Passei a noite inteira revendo cada palavra, cada risada, cada olhar que trocamos, e é estranho não me lembrar de algum plano concreto. Será que isso me faz uma pessoa ruim? Essa sede de vingança, essa vontade de vê-lo arruinado? Talvez. Mas William... William sempre foi assim, um mestre da ilusão. Já destruiu o coração de tantas mulheres, uma após a outra, sem remorso. Aos 35 anos, ainda acha que é intocável. Ele não mudou. Ainda carrega essa arrogância, esse desejo de dominar tudo e todos.
É por isso que minha raiva só cresce. E então, entre os sentimentos confusos, uma faísca de determinação surge. Eu até acho que posso me perdoar por querer algo que, no fim, só parece justo. Seria interessante, no mínimo, jogar com a cabeça dele. Alimentar seu ego, deixar que pense que ganhou, só para então, no momento certo, arrancar tudo de suas mãos.
Posso imaginar o choque em seu rosto. Ele nunca imaginaria que alguém como eu — aparentemente dócil e inocente — teria a ousadia de enfrentá-lo. E nesse instante, quando decido seguir por esse caminho, percebo que terei que atravessar algumas linhas. Talvez até invadir um pouco a privacidade desse homem que agora se tornou meu alvo. Afinal, preciso saber mais sobre ele, sobre suas fraquezas, suas sombras...
Sentei-me para um café simples, a mente fervilhando com uma enxurrada de ideias que não se davam trégua. Meus pés não paravam, batendo no chão freneticamente. Eu estava impaciente, quase angustiada. Engoli o café rápido demais, esquecendo de aproveitar o sabor, e logo me levantei para trocar de roupa. Tinha um dia cheio: precisava passar na casa dos meus pais e depois na empresa. Aos poucos, eu estava retomando minha vida aqui.
Na TEC Corporation, eu ocupava um cargo que me dava satisfação — mas sempre deixei claro que meu lugar ali era conquistado pelo meu próprio mérito, não apenas por ser a filha do dono. Claro, a filha do chefe sempre teria uma cadeira assegurada, ainda mais com ações no nome. Mas, dentro da produção, onde de fato me interessava estar, fiz questão de mostrar o que aprendi em Londres, de que meu talento não era herança, era resultado de esforço e experiência.
Hoje, porém, seria difícil me concentrar no trabalho com tudo que andava pensando sobre William. A raiva e a vontade de vingança formavam uma névoa em meus pensamentos, tornando difícil até mesmo dirigir até a mansão dos meus pais. Passar lá era inevitável; eu era a única que conseguia colocar meu pai nos eixos. Minha mãe, ao longo dos anos, parecia ter perdido um pouco do controle sobre ele, mas eu... eu era firme, inflexível. Assumi essa responsabilidade com uma determinação que ele, no fundo, respeitava.
Para mantê-lo em ordem, eu era direta. Monitorava seus remédios, exercícios, café... tudo. Se ele começasse a descuidar de si, eu ameaçava sem hesitar: "Se você não seguir as recomendações, volto para a Europa." E era assim, com essa mistura de pressão e persuasão, que ele sempre acabava fazendo o que eu queria.
Ao chegar na casa dos meus pais, a primeira pessoa que vejo é minha cunhada, Samanta. Ela está com o meu sobrinho recém-nascido nos braços, e ele é uma cópia perfeita do meu irmão. Eu sempre soube que, se ele tivesse um filho, seria igualzinho a ele. Assim que os vejo, não resisto: vou até ela, dou-lhe um abraço apertado, um beijo na bochecha, e estendo os braços para pegar o pequeno no colo.
Minha mãe está por perto, paparicando o neto como se ele fosse um bonequinho de porcelana, e não consigo culpá-la. Ela sempre amou crianças; sonhava em ter uma casa cheia delas. Mas, com o ritmo frenético do trabalho, mais filhos se tornaram um sonho difícil de alcançar.
— Que bom que você está aqui, Samy. — digo a ela com um sorriso sincero.
— É, eu estava cansada de ficar em casa sozinha, — ela responde, soltando uma risada. — Pelo menos aqui tenho alguém com quem conversar.
Rimos juntas, e eu encaro o rostinho delicado do menininho no meu colo. Ele é tão pequeno, tão perfeito. E então, uma ideia me atinge como um raio: Samanta talvez seja a pessoa ideal para me ajudar a começar minha investigação. Ela tem os recursos e o conhecimento certos, só falta convencer...
Aproximo-me um pouco mais dela, tentando medir as palavras com cuidado.
— Samy, eu queria te pedir uma coisa. — começo, lançando uma pausa ligeiramente dramática. Ela levanta o olhar, curiosa.
— Pode falar, Isabella. — diz ela, embora a curiosidade nos olhos seja misturada com uma pontinha de cautela.
— Mas você tem que manter segredo, e talvez… talvez vá contra um pouco da sua ética. — confesso, tentando não soar tão dramática, mas com o coração acelerado.
Ela me encara com um olhar que já conheço: aquele olhar de mãe que repreende o filho antes mesmo de saber o que ele fez.
— Não sei, Isabella, — responde, pensativa. — Manter segredo do seu irmão, e ainda envolver algo que feriria minha ética?
Dou um passo mais próximo, nervosa, e abaixo o tom para um sussurro.
— Preciso que você encontre algumas informações sobre alguém. Mas, para isso, teria que invadir um pouco a privacidade dele.
— Deixa eu ver se entendi, — Samanta disse, levantando-se do sofá onde estávamos sentadas. Minha mãe havia ido para a cozinha, provavelmente resolver alguma coisa, e meu pai... bom, ele estava em algum canto da casa, mas eu não fazia ideia de onde. Só de imaginar ele entrando e escutando essa conversa, já me arrepiava. Com certeza ele teria um ataque se soubesse.
Samanta começou a andar de um lado para o outro, tentando manter a calma, mas percebi que estava mais nervosa do que parecia. Enquanto isso, o menininho no meu colo começou a pular, do jeito que ele adorava. Ria e pulava, como se não houvesse preocupação no mundo. Olhei ao redor, tentando garantir que ninguém mais estava prestando atenção em nós, e sussurrei com um cuidado quase exagerado.
— Olha, eu entendo que isso é delicado. E não é um pedido... comum, — admiti, tentando disfarçar meu nervosismo, mas sem muito sucesso. Eu sabia que estava pedindo algo grave, algo que poderia colocar não só a mim, mas também a Samanta em uma situação complicada. E ela era a pessoa mais ética que eu conhecia, nunca escondia nada de Harvey. A lealdade deles era quase... invejável. Ao contrário de mim, que sempre tentava esconder meus próprios segredos. Deus, se meus pais soubessem de tudo o que aconteceu em Londres...
Mas esse pensamento não era relevante agora. Eu precisava manter o foco. Samanta parou e me olhou diretamente, os olhos fixos em mim.
— Isabella, você quer que eu invada a privacidade de alguém que eu nem sei quem é, nem entendo o motivo? — Ela me encarava, confusa, e eu senti meu coração bater mais rápido.
Aproximei-me dela, baixando a voz.
— A Fazenda Pará. O William, — disse, com o tom mais sério que consegui. — O idiota que você ajudou a contratar para construir minha casa.
Samanta arregalou os olhos, surpresa, mas antes que ela dissesse algo, continuei.
— Resumindo: ele me feriu no passado. E essa ferida ainda está aberta. Tudo o que eu quero é... me vingar. Mas, para isso, eu preciso de informações. Saber com quem ele anda falando, para onde vai. E eu juro que ninguém mais vai saber disso.
Ela ficou quieta, me encarando. Eu podia ver a batalha interna em seus olhos, o conflito entre o que era certo e o pedido absurdo que eu estava fazendo.
— Samy, só preciso de algumas pequenas informações. E quanto à vingança... deixe isso comigo. Eu sei me cuidar. Sei o que estou fazendo. E prometo que nem Harvey, nem meus pais jamais vão descobrir.
Ela cruzou os braços, batendo os pés no chão enquanto me analisava em silêncio. O tempo pareceu congelar enquanto eu esperava, meu coração disparado, esperando por uma resposta, qualquer que fosse.
— Tem sorte que os meus dias estão chatos demais para não ter um aventura como essa. — quase dei pulos de alegria. — mas se seu irmão desconfiar, ou seus pais — ela se aproximou de mim, com aquela postura ameaçadora. — Mato você.
Acredite, eu sei. Eu sei que é muito errado usar a minha cunhada — a super correta e incrível Samanta — para algo tão sujo. Mas eu tive que tentar. Ela é um gênio com computadores, telefones, qualquer coisa tecnológica. E, por sorte, está trabalhando em casa ultimamente. Isso significa que, depois que meu sobrinho dorme, ela se enfia na frente do computador e passa horas bolando algum projeto que eu nem imagino o que seja.Na maioria das noites, ela vai até a casa dos meus pais. É quase uma exigência deles, na verdade. Se dependesse da minha mãe e do meu pai, meu irmão, ela e meu sobrinho morariam lá para sempre. Eles são loucos pelo pequeno — e eu também. Mas, é claro, Samanta e meu irmão precisam de privacidade. Ela só vem quando está se sentindo mais sozinha ou quando o trabalho anda devagar.Só que, agora, eu arranjei um novo ‘favorzinho’ para ela, que pode nos render uma baita dor de cabeça se alguém descobrir. Não sei como vou convencê-la a fazer isso, mas se há alguém que conse
Não sou o homem mais correto do mundo. Bem, longe disso, para ser honesto. Há mulheres em Nova York que dariam risada se ouvissem essa afirmação. Algumas diriam que eu sou o pior de todos — um exagero, claro. Eu só quero aproveitar. A vida é curta demais para ser desperdiçada com regras sem graça. Quero viver tudo agora, antes dos 40, depois... talvez eu pense em uma família. Se depender do meu pai, isso já teria acontecido. Na verdade, ele provavelmente me colocaria em uma camisa de força, se pudesse, e me moldaria no tipo de herdeiro que ele quer no comando da empresa.Mas eu não o culpo; admito que sou uma dor de cabeça para ele. Não sou exatamente querido no meu próprio império. A presidência será minha um dia, e sei que deveria ser mais respeitado. Mas é impossível para eles ignorarem o meu estilo de vida — e, pensando bem, eles têm razão. No entanto, no lado profissional, sou o melhor. Eu assino os melhores acordos, tenho a educação certa e a mente afiada para isso. Eles podem m
— Isso só pode ser brincadeira, — murmurei, perplexa ao olhar as imagens das câmeras de segurança da casa de William. Não era como se eu não soubesse que ele levava uma mulher diferente toda noite, mas assistir a isso era outro nível. E eu nem vou me permitir pensar que é ciúmes, porque isso seria absurdo. Eu odeio esse homem. Odeio ele com todas as forças do meu corpo e do universo. Ainda assim, ver uma mulher linda saindo pela porta da frente me deixou furiosa. Sinto uma vontade absurda de procurá-lo por toda Nova York e empurrá-lo do último andar de algum prédio.Respiro fundo, tentando me acalmar.— Quer saber? Vou trabalhar, — digo a mim mesma, desligando o computador e me levantando do sofá. Só que, ao fazer isso, fico parada. Olho para o chão, para as paredes, mas uma parte de mim continua presa naquela cena. Naquela mulher. — Ela é bonita, — acabo admitindo em voz baixa, cruzando os braços e batendo o pé no chão. Todas elas são. Ele tem um tipo. Claro, não se prende a cor de p
Não dava para acreditar que eu estava perdendo o meu precioso tempo, lendo as conversas de William e essa... Vadia.O que tenho a ver com isso? Bem, nada. Afinal, o odeio. Mas, em minha cabeça, se há uma pessoa em meu caminho, significa que meu plano falha. O problema é que: Will nunca se envolveu com mulher alguma, então não há razões para me chatear dessa forma.— Para, Isabella - Bate em minha mesa, enquanto colocava o celular em cima dela. Meu coração estava acelerado, como se estivesse correndo uma maratona. Eu sentia, até, os pulmões ardendo. Me levantei, impaciente, andando de um canto a outro. — Não é como se isso já não tivesse acontecido. Mulheres caem no papo dele o tempo todo. — Mas não significa que é fácil aceitar. Era como se eu tivesse, novamente, os meus dezoito anos e estivesse apaixonada por ele.Coloquei a mão na cintura, olhando para o nada, viajando nos pensamentos.Bufei, desolada, sentindo ódio de mim mesma. Nem percebi quando alguém bateu na porta, entrando se
Não dá para acreditar que estou fazendo isso. É sério. Como eu pude me tornar essa pessoa? Em frente ao espelho, me encaro com essa roupa escura que deveria ser discreta, mas parece gritar minhas intenções. Não quero que ninguém perceba que estou prestes a me enfiar em uma missão quase suicida: espionar William. Sim, William, o homem que eu odeio. Ou penso odiar. Eu tenho que odiá-lo. Qualquer coisa diferente disso seria insuportável. Não posso nem cogitar a ideia de ter sentimentos por aquele babaca. Afinal, quão tola seria se caísse na mesma armadilha outra vez? Não, de jeito nenhum.Hoje, meu único objetivo é simples: estragar tudo. Seus encontros, sua paz, sua vida, se possível. Ele merece sentir um pouco do que faz as mulheres sentirem — usadas, descartáveis, como papéis amassados jogados no lixo. Ele precisa aprender que não pode tratar pessoas assim. E, se para isso eu tiver que descer ao nível dele, que seja. Será divertido, ou pelo menos é o que eu espero.Ainda bem que eu te
Nossa atenção foi totalmente roubada pela loira que adentrou o restaurante, indo em direção à mesa onde William estava. Ela era impossível de ignorar. Seu vestido vermelho curto e provocante deixava as costas quase completamente nuas, enquanto suas longas pernas pareciam desfilar cada passo com a confiança de quem sabia que todos os olhares estavam nela. Seu rosto estava parcialmente oculto pelo cabelo dourado que caía em ondas perfeitas, mas o suficiente foi revelado para deixar claro que ela era deslumbrante.Samanta e eu estávamos praticamente grudadas, escondidas atrás da planta estrategicamente posicionada que nos permitia observar sem sermos vistas. Confesso que mordi os dentes de raiva quando o vi se levantar com aquele sorriso encantador — o mesmo que já havia causado estragos no meu coração e na minha sanidade. Ele a cumprimentou com toda a elegância de sempre, inclinando-se para beijar sua mão como se fosse um príncipe em um conto de fadas.Idiota. Um príncipe idiota.Minha
— Mas que merda é essa?A frase sai da minha boca assim que as portas do elevador se abrem, e meus olhos são imediatamente bombardeados por um mar de flores na minha sala. Não são apenas alguns buquês. É como se uma floricultura inteira tivesse decidido fazer plantão no meu apartamento. Orquídeas, girassóis, rosas, lírios... e aquele cheiro. Meu Deus, aquele cheiro.Começo a espirrar como um condenado, o nariz já coçando como se fosse cair do rosto. Coloco a mão na boca e no nariz, numa tentativa inútil de bloquear o aroma que invade minhas narinas. Mas é inútil. Espirro de novo. E de novo. E de novo.Num impulso desesperado, corro para a cozinha, onde o telefone está. Seguro o aparelho com força e grito:— Quem foi o idiota que deixou essas flores aqui? Alguém, pelo amor de Deus, venha tirar isso antes que eu morra espirrando!Eu tenho certeza que o porteiro, os vizinhos do andar de cima e até os do prédio ao lado ouviram. Não me importa. Preciso de ar. Passo apressado pelo meio daqu
Confesso que dormi tão relaxada e tranquila que hoje acordei de bom humor. Pode ser cruel o que eu fiz, sabendo que ele tem alergia às flores? Talvez, mas eu não me importo. Eu estraguei a noite dele e de bom o irritei ainda mais. Aposto que agora ele está espirrando. Ok, talvez eu tenha pisado um pouco a mão, mas valeu a pena. Agora, com nosso jogo de vento em roupa, não posso me negar a ficar um pouco feliz. O próximo passo? Bem, eu ainda não pensei nisso. Por enquanto, eu vou tomar o meu café, vestir uma roupa e ir para o trabalho. Enquanto eu faço isso, talvez eu pense uma segunda parte. Como irritar ainda mais? Durante o café, me perco pensando. Isso realmente me deixa empolgada. Era como se tivesse injetado adrenalina nas minhas veias. Mexia o meu pé freneticamente, talvez ansioso. Só me lembrei da realidade quando meu celular tocou. Ele estava em cima da mesa. Coloquei a xícara de café no seu lugar e o peguei, olhando a notificação. William já estava bem acordado e sua mensage