Nossa atenção foi totalmente roubada pela loira que adentrou o restaurante, indo em direção à mesa onde William estava. Ela era impossível de ignorar. Seu vestido vermelho curto e provocante deixava as costas quase completamente nuas, enquanto suas longas pernas pareciam desfilar cada passo com a confiança de quem sabia que todos os olhares estavam nela. Seu rosto estava parcialmente oculto pelo cabelo dourado que caía em ondas perfeitas, mas o suficiente foi revelado para deixar claro que ela era deslumbrante.Samanta e eu estávamos praticamente grudadas, escondidas atrás da planta estrategicamente posicionada que nos permitia observar sem sermos vistas. Confesso que mordi os dentes de raiva quando o vi se levantar com aquele sorriso encantador — o mesmo que já havia causado estragos no meu coração e na minha sanidade. Ele a cumprimentou com toda a elegância de sempre, inclinando-se para beijar sua mão como se fosse um príncipe em um conto de fadas.Idiota. Um príncipe idiota.Minha
— Mas que merda é essa?A frase sai da minha boca assim que as portas do elevador se abrem, e meus olhos são imediatamente bombardeados por um mar de flores na minha sala. Não são apenas alguns buquês. É como se uma floricultura inteira tivesse decidido fazer plantão no meu apartamento. Orquídeas, girassóis, rosas, lírios... e aquele cheiro. Meu Deus, aquele cheiro.Começo a espirrar como um condenado, o nariz já coçando como se fosse cair do rosto. Coloco a mão na boca e no nariz, numa tentativa inútil de bloquear o aroma que invade minhas narinas. Mas é inútil. Espirro de novo. E de novo. E de novo.Num impulso desesperado, corro para a cozinha, onde o telefone está. Seguro o aparelho com força e grito:— Quem foi o idiota que deixou essas flores aqui? Alguém, pelo amor de Deus, venha tirar isso antes que eu morra espirrando!Eu tenho certeza que o porteiro, os vizinhos do andar de cima e até os do prédio ao lado ouviram. Não me importa. Preciso de ar. Passo apressado pelo meio daqu
Confesso que dormi tão relaxada e tranquila que hoje acordei de bom humor. Pode ser cruel o que eu fiz, sabendo que ele tem alergia às flores? Talvez, mas eu não me importo. Eu estraguei a noite dele e de bom o irritei ainda mais. Aposto que agora ele está espirrando. Ok, talvez eu tenha pisado um pouco a mão, mas valeu a pena. Agora, com nosso jogo de vento em roupa, não posso me negar a ficar um pouco feliz. O próximo passo? Bem, eu ainda não pensei nisso. Por enquanto, eu vou tomar o meu café, vestir uma roupa e ir para o trabalho. Enquanto eu faço isso, talvez eu pense uma segunda parte. Como irritar ainda mais? Durante o café, me perco pensando. Isso realmente me deixa empolgada. Era como se tivesse injetado adrenalina nas minhas veias. Mexia o meu pé freneticamente, talvez ansioso. Só me lembrei da realidade quando meu celular tocou. Ele estava em cima da mesa. Coloquei a xícara de café no seu lugar e o peguei, olhando a notificação. William já estava bem acordado e sua mensage
Eu estou furioso. A insônia tomou conta de mim, e a noite foi um verdadeiro inferno. Não consegui pregar os olhos, meu cérebro girando em círculos, voltando sempre à mesma questão: quem é essa mulher? Quem é essa estranha que parece conhecer cada detalhe da minha vida? Pra piorar, passei a noite espirrando por conta do cheiro das flores que tomaram conta da minha sala. Flores que ela enviou. Flores que só podem significar uma coisa: ela sabe.Ela sabe coisas que eu não compartilho com ninguém. Não fico tempo suficiente com uma mulher para que isso seja possível, embora admita que algumas chegaram perto. Talvez seja uma delas. Alguém do meu círculo social. Uma que decidiu que a vingança seria doce. O que não é difícil de imaginar, considerando o babaca que eu sou.Mas isso, hackear a minha vida? Isso é outro nível de loucura. Um nível que me irrita profundamente. E é por isso que hoje eu estou no carro, dirigindo pelas ruas movimentadas de Nova York, com apenas um destino em mente: a f
Eu tento resistir, mas é impossível. A hora de trabalho é insuportavelmente tediosa. Meu foco, antes tão afiado, escapa por entre os dedos como areia fina. Passo minutos preciosos encarando a tela do computador, forçando-me a completar cálculos simples, aqueles que antes eu fazia sem esforço. Eu costumava amar isso. Queria ser a melhor, a pessoa que provaria ao meu pai que todo o tempo e os recursos investidos em mim, especialmente em Londres, tinham valido a pena. Eu nunca quis ser a garotinha protegida sob as asas dele, mas também nunca consegui me afastar completamente dessa imagem.Adorava o desafio. Sentia orgulho em ver meu trabalho brilhar, em ser um pequeno gênio no que fazia. Queria, de certa forma, ser como minha mãe, mas aceitar que eu nunca seria tão brilhante quanto ela foi libertador. Não sou um prodígio matemático como ela. Sou apenas eu. A aceitação veio tarde, mas veio, e com ela a liberdade de escolher minha própria carreira, meu próprio caminho. Eu sou o seu legado,
Esse é tão emocionante, eu nunca me senti tão viva em anos. Viva de verdade. Algo que me empolgasse, que tirasse o foco da realidade. Tem a parte ruim, é claro, mas eu estava tentando ignorá-la.No momento, parada em frente àquela caixa, meus dedos percorriam a textura do papel de seda com cuidado quase reverente. Lá estava ele: o vestido de seda vermelho. O brilho suave do tecido parecia quase pecaminoso sob a luz fraca do abajur. Ao lado, cuidadosamente colocado, estava o frasco de perfume. Não qualquer um, mas o que ele mais amava. O aroma era inebriante, proibido. Só de senti-lo tão próximo, flashes daquela noite invadiam minha mente como um golpe.Eu deveria punir meu cérebro por isso. Como ousava me fazer lembrar? Foi uma noite especial, sim, mas o que veio depois... Ah, aquilo foi o bastante para destruir qualquer ilusão. Ele agiu como se não fosse nada, como se eu não fosse nada. Mas desta vez, eu seria a pessoa que estragaria seu coração.Satisfeita com o toque final, fecho a
Aquilo era, claro, uma provocação. E ele não gostava de provocações. Desde pequeno, William não sabia brincar com jogos desse tipo. Sempre que pensava estar perdendo, jogava sujo ou estourava. Simplesmente perdia o controle. Mas ele gostava de acreditar que havia deixado aquele menino birrento no passado, enterrado junto às inseguranças e imaturidades que nunca combinariam com o homem poderoso que se tornara.A questão, porém, é que agora ela estava ali. Ou melhor, voltou. Uma mulher desconhecida que, segundo ele, decidiu sozinha retornar para a vida dele – e, pelo visto, para acertar contas que só existiam na cabeça dela. Vingança. Era isso o que ela queria? O pensamento o irritava profundamente, mas havia algo mais que o incomodava: o fato de que ela não parecia seguir as mesmas regras que as outras mulheres.William não forçava mulheres a nada. Nunca precisou. Tinha um jogo de sedução, sim, mas sempre na medida certa. Nunca passava do limite. E era fácil, tão fácil que, na maioria
Não quero perder meu tempo pensando em tudo o que ele me disse. William é um mentiroso. Sempre foi e sempre será. Ele tem o talento maldito de dizer exatamente o que uma mulher precisa ouvir, o tipo de palavras que enfraquecem as barreiras mais bem construídas e fazem até a mais cética acreditar em seus encantos. Mas dessa vez não. Eu me recuso. Não vou ser a mulher que fui no passado, ingênua o suficiente para acreditar que ele poderia mudar. Ele não quer mudar.Se alguém vai tomar o controle dessa narrativa, sou eu. Vou continuar com o meu plano. Ficar dura como uma rocha, inalcançável, inabalável. Não importa o quanto ele tente, não vou permitir que ele penetre de novo no meu coração. Mesmo que, em algum canto da minha alma, eu ainda veja vestígios do homem que um dia pensei que ele fosse. Foco, Isabela. Hoje é um dia festivo. Não posso me deixar abalar por memórias ou sentimentos mal resolvidos.Meu irmão insistiu para que eu o acompanhasse neste evento. Um lugar onde eu definitiv