Confesso que dormi tão relaxada e tranquila que hoje acordei de bom humor. Pode ser cruel o que eu fiz, sabendo que ele tem alergia às flores? Talvez, mas eu não me importo. Eu estraguei a noite dele e de bom o irritei ainda mais. Aposto que agora ele está espirrando. Ok, talvez eu tenha pisado um pouco a mão, mas valeu a pena. Agora, com nosso jogo de vento em roupa, não posso me negar a ficar um pouco feliz. O próximo passo? Bem, eu ainda não pensei nisso. Por enquanto, eu vou tomar o meu café, vestir uma roupa e ir para o trabalho. Enquanto eu faço isso, talvez eu pense uma segunda parte. Como irritar ainda mais? Durante o café, me perco pensando. Isso realmente me deixa empolgada. Era como se tivesse injetado adrenalina nas minhas veias. Mexia o meu pé freneticamente, talvez ansioso. Só me lembrei da realidade quando meu celular tocou. Ele estava em cima da mesa. Coloquei a xícara de café no seu lugar e o peguei, olhando a notificação. William já estava bem acordado e sua mensage
Eu estou furioso. A insônia tomou conta de mim, e a noite foi um verdadeiro inferno. Não consegui pregar os olhos, meu cérebro girando em círculos, voltando sempre à mesma questão: quem é essa mulher? Quem é essa estranha que parece conhecer cada detalhe da minha vida? Pra piorar, passei a noite espirrando por conta do cheiro das flores que tomaram conta da minha sala. Flores que ela enviou. Flores que só podem significar uma coisa: ela sabe.Ela sabe coisas que eu não compartilho com ninguém. Não fico tempo suficiente com uma mulher para que isso seja possível, embora admita que algumas chegaram perto. Talvez seja uma delas. Alguém do meu círculo social. Uma que decidiu que a vingança seria doce. O que não é difícil de imaginar, considerando o babaca que eu sou.Mas isso, hackear a minha vida? Isso é outro nível de loucura. Um nível que me irrita profundamente. E é por isso que hoje eu estou no carro, dirigindo pelas ruas movimentadas de Nova York, com apenas um destino em mente: a f
Eu tento resistir, mas é impossível. A hora de trabalho é insuportavelmente tediosa. Meu foco, antes tão afiado, escapa por entre os dedos como areia fina. Passo minutos preciosos encarando a tela do computador, forçando-me a completar cálculos simples, aqueles que antes eu fazia sem esforço. Eu costumava amar isso. Queria ser a melhor, a pessoa que provaria ao meu pai que todo o tempo e os recursos investidos em mim, especialmente em Londres, tinham valido a pena. Eu nunca quis ser a garotinha protegida sob as asas dele, mas também nunca consegui me afastar completamente dessa imagem.Adorava o desafio. Sentia orgulho em ver meu trabalho brilhar, em ser um pequeno gênio no que fazia. Queria, de certa forma, ser como minha mãe, mas aceitar que eu nunca seria tão brilhante quanto ela foi libertador. Não sou um prodígio matemático como ela. Sou apenas eu. A aceitação veio tarde, mas veio, e com ela a liberdade de escolher minha própria carreira, meu próprio caminho. Eu sou o seu legado,
Esse é tão emocionante, eu nunca me senti tão viva em anos. Viva de verdade. Algo que me empolgasse, que tirasse o foco da realidade. Tem a parte ruim, é claro, mas eu estava tentando ignorá-la.No momento, parada em frente àquela caixa, meus dedos percorriam a textura do papel de seda com cuidado quase reverente. Lá estava ele: o vestido de seda vermelho. O brilho suave do tecido parecia quase pecaminoso sob a luz fraca do abajur. Ao lado, cuidadosamente colocado, estava o frasco de perfume. Não qualquer um, mas o que ele mais amava. O aroma era inebriante, proibido. Só de senti-lo tão próximo, flashes daquela noite invadiam minha mente como um golpe.Eu deveria punir meu cérebro por isso. Como ousava me fazer lembrar? Foi uma noite especial, sim, mas o que veio depois... Ah, aquilo foi o bastante para destruir qualquer ilusão. Ele agiu como se não fosse nada, como se eu não fosse nada. Mas desta vez, eu seria a pessoa que estragaria seu coração.Satisfeita com o toque final, fecho a
Aquilo era, claro, uma provocação. E ele não gostava de provocações. Desde pequeno, William não sabia brincar com jogos desse tipo. Sempre que pensava estar perdendo, jogava sujo ou estourava. Simplesmente perdia o controle. Mas ele gostava de acreditar que havia deixado aquele menino birrento no passado, enterrado junto às inseguranças e imaturidades que nunca combinariam com o homem poderoso que se tornara.A questão, porém, é que agora ela estava ali. Ou melhor, voltou. Uma mulher desconhecida que, segundo ele, decidiu sozinha retornar para a vida dele – e, pelo visto, para acertar contas que só existiam na cabeça dela. Vingança. Era isso o que ela queria? O pensamento o irritava profundamente, mas havia algo mais que o incomodava: o fato de que ela não parecia seguir as mesmas regras que as outras mulheres.William não forçava mulheres a nada. Nunca precisou. Tinha um jogo de sedução, sim, mas sempre na medida certa. Nunca passava do limite. E era fácil, tão fácil que, na maioria
Não quero perder meu tempo pensando em tudo o que ele me disse. William é um mentiroso. Sempre foi e sempre será. Ele tem o talento maldito de dizer exatamente o que uma mulher precisa ouvir, o tipo de palavras que enfraquecem as barreiras mais bem construídas e fazem até a mais cética acreditar em seus encantos. Mas dessa vez não. Eu me recuso. Não vou ser a mulher que fui no passado, ingênua o suficiente para acreditar que ele poderia mudar. Ele não quer mudar.Se alguém vai tomar o controle dessa narrativa, sou eu. Vou continuar com o meu plano. Ficar dura como uma rocha, inalcançável, inabalável. Não importa o quanto ele tente, não vou permitir que ele penetre de novo no meu coração. Mesmo que, em algum canto da minha alma, eu ainda veja vestígios do homem que um dia pensei que ele fosse. Foco, Isabela. Hoje é um dia festivo. Não posso me deixar abalar por memórias ou sentimentos mal resolvidos.Meu irmão insistiu para que eu o acompanhasse neste evento. Um lugar onde eu definitiv
Eu sei que magoei muito aquela mulher. Ela foi o meu maior erro. Eu poderia ter destroçado o coração de milhares de mulheres em Nova York, mas o dela não. Na verdade, ela era minha amiga. Minha única amiga. Alguém que o procurava pra conversar bobagens.Meio bizarro, porque ela era bem mais nova, mas, mesmo assim, eu sou mesmo uma idiota. Não mereço perdão dela nem de ninguém. Mesmo eu tentando muito mudar, não acho que vou conseguir. Quem nasceu estragado nunca se endireita.É o que meu pai sempre diz na minha cara. Mesmo sendo bom no trabalho, nunca vai ter o reconhecimento ou ser uma orgulha dele. O problema é que eu nunca me endireito, mesmo ouvindo toda vez, o quanto sou indesejável.Eu nem queria estar naquele evento, fui obrigada por ir, mas... Todos ali, grandes empresários, homens de família, qual era o que parecia, todos eles me olhavam como se eu fosse a parte errada. Como se eu não tivesse valor algum. Não me levavam a sério, mesmo tendo grandes projetos. Eu queria os odia
Quantas vezes eu já disse a mim mesma para tomar cuidado com aquele idiota? Incontáveis. Não havia número suficiente no universo para descrever o quanto eu deveria me afastar dele — ou o perigo que eu corria por insistir em ficar por perto. Encontrá-lo naquele dia foi assustador. Não porque ele fosse um monstro, ao menos não do tipo comum. Talvez fosse um monstro de corações, um devorador deles. Mas o verdadeiro medo vinha do que ele despertava em mim.Era interessante, ainda que aterrorizante. Eu sabia dos erros. Sabia o que ele era capaz de fazer, e mesmo assim, ele tomava meus pensamentos por inteiro. Vinte e quatro horas, todos os dias, sussurrando o nome dele em meu ouvido. Um impulso insano que me fazia pegar o celular e querer mandar uma mensagem — ou pior, uma foto.Foi exatamente o que fiz. Uma estupidez, claro. Por que, em nome de tudo que ainda faz sentido, eu mandei aquela foto? Aquele tipo de foto? Agora ele está grudado em mim. Quer mais. Sempre mais. Ele acha que pode m