Homem na estrada

O carro seguiu pelo asfalto em meio aquela tempestade torrencial, Rachel passou a mão pelo para-brisa, tentando desembaçar o vidro e se amaldiçoou por pegar a estrada mesmo chovendo. 

— Merda! Deveria ter esperado essa chuva passar, não consigo ver nada. 

Rachel diminuiu a velocidade, não queria arriscar, era noite e ainda parecia que o céu estava desabando, algo poderia acabar acontecendo naquela noite. Algo até mesmo parecia ter ouvido seus pensamentos, pois assim que pensou sobre aquilo, viu um vulto no meio da chuva e acabou batendo em algo. 

— Ai, minha nossa! Em que eu bati? — perguntou para si, após dar um grito com o susto que levou. 

Ela tentou se acalmar e acalmar sua respiração que estava ofegante, procurou no banco traseiro por uma lanterna, estava sem guarda-chuva, então mesmo não querendo, teria que se molhar. Rachel saiu do carro sentindo os pingos gelados da chuva caírem sobre seu corpo, mesmo com o frio, ela foi para a parte de trás do carro e começou a procurar em que havia batido e ficou de queixo caído, quando viu um homem deitado no chão do asfalto, com sangue pelo corpo e ainda por cima estava nu. 

— Caramba! Matei uma pessoa? E por que motivo, você estaria no meio dessa chuva e ainda pelado? — Se aproximou mais e com cautela. 

Rachel não tinha tempo para olhar para aquele corpo, aparentemente musculoso e sarado, ela foi para perto dele e colocou sua mão em seu pescoço, verificando se havia algum sinal de vida naquele homem. 

O suspiro de alívio veio em seguida, ao sentir que ele ainda estava vivo, ela tirou a mão de seu pescoço, quando sentiu um formigamento subir por sua mão, como se tivesse acontecido um choque estático entre eles. 

— Preciso de uma ambulância. — Correu para o carro, em busca do seu celular. 

Aquela noite parecia estar fadada a dar tudo errado para Rachel, pois assim que ela pegou seu celular, o viu descarregado e xingou, por esquecer de carregar a bateria, estava tão focada no seu trabalho que não se lembrou. Ela voltou para perto do homem, tentou chamar por ele, olhou melhor por seu corpo, vendo os inúmeros ferimentos e alguns deles, sabia que não teria como ser devido ao atropelamento, até mesmo sua canela parecia estar quebrada, além de cortes profundos, como se uma garra tivesse feito aquilo. 

— Será que você foi atacado por algum animal? — perguntou ao desconhecido, mesmo ele não respondendo. 

Rachel se assustou quando sentiu seu pulso ser agarrado por aquele homem, que acordou do nada e estava olhando em sua direção, ela voltou a sentir aquela dormência seguir por seu braço, mas tentou se acalmar e fazer o que importava. 

— Senhor, acabei atropelando você, meu celular está descarregado e não tenho como chamar uma ambulância, sei que não é o certo a se fazer, mas se você conseguir se levantar, posso te levar para o hospital em Des Moines, ou posso voltar para Ames, não sei ao certo qual está mais perto, se não conseguir, teremos que esperar que algum carro passe para pedir socorro. 

O homem deitado ainda a olhava, ela não sabia se ele poderia ter batido a cabeça e não estar entendendo o que ela estava falando, pois ele não respondeu, apenas fitou seus olhos no dela e sua respiração parecia acelerada e diante daquele olhar intenso, ela se deu conta de que nem estava respirando. 

— Você consegue me entender? — perguntou, tentando quebrar aquele clima estranho. 

— Apenas me ajude, consigo me levantar e ir para o seu carro. 

Um arrepio percorreu as costas de Rachel, quando ela ouviu a voz do homem, que era forte e imponente, mesmo para alguém caído e ferido como ele estava, sua voz grossa lhe dava um ar de empoderamento. 

— Acredito que eu consiga, passe a mão pelo meu ombro — pediu e se aproximou um pouco mais. 

Assim que aquele homem passou o braço por seu ombro, ela conseguiu sentir um cheiro de canela vindo daquele homem, apesar de não gostar de canela, o cheiro dele a agradou, ela pensou que seu perfume era ótimo, pois apesar de estar sujo de lama e sangue, aquele perfume ainda persistia. 

Mas uma vez aquele choque percorreu seu corpo, mas daquela vez foi um pouco mais forte, ela olhou para ele, vendo que também a olhava e sabia que ele tinha sentido aquela sensação, mas já estava achando tudo aquilo muito estranho. 

— Minha nossa! Você é pesado — resmungou, quando ele ficou em pé. 

Rachel jamais se imaginou naquela situação, no meio de uma tempestade, ajudando um homem enorme e pelado a entrar no seu carro. Em outras circunstâncias, aquilo poderia ser interessante, mas naquele contexto, era meio bizarro e assustador, apesar de que ela não estava com medo dele, pelo contrário, estava calma até demais e se deu conta que estar ao lado daquele homem, mesmo naquele estado, lhe dava uma sensação de paz. 

— Se apoie no carro, vou abrir a porta de trás para você, talvez se sinta mais confortável se for deitado. 

Ela abriu a porta e retirou sua bolsa, colocando no assoalho, tirou uma toalha e um cobertor, jogando a toalha no banco da frente e deixando o cobertor de lado. 

— Vem, se apoie em mim novamente. 

Ele se apoiou e seus corpos ficaram bem próximos, ela podia sentir sua respiração quente, mesmo debaixo daquela chuva, além de que ele estava ofegante, como se sentisse muita dor. 

Rachel o ajudou a entrar e voltou para o lado do motorista, respirou fundo pensando no que estava fazendo e em todas as possibilidades. 

— Use o cobertor para se cobrir e se esquentar é um pouco estranho e desconfortável, com você pelado no carro. Vou te levar para o hospital de Des Moines. 

— Não! — Sua voz saiu quase como um rosnado. 

Ela olhou para o homem no banco traseiro, aquele “não” que ele soltou, fez seu corpo tremer, nem parecia ser a mesma voz de antes, só então que ela parou para pensar que poderia estar com um fugitivo, ou um assassino no carro, teria que pensar em uma forma de fazer com que ele não tentasse nada contra ela.

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