe do lado de fora?Molho a boca, céus, como ela conseguiu me ver atrás daquele vaso? Ou será que ela me viu quando Cristiane olhou para trás antes de ir com el
Fernando Duarte:Sinto que não estou no controle do meu corpo, as minhas pernas querem correr para o mais longe de todos daqui. Sinto os meus dedos trêmulos e a boca seca.Eu deveria ter ficado em casa!Tento respirar fundo, preciso admitir, eu estava tento uma noite agradável. Observar as expressões de Laura para as crianças foi algo estranho, foi bonito e tocante, ela parecia realmente tocada com cada apresentação. Vê-la imitar a coreografia das crianças e ouvi-la cantar aquela música infantil foi engraçado e me fez imaginar ela cantando para os meus filhos... esse pensamento me assustou. Que tipo de merda eu estava delirando?— O que você achou das apresentações das crianças? — Ouço a voz de Laura ao meu lado.— Bom — respondo, mantendo a voz neutra.— Eu também achei, muito bom. Tão pequenas, e já estão passando por tanta coisa. Imagino o desespero que os pais daquelas crianças não deveriam estar sentindo, ainda mais por não terem dinheiro para o tratamento.— Por isso aconteceu e
Laura Martins:— Laura?— Oi? Que foi?— Laura?— Que é?— Laura!— Oi, caramba!— Acorda! — Sinto o meu ombro ser chacoalhado.— O, o que aconteceu? — Questiono enquanto minhas vistam desembaçam.— Pensei que tinha morrido sobre meu ombro — Fernando fala, o choque da realidade b**e em minha mente como um soco me fazendo arregalar os olhos.— Eu dormi no seu ombro — constato nervosamente, agora consigo perceber a baba seca no canto da minha boca, olho para o ombro dele e a enxergo lá também.— Estou aprovado como travesseiro? — Provoca.— Muito duro — respondo.— Prefere mole?— Meio termo — respondo inocente, mas o seu sorriso malicioso me faz entender. — Seu idiota! — Xingo-o constrangida. Desvio o olhar do dele.— Como não sei onde fica a sua casa, paramos aqui nesse ponto — ele informa.— Obrigada — digo rápido e abro a porta do carro correndo para fora. — Obrigada, senhor Pedro — aceno com a cabeça.Sentindo toda a minha cara quente, como se eu tivesse comido uma pimenta malagueta
Fernando Duarte:— Ela é muito bonita, senhor — desvio minha atenção da janela para o retrovisor, onde o meu olhar se encontra com o dele.— Quem?— A moça que o senhor estava dando em cima — me engasgo e começo a tossir.— Não dei em cima dela — me defende recuperando o fôlego.Pedro balança a cabeça descrente enquanto sorrir sem mostrar os dentes. Nenhum de nós dois falamos mais nada, o restante do caminho é feito em silêncio.— Obrigado, Pedro, tenha uma boa-noite! — Me despeço dele e encontro em casa.Subo as escadas com passos pesados, arrastando-me até meu quarto. As roupas são arrancadas do meu corpo e jogadas sem cerimônia pelo chão. No banheiro, a luz branca parece penetrar minha mente como uma lâmina afiada, cortando a escuridão que tento desesperadamente abraçar. Desligo a luz, mergulhando na penumbra reconfortante do espaço confinado.Conhecendo o caminho de cor, adentro o box e ligo o chuveiro. Os jatos fortes de água fria caiem sob meu cabelo, rosto e corpo. O som da águ
Laura Martins:— Relaxe os braços — o doutor Mendes pede enquanto me ajeito na maca. Respiro fundo e sigo suas instruções, tentando ignorar o frio que se infiltra em minha pele. Deveria ter vindo mais agasalhada, pelo menos meus braços estariam protegidos do ar-condicionado implacável.Sinto a pressão das pontas dos dedos cobertas pela luva branca sobre meus seios nus. Que frio! Embora saiba que é normal, e o próprio médico tenha explicado, sinto um rubor de vergonha aquecer meu rosto. Fecho os olhos enquanto o doutor Mendes realiza movimentos circulares em toda a extensão do meu seio.— Levante o braço — obedeço ao seu pedido e ele continua os movimentos, desta vez na minha axila, antes de retornar ao meu seio.Um frêmito de nervosismo me percorre quando sinto uma secreção escapar do meu mamilo devido à pressão dos dedos do médico. Sei que é apenas um efeito colateral da doença, e também sei que é uma bobagem da minha parte, mas ainda assim me sinto constrangida, talvez ficasse menos
Fernando Duarte: Olho no relógio e já são dez de quarenta. Respiro fundo enquanto me ajeito em minha cadeira acolchoada. Por algum motivo idiota, hoje eu me senti ansioso para vim trabalhar. Ao chegar, até me senti ridículo, andei pela empresa com os meus olhos vagando por todos os contos, analisando os rostos, os meus olhos eles queriam vê-la de novo... — Senhor, precisamos ir agora — a voz da minha secretária ressoa pelo interfone interrompendo os meus pensamentos. — Prepare o carro — respondo-a dando uma ordem. Ajeito o meu paletó e saio da minha sala, Amanda já me espera segurando os catálogos dos melhores modelos que temos para apresentação. Caminho para fora da empresa com Amanda atrás de mim, ao sair pela porta giratória, Pedro já estar com o carro estacionado. Eu odeio quando preciso me reunir fora da empresa, estava sendo um enorme sacrifício sair de casa para vim, e agora ter que sair daqui para outros lugares, com várias pessoas desconhecidas me deixa muito estressado.