William estava feliz aquele dia. Mesmo sabendo que estava perdendo a batalha contra a mulher misteriosa, a sensação de estar jogando o jogo dela, mesmo que em desvantagem, o fazia se sentir vivo. Tudo o que ele queria era um nome. Um apelido, quem sabe. Algo para chamar de seu e acabar com aquele enigma incessante. Mas ela não dava nada. Bem, quase nada.Havia aquela foto. Uma imagem tão provocante quanto inesquecível. Ela o assombrava de uma forma que nenhuma reunião, café ou compromisso conseguia afastar. Ele sonhava com ela. No começo, achava perturbador. Agora, havia algo de intoxicante naquela obsessão. A foto, os pés delicados com a tatuagem à mostra... Era tudo que tinha dela. E era pouco, mas o suficiente para deixar William marcado.Naquele dia, o silêncio dela pesou mais que o habitual. Ele sentiu falta das mensagens que não chegaram. Falta da troca de provocações que, de algum modo, se tornara parte de sua rotina. Talvez fosse isso que o deixava tão inquieto — a mulher mist
Eu não deveria estar cogitando realmente aceitar aquela proposta. Era ridículo. Óbvio que era um plano dele. Um truque, uma armadilha bem elaborada para me encontrar. Descobrir onde estou, invadir o meu espaço, me encarar com aquele olhar frio e devastador e exigir respostas. Por que você fez isso, Alice? Ele diria, e eu teria que sustentar as palavras que queimei em segredo por tanto tempo.Mas o que eu diria? Que foi porque o odiava? Que foi porque precisava vê-lo despedaçado, como ele me deixou? Sim, é isso. Ele me magoou. Quebrou algo em mim que nunca mais vai voltar ao lugar. Então, vou devolver o favor. Vou perturbar sua paciência até que ela não reste mais. Até que ele veja como é sentir o chão desaparecer sob os pés. Uma vingança justa, não é? É o que eu digo a mim mesma.Mas aqui estou. Sem forças. Sentada neste sofá como uma estátua patética, encarando o papel em minhas mãos, pensando em como ele conseguiu me fazer hesitar de novo. Como se eu fosse aquela garota de antes, aq
Era um plano arriscado, e elas sabiam disso. Isabela caminhava de um lado para o outro no quarto, o celular preso firmemente na mão. A cada passo, ela batia o aparelho contra a outra palma, como se o ritmo pudesse ajudá-la a encontrar coragem. Seus olhos fitavam a tela sem foco, enquanto as palavras da mensagem que deveria enviar se repetiam em sua mente como um mantra.Na sala, Samanta já estava em plena ação, cercada por uma pilha de anotações e o brilho azulado de telas. Ela trabalhava rapidamente, ligando para os números que havia hackeado do telefone de Humilha — um apelido que William definitivamente tinha feito por merecer. No fundo, sabia que estava pisando em território ético duvidoso, mas o peso da culpa era abafado por uma sensação perigosa de adrenalina e propósito. O que William havia feito com Isabela — e com tantas outras mulheres — era cruel, injustificável. Isso não era vingança, dizia a si mesma. Era apenas um jogo. Ninguém sairia realmente machucado.Samanta mordia
Eu encaro meu reflexo no espelho, tentando silenciar o caos em minha mente. O vestido escarlate abraça meu corpo como uma segunda pele, exalando confiança, mesmo que, por dentro, eu esteja despedaçada. A luz amarelada do quarto parece zombar de mim, oscilando entre cúmplice e inimiga.Respire. Apenas respire. Foi isso que eu quis, não foi? Tudo isso é meu. O plano, a execução. Até mesmo o risco.Samanta pode ter sido a mente maquiavélica por trás da armadilha, mas eu a aperfeiçoei. O toque final, aquele elemento irresistível que transforma um truque em obra-prima, fui eu quem adicionou. Admito que sua visão foi brilhante, mas nada disso diminui o pavor que se instala no fundo do meu peito, crescendo como um veneno lento.Ele ainda não sabe quem eu sou, e essa é minha maior vantagem. Ainda sou apenas uma voz ao telefone, uma sombra que ele não consegue tocar, uma possibilidade que ele não consegue ignorar. Mas essa conexão improvável, essa linha tênue que nos une, está começando a se t
Não posso descrever o quanto estou ansioso para esse encontro. Parece que sou novamente um menino que está indo para o parque de diversões. Vai todos os brinquedos ao mesmo tempo. É empolgante. Eu nunca me senti assim em toda a minha vida. Não por causa de uma pessoa que eu nem conheço. Não foi tão estranho. De um lado, essa mulher apareceu na minha vida novamente. Porque, segundo ela, já foi parte da minha vida, pelo menos por uma noite. E agora, eu espero ansioso por suas mensagens. Por suas brincadeiras, mesmo que eu possa ficar com muita raiva. Dependendo do que ela tem para manejar, é claroEu me olhava no espelho pela última vez, ajustando o colarinho da camisa com cuidado. Aquela mulher tinha um talento único para bagunçar minha cabeça, mesmo à distância. Não era só o mistério – embora isso fosse grande parte da questão. Era o controle. Ela sabia exatamente o que fazia, como me fazer sentir vulnerável, como me prender a esse jogo perigoso que ela criou e no qual eu entrei, mesm
O plano estava em andamento. Sentada no sofá do apartamento de Isabela, Samanta acompanhava tudo pelas câmeras de segurança. As imagens não mostravam os clientes de perto, claro, mas os ângulos que tinha eram suficientes para que ela monitorasse a movimentação com precisão estratégica. Quando as portas se abriram e os olhares se cruzaram, ela focou imediatamente em William. Sua expressão de surpresa a fez rir baixinho, quase satisfeita. Porém, ao mudar para o rosto de Isabela, Samanta notou algo diferente: medo, um nervosismo quase palpável.Ela sabia que sua amiga estava em apuros. Embora o plano tivesse sido idealizado por Isabela, Samanta havia se tornado uma parceira ousada, talvez até imprudente. No entanto, aquilo não era por ela. Era por Isabela. Respirou fundo, endireitou-se no sofá e deixou de lado o prazer perverso que sentia em observar William confuso. Pegou o telefone e começou a digitar uma mensagem, os dedos correndo pela tela com urgência.Agora sentada em sua mesa est
Eu ainda não podia acreditar no que estava acontecendo. Parecia um sonho, ou talvez um pesadelo, daqueles que você sabe que é real, mas torce para não ser. Isabela estava bem na minha frente, e tudo o que eu mais temia — e talvez o que mais me arrependia — estava estampado nos seus olhos. Ela não era mais aquela menina que eu costumava proteger, a irmãzinha do Harvey, que eu sempre tratei como parte da minha própria família. Não, ela tinha crescido. Crescido de um jeito que me desarmava, que me fazia questionar tudo o que eu pensava ser certo.Eu tentei, por anos, me convencer de que ela era só isso: a irmã do meu melhor amigo. Uma menina doce, frágil, que eu jamais poderia olhar de outra forma. E durante muito tempo, isso funcionou. Mas aos poucos, Isabela foi se mostrando mais do que aquela garotinha. Ela era inteligente, determinada, e, acima de tudo, leal. Sempre ao meu lado, mesmo quando eu não merecia. Quando estávamos juntos, era como se o mundo se tornasse mais simples. Mas mi
Eu realmente estou ferrada. Totalmente ferrada. Não faço ideia do porquê nem como consegui transformar toda a minha vida nesse caos. E agora ele está aqui, bem na minha frente, como se soubesse exatamente o que eu fiz. Como se cada escolha errada tivesse sido escrita no meu rosto. Samantha Ballou não para de mandar mensagens no meu celular, cada vibração me lembrando que estou tentando ignorá-la, que estou adiando o inevitável.Dentro da sala, eu estava cara a cara com ele. O homem que eu odiava com todas as forças do universo. Mas, droga, eu também o amava. Era uma contradição que rasgava meu peito em dois. Não importa o que ele fez. Nada apaga o que eu sinto por ele. Mas isso não significa que eu deveria ceder, certo?Eu estava exausta. Cansada de arquitetar planos, de lutar com as possibilidades, de fingir que tinha controle sobre alguma coisa. Tudo o que eu queria agora era acabar com isso. Dizer a verdade. Ficar cara a cara com EJ e colocar um ponto final nesse jogo insano. E, se