Aquela noite estava um pouco diferente das demais, não apenas porque a lua não emitia seu brilho, mas porque acontecia uma guerra no interior da floresta, nos arredores da cidade de Ames — Iowa, nos Estados Unidos. Os trovões ecoavam pela noite, com uivos e rosnados que poderia gelar a espinha de qualquer ser humano, os relâmpagos cortavam o céu e clareavam a noite escura e chuvosa, que lavava o rastro de sangue deixado na alcateia da lua de sangue.
— Desista Philip, a alcateia já foi tomada e você não está em condições de lutar — falou Quinton através do link mental.
— Como teve a coragem de trair sua alcateia e seu Alfa? Você era meu melhor guerreiro, meu Gamma — falou Philip com a respiração ofegante.
— Nisso você tem razão, sou o melhor guerreiro da alcateia e posso expandir ainda mais nosso território, coisa que você insiste em não fazer.
— Eu quero evitar uma guerra desnecessária, não vê que quero proteger minha matilha? — gritou e um relâmpago clareou os céus.
O enorme lobo preto de olhos âmbar, cambaleou mais uma vez, seu homem de confiança, havia o traído e ainda conseguiu aplicar nele uma quantia generosa de acônito. Quinton não conseguiu aplicar toda seringa, que seria o suficiente para matar seu alfa, mas aquilo ainda o deixou fraco e debilitado. Philip pôde ver seu Beta ser derrubado e ficar no chão, o que ele mais temia e menos queria, havia acabado de acontecer, uma guerra, uma traição, seus guerreiros sendo mortos e membros inocentes sendo mortos.
O Alfa avançou mais uma vez em direção ao traidor, em circunstâncias normais, mesmo sendo seu melhor guerreiro, Quinton não teria chance contra ele, mas os efeitos do mata-lobos em seu organismo já estavam atrapalhando seus movimentos, o deixando mais fraco e vulnerável.
Um uivo se ouviu e Philip caiu no chão, seu ombro foi mordido e ele sangrava. Ele olhou em volta e viu outros lobos a lutarem, crianças que ainda não se transformaram correndo e algumas lobas protegendo suas crias, tudo era um caos, ele estava muito ferido e não conseguia revidar.
— Se desistir e entregar a alcateia, eu vou ser generoso, vou mandar meus lobos pararem, ninguém mais vai se machucar e eu apenas vou banir você.
— Sabe bem que pode se tornar o Alfa da alcateia, mas nunca terá o respeito deles, pois essa não foi uma luta justa, você trapaceou. — Philip se levantou com dificuldade.
— Respeito? Se eu tiver o medo deles, isso já será o suficiente. Não se esqueça que além dos seus amigos, ainda tenho sua irmã, sei que vai pensar em todos esses lobos que vão sofrer, então, entregue-me a matilha.
Quinton gritou, alguns lobos ainda estavam perto, caso ele conseguisse revidar, mas Philip não conseguiu, nunca se sentiu tão impotente como estava se sentindo naquele momento, mesmo que seu orgulho tivesse sido esmagado, ele, ainda assim, precisava pensar nos membros de sua alcateia.
— Ninguém morre — falou baixo, antes de encarar o traidor — Precisa dar sua palavra que mais ninguém vai morrer, se eu te entregar a alcateia.
— Tem minha palavra, não se esqueça que essa também é minha alcateia, não quero o mal para o meu povo.
Philip discordava, mas não continuou aquela discussão, apenas concordou, não queria mais mortes, mesmo que seu último ato como Alfa, fosse entregar sua alcateia, ele o faria, iria proteger sua família, pois era dessa forma que ele considerava cada membro, mesmo os ômegas que eram considerados fracos.
Diante da concordância de Philip, todos foram levados para o centro da alcateia, ele viu seus membros chegando e não conseguia encarar os olhares dos lobos a sua volta, ele não conseguiu proteger sua alcateia. Aquele fato estava o esmagando por dentro, seu lobo não podia estar mais ressentido e humilhado naquele momento.
— Todos já estão aqui, pode dizer as palavras — rosnou para Philip.
— Eu, Alfa Philip Dorson, da alcateia Lua de sangue, entrego minha liderança ao novo Alfa, Quinton Perse. — Inclinou seu pescoço com muita relutância.
Alguns rosnados e ainda choramingos se ouviu através da chuva, os membros daquela matilha nunca imaginaram ver seu Alfa naquela situação. Ele era conhecido por ser generoso e justo, mas também por ser forte e implacável nas batalhas, sempre protegeu as fronteiras dos renegados e dos lobos solitários, mas naquela noite tempestuosa, o viram de cabeça baixa, sangrando e vulnerável.
— Muito bem, para não dizerem que seu novo Alfa não é generoso, não vou matar seu antigo Alfa. — O rodeava falando pelo link mental, com todos — Vou apenas o banir, a partir de hoje, Philip Dorson está banido da alcateia lua de sangue e eu, sou o seu novo Alfa, demonstrem seu respeito.
Quinton olhava e as pessoas que já não estavam mais em sua forma de lobo, inclinaram seus pescoços em sinal de submissão, ao lobo marrom a sua frente, alguns não o fizeram e ele sabia que precisariam de um corretivo, para entenderem que as coisas iriam mudar.
— Escoltem ele até a fronteira, quero ter a certeza de que ele está fora das minhas terras — ordenou para alguns lobos.
Philip olhou em direção ao seu Beta, que estava ao lado de sua irmã, ambos ajoelhados e machucados, em um último esforço e antes que a ligação se rompesse por completo, ele conectou seu elo mental ao dele.
— Cuide dela, eu juro que voltarei!
Philip reuniu o que ainda restava de força em seu corpo e caminhou em direção à floresta. Todos os olhares estavam nele, que algumas vezes, quase caia, sua respiração estava fraca e todo seu corpo doía, aquele veneno era letal, mas ele não podia morrer ainda, não até conseguir sua matilha de volta.
Ao chegarem próximo a um despenhadeiro, Philip sentiu os pelos de sua nuca se arrepiar, mesmo fraco, seus instintos ainda estavam aguçados, ele se virou para ver os lobos que o escoltavam, em posição de ataque.
Philip xingou, imaginou que Quinton não correria o risco de que ele acabasse voltando para reivindicar sua matilha, então mandou os lobos terminarem o serviço. O ataque começou, por serem mais fracos, Philip ainda conseguiu machucar um deles, mas seus reflexos já não eram os mesmos, foi mordido nas patas e mais uma vez no ombro, os dois lobos o atacaram de uma só vez, derrubando Philip no despenhadeiro, o vendo cair no rio lá embaixo.
O carro seguiu pelo asfalto em meio aquela tempestade torrencial, Rachel passou a mão pelo para-brisa, tentando desembaçar o vidro e se amaldiçoou por pegar a estrada mesmo chovendo. — Merda! Deveria ter esperado essa chuva passar, não consigo ver nada. Rachel diminuiu a velocidade, não queria arriscar, era noite e ainda parecia que o céu estava desabando, algo poderia acabar acontecendo naquela noite. Algo até mesmo parecia ter ouvido seus pensamentos, pois assim que pensou sobre aquilo, viu um vulto no meio da chuva e acabou batendo em algo. — Ai, minha nossa! Em que eu bati? — perguntou para si, após dar um grito com o susto que levou. Ela tentou se acalmar e acalmar sua respiração que estava ofegante, procurou no banco traseiro por uma lanterna, estava sem guarda-chuva, então mesmo não querendo, teria que se molhar. Rachel saiu do carro sentindo os pingos gelados da chuva caírem sobre seu corpo, mesmo com o frio, ela foi para a parte de trás do carro e começou a procurar em qu
Rachel não estava entendendo o que levou aquele homem a responder daquela forma, não deveria perguntar, mas não conseguia manter sua boca fechada, queria saber se ele tinha algum motivo para não querer ir para o hospital. — Você é algum fugitivo da polícia? Por isso não quer ir ao hospital? Ou você prefere ir para Ames? — Você é bem curiosa, não é mesmo? — Mesmo que eu tenha atropelado você, ainda tenho o direito de saber que tipo de pessoa estou levando no meu carro. — O encarou pelo espelho interno — Nem mesmo sei o seu nome. — Ok, senhora curiosa e posso dizer, corajosa, vou responder suas perguntas. Não sou fugitivo da polícia e não sou um assassino, mas tem pessoas atrás de mim, uma pessoa em específico, que me tomou tudo, se puder ir para algum lugar, eu vou ficar bem, de preferência em Des Moines. Quanto ao meu nome, é Philip. Aquele era o máximo de informações que ele poderia dar a ela, não teria como dizer o que tinha realmente acontecido, nem que era um metamorfo, não e
Taylor e Sara foram levados para a sala que agora era de Quinton, ambos foram obrigados a se ajoelharem na frente dele, que não gostou muito que Taylor ainda o olhava nos olhos, não ficando de cabeça baixa em sua presença. — Você deveria estar olhando para baixo. — Socou o rosto dele. — Quinton! Você não precisa fazer isso, não estamos resistindo. — Sara interveio. — Essa é uma decisão sábia, minha querida. — Segurou seu queixo — Não pense que vou deixar vocês se rebelarem. — Assim como fez com meu irmão? — perguntou, sentindo seu queixo ser empurrado. — Seu irmão era um fraco, ele não pensava grande, como um verdadeiro Alfa deve fazer. Insisti para que ele expandisse nossas fronteiras, mas ele não quis, sempre insistiu em ficar nessa mesmice. — O Philip pensava no seu povo, coisa que você não está fazendo. Vivemos bem aqui, não precisamos entrar em conflito com nenhuma matilha, isso apenas traria mortes, era nisso que meu irmão pensava, se fosse preciso defender nossa matilha c
Philip podia ouvir os batimentos cardíacos de Rachel e sabia que ela estava constrangida, mas não se importava por estar sem roupa. Normalmente, os lobisomens não sentem vergonha por estarem nus, pois se transformam com frequência e acabam vendo uns aos outros pelados. No entanto, ele precisava lembrar que esse não era um costume dos humanos.— Você tem algum problema com a nudez? — perguntou a ela, apenas com o interesse de provocá-la.— Diferente de você, que parece não ter nenhum problema com isso. Por acaso, veio de alguma comunidade de naturistas? — Ela ainda permanecia de costas.— De onde venho, é normal ver outras pessoas nuas.— Não sei de onde você vem, mas não é normal por aqui que um homem fique pelado como você está agora, na frente de uma mulher, principalmente uma que ele acabou de conhecer. Isso é algo feito entre casais. — Rachel não sabia se estava apenas piorando a situação com seus argumentos.— Por que não diz para ela que somos seus companheiros? Explique que vam
Philip começou aquele banho, deixando a água morna cair por seu corpo, tentando relaxar, mas ainda sentia dor quando a água passava por suas feridas. Se seu lobo estivesse bem, aquelas feridas já estariam curadas, mas o veneno o enfraquecia. — Tem um cheiro diferente nesse lugar, quem nossa companheira deixou entrar aqui? — Zeus ficou inquieto. — Sei o quanto o vínculo pode nos tornar possessivos, mas não se esqueça que ela não sabe nada sobre isso. Ela disse que esse é um banheiro de funcionários; ela deve ter um, ou até mesmo um namorado. O pensamento fez Zeus rosnar em sua mente, mas ele também se sentiu incomodado ao imaginar Rachel com outro homem, mesmo que não tivesse a intenção de ficar com ela. O vínculo ainda estava lá, e era inevitável sentir ciúme dela. — Esse é o problema com os humanos, ela não vai entender a profundidade do vínculo conjugal, já vi lobos quase enlouquecendo por causa disso, Zeus. — Se ela tiver um namorado, eu arranco a cabeça dele e fica tudo bem.
Para Philip, aquilo também não estava sendo fácil, ainda mais com Zeus animado em sua cabeça, se ele estivesse bem, provavelmente estaria saltando por ali. O cheiro da excitação de Rachel também o excitava, sabia que era o vínculo falando, apenas não imaginava que poderia mexer tanto assim com ele. Ele estava lutando com Zeus; sua vontade, mesmo estando debilitado, era de assumir o controle e tomar Rachel ali mesmo, e depois marcá-la, mas esse não era bem o plano de Philip, que estava se contendo ao máximo. — Ela cheira tão bem, ela gosta de nós, Philip, ouça e sinta como ela está nervosa e excitada. — Estava com a língua de fora, respirando pesadamente. — Se não se comportar, vou ter que te bloquear. Já disse que não é tão simples. Parou para pensar que ela pode nos rejeitar quando souber o que somos? Não fique animado antes da hora. — ouviu seu lobo choramingar e ficar triste. — Se estiver doendo, me avise — falou com ele, percebendo a careta que fazia. — Está tudo bem, pode co
Na alcateia, Quinton havia mandado levar Taylor; aquela conversa era para ser a sós com Sara. — Agora podemos conversar tranquilamente. Acredito que nossa conversa possa ser longa. — Passou a mão pelo ombro de Sara — Sente-se. Quinton deu a ordem, e ela obedeceu. Afinal, não teria muita escolha naquele momento. Ela ainda não era forte o suficiente, havia acabado de completar dezoito anos e ganhou sua loba recentemente. Não conseguiria lutar contra um guerreiro habilidoso como ela sabia que Quinton era. — Muito bem, vamos direto ao assunto. Agora que sou o novo Alfa, vou precisar de uma Luna ao meu lado. Tenho certeza de que você seria a escolha perfeita — falou, sentando-se na mesa, próximo a ela. — Você sabe muito bem que não somos companheiros, Quinton — respondeu com desgosto na voz — E mesmo se fôssemos, saiba que eu o rejeitaria. — Agora irá aprender a me chamar de Alfa. — Segurou seu queixo com firmeza — Você não é mais a irmã do Alfa para manter essa arrogância. Tenho cert
Rachel voltou à clínica após tomar banho para remover o soro que havia deixado em Philip. Ela aproveitou a oportunidade para coletar um pouco de sangue e guardou-o, alegando que iria fazer uma análise pela manhã.— Gostaria de dormir no escritório? Essa mesa é um pouco dura para passar a noite — perguntou, ajudando-o a se levantar.— Concordo. Um sofá é definitivamente mais confortável do que esta mesa.Enquanto caminhavam em direção ao escritório, Rachel ainda sentia aquele aroma agradável que emanava de Philip. Isso a intrigava, uma vez que ele não estava usando perfume. Ela ficou curiosa, pois esse aroma não deveria estar vindo dele.— Como você pode ter um cheiro tão agradável?Somente após fazer a pergunta, ela percebeu que isso poderia ser interpretado de forma inadequada. Rachel endireitou sua postura, sentindo-se um pouco envergonhada ao notar o leve sorriso no rosto de Philip.— Esse é o meu cheiro natural, mas acredito que somente você consegue senti-lo tão intensamente. Com