Não dava para acreditar que eu estava perdendo o meu precioso tempo, lendo as conversas de William e essa... Vadia.
O que tenho a ver com isso? Bem, nada. Afinal, o odeio. Mas, em minha cabeça, se há uma pessoa em meu caminho, significa que meu plano falha. O problema é que: Will nunca se envolveu com mulher alguma, então não há razões para me chatear dessa forma.
— Para, Isabella - B**e em minha mesa, enquanto colocava o celular em cima dela. Meu coração estava acelerado, como se estivesse correndo uma maratona. Eu sentia, até, os pulmões ardendo. Me levantei, impaciente, andando de um canto a outro. — Não é como se isso já não tivesse acontecido. Mulheres caem no papo dele o tempo todo. — Mas não significa que é fácil aceitar. Era como se eu tivesse, novamente, os meus dezoito anos e estivesse apaixonada por ele.
Coloquei a mão na cintura, olhando para o nada, viajando nos pensamentos.
Bufei, desolada, sentindo ódio de mim mesma. Nem percebi quando alguém bateu na porta, entrando sem esperar resposta. Sobressaltei ao ver Samantha, minha cunhada, parada no batente, me encarando como se eu fosse um animal exótico.
E talvez eu fosse. Uma tola, consumida pela raiva, desperdiçando minha inteligência numa vingança contra alguém que sequer se importava.
— O que aconteceu? — perguntou, adentrando o quarto e fechando a porta atrás de si. Privacidade. Era bom tê-la, principalmente com ela, a única pessoa com quem eu poderia realmente conversar sobre isso. Afinal, éramos cúmplices.
Deixei os ombros caírem, soltando o ar que segurava como se ele fosse me sustentar.
— Ele está em um site de relacionamentos. — Minha voz soou mais amarga do que eu imaginava, e, ao ver sua reação surpresa, acrescentei rapidamente, como se tentasse me convencer: — É só mais um jeito de encontrar mulheres.
Balancei a cabeça, frustrada. O pior era que eu tinha que ver as mensagens, reler cada uma delas. Ele parecia sempre estar um passo à frente, mais forte que eu.
— Eu entendo — ela falou, mordendo os lábios, parecendo ponderar. — Se fosse eu no seu lugar, também faria isso. — E então, riu, com os olhos vagando para o teto. — Se fosse o meu Harvey… Ah, eu infernizaria a vida dele. Hackearia todos os dispositivos, não teria privacidade alguma.
Ri baixo, reconhecendo-me nas palavras dela. Era exatamente o que eu pensava, o tipo de loucura que eu considerava. E então, me lembrei da ideia que tive na noite anterior, algo que eu hesitava em compartilhar. Mas Samanta... ela já havia feito tanto por mim, mais do que eu jamais esperaria de alguém.
— Sabe… — murmurei, sem ter certeza se devia continuar. Mas, afinal, se não confiasse nela, em quem mais confiaria?
— Pensei a mesma coisa. Só que... eu me sinto uma idiota por... — hesitei, sentindo um gosto amargo de vergonha na boca — ser vigilante por isso, sabe? Já basta tudo o que estou fazendo... sendo tão... errada. Invadindo a privacidade dele. Eu não sou tão psicopata assim.
Ela riu, como se fosse a coisa mais natural do mundo, e se acomodou no sofá. Era bom ter alguém como Samanta ao meu lado. Eu tinha poucos colegas em Nova York; meus laços mais fortes estavam em Londres. Aqui, sentia-me presa, sem ninguém que realmente me entendesse... até que ela apareceu. Acho que, de certo modo, devo agradecer ao meu irmão por ter se casado com alguém como Samanta.
Respirei fundo, tentando organizar os sentimentos antes de continuar:
— Mas o William... Ele me faz sentir essa necessidade, sabe? De estar sempre na frente. De odiá-lo. De querer me vingar pelo que ele fez. Sei que a culpa foi minha, fui eu que me entreguei a ele. Mas... é difícil. Entende?
Olhei para ela, na esperança de encontrar compreensão. Samanta me observava atentamente, como se tentasse captar cada pedaço da minha confusão. E então, ela perguntou, calmamente:
— Você ainda gosta dele?
A pergunta me atingiu como um soco, e eu dei um passo para trás, instintivamente. Arregalei os olhos, sentindo uma onda de medo e surpresa.
— O-o quê? Claro que não! — respondi apressada, mas minha voz traiu uma insegurança incômoda.
Aquela pergunta ecoava na minha mente, insistente e invasiva. Ele havia me machucado, usado meus sentimentos de uma forma cruel. E, ainda assim... eu sabia, lá no fundo, que algo em mim continuava a se incomodar com ele. Eu não o amava... não podia amar. Mas ele era atraente, e isso não mudava, não importava o quanto eu quisesse negar.
Samanta me lançou um olhar enigmático, quase duvidoso.
— O amor e o ódio... são irmãos, você sabe, não é? — disse ela, um sorriso nervoso brincando em seus lábios.
Mordi os lábios, minha mente embaralhada com tantas respostas, tantas desculpas.
— Não, eu não o amo — murmurei, mas as palavras saíam com dificuldade, travando na língua como se algo me impedisse de dizer aquilo com firmeza.
Ela se levantou e veio até mim, olhando-me com aquela intensidade serena. Para mim, Samanta era mais que uma cunhada; era como uma irmã, alguém com quem me conectei de uma maneira que jamais pensei ser possível. Mas sua pergunta agora havia mexido com algo em mim, me deixando inquieta, nervosa.
Eu também me pergunto... por que estou fazendo tudo isso? Será que, no fundo, ainda gosto dele? Sou uma tola por sequer considerar essa possibilidade? Eu deveria repelir o William, não desejá-lo. Minha missão é destruí-lo, não seduzi-lo. Seduzir faz parte do plano, sim, mas eu tenho que ser fria, dura. Nada de me apaixonar de novo. Só me decepcionaria mais uma vez.
— Isabela… — Samanta disse, segurando meus ombros e me olhando nos olhos. — Vou te ajudar no que precisar, mas você tem que ser sincera consigo mesma. Sabe que vai ser difícil, não é? Mesmo dizendo que não tem sentimentos por ele... acredito que, lá no fundo, ainda tenha. Se não tivesse, não estaria tão abalada com as conversas que ele anda tendo com outras mulheres.
Ri, nervosa, tentando explicar a mim mesma enquanto dava um passo para trás.
— Eu odeio a maneira como ele age. Essas mulheres, mesmo que eu ache algumas meio bobas... caem tão facilmente na lábia dele e depois acabam decepcionadas. — A amargura em minha voz era palpável. — Isso me incomoda há tanto tempo… Talvez eu ainda seja uma tola. Mas, mesmo que reste algum sentimento, juro por tudo que vou acabar com ele. Vou enterrar qualquer resquício que ainda exista.
As palavras saíam com um peso estranho, quase como se eu estivesse tentando convencê-las de que eram a verdade. Falar em voz alta era como absorver o que eu precisava acreditar.
O som da notificação do meu celular tocou de novo. Eu sabia que não era nada para mim, mas agarrei o aparelho como se minha vida dependesse disso. Quando olhei, percebi que era mais uma mensagem para ele. Arregalei os olhos, surpresa... e, por um segundo, me perguntei por que ainda me surpreendia. Era óbvio que ele marcaria um encontro.
Soltei um riso amargo e olhei para minha amiga, as palavras saindo antes que eu pudesse contê-las.
— Eles marcaram um encontro — murmurei, sentindo a raiva crescer dentro de mim. A natureza do meu ódio por ele só aumentava, queimando como brasas que não se apagam. Uma onda de raiva me percorreu, e eu me imaginei por um instante, sufocando-o com as próprias mãos. Meu rosto ardia.
Foi então que me decidi.
— Está na hora de pôr o meu plano em prática. Não vou deixá-lo dormir com mais uma mulher esta noite.
Samantha se aproximou, a curiosidade brilhando em seus olhos.
— E o que pensa em fazer?
A ideia já estava clara na minha mente.
— Vou estragar o jantar deles — respondi, uma firmeza impiedosa na voz, enquanto minha mente já tramava os detalhes.
Samantha sorriu, e suas próximas palavras me pegaram de surpresa.
— Vou com você. Harvey vai trabalhar até tarde, e meus pais estão com o bebê. Ele está bem animado por lá, então... por que não? Estou sem fazer nada e preciso de um pouco de emoção.
Ela explicou tudo com tanta calma e naturalidade que só me restou sorrir de volta. Eu tinha encontrado a cúmplice perfeita para os meus crimes.
Não dá para acreditar que estou fazendo isso. É sério. Como eu pude me tornar essa pessoa? Em frente ao espelho, me encaro com essa roupa escura que deveria ser discreta, mas parece gritar minhas intenções. Não quero que ninguém perceba que estou prestes a me enfiar em uma missão quase suicida: espionar William. Sim, William, o homem que eu odeio. Ou penso odiar. Eu tenho que odiá-lo. Qualquer coisa diferente disso seria insuportável. Não posso nem cogitar a ideia de ter sentimentos por aquele babaca. Afinal, quão tola seria se caísse na mesma armadilha outra vez? Não, de jeito nenhum.Hoje, meu único objetivo é simples: estragar tudo. Seus encontros, sua paz, sua vida, se possível. Ele merece sentir um pouco do que faz as mulheres sentirem — usadas, descartáveis, como papéis amassados jogados no lixo. Ele precisa aprender que não pode tratar pessoas assim. E, se para isso eu tiver que descer ao nível dele, que seja. Será divertido, ou pelo menos é o que eu espero.Ainda bem que eu te
Nossa atenção foi totalmente roubada pela loira que adentrou o restaurante, indo em direção à mesa onde William estava. Ela era impossível de ignorar. Seu vestido vermelho curto e provocante deixava as costas quase completamente nuas, enquanto suas longas pernas pareciam desfilar cada passo com a confiança de quem sabia que todos os olhares estavam nela. Seu rosto estava parcialmente oculto pelo cabelo dourado que caía em ondas perfeitas, mas o suficiente foi revelado para deixar claro que ela era deslumbrante.Samanta e eu estávamos praticamente grudadas, escondidas atrás da planta estrategicamente posicionada que nos permitia observar sem sermos vistas. Confesso que mordi os dentes de raiva quando o vi se levantar com aquele sorriso encantador — o mesmo que já havia causado estragos no meu coração e na minha sanidade. Ele a cumprimentou com toda a elegância de sempre, inclinando-se para beijar sua mão como se fosse um príncipe em um conto de fadas.Idiota. Um príncipe idiota.Minha
— Mas que merda é essa?A frase sai da minha boca assim que as portas do elevador se abrem, e meus olhos são imediatamente bombardeados por um mar de flores na minha sala. Não são apenas alguns buquês. É como se uma floricultura inteira tivesse decidido fazer plantão no meu apartamento. Orquídeas, girassóis, rosas, lírios... e aquele cheiro. Meu Deus, aquele cheiro.Começo a espirrar como um condenado, o nariz já coçando como se fosse cair do rosto. Coloco a mão na boca e no nariz, numa tentativa inútil de bloquear o aroma que invade minhas narinas. Mas é inútil. Espirro de novo. E de novo. E de novo.Num impulso desesperado, corro para a cozinha, onde o telefone está. Seguro o aparelho com força e grito:— Quem foi o idiota que deixou essas flores aqui? Alguém, pelo amor de Deus, venha tirar isso antes que eu morra espirrando!Eu tenho certeza que o porteiro, os vizinhos do andar de cima e até os do prédio ao lado ouviram. Não me importa. Preciso de ar. Passo apressado pelo meio daqu
Confesso que dormi tão relaxada e tranquila que hoje acordei de bom humor. Pode ser cruel o que eu fiz, sabendo que ele tem alergia às flores? Talvez, mas eu não me importo. Eu estraguei a noite dele e de bom o irritei ainda mais. Aposto que agora ele está espirrando. Ok, talvez eu tenha pisado um pouco a mão, mas valeu a pena. Agora, com nosso jogo de vento em roupa, não posso me negar a ficar um pouco feliz. O próximo passo? Bem, eu ainda não pensei nisso. Por enquanto, eu vou tomar o meu café, vestir uma roupa e ir para o trabalho. Enquanto eu faço isso, talvez eu pense uma segunda parte. Como irritar ainda mais? Durante o café, me perco pensando. Isso realmente me deixa empolgada. Era como se tivesse injetado adrenalina nas minhas veias. Mexia o meu pé freneticamente, talvez ansioso. Só me lembrei da realidade quando meu celular tocou. Ele estava em cima da mesa. Coloquei a xícara de café no seu lugar e o peguei, olhando a notificação. William já estava bem acordado e sua mensage
Eu estou furioso. A insônia tomou conta de mim, e a noite foi um verdadeiro inferno. Não consegui pregar os olhos, meu cérebro girando em círculos, voltando sempre à mesma questão: quem é essa mulher? Quem é essa estranha que parece conhecer cada detalhe da minha vida? Pra piorar, passei a noite espirrando por conta do cheiro das flores que tomaram conta da minha sala. Flores que ela enviou. Flores que só podem significar uma coisa: ela sabe.Ela sabe coisas que eu não compartilho com ninguém. Não fico tempo suficiente com uma mulher para que isso seja possível, embora admita que algumas chegaram perto. Talvez seja uma delas. Alguém do meu círculo social. Uma que decidiu que a vingança seria doce. O que não é difícil de imaginar, considerando o babaca que eu sou.Mas isso, hackear a minha vida? Isso é outro nível de loucura. Um nível que me irrita profundamente. E é por isso que hoje eu estou no carro, dirigindo pelas ruas movimentadas de Nova York, com apenas um destino em mente: a f
Eu tento resistir, mas é impossível. A hora de trabalho é insuportavelmente tediosa. Meu foco, antes tão afiado, escapa por entre os dedos como areia fina. Passo minutos preciosos encarando a tela do computador, forçando-me a completar cálculos simples, aqueles que antes eu fazia sem esforço. Eu costumava amar isso. Queria ser a melhor, a pessoa que provaria ao meu pai que todo o tempo e os recursos investidos em mim, especialmente em Londres, tinham valido a pena. Eu nunca quis ser a garotinha protegida sob as asas dele, mas também nunca consegui me afastar completamente dessa imagem.Adorava o desafio. Sentia orgulho em ver meu trabalho brilhar, em ser um pequeno gênio no que fazia. Queria, de certa forma, ser como minha mãe, mas aceitar que eu nunca seria tão brilhante quanto ela foi libertador. Não sou um prodígio matemático como ela. Sou apenas eu. A aceitação veio tarde, mas veio, e com ela a liberdade de escolher minha própria carreira, meu próprio caminho. Eu sou o seu legado,
Esse é tão emocionante, eu nunca me senti tão viva em anos. Viva de verdade. Algo que me empolgasse, que tirasse o foco da realidade. Tem a parte ruim, é claro, mas eu estava tentando ignorá-la.No momento, parada em frente àquela caixa, meus dedos percorriam a textura do papel de seda com cuidado quase reverente. Lá estava ele: o vestido de seda vermelho. O brilho suave do tecido parecia quase pecaminoso sob a luz fraca do abajur. Ao lado, cuidadosamente colocado, estava o frasco de perfume. Não qualquer um, mas o que ele mais amava. O aroma era inebriante, proibido. Só de senti-lo tão próximo, flashes daquela noite invadiam minha mente como um golpe.Eu deveria punir meu cérebro por isso. Como ousava me fazer lembrar? Foi uma noite especial, sim, mas o que veio depois... Ah, aquilo foi o bastante para destruir qualquer ilusão. Ele agiu como se não fosse nada, como se eu não fosse nada. Mas desta vez, eu seria a pessoa que estragaria seu coração.Satisfeita com o toque final, fecho a
Aquilo era, claro, uma provocação. E ele não gostava de provocações. Desde pequeno, William não sabia brincar com jogos desse tipo. Sempre que pensava estar perdendo, jogava sujo ou estourava. Simplesmente perdia o controle. Mas ele gostava de acreditar que havia deixado aquele menino birrento no passado, enterrado junto às inseguranças e imaturidades que nunca combinariam com o homem poderoso que se tornara.A questão, porém, é que agora ela estava ali. Ou melhor, voltou. Uma mulher desconhecida que, segundo ele, decidiu sozinha retornar para a vida dele – e, pelo visto, para acertar contas que só existiam na cabeça dela. Vingança. Era isso o que ela queria? O pensamento o irritava profundamente, mas havia algo mais que o incomodava: o fato de que ela não parecia seguir as mesmas regras que as outras mulheres.William não forçava mulheres a nada. Nunca precisou. Tinha um jogo de sedução, sim, mas sempre na medida certa. Nunca passava do limite. E era fácil, tão fácil que, na maioria